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5.7 AS MOTIVAÇÕES DOS(AS) ALUNOS(AS) EM ESTUDAR A LÍNGUA ITALIANA

5.7 AS MOTIVAÇÕES DOS(AS) ALUNOS(AS) EM ESTUDAR A LÍNGUA ITALIANA

Realizou-se o questionamento aos(as) professores(as) sobre os motivos que levavam os alunos a estudar a língua italiana. Algumas respostas foram de imediato pela ascendência e falaram do incentivo da família; outras baseadas na vontade de manter e cultivar os costumes e a tradição dos familiares, por gostar da língua, tendo a possibilidade de ir para a Itália. Para outros, a reelaboração da nostalgia, a pertença a uma etnia que os diferencie do imaginário e simbólico que o Estado Novo que queria lhes imputar, a cidadania brasileira e a língua nacional.

Percebeu-se que os alunos diferenciavam o sentimento da legalidade do sentimento de pertencimento, assim como a facilidade em aprender a língua. Relata Catarina:

É a proximidade, eles ficam fascinados com a facilidade que têm em comparar a língua portuguesa com a língua italiana, porque elas têm a mesma origem. A origem das duas é a mesma. Então é muito similar; e a questão que eles gostam muito é a pronúncia, é uma pronúncia leve, é uma pronúncia fácil que não compromete, eles têm prazer em pronunciar ou repetir as palavras. As falas dos(as) professores(as) entrevistados(as) podem ser agrupadas, segundo:

- A família, a descendência, a origem:

Clara: A maioria deles é porque tem descendência, diz o pai, daí alguns por interesse

próprio mesmo, a maioria que os pais dizem que tem descendência italiana ai vamos lá na Itália, aí do nada, o objetivo deles é querer ir para a Itália ou, muitos que gostam de futebol têm até o interesse de ir jogar na Itália; então, querem aprender italiano para ir jogar na Itália.

Camila: Eu acho que é bem essa questão de família mesmo, essa questão cultural assim, ah,

eles chegam e falam ‘o vô fala em italiano, meu tio fala em italiano’, eles já sabem perceber que na escola eles aprendem de um jeito e em casa o avô deles fala diferente; não é bem assim, aí tem toda essa questão do dialeto.

Nina: Principalmente a descendência, a gente

sempre mostra o porquê ensinar a língua italiana que não é simplesmente mais uma língua.

Joana: A motivação deles é mais essa questão

mesmo, quem, eu vejo assim, aqueles que são de

origem italiana, que em casa o pai e a mãe tem o

nonno e a nonna, que falam, tu vê aquele amor,

esses alunos realmente tem interesse e os outros quase não têm interesse não.

Serena: Os motivos, digamos assim: é pelo amor, pela cultura, pela origem, eu vejo mais isso, e

porque muitos, eu já vi, principalmente, muitos deles, os tios ou parentes, estão hoje na Itália e vivem já há muito tempo. Como eu tenho até alunos que têm irmãos que vivem na Itália. Então, esse é o entusiasmo deles quererem a língua. (Destaques nossos).

- A história e o passado:

Francesca: A ligação também com as raízes o passado, porque o passado, queira ou não queira, tem uma ligação porque sofreram muitos sofrimentos. Os imigrantes italianos

tiveram que abandonar tudo e aqui começar

uma nova vida e isso a gente não pode esquecer, isso não pode cair no esquecimento, é

uma coisa assim que faz bem pra personalidade eu acho também; e para quem não é de origem italiana está conhecendo algo novo, algo que no futuro com essa globalização com tudo, trabalhar num outro país, poder estudar, fazer uma faculdade e agora, hoje em dia, poucos têm esses sonhos de investir nos estudos. (Destaques nossos).

Ângelo: O motivo principal é o respeito pela história da vida deles, é o respeito das histórias

dos avós, dos bisavôs, é o sentimento que ficou

por um bom tempo adormecido, um sentimento de italianidade que ficou e que agora nós estamos

aos poucos retomando, ficou apagado, perdemos várias coisas, e nós estamos reconstruindo junto com o poder púbico, o museu, as casas típicas, as comidas típicas e você que vê quando eles falam, você estuda, o meu nonno fala isso, você vê que o olho deles brilha e que eles estão reconstruindo uma história. Igual ao que motiva, por exemplo, os negros, até pouco tempo falar de negros, da escravidão e tal era motivo de vergonha, agora o negro está reconstruindo a sua história, o italiano basicamente a mesmo história, isso aconteceu com o negro, com o italiano, com o alemão também então é um resgate de uma história que, pra muitos, era feia, mas era uma história de luta e sofrimento, e a nossa geração tem que entender isso, que eles estão aqui, não vieram a passeio,

que houve nas gerações passadas um grande sofrimento para nós estarmos aqui, se o meu

bisnonno não tivesse vindo, eu não estaria aqui

muito provavelmente. (Destaques nossos). Como percebido nas falas dos(as) professores(as) entrevistados, foi manifestado ressentimento, a frustação de uma acolhimento que não aconteceu. Mesmo com todos os acontecimentos e repressões que os descendente italianos sofreram durante o Estado Novo, o sentimento de pertença de grupo foi repassado para muitos descendentes, pois, a repressão foi na questão da língua, muitos costumes continuaram sendo repassados às novas gerações.

