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Essa digressão histórica buscou apresentar, em linhas gerais, como se deu o desenvolvimento da noção de saúde. Embora os fatos e conceitos apresentados tenham como referência os acontecimentos na Europa e nos Estados Unidos, não se pode esquecer as importantes contribuições das práticas terapêuticas tradicionais no Ocidente, na América do Sul, na África e no Oriente Médio (STARLING et al., 2011; BADKE et al., 2012).

Como na “sociedade ocidental, a ciência é a forma homogênea de construção do conhecimento” (MINAYO, 2010, p. 35), o desenvolvimento social das práticas em saúde exigiu (e ainda exige) uma base sólida em informações e evidências confiáveis, conforme será abordado na seção seguir.

[...] tanto isoladamente como em conjunto, que traz subjacente a pesquisa científica como força motriz do processo de desenvolvimento de nações e povos. A princípio, a informação como característica da contemporaneidade, num processo crescente, ininterrupto e decisivo para a vida pessoal e profissional dos indivíduos e das coletividades. Segundamente, a informação em saúde como recurso fundamental para assegurar o bem-estar dos povos, haja vista que o indicador mais em voga para avaliar a qualidade de vida e o progresso humano no contexto mundial, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), agrega três itens, dentre os quais está a longevidade, que diz respeito à esperança de vida ao nascer e reflete os padrões de saúde pública, nutrição e condições materiais de vida, fatores determinantes para definir o nível de qualidade das gerações. Além da longevidade, o IDH privilegia o nível educacional, alusivo à taxa de alfabetização da população adulta e à taxa combinada de matrícula nos ensinos fundamental, médio e superior, e um terceiro elemento, acesso a recursos, cujo indicador é a renda per capita (TARGINO 2009, p.

52).

Há no campo da saúde uma importante diferenciação entre informação e evidência científica, mas que é pouco explorada na literatura nacional do campo da Ciência da Informação. Em termos gerais, conforme ilustrado na Figura 1, há informações sobre/para a saúde:

Figura 1 – Informação sobre/para a saúde

Fonte: Galvão (2019).

Conforme representado na Figura 1, há um contexto maior de informações sobre/para a saúde. Nesse universo, há informações de ordem clínica, acadêmica, para administração/gestão, etc. A diferença entre evidência e informação científica em saúde reside no uso, na aplicação que se dá a determinada informação (GALVÃO et al., 2013).

A informação científica em saúde é aquela que trata a compreensão teórica dos fenômenos relacionados à saúde, sem uma dimensão prática ou preocupação com a aplicação concreta, nos cuidados da saúde física e mental da população (GALVÃO, 2019). Por outro lado, a evidência científica em saúde é aquela que

Tem o potencial de melhorar a condição de saúde, o seguimento e a resiliência; a prevenir doenças ou seu agravamento; a evitar tratamentos, procedimentos diagnósticos, intervenções preventivas ou referências inapropriadas ou desnecessárias; a reduzir preocupações sobre tratamentos, procedimentos diagnósticos ou intervenções preventivas; e a aumentar o conhecimento de profissionais, pacientes e seus familiares (GALVÃO, 2019, grifo nosso).

Dessa forma, há um estreitamento do vínculo entre pesquisa e prática clínica (GOMES, 2006). A literatura preconiza que os seguintes aspectos sejam combinados na tomada de decisão baseada em evidências:

Figura 2 – Elementos que devem ser contemplados na tomada de decisão em saúde

Fonte: Pereira e Veiga (2016, p. 118).

Conforme apresentado na Figura 2, o processo de tomada de decisão baseada em evidências deve ocorrer a partir da combinação entre a melhor evidência disponível, a experiência do profissional da saúde e as características, necessidades, preferências e valores da população alvo da intervenção, além do próprio contexto ambiental (GOMES, 2001;

PEREIRA; VEIGA, 2016).

As discussões em saúde não estão centradas na informação pura e simples, mas naquela de caráter científico (resultante do processo de pesquisa científica,) nomeadamente informação científica, que, quando aplicável para resolver questões objetivas de saúde, são denominadas evidências (KURAMOTO, 2006; GALVÃO, 2019).

