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Sumário

GERED MUNICÍPIO ESCOLA Rio do

5.3 DOCENTES QUE MINISTRAM O ENSINO DA LÍNGUA ITALIANA: um panorama geral e algumas falas dos(as)

5.3.1 Material utilizado no ensino atual

Na descrição do material utilizado para o processo ensino/aprendizagem da língua italiana nas escolas, foram apresentados pelos(as) professores(as) material próprio e livros de diversos autores.

Muitos livros foram disponibilizados pelos convênios do CCI de Curitiba com os municípios, e outros materiais, como as apostilas eram elaborados pelos(as) professores(as), respeitando os conteúdos e a idade dos alunos, assim como exemplificam a obra da italiana Simona de Santis90, L’Italiano Dei Piccoli, e o outro Viva L’Ítaliano, que são direcionados para as crianças e o In Italiano para os alunos do ensino médio.

Silvia: Agora a gente recebeu, há pouco tempo, do

Centro de Cultura Italiana do Paraná – Curitiba, a gente recebeu alguns livros que vão ser doados aos alunos, não são bem livros, apostilas da Simona Santis, escrita por ela. Nós tínhamos também nas escolas o Viva L’Ítaliano, não me lembro o autor ou autora desse livro. Só que esse livro desde que foi colocado o ensino de língua italiana nas escolas que ele está, foi doado uma vez e não foi mais. Só que, assim, acredito que quem escreveu aquele livro não conhecia a realidade do Brasil porque se baseou tudo na Itália. Estava difícil para lecionar com aquele livro, então o que acontece: eu como professora, não posso responder pelas outras, que eu faço? A gente segue os conteúdos mínimos, a gente tem os nossos conteúdos mínimos do plano anual, a gente segue o plano anual e vai buscar nas atividades, vai criando a aula, vai elaborando aula.

Maria Helena: Das duas maneiras. Foi adquirido

apostilas através do CCI (Simona de Santis); a gente ganhou do CCI uma minibiblioteca. A gente tem os livros de literatura que as crianças podem ler e como hoje na sala de aula a gente não tem, como eu não consigo ficar só nos livros, eu estou sempre dependendo da turma, eu desenvolvo as atividades conforme a necessidade deles.

Giovanna: Eu adoto um livro que é In Italiano e

também eu utilizo alguns materiais que eu tenho de quando eu fiz meu curso para sair da rotina do livro, alguns outros materiais que eu tenho em casa de cursos que eu fiz para não ficar na rotina.

90

Ela também trabalha na Embaixada italiana em Curitiba. Convidei para fazer uma entrevista, ela solicitou que enviasse umas perguntas por e-mail, contudo não enviou resposta.

Anna: Para os menores do 2, 3 anos que eles estão

na fase de alfabetização eu mesma faço o material, e o CCI às vezes me repassa o material, porque como eles estão no processo de alfabetização, procuro usar mais o ouvir e o falar do que o escrito, porque como existem várias pronúncias diferentes do italiano, o medo talvez seja de haver uma certa confusão Por exemplo, o som do C do Ci, que, no italiano, é che e chi, já aconteceu de alguma criança acabar se confundindo; eu busco levar música, jogos, imagens algumas atividades... Tem o livro de italiano fornecido pelo CCI que são para os três níveis: 1,2 e 3 e tem um 4, que é tipo um reforço, Benvenuti, bem de adolescente mesmo.

Rosa: A gente tem o apoio, tem livros, temos dois

livros. Tem o apoio do Centro de Cultura Italiano de Curitiba (livro da Simona de Santis) e temos uma orientadora pedagógica aqui na prefeitura.

Francesca: Tem alguns temas, depende, tem

certos momentos em que a escola trabalha algum tema, algum projeto, têm livros que eu utilizo - material. A biblioteca também tem vários livros, nós recebemos do Centro de Cultura Italiana. A parte das apostilas dela, sim (utiliza a Sinona de Santis). É um material lúdico, para as séries iniciais é ótimo. Material da faculdade, material da internet, eu tiro muita coisa assim, dependendo do tema.