- O retorno às origens dos antecedentes:

Giovanna: O motivo principal é eles irem até a Itália sabendo, conhecendo um pouquinho da

língua, acho que esse é o principal motivo, acho que eles não têm interesse em outras coisas.

Anna: Eles querem muito falar em italiano em

casa, apesar de que, às vezes, eles dizem ‘profe, eu não entendi o que a minha avó falou hoje,

então, por isso, que estou te perguntando’, questionam, associam e por que a escola coloca de que é uma disciplina a mais que eles costumam fazer estudar e aprimorar.

Silvia: A gente tem que explicar pro aluno o

porquê que ela está aprendendo o italiano. Porque que o nonno, a nonna, o bisnonno veio da Itália, o

que estava acontecendo naquele país, como eles encontraram quando chegaram aqui. Eu vejo

como positivo e tem que resgatar, tem que cultivar sim.

(Destaques nossos).

Com relação à opinião do(a) professor(a) sobre o ensino língua italiana para os descendentes algumas respostas se repetem, sendo uma das principais razões o lado emocional, a ligação com o país que eles tiveram que “deixar” e o sentimento de pertença à Itália.

Ângelo: Então assim, o ensino da língua italiana

para os descendentes é muito mais emotiva que teórica. Então, eu sinto que eles querem

aprender porque eles têm o sentimento ligado com aquilo que eu falei anteriormente a Itália dos nossos bisavôs, aos sofrimentos dos, as aventuras que os nossos bisavós passaram do que uma Itália atual. Resgate da história da família.

João P.: Mais uma vez eu repito que acho aquele resgate histórico e também uma maneira de a

gente voltar às origens e poder ver a terra dos nossos antepassados, poder, se quiser, ir lá visitar e conseguir se comunicar com as pessoas de lá.

Lorena: Penso que é uma forma de

ressarcimento, correção do erro que foi a proibição da língua italiana em Santa Catarina.

Marco: É uma maneira de manter viva, as rodas

de conversa que se tinha em torno de uma mesa para falar de tudo um pouco.

Clara: Eu acho muito importante para resgatar a sua história, seu passado é sempre bom aprender

uma língua a mais, não ocupa lugar nenhum [...]

Joana: Eu acho isso excelente. Acho isso

excelente, acho maravilhoso para resgatar, para continuar esse resgate da língua, da cultura, [...].

Então, eu trabalho muito essa questão da história dos antepassados, de como era antigamente quando vieram pra cá e questão da cultura lá da Itália mesmo.

Anna: Importante para que eles tenham contato

com a outra cultura, porque muitos têm vontade

de fazer visitas para a Itália, mas o que sinto

assim quando eu comecei agora a muito pouco tempo no próprio vestibular, quando eu iniciei italiano na escola, a maioria das universidades tinha a língua estrangeira para escolher para o italiano, quando eu fiz optei pelo italiano e hoje são pouquíssimas as universidades que têm. Eu fiquei triste, os alunos perguntam ‘por que não tem italiano no vestibular que é uma língua que a gente consegue ler e entender?’.

Carina: Olha, eu acho que é fundamental, como eu disse, você é de origem italiana, não saber o italiano é perder parte de sua origem, perder parte de sua identidade.

Cristina: Eu acho que é uma coisa que, como eu

já falei antes, é muito importante, é valorizar a

cultura, não deixar morrer aquela coisa que a gente tem que respeitar as nossas origens a

gente tem que entender, respeitar, motivo de muita coisa do que a gente é hoje, a gente é resultado daquela cultura, então eu acho que deve ser preservado. (Destaques nossos).

Nas falas dos(as) professores(as) há a percepção da tensão entre o estar lá e aqui. O imaginário de que lá na Itália foi e é melhor e de que a cultura está mesclada com “terra, sangue e língua”, como um desencontro entre o estar aqui no Brasil e não ser daqui.

Alguns(as) professores(as) do ensino médio levantaram a possibilidade de que a língua italiana venha a ser substituída pelo ensino da língua espanhola, como incentivo do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL. Em contato com a SED, não foi localizada nenhuma informação sobre isso, mas existe sim, uma crescente preocupação quanto ao ensino da língua italiana, desde a morte de Luigi Barindelli e à crise econômica que afetou a Itália, como consequência, afetando financeiramente os repasses e os incentivos que eram disponibilizados pelo CCI PR/SC.

Nesse sentido, como relatou Sílvia, em sua escola, a perspectiva é manter o ensino da língua italiana, pois foi incorporada ao currículo escolar. Lembra ainda da importância sobre a atualização dos professores(as). Nas escolas municipais, a tendência na sua maioria é que permaneça, pois, como algumas já estão incluídas na grade curricular – via legislação – tende a ser mantida; contudo, alguns destacam os problemas que a cada eleição municipal podem acontecer alterações por não estarem oficializadas no currículo. Em uma das escolas, foi relatado que, no ensino médio, a partir do ano de 2013, os novos alunos que entram para o ensino médio passam para as turmas de espanhol – relatado que “agora é lei”92.

