• Nenhum resultado encontrado

Fatores Desencadeantes dos Incêndios e Agentes Supressores

Elementos expostos

4. Estatística Descritiva do Histórico de Incêndios Urbanos no Município de Maputo (1999 2012)

4.5 Fatores Desencadeantes dos Incêndios e Agentes Supressores

A identificação dos fatores desencadeantes dos incêndios correspondeu ao que, nos registos do SENSAP se considera causa da ocorrência, tendo sido possível identificar 11 fatores, nomeadamente: curto-circuito, fogo posto, equipamento de cozinha, vela, fósforo, cigarro, candeeiro, fuga de gás, brasa, auto-quecimento e soldadura.

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 1 (0h as 6h) 2 (6h as 12h) 3 (12h as 18h) 4 (18h as 24h) In nd io s( %) Períodos do dia (%)

119

Entretanto, constatou-se a existência de ocorrências cujas causas não foram devidamente esclarecidas e casos decorrentes de causas excecionais ou raras como descargas elétricas atmosféricas e explosivos militares. Esses dois grupos de fatores foram respetivamente designados por desconhecidos e outros, conforme consta da tabela 4.4. Esta tabela mostra, em termos absolutos e em frequência, a hierarquia dos fatores desencadeantes de incêndios urbanos no Município de Maputo, a qual pode ser mais facilmente visualizada na figura 4.6.

Tabela 4.4 – Fatores desencadeantes dos incêndios no Município de Maputo de 1999 a 2012 (fonte dos dados: registos dos livros diários dos bombeiros e arquivo do Jornal Notícias).

Fator desencadeante do incêndio Nº de incêndios registados %

Curto-circuito 356 40

Equipamento de cozinha 108 12

Desconhecido 84 9

Vela acesa 74 8

Fósforo com menor 58 7

Fogo posto 42 5 Candeeiro artesanal 39 4 Cigarro aceso 38 4 Fuga de gás 25 3 Auto aquecimento 23 3 Brasa 22 2 Soldadura 12 1 Outros 6 1 Total 887 100

120

Figura 4.6 – Distribuição percentual dos incêndios por fator desencadeante (fonte dos dados: registos dos livros diários dos bombeiros e arquivo do Jornal Notícias).

O curto-circuito foi o fator determinante na maior parte dos incêndios, com 40 % do universo de ocorrências. Significa que mais de 1/3 de ocorrências de incêndios deveu- se a problemas relacionados com a energia elétrica, quer devido à precariedade de instalações elétricas, quer por negligência no uso de eletrodomésticos.

A influência das precárias instalações elétricas manifesta-se ainda no elevado número de ocorrências associadas a equipamentos de cozinha (12 % do total), auto- aquecimento e soldadura (3 % e 1 % do total, respetivamente), pois esses fatores, muitas vezes, relacionam-se com ligações clandestinas ou instalações elétricas improvisadas e a consequentes sobrecargas de utilização da corrente elétrica.

Os dados colocam ainda em destaque o fogo posto, um fator normalmente tratado em fórum criminal, que responde por 5 % das ocorrências. No entanto, convém explicar que muitos casos de fogo posto ocorreram fora de residências ou de estabelecimentos

40 12 9 8 7 5 4 4 3 3 2 1 1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Inc êndi os em % Fatores desencadeantes

121

comerciais, atingindo elementos como contentores de lixo, como será demonstrado na secção seguinte.

Na sequência, figuram fatores que expressam a influência do comportamento humano na ocorrência de incêndios. A negligência humana manifesta-se em factos concretos como esquecer fogão, candeeiro ou vela em chama, deixar crianças brincarem com fósforos ou até esquecer um cigarro aceso sobre algum material condutor do fogo. Com efeito, esses comportamentos juntos foram responsáveis por 23 % do universo das ocorrências.

A representar 3 % do total encontra-se a fuga de gás doméstico. Este fator relaciona- se, por um lado, com a negligência humana e, por outro, com a precariedade das instalações de botijas de gás para cozinha. O gás doméstico ainda não é canalizado, o que representa uma expressiva exposição ao perigo em caso de incêndio, sendo certo que seria mais fácil fechar a conduta do fornecimento de gás num bairro que desligar todas as botijas existentes nas residências.

Com uma expressão relativamente menos significativa encontra-se a soldadura (1 % do total). Os incêndios associados a este fator desencadeante ocorrem, normalmente, em pequenos estabelecimentos de indústria de manufatura e em oficinas de serralharia. Como já foi referido, não foi possível determinar a causa de 9 % do total dos incêndios. O facto de esta categoria ocupar a terceira posição ilustra as dificuldades que os bombeiros têm na determinação das causas dos incêndios. Aliás, Primo et al. (2008) encontraram situação similar ao estudarem os incêndios na cidade do Porto (Portugal). Em relação à distribuição dos incêndios considerando os responsáveis pela sua extinção, verificou-se que a larga maioria (87 %) dos incêndios é extinta pelos bombeiros, enquanto os populares, incluindo donos das infraestruturas, vizinhos e transeuntes, foram responsáveis pela extinção de 10 % dos casos. Por seu turno, a empresa Eletricidade de Moçambique interveio em 3 % dos casos.

122 4.6 Tipo de Elementos Afetados por Incêndios

O inventário de ocorrências de incêndios no Município de Maputo abrangeu a identificação dos elementos afetados (Tabela 4.5).