Cristina: A gente tem um conteúdo para seguir

que a gente organizou, nós mesmos os professores, mas vai mudar, porque tem algumas coisas que deram certo e outras não. Esse ano, o CCI mandou recentemente um material pra gente trabalhar no ano que vem alguns níveis, não todos; só que assim vamos começar no ano que vem porque esse ano já está no final.

Andréa: [...] assim, cursos bem bons, mas eu

percebi depois que o Luigi Barindelli morreu, o idealizador da difusão da língua italiana. Depois

que ele faleceu, morreu um pouco disso, e eu nunca mais fui em curso nenhum. Eu não sei

como que está o convênio da prefeitura com eles; faz tempo que eu não recebo material, eu recebi alguns livros, mas faz tempo que eu não recebo

mais. Então, assim, cara e coragem, vamos trabalhar? Vamos!

Serena: De início, eu mesma desenvolvia o meu

material; depois, com muito apoio do CCI, que é o Centro de Cultura Italiana de Curitiba – Paraná e Santa Catarina. Então, eles nos enviaram muitos materiais.

Joana: Não, tem um livro; já faz três anos, está

bem assim desatualizado. É um livro, o que na época era o que melhor tinha. O livro é só emprestado para o aluno. Aí eu faço mais leitura, esses livros vieram da Itália […] do Viva

l”Italiano, eu trabalho a parte de leitura e, para

algumas atividades, eu faço cópia e trabalho o caderno de italiano com eles.

João P.: Também eu tiro de livros que eles me

deram, porque eu não tenho livro pra cada aluno, atividades compartilhadas no facebook e também outras que eu pesquiso e eu mesmo acabo construindo algumas atividades e compartilho com o pessoal que faz parte do facebook. (Destaques nossos).

Desse modo, percebeu-se a forte influência que o CCI teve a respeito da distribuição do material para as escolas conveniadas do estado de Santa Catarina. O(A) professor(a) tem o seu foco de ensino direcionado ao aluno e para a melhor forma de aprendizagem.

5. 3. 2 Imagem dos livros e do material utilizado em sala de aula Esse material apesentado nas Figuras de 6 a 11, cedido durante as entrevistas e as visitas realizadas no decorrer dos anos de 2012 e 2013, era utilizado até 2013 nas escolas que participaram desta pesquisa.

Figura 6 – Livro In Italiano 1.

Figura 8 – Livro L’Italiano Dei Piccoli 1.

Figura 10 – Livro Viva l’italiano 3.

Figura 11 – Material para colorir.

Assim, conforme relato dos(as) professores(as) entrevistados(as), os materiais utilizados para o ensino da língua italiana

são diversificados para melhor aproveitamento das aulas, cuja duração, na sua maioria, é de 45 minutos, seguindo a legislação vigente.

Nesse sentido, como percebido nas falas, os materiais utilizados nas escolas municipais eram fornecidos pelo Centro de Cultura Italiana de Curitiba, CCI – PR/SC; assim, surgiu a necessidade de pesquisar sobre Luigi Barindelli que fez muitas parcerias entre as escolas e o CCI.

5. 4 LUIGI BARINDELLI: político ou idealizador?

Na primeira entrevista realizada para esta pesquisa, foi mencionado o nome de Luigi Barindelli, assim como o seu nome foi repetido diversas vezes por vários(as) entrevistados(as) como o “Sr. Barindelli”, o italiano que realizou os convênios entre o CCI – PR/SC e as prefeituras municipais de Santa Catarina. Quando o nome de Luigi Barindelli era enunciado, por diversas vezes, percebeu-se que o tom de voz se modificava, era mais acentuado e muitos sorrisos eram emitidos.

Luigi Barindelli, um cidadão de origem italiana, estabeleceu-se no Brasil, com seus ideais ou ambições; fez com que o ensino de língua italiana fosse oferecido gratuitamente para um número de “ítalo- brasileiros e brasileiros” nas escolas ligadas às prefeituras do Estado de Santa Catarina, bem como de outros municípios do estado do Paraná (MOLOSSI, 2012).

Nasceu em Ensino Lario, na Província de Lecco-Lombardia, em 11 de fevereiro de 1939. Sua formação acadêmica foi em Milão, na Faculdade de Engenharia Elétrica. Fez pós-graduação na área de automação. Com 20 anos, foi eleito vereador. Teve vasta experiência internacional no controle de qualidade de termoeléctricas. Transferiu-se para São Paulo, onde ajudou a construir um asilo e a reformar uma igreja. No ano de 1980, veio chefiar o controle de qualidade da Hidroelétrica Itaipu, no Brasil (MOLOSSI, 2012).

