• Nenhum resultado encontrado

4.2 O período dos contratos de ATES

4.2.1 As metas contratadas em 2009

A contratação das metas por contrato entre INCRA e prestadoras passou a ser executada a partir de 2009, embora a formulação do contrato, e por conseguinte das metas, tenha sido realizada no decorrer do ano anterior. A definição das metas ocorreu a partir do conhecimento dos técnicos da Coordenação e Supervisão de ATES do INCRA/RS, que estavam envolvidos na construção do Programa de ATES. Além disso, havia um conjunto de relatórios das atividades prestadas através da modalidade de convênios.

Conforme Zarnott et al. (2012), a construção das metas em 2009 ocorreu com base nas orientações do Manual Operacional (INCRA, 2008), sendo que um dos objetivos visava uma mudança de concepção do trabalho de extensão rural. No período, haviam críticas de que a assistência técnica estava voltada essencialmente para ações de caráter produtivista, não contemplando a diversidade de temas existentes. Nesse sentido, as metas construídas para 2009 buscavam garantir ações produtivas, ambientais e sociais, além de ações buscando a integração das famílias assentadas às demais políticas públicas.

Esse período foi caracterizado pelos autores como de transição, uma vez que, segundo o Manual Operacional da ATES, a contratação das prestadoras deveria ocorrer conforme os PDA‟s e PRA‟s. Como o INCRA/RS não tinha esses documentos, a sua elaboração foi uma meta do contrato entre INCRA e prestadoras.

Além disso, também existiam ações que eram importantes, na visão do INCRA, mas que não eram realizadas durante os convênios, e que passaram a ser

objeto de metas, obrigando a execução por parte das prestadoras. Como exemplo, pode-se citar que a totalidade das famílias deveriam ser objeto de ações da ATES. Na modalidade de convênios, embora fosse possível todas as famílias participarem das atividades coletivas realizadas, bem como os técnicos realizarem visitas técnicas dirigidas a cada uma delas, não havia garantias de que todas estavam sendo assistidas ou se a ATES estava trabalhando apenas com determinados grupos de famílias.

Nessa perspectiva, a partir da modalidade do contrato e da definição das metas o INCRA passou a exigir visitas técnicas para a totalidade das famílias buscando, com isso, garantir a universalização do acesso aos serviços de ATES. Conforme Zarnott et al. (2012, p.164),

Os propósitos de universalização do acesso à ATES entre os assentados resultaram na inclusão de meta de ações individualizadas, relativas a visitas às famílias, evitando-se vieses de concentração da oferta de serviços à famílias próximas geograficamente da sede da prestadora ou com as quais os técnicos mantem melhores relações. Os propósitos da universalização do acesso à ATES manifestam-se, também, no desenho das ações coletivas ao estabelecer que essas devem ser realizadas em todos os assentamentos, independentemente do número de famílias assentadas.

O quadro 2 apresenta o conjunto de metas do Contrato de 2009. Percebe-se que a construção das metas ocorreu buscando uma padronização em todos os Núcleos Operacionais. Devido a isso, percebe-se que as metas contratadas são de caráter genérico, buscando a adaptação aos diferentes contextos que envolvem os Núcleos Operacionais.

Percebe-se, também, a busca por controle por parte do INCRA, uma vez que é estabelecido o período de execução de cada uma das metas. Assim, embora as equipes de ATES pudessem adaptar as atividades ao contexto local, o período de realização estava pré-estabelecido não havendo a preocupação com as possibilidades de realização em cada contexto.

Ainda, conforme o quadro 3, vê-se que o contrato para a execução dos serviços de ATES para o ano de 2009, previu um conjunto de ações a serem executadas através de visitas técnicas e outro conjunto para ser executado a partir de ações de caráter coletivo. Ficou estabelecido em 40% o tempo de trabalho destinado a cada um dos tipos de ações, sendo que os 20% restantes eram destinados a atividades não previsíveis.

Metas

Período de Realização

Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Marco Zero – Reunião geral e nos

assentamentos X X

1) Realização de PDA X X X X X X

2) Realização de PRA X X X X

3) Reuniões bimestrais X X X X X

4) Capacitação para instalação de UD X X X X X X X X X X X 5) Capacitação nas escolas X X X X X X X X X X X 6) Estudos e formações de catálogo de

sementes X X X X X X X

7) Ciclo de palestras sobre linhas

produtivas X

8) Cursos sobre manejo de pomar X X X

9) Campanha documentação da família X X X X

10) Oficinas de boas práticas de

higiene X

11) Oficinas sobre saneamento X

12) Levantamentos das estruturas

organizativas X

13) Engenheiro agrônomo para área

ambiental X X X X X X X X X X X

14) Palestras nas escolas sobre fontes

de água X X X X X X X X X X X

15) Elaboração de projeto de

recuperação de solos X

16) Reuniões sobre Licenças

ambientais X

17) Pesquisa continuada de

saneamento X X

18) Atividade com a PATRAN X X X X X X X X X X 19) Planilha Quadrimestral de

acompanhamento do lote X X X X

20) Seminário sobre matriz produtiva X

21) Relatório trimestral sobre ações do

Programa Terra Sol X X X

Quadro 2 – Metas contratadas para o ano de 2009.

Fonte: Projeto Básico da ATES10 (2008)

Identifica-se, já neste período, a percepção dos gestores da impossibilidade de se prever a totalidade das ações a serem executadas, destinando um período

10 O Projeto Básico é o edital de lançamento da licitação pública visando a seleção das Prestadoras

para ações não planejadas. Esse percentual de tempo era destinado essencialmente a atividades de articulação regional que deveriam ser realizadas de acordo com cada realidade. Portanto, não foi pensado buscando a execução de outras metas que pudessem surgir no decorrer do trabalho e sim em ações não previsíveis, mas importantes para a execução das metas contratadas.

Ação Percentagem

Atendimento da Unidade Familiar através de Visitas Técnicas

40%

Ações de caráter coletivo 40%

Comprovação de Ações Não-Previsíveis 20%

Total 100%

Quadro 3 – Distribuição percentual do tempo de trabalho das equipes técnicas de ATES

Fonte: Projeto Básico da ATES (2008)

Entre as características da execução das atividades previstas nesse período, estava a necessidade de repactuação da execução do contrato, uma vez que as prestadoras não conseguiram cumprir os prazos definidos. Além disso, em algumas ações houveram mudanças de quantidade de ações a serem executadas, caso das visitas técnicas individuais, que reduziram de três para duas visitas obrigatórias por família.

Segundo Zarnott et al. (2012) uma das críticas existentes no período era referente a um conjunto de ações que eram contratadas para serem executadas de forma semelhante em diversos assentamentos. Segundo os autores, os argumentos utilizados para a crítica eram de que, em algumas oportunidades, as possibilidades de temas para serem abordados nas ações, permitidas pelo contrato, eram inviáveis na dinâmica regional em que se encontravam os assentamentos. Além disso, que essa forma de contrato permitia que as mesmas ações poderiam ser repetidas anualmente para um mesmo conjunto de famílias.

Em resumo, percebe-se que o que estava em disputa era a definição do conteúdo das ações. Conforme os autores apresentam, existia a crítica da homogeneização das metas para todos os assentamentos. Essa homogeneização,

provocava metas descontextualizadas e sem uma sequência dentro de uma estratégia de desenvolvimento dos assentamentos. O caminho encontrado no período foi a construção de metas mais “genéricas”, permitindo às equipes técnicas maior autonomia na definição do conteúdo das ações (ZARNOTT, et al. 2012).