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As Múltiplas Dimensões da Análise do Risco

Elementos expostos

1.4 As Múltiplas Dimensões da Análise do Risco

O risco pode ser analisado segundo várias perspetivas, nomeadamente: técnica, subjetiva, social, jurídica, cultural, filosófica, económica e política (Almeida, 2011). Segundo Almeida (2011), a dimensão técnica tem maior aplicação na engenharia, estando associada a uma definição técnica com vista a permitir uma caracterização quantitativa, na qual o risco é representado pela expressão matemática: Risco = Perigosidade x Consequências. Dado o caráter quantitativo da dimensão técnica do risco, esta tem sido denominada de objetiva, para diferenciá-la das outras dimensões associadas ao conceito do risco. A este propósito, Almeida (2011) considera que embora a avaliação das probabilidades de alguma ocorrência e das prováveis consequências implique uma análise e aplicação de metodologias cientificamente comprovadas, a definição técnica do risco é uma construção humana e convencionada; isto é, ela é válida num contexto determinado de pressupostos e de processos racionais de tomada de decisão.

Portanto, o valor do risco resultante dos cálculos matemáticos de probabilidades e das consequências representa um custo convencional que se projeta para acontecimentos incertos, podendo ser utilizado nos processos decisórios das políticas públicas associadas ao risco, sem porém, representar uma previsão do que vai acontecer no período em análise (Almeida, 2011). Consideremos a análise da probabilidade de ocorrência de um incêndio num determinado bairro cujos resultados podem ser

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usados para a fase de avaliação e tomada de decisão sobre a melhor forma de gestão do risco. Apesar da consistência dos resultados da análise feita com aplicação de processos matemáticos, nada nos garantiria efetivamente que o bairro viria a arder nesse ano ou nos dois ou três anos subsequentes e nem que as consequências reais sobre os seus elementos venham a ser exatamente as estimadas à priori.

Por seu turno, a dimensão subjetiva relaciona-se com as perceções pessoais do risco e com o comportamento psicológico de cada indivíduo para responder a situações de ameaças ou de incertezas, sendo uma perspetiva mais adequada para os campos da psicologia, economia e gestão (Almeida, 2011). Segundo Aven & Renn (2010), a perceção do risco é o julgamento com base em crenças que um indivíduo, comunidade ou sociedade fazem acerca do risco.

A perceção do risco pode ser influenciada pela avaliação técnica do risco e pelas experiências próprias do indivíduo, assim como por fatores psicológicos como o medo. A propósito, estudos da psicologia defendem que as perceções são formadas pelo raciocínio do senso comum, experiências pessoais, os medias e as tradições culturais (Pidgeon, 1998; Almeida, 2011).

A perceção das pessoas acerca do risco difere consideravelmente em função de aspetos culturais e sociais, sendo que o julgamento é feito com referência à natureza, causas e circunstâncias do risco. Para Almeida (2011), fatores culturais, psicológicos ou cognitivos influenciam a forma como as pessoas encaram o risco, ampliando ou reduzindo a sua perceção, podendo muitas vezes divergir com resultados obtidos com base na análise quantitativa.

Tal como a avaliação técnica, a pesquisa no campo da perceção do risco pode contribuir para a melhoria das políticas públicas, ao captar e revelar as preocupações das pessoas e os valores que defendem. Igualmente, podem servir de indicadores para as preferências do público, para dar a conhecer atitudes e práticas de vida que potenciam riscos, ajudar a criar estratégias de comunicação do risco e representar

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experiências pessoais, numa perspetiva que escapa da avaliação técnica do risco (Fischhoff, 1985).

Enquanto isso, a dimensão política do risco está associada ao poder político e à governação na definição de políticas públicas adequadas para lidar com a problemática do risco. Considerando o alcance do conceito da governança, a dimensão política do risco implica o enquadramento dos princípios gerais da governança no contexto da tomada de decisões para a gestão do risco. Significa o envolvimento de atores governamentais e não-governamentais nas estruturas e nos processos de tomada de decisão pública (Neye & Donahue, 2000).

Para Aven & Renn (2010), a governança do risco inclui a generalidade de atores, regras, convenções, processos e mecanismos concernentes à recolha e análise de informações relevantes sobre o risco, bem como a tomada de decisões. A multiplicidade de atores exige a uma rigorosa definição de papéis através do processo regulatório e maior coordenação desde a formulação, decisão, implementação e avaliação das políticas públicas com vista a garantir que os resultados sejam positivos. Por exemplo, olhando a gestão do risco de incêndios no contexto do espaço objeto desta tese, o processo de governança abrangeria, de entre outros, as autoridades municipais, os munícipes, os bombeiros, os serviços de saúde e as empresas seguradoras. Ainda neste contexto, seria de grande relevância a legislação sobre a segurança contra incêndios, na qual deviam estar claramente definidas as responsabilidades de cada ator e a forma de participação.

Para além das dimensões já apresentadas, o risco pode ser analisado em perspetivas adicionais, que foram sistematizadas por Almeida (2011): (i) social, associada à perceção e ao comportamento coletivo face ao risco, manifestado através dos meios de comunicação social e da participação pública em questões relacionadas com o tema; (ii) jurídica, adequada para estudos que procuram captar como o risco é considerado no campo do direito, da justiça ou de aplicação da lei, na gestão de conflitos e definição de responsabilidades; (iii) cultural, associada à forma como a

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humanidade tem encarado as ameaças e os mecanismos de segurança que tem adotado ao longo da sua evolução; (iv) filosófica, relacionada com três vertentes: o conhecimento e as metodologias para a caracterização científica dos fenómenos, o significado e a realidade do risco, e aos dilemas éticos colocados pela problemática do risco; e (v) económica, a qual procura compreender os comportamentos dos mercados financeiros face às vicissitudes e impactos de eventos económicos, como a criação de um novo produto ou o surgimento de uma nova empresa.

Como a literatura especializada reconhece que nenhuma perspetiva sozinha consegue captar melhor a problemática do risco, neste trabalho foi dada especial ênfase a três dimensões: técnica, subjetiva e social, por se terem mostrado melhor ajustadas aos objetivos inicialmente traçados.

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