Luigi Barindelli foi descrito como altruísta e com ideais políticos; lutou pelos direitos das comunidades ítalo-brasileiras, criou oportunidades de pesquisa, trabalho e auxílio para os idosos. Contribuiu para a construção de diversos comitês dos Italianos no Exterior, do qual sempre foi um membro. Lutou pelo direito ao voto do italiano no exterior. Participou de outras campanhas políticas. (MOLOSSI, 2012).

No ano de 1992, Luigi Barandelli, fundou o Centro de Cultura Italiana - Paraná/Santa Catarina, que tinha como objetivo o oferecimento

de cursos de língua italiana. A revista Insieme91 de 2012 publicou que, em 2005, os cursos foram frequentados por 24.855 participantes nos estados citados (MOLOSSI, 2012).

Em Santa Catarina, no ano de 1995, firmou-se o primeiro convênio para o retorno do ensino da língua italiana nas escolas de ensino fundamental catarinenses. Outro importante acontecimento foi a doppia laurea, ou seja, dupla formação, que seriam as parcerias entre as universidade do Brasil e da Itália para a formação dos(as) professore(as) para o ensino da língua nas escolas conveniadas, bem como os cursos profissionalizantes, foram disponibilizados pelo governo italiano (MOLOSSI, 2012).

Alguns(umas) entrevistados(as) relataram que a escola bilíngue (2002), com 5 horas-aula semanais de italiano, na primeira série, ocorreu durante poucos anos nos municípios de Arroio Trinta, Concórdia e Siderópolis do estado de Santa Catarina. Verifica-se no Quadro 7 como era distribuído o ensino por série, disciplina e carga horária:

91 Revista bilíngue publicada mensalmente, sendo de propriedade de Sommo Editora Ltda, de Curitiba - PR. É impressa pela Impressul Ind. Gráfica na cidade de Jaraguá do Sul – SC. Sua circulação é realizada através de assinaturas. Tem por objetivo a difusão e a promoção da cultura italiana e Ítalo-Brasileira. (INSIEME, 2004, nº 71).

1 séri e 2 séri e 3 séri e 4 séri e 5 séri e 6 séri e 7 séri e 8 séri e Língua italiana 5:00 5:00 5:00 5:00 5:00 5:00 5:00 5:00 Matemátic a 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 Ciências 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 Educação Cívica 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 História da Itália 1:00 1:00 1:00 2:00 2:00 2:00 Geografia da Itália 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00 2:00 Arte e cultura 1:00 1:00 1:00 1:00 1:00

Quadro 7 - Disciplinadas oferecidas nas escolas bilíngues por série, disciplina e carga horária.

Fonte: CCI – PR/SC.

A descrição da escola bilíngue, conforme relato de Rosa:

[...] eles trabalhavam o italiano desde os seis anos de idade. Aí era uma continuidade [...]. Era uma escola vinculada à prefeitura. Eles aprendiam de tudo. Desde o ‘oi, tudo bem?’ Até o os verbos, [...] tudo. O aluno estudava de manhã e participava [bilíngue] à tarde; quem estudava à tarde participava de manhã. Não tinha mais espaço de tanta criança que tinha.

A tentativa da modalidade de escola bilíngue não deu certo; as dificuldades financeiras e a falta de apoio financeiro foram os principais fatores para o seu encerramento.

Por uma enfermidade fatal, Luigi Barandelli veio a falecer em 27 de abril de 2006. Segundo Molossi (2012), deixou um grande legado para todos que buscam difundir a língua italiana nos estados de Santa Catarina e no Paraná. Como consequência ao seu falecimento, o ensino

da língua em Santa Catarina veio a decair muito; as verbas diminuíram ou foram cortadas, como foi afirmado por diversos professores(as) entrevistados(as).

5. 5 A CRISE DO ENSINO DE LÍNGUA ITALIANA

A crise do ensino da língua italiana foi mencionada por professores(as) entrevistados(as), bem como pela Revista Insieme, que o fez em dois exemplares, no mês de maio e junho de 2012.