Outros(as) professores(as) falaram sobre a insegurança de serem contratados; não sabendo o que pode acontecer no ano seguinte. Se forem eles ou se serão outros os contratados. Outros fatores levantados são a desmotivação em relação ao ensino e a falta de apoio, tanto financeiro como da comunidade local. Maria, por exemplo, destaca um novo projeto que será executado em parceria com a comunidade e com apoio financeiro da prefeitura para uma viagem de intercâmbio para a Itália.

Já Rosa relata que o ensino na escola é levado a sério com apoio da coordenação da escola e dos alunos.

Em relação ao Projeto de Jaraguá do Sul, esse tende a continuar e está sendo construído com o passar dos anos. Algumas escolas estaduais levantaram que, conforme os alunos estão se formando, não ocorre a abertura de outras turmas. Já em outras escolas, nada foi comentado, e a tendência pela “força” da comunidade é continuar. Por outro lado, outros(as) professores(as) relatam:

Marco: Infelizmente o Estado tirou da grade a

língua italiana em 2013

Catarina: A gente está se despedindo da língua

italiana, é muito triste isso porque tem um histórico incrível. Essa escola aqui é uma escola referência, é uma escola modelo, é uma escola em que os pais fazem fila de madrugada para

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Lei Nº 11.161, de 5 de agosto de 2005, que dispõe sobre o ensino da língua espanhola: o artigo - “1o O ensino da língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do ensino médio”. Essa foi a única lei localizada, os(as) professores(as) entrevistados(as) mencionaram outra não foi encontrada.

conseguir vaga para os seus filhos porque as notas do IDEB93 são maravilhosas, porque do grupo de trabalho, a maioria é efetivo, pega junto. Então, a perspectiva para essa escola aqui é que vai acabar mesmo, deixar de lado uma fase que foi muito boa, maravilhosa pra quem passou por aqui, mas que está findando.

Joana: Quando começar mais turmas, aí um

professor só não vai dar conta, então tem que contratar mais e tem dificuldade em contratar professor, porque assim, não tem professor formado na área mesmo. Aqui teve uma época o Magister que formou em italiano, mas foram pouquíssimas pessoas, diziam: ‘fez por causa do português’, mas não seguia dando aula de italiano. Então, são pessoas que não são habilitadas no ensino superior como eu, não têm o ensino superior em italiano.

Maria Helena: Nesta escola, a expectativa é

assim boa, cada ano, no meu caso, tudo é planejado. […] o ensino de língua italiana não vai assim terminar, devido que a cultura daqui não vai mudar e todos que estão à volta sempre acharam interessante que os alunos aprendessem italiano.

Serena: Na verdade, como eu te falei, está caindo

bastante; então, a perspectiva que a gente tem é muito complicada, [...] o italiano vai acabar, infelizmente sim,

Andréa: Não sei, agora muda a prefeitura, muda,

não sei mesmo te dizer, porque quando continua, você diz que ano que vem a gente continua, agora como muda não sei, sinceramente. (Destaques nossos).

Percebeu-se pelas falas do(as) professores(as) entrevistadas(os) a preocupação com a possibilidade de que o ensino da língua italiana, em algumas escolas – onde a comunidade não participa ativamente ou a descendência não prevaleceu totalmente – acabe, deixe novamente de ser ensinado, agora não mais de modo repressivo como no passado, mas seja substituído por acordos econômicos onde outra língua prevaleça pela hegemonia, como a língua inglesa e a língua espanhola, conforme

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falou Maria: a “língua italiana deveria ser estudada e difundida muito mais, tanto no estado quanto no federal”. Camila aponta que deseja que a questão cultural permaneça cada vez mais forte, que voltem os incentivos financeiros e permaneça a valorização da cultura italiana em Santa Catarina. Nesse mesmo sentido, Fernanda rememora a importância do ensino para os descendentes e para o mundo cada vez mais globalizado em que vivemos.

Por outro lado, Nina descreve que da turma em que ela participou do Magister, apenas duas professoras seguiram a carreira de professora, e que é necessário o investimento na formação dos(as) professores(as) para que possam oferecer um ensino com o máximo de qualidade.

E assim, tem-se por unanimidade os(as) professores(as) entrevistados(as) que o ensino da língua italiana é muito relevante por diferentes motivos como os apresentados, e de como essa aprendizagem pode influenciar no futuro dos alunos e no seu desenvolvimento como pessoa, mas o que mais se destacou nas respostas foram a questão da descendência e a vontade de ir conhecer ou morar na Itália; por muitas vezes, foi repetida a questão de “resgatar” a língua, a cultura e os costumes. E como percebi, fica o reforço para esse o “estranhamento” de estar aqui no Brasil querendo estar lá na Itália. Uma elaboração fantasiosa-imaginária que, agora, lá está a “cucagnha” a terra prometida...ou mesmo a opção da nova geração por outra língua mais em consonância com o presente de que com o passado meio que idolatrado pelos(as) professores(as) .

5.8 A UNIVERSIDADE COMO FORMADORA DOS PROFESSORES