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As Mulheres e a Transição do Sistema Doméstico para o

CAPÍTULO II – As Mulheres e a Revolução Industrial

2. As Mulheres e a Transição do Sistema Doméstico para o

Não obstante o que observámos, as indústrias domésticas empregavam um grande número de mulheres e crianças. Como este tipo de indústrias não necessitava de um período de aprendizagem, as mulheres aproveitavam-se da facilidade que tinham à disposição:

Though women had always worked in handicraft production, they were employed in cottage industries on an exceptionally large scale. These industries were small scale, not far removed from the homestead, if at all, and were built on the industries and skills of traditional crafts and domestic manufacture. Domestic industries did not usually require apprenticeship, so women found these easier to enter than regulated trades. Entrepreneurs needed their labour, and the large numbers of women needing an income made them attractive and affordable employees.176

Embora, no decorrer do século XVIII, a tendência fosse constituir fábricas e oficinas em miniatura o sistema doméstico de produção ainda perdurou durante a totalidade do século XIX, funcionando lado a lado com as fábricas. Em Inglaterra os sistemas fabril e doméstico coexistiram e foram ambos fulcrais para

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Na altura da Revolução Industrial, acusava-se as mulheres de descurar o trabalho doméstico, o marido e os filhos, quando estavam empregadas em fábricas. Também foram acusadas de ignorância e de serem responsáveis pelas taxas elevadas de mortalidade infantil.

176Deborah Simonton, “Women Workers; Working Women,” The Routledge History of Women in

o processo da industrialização, funcionando como duas facetas complementares. Muitos dos processos da produção de um determinado produto ocorreram simultaneamente nas fábricas e nas casas particulares, e até para o mesmo patrão.177 Entretanto, verificar-se-ia uma queda progressiva da produção de cariz doméstico, a fim de possibilitar o desenvolvimento do sistema fabril. Efectivamente, em finais do século XVIII, construíram-se grandes unidades fabris, de forma a possibilitar a instalação das novas máquinas, demasiado grandes para funcionar nas casas particulares. No início do processo, as fábricas eram geralmente pequenas e empregavam poucas pessoas, mas a nova máquina de fiar e a utilização da energia a vapor provocaram o aumento do número de fábricas maiores e mais bem equipadas, com condições de trabalho mais adequadas.178

Nos Condados de Northampton, Bedford e Buckingham salientava-se a produção de rendas, o que fazia com que as mulheres e as crianças se dedicassem a este tipo de trabalho e não à agricultura. Nos Condados de Dorset e Somerset, no sudoeste, as indústrias domésticas tinham um papel de destaque, devido à produção de botões, luvas e seda. As paróquias próximas dos novos centros urbanos, como é o caso de Derby, Nottingham e Leicester, caracterizavam-se também pelo emprego de mulheres e crianças. No entanto, nestas indústrias, os salários costumavam ser muito baixos, o que fez com que, em determinados casos, as mulheres tivessem de recorrer ao trabalho sazonal agrícola,

177Muitos patrões pensaram fundar grandes unidades fabris, mas acabaram por preferir o sistema

doméstico de produção, por ser mais cómodo e barato. Este tipo de comportamento tornou-se bastante frequente, nas indústrias têxteis, que empregavam um grande número de mulheres.

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As primeiras fábricas não dispunham de instalações adequadas, com tectos baixos e, consequentemente, ventilação insuficiente. O número de mulheres a trabalhar, nestas primeiras unidades fabris, era bastante reduzido, enquanto que as crianças foram muito utilizadas. As jovens chegavam a ser dispensadas, quando chegavam à idade adulta. Com o desenvolvimento da máquina a vapor, começaram a construir-se máquinas mais sofisticadas que necessitavam de mais mão-de-obra adulta. Assim, o número de mulheres a trabalhar nas fábricas aumentou consideravelmente, no início do século XIX. O “Factory Act” de 1833 também contribuiu para esta situação, uma vez que, ao limitar o trabalho infantil, aumentou a necessidade da mão-de-obra adulta. (I. Pinchbeck Part II, Chapter IX.)

principalmente no Verão. O emprego de mulheres e crianças nas colheitas não se caracterizava pela uniformidade, por variar de região para região:

Here a more distinct regional pattern emerges: with the exception of Berkshire, all the counties which return the highest proportion of mentions for female and child harvest labour lay in northern and eastern England (Lincoln, Northumberland, Nottingham, Westmorland, East and North Yorkshire). Again, the counties least likely to mention women and children being engaged in the harvest (Shropshire being exceptional) were those with a preponderance of domestic industries or manufacturing opportunities (Bedford, Dorset, and West Yorkshire).179

Uma das situações mais preocupantes em relação ao trabalho feminino ficou a dever-se à introdução da nova maquinaria para fiar o produto enviado pelas manufacturas vizinhas. O trabalho manual continuou ainda durante algum tempo, mas a competição das máquinas tornou-se aqui mais forte e os salários sofreram uma quebra acentuada. Como consequência, a única alternativa seria ficar dependente da caridade alheia, ou então, procurar trabalho na agricultura. Mesmo que as mulheres continuassem a fiar, o salário continuava a ser tão baixo que as forçava a procurar trabalho na agricultura, à semelhança do que ocorria noutras indústrias domésticas,180como vimos anteriormente.

Nas sociedades anteriores à Revolução Industrial, as mulheres tinham a responsabilidade de confeccionar as roupas para toda a família. Com o surgimento das indústrias têxteis, perderam progressivamente o controlo do fabrico de roupas, embora o seu trabalho continuasse a ter uma importância vital, enquanto as manufacturas dominaram a produção, especialmente nas tarefas relacionadas com a fiação. Durante o século XVIII, muita roupa continuava ainda a ser feita nas

179 Nicola Vernon, “The rural labour market in the early nineteenth century: women’s and

children’s employment, family income, and the 1834 Poor Law Report,” The Economic History

Review, vol. LV, No. 2 May 2002: 311-312.

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quintas do Norte da Inglaterra e no País de Gales, mas começou a assistir-se ao gradual desenvolvimento das indústrias têxteis, transferidas do campo para a cidade. Apesar de as mulheres trabalharem, não recebiam; considerava-se que, juntamente com as crianças, pertenciam a uma família e que o salário deveria ser pago ao homem, como seu chefe. Assim, encarava-se o casamento como um negócio ou conveniência; os esposos trabalhavam juntos para um fim comum.

A introdução da nova maquinaria viria a produzir alterações profundas, não só na vida doméstica, mas também nas condições de emprego das mulheres. Com as mudanças verificadas no comércio e na indústria, em finais do século XVIII e inícios do XIX, as indústrias domésticas mais pequenas181 começaram a proporcionar menos oportunidades de emprego.