A revista do mês de maio de 2012 traz em sua capa a imagem das ruínas do Coliseu em Roma, ruindo, como base de sustentação para o Cristo Redentor – símbolo do Brasil. Traz a frase bilíngue: LINGUA E

CULTURA ITALIANA EN BRASILE: MOMENTE

SMANTELLAMENTO, e na língua portuguesa LÍNGUA E CULTURA ITALIANA NO BRASIL: O MOMENTO É DE DESMONTE, como apresenta da Figura 12.

Figura 12 – “Língua e Cultura Italiana no Brasil: O Momento É de Desmonte”.

Fonte: Revista Insieme (2012).

Na matéria da revista, o título: “Golpe de morte sobre a língua de Dante”. O texto revelou como foi reduzida a ajuda oficial às escolas de

língua italiana e o risco de serem fechadas por falta de apoio financeiro. A revista abordava também o fechamento das escolas durante a Segunda Guerra Mundial, só que, em 2012, se as escolas fossem fechadas, a razão recairia na falta de apoio financeiro por parte do governo italiano: “assiste-se assim o desmonte silencioso das escolas de língua e cultura italiana, suporte indiscutível de toda italianidade duradoura. É então como se o se o Coliseu ruindo sob os pés do Redentor...” (INSIEME, 2012, p. 5).

Na sequência, era publicado que o encolhimento do ensino da língua italiana vinha concomitantemente ao aumento do ensino da língua espanhola (INSIEME 2012, s/a).

Destacadas pelos(as) professores(as) entrevistados(as), as repercussões do ensino da língua italiana em Santa Catarina estavam relacionadas ao fato de não estarem incluídas no currículo oficial conforme exigência legal. Essas dependiam de decisões de governantes locais e devido a esse fator, poderiam, sim, deixar de ser ministrada a língua italiana. Quanto à falta de auxílio, ficou claro o enfraquecimento do ensino da língua italiana.

A extinção gradativa de algumas turmas de ensino de língua italiana nas escolas estaduais e municipais, dessa forma, fez emergir o sentimento de perda por parte dos(as) professores(as) entrevistados(as):

Maria Helena: [...] triste, porque é coisa de

grande valia; se está sendo extinto isso, vai ser muito ruim, principalmente, não só para o ensino, mas para quem gosta de viajar, para ter o conhecimento, todas as línguas são importantes. Principalmente o que está mais relacionado com nossa cultura. Então, me sinto preocupada e

triste com isso, pensava que iam vir mais

oportunidades para poder melhorar, e está sendo cortado; isso é muito ruim no meu ponto de vista.

Carina: Olha, eu acho que na realidade proibir isso é afastar as pessoas da sua identidade, da sua real identidade, porque Santa Catarina tem muitos descendentes de italianos[...] Maria: Sinto um lamento, porque como qualquer

outra língua, acredito que a italiana, se fosse comparar, está muito mais próxima de nós do que a língua americana. (Destaques nossos).

Antes, os antepassados sofreram a coerção direta do Estado brasileiro. Contemporaneamente, as novas gerações podem ensinar, aprender e se expressar na língua italiana. Agora, tem-se a questão geral do domínio de outra língua por parte dos(as) atuais professores(as) que ensinam livremente em diversas escolas públicas do Estado de Santa Catarina.

Em 2015, o CCI - PR/SC forneceu o número de alunos que estudaram durante os anos de 1997 a 2013, nas escolas municipais, período que corresponde à oficialização do ensino da língua italiana, garantido pela LDB, em 1996. Como destaco no Gráfico 1

Gráfico 1 – Número de alunos por ano nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Santa Catarina.

Fonte: CCI Curitiba/Santa Catarina (2015). Autoria: CCI Curitiba/Santa Catarina (2015).

Pelo Gráfico 1, percebe-se a trajetória crescente do ensino da língua italiana , iniciado em 1997, alcançando o auge em 2005; a partir de 2006 evidencia-se o início da vertiginosa queda – de 15.740 alunos em 2005 para 5.849 em 2013, sendo que, em abril de 2006, ocorreu o

falecimento de Luigi Barindelli, “o idealizador e grande incentivador da