Além de parte integrante, a ação bibliotecária é fundamental na produção, organização, recuperação e disseminação de evidências. Nessa perspectiva, Ciol e Beraquet (2009, p. 223) realizaram uma interessante e provocativa indagação: “Como a Ciência da Informação se envolve nesse processo? A interdisciplinaridade da área possibilita seu envolvimento com todos os campos do saber organizando o conhecimento para torna-lo acessível, disponível em o que é mais relevante, utilizável” (CIOL; BERAQUET, 2009, p. 223). Porém, os bibliotecários

“devem ser capazes de reconhecer e considerar papeis e oportunidades não tradicionais de atuação, bem como as habilidades e competências desejáveis e os princípios norteadores para cada atuação” (CIOL; BERAQUET, 2009, p. 223), tendo em vista os aportes teórico-metodológicos da Ciência da Informação. Além do mais, no que diz respeito ao binômio informação e saúde

É essencial perceber a saúde como recurso básico de qualquer sociedade e, por conseguinte, a informação em saúde é fundamental ao processo de tomada de decisões no âmago das políticas públicas, objetivando elevar a qualidade de vida dos povos.

Informações sobre perfil da morbidade e mortalidade, fatores de risco mais frequentes e os seus determinantes, características demográficas e serviços de assistência médico-sanitária são imprescindíveis ao planejamento, à implantação, à implementação e à avaliação de ações e serviços de saúde, independente das especificidades das coletividades (TARGINO, 2009, p. 54).

Em última análise, “a ideia principal é fortalecer a provisão e a aplicação da informação em saúde, melhorando a interação entre seus profissionais e os serviços de saúde, diminuindo a lacuna entre o que a Academia produz e o que é efetivamente trazido para a prática” (CIOL;

BERAQUET, 2009, p. 225). Afinal,

A função macro da informação em saúde é detectar problemas individuais e coletivos do quadro sanitário de uma população, oferecer elementos que subsidiem a análise rigorosa desse quadro e, então, apresentar alternativas para minimizar a situação encontrada. Para isto, em termos ideais, abrange tanto informações relativas ao binômio saúde x doença como as de natureza administrativa (TARGINO, 2009, p.

54).

A atuação bibliotecária exige uma visão macro sobre a complexidade do contexto informacional em saúde. É essencial que o bibliotecário conheça os diferentes tipos de estudos em saúde, as diretrizes para classificação e avaliação da qualidade das evidências, os instrumentos para qualificar o relato dos estudos, etc. Afinal, o atendimento das necessidades informacionais que lhe são apresentadas passa pelo entendimento da utilidade de cada desenho metodológico ou ainda o que cada pergunta de pesquisa pode responder ao privilegiar determinada técnica de pesquisa (FERREIRA, 2017; MIGOWSKI, 2017). Exemplo:

Os estudos clínicos apresentam quatro diretrizes principais: questões sobre diagnóstico, tratamento, prognóstico ou prevenção. Para responder a cada uma dessas questões, existem desenhos de estudos adequados. Para questões sobre diagnóstico, o estudo mais adequado é o de acurácia; para questões sobre tratamento, a opção é pelo ensaio clínico controlado randomizado; para prognóstico, os estudos coortes são os mais adequados; e para prevenção, a recomendação é por ensaios clínicos controlados randomizados (OLIVEIRA, 2010, p. 27)

Nessa perspectiva, Galvão, Ricarte e Carmona (2019) são enfáticos ao afirmar que

As informações em saúde, sobretudo aquelas que derivam de estudos com alto nível de evidência científica como as revisões sistemáticas, as metanálises e os estudos controlados randomizados, podem auxiliar profissionais de saúde, pacientes e seus familiares a melhorar a condição de saúde, o seguimento da assistência e a resiliência;

a prevenir doenças ou seu agravamento; a evitar tratamentos, procedimentos diagnósticos, intervenções preventivas ou referências inapropriadas ou desnecessárias; a reduzir preocupações sobre tratamentos, procedimentos diagnósticos ou intervenções preventivas; e a aumentar o conhecimento de profissionais, pacientes ou de seus familiares. Igualmente, informações em saúde podem auxiliar os gestores da saúde no estabelecimento de políticas públicas adequadas e compatíveis às necessidades da população. Em outras palavras, pessoas com baixa competência informacional em saúde podem ser bastante excluídas e prejudicadas por não conseguirem empregar as informações em saúde ou as evidências em saúde que estão disponíveis para os demais (GALVÃO; RICARTE;

CARMONA, 2019, p. 3).

Fica evidente, portanto, que a informação tem valor social e os bibliotecários, uma função que pode impactar de forma direta ou indireta tanto o campo científico quanto as práticas em saúde.