Mais de metade das ocorrências (543; 61,2 % do total) ocorreu em residências, representando uma média anual de 39 casos, o que era de esperar, tendo em consideração os tipos de fatores desencadeantes dominantes descritos na seção anterior.

Em segundo lugar, com 159 casos (17,9 % do total) destacam-se os estabelecimentos comerciais, exceto os bancos e estabelecimentos hoteleiros ou similares que mereceram um tratamento separado. Esta tendência justifica-se considerando que nos estabelecimentos comerciais trabalham muitas pessoas, principalmente durante o dia, pelo que os incêndios podem estar associados a comportamentos negligentes, para além da possibilidade de ocorrência de curto-circuitos.

Em terceiro plano surgem os incêndios que afetaram equipamentos elétricos com 58 casos (6,5 % do total), uma posição acima dos incêndios que deflagraram em lixo acumulado na rua ou em contentores (31 casos, equivalentes a 3,5 % do universo das ocorrências).

A seguir destacam-se edifícios onde funcionam serviços oficiais ligados à Administração Pública com 30 casos (3,4 % do total), seguido pelos estabelecimentos hoteleiros e similares com 28 incêndios (3,2 % do total). Nesta última categoria incluíram-se as barracas e contentores adaptados em pequenos estabelecimentos para a comercialização de diversos produtos alimentícios, com destaque para as bebidas alcoólicas. Refira-se que estes estabelecimentos encontram-se implantados em praticamente todos os bairros do Município de Maputo e constituem fonte de sustento para muitas famílias.

123

Tabela 4.5 – Tipo de elementos afetados pelos incêndios no Município de Maputo de 1999 a 2012 (fonte dos dados: registos dos livros diários dos bombeiros e arquivo do Jornal

Notícias).

Tipo de elemento afetado Nº de incêndios %

Edifício residencial 543 61,2 Edifício comercial 159 17,9 Equipamento de eletricidade 58 6,5 Lixo 31 3,5 Edifício oficial 30 3,4 Estabelecimento Hoteleiro/similar 28 3,2 Capim 8 0,9 Estabelecimento de saúde 7 0,8 Jardim 6 0,7 Estabelecimento militar 4 0,5 Árvore 3 0,3 Estabelecimento de culto 2 0,2 Estabelecimento desportivo 2 0,2 Banco 1 0,1 Bomba de Água 1 0,1 Estabelecimento de ensino 1 0,1 Fábrica 1 0,1 Palmar 1 0,1 Ponte 1 0,1 Total 887 100,0

De entre os elementos menos afetados pelos incêndios constam capim em zonas verdes mal conservadas, jardins, árvores na via pública, bombas de água, escolas, bancos, pontes, estabelecimentos de saúde, culto e militares que, no total, registam uma média de 2,7 casos por ano. De entre este último conjunto, destacam-se os estabelecimentos especiais como escolas, bancos, pontes, estabelecimentos de saúde, culto e militares que representam um elevado grau de risco devido, nomeadamente, às características dos ocupantes, ao nível de ocupação e à sua importância estratégica.

124 4.7 Vítimas e Danos Materiais Registados

No que se refere ao número de vítimas humanas, os relatórios do SENSAP registam um total de nove mortos e 44 feridos no período em análise (Figura 4.7), com destaque para 2009, com cinco registos, seguido de 2007 com três e 2001 com um óbito, enquanto nos restantes anos não houve registo de mortes.

Figura 4.7 – Distribuição anual das vítimas mortais provocadas por incêndios urbanos (fonte dos dados: registos dos livros diários dos bombeiros e arquivo do Jornal Notícias).

Em relação aos feridos (Figura 4.8), 2008 é o ano com maior número de registos, 17 vítimas, seguido de 2006 com oito vítimas e depois 2007 e 2012 com seis e cinco vítimas, respetivamente. Em 2002 e 2009 houve registo de três feridos por ano, enquanto em 2005 e 2010, uma pessoa ficou ferida por ano. Nos restantes anos não houve registo de feridos provocados por incêndios.

0 1 2 3 4 5 6 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 N úmer o d e mo rt es Anos

125

Figura 4.8 – Distribuição anual dos feridos devido a incêndios urbanos (fonte dos dados: registos dos livros diários dos bombeiros e arquivo do Jornal Notícias).

Em relação aos danos materiais provocados pelos incêndios, os registos do SENSAP não fornecem detalhes acerca dos bens que foram perdidos nos elementos afetados, mas é possível contabilizar o número dos edifícios total ou parcialmente destruídos. Neste contexto, no período analisado foram registados 509 edifícios afetados pelo fogo, dos quais 311 foram completamente destruídos, incluindo os bens no seu interior, representando uma média de 22 edifícios por ano e 9 por bairro. Os restantes 198 edifícios sofreram uma destruição parcial da sua estrutura, o que representa uma média anual de 14 e de 6 por bairro.

Em relação a danos em outros elementos expostos, destaca-se a destruição de infraestruturas importantes, nomeadamente uma ponte e uma bomba de combustível, bem como de veículos estacionados.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 N úmer o d e fer id os Anos

126

A determinação do valor dos danos em termos monetários é difícil, dado que os registos não detalham a estrutura dos imóveis afetados e, muito menos, os valores aproximados dos outros elementos ardidos. Outro grande entrave prende-se com dificuldades em se valorar a vida humana, tanto por questões éticas como operacionais.

127

5. Suscetibilidade a Incêndios Urbanos

Documentos relacionados