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comprometem-se a respeitar os direitos estabelecidos nela, assim como aqueles

290 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

estabelecidos na DADH291. Por outro lado, os Estados que ratificaram a CADH, ou outros tratados interamericanos292, comprometem-se especificamente a respeitar os direitos e liberdades protegidos nesses instrumentos.

A CADH traz, ao longo do seu texto, uma série de obrigações e deveres gerais aos seus Estados signatários que devem servir como diretriz para o cumprimento dos direitos previstos em tal documento. Essas obrigações internacionais podem didaticamente se dividir em três grandes grupos: (1) obrigação de respeitar, ou seja, não causar dano aos Direitos Humanos; (2) obrigação de garantia, que inclui o dever de prevenir, investigar e sancionar; e (3) a obrigação de adequar as disposições no ordenamento interno.

A (1) obrigação de respeitar, prevista na CADH, estabelece que os Estados têm a obrigação de respeitar e garantir o pleno e livre exercício dos direitos e liberdades a toda pessoa que habita em seu território, sem discriminação alguma293. Isto implica o compromisso dos Estados de agir de forma adequada com os Direitos Humanos, abstendo-se de violar os direitos garantidos nesse tratado, o que inclui a vedação da prática da tortura, bem como permitindo o efetivo uso e gozo de tais direitos, o que implica o provimento de um sistema de administração de justiça eficiente e a garantia de defesa judicial gratuita294.

Em virtude da (2) obrigação de garantia, os Estados têm o dever de organizar todo o aparato governamental e, em geral, todas as estruturas através das quais o exercício do poder público se manifesta, de modo que sejam capazes de assegurar juridicamente o livre e pleno exercício dos Direitos Humanos295.

Esta é uma obrigação especialmente importante quando analisada em um contexto de responsabilização internacional por atos ou omissões de agentes estatais vinculados a seus órgãos, frutos de uma atuação fora do marco de suas

291 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Opinión Consultiva OC-10/89 del 14 de julio de 1989. San José, 1989. p. 45.

292 Como a Convenção Interamericana para Prevenir e Sancionar a Tortura; o Protocolo à Convenção

Americana sobre Direitos Humanos relativo a Abolição da Pena de Morte; o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, sociais e culturais (Protocolo de San Salvador); a Convenção Interamericana sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas e a Convenção Interamericana para Eliminar e Sancionar toda Forma de Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará).

293 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Convenção Americana de Direitos Humanos. Artigo 1.1. San José, 1979.

294 CEJIL, Centro por la justicia y el Derecho Internacional. La protección de los Derechos

Humanos em el Sistema Interamericano: Guía para defensores y defensoras de Derechos Humanos. 2ª Edição. CEJIL/Buenos Aires, Argentina, 2012. p. 28.

295 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

funções ou com carência de autoridade. A título de exemplo, gera uma condenação pela CorteIDH a atuação arbitrária da polícia ao ser conivente com atos violadores de Direitos Humanos causados por particulares296 e por grupos armados irregulares de qualquer natureza, como são os grupos paramilitares297.

Dessas duas obrigações, a de respeito e a de garantia dos direitos, entende a CorteIDH que surge o dever estatal de prevenir razoavelmente as violações de Direitos Humanos; de investigar seriamente essas violações ocorridas dentro da sua jurisdição, com todos os meios disponíveis, a fim de identificar os responsáveis; de sancioná-los, impondo-lhes medidas pertinentes e, além disso, quando possível, proporcionar o reestabelecimento do direito maculado e a reparação dos danos produzidos298.

A obrigação de investigar as violações de Direitos Humanos e sancionar os responsáveis deve se realizar em tempo adequado. Segundo o entendimento da CorteIDH, isso “deve ser empreendido com seriedade e não como uma simples formalidade condenada de antemão a ser infrutuosa”299.

Neste sentido, os Estados têm que garantir que os seus sistemas judiciais estejam organizados de tal maneira que se assegure o cumprimento desta obrigação internacional, e que os responsáveis sejam efetivamente sancionados. A isso, os tratados interamericanos têm dado uma ênfase especial300, bem como a jurisprudência da CorteIDH, que vem se desenvolvendo no sentido de propor a eliminação dos obstáculos internos que possam impedir a efetividade das sanções, como a figura da prescrição em casos de graves violações de Direitos Humanos e das excludentes de responsabilidade que impeçam a investigação desses crimes301.

296 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Sentença de mérito, reparações e custas de 04 de julho de 2006. p. 85.

297 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso do Massacre de Pueblo Bello Vs. Colômbia. Sentença de mérito, reparações e custas de 31 de janeiro de 2006. p. 113.

298 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Sentença de mérito de 29 de julho de 1988. p. 166.

299 Ibid., p. 177.

300 Como a Convenção Interamericana para Prevenir e Sancionar a Tortura que em seu artigo 6,

exige que se imponham penas de acordo com a gravidade do delito; a Convenção Interamericana sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas e a Convenção Interamericana para Eliminar e Sancionar toda Forma de Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará) que em seu artigo 7, também estabelece uma sanção aos responsáveis.

301 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Almonacid Arellano y otros Vs. Chile. Sentença de mérito, reparações e custas de 26 de setembro de 2006. p. 151; Caso de los 19 Comerciantes Vs. Colômbia. Sentença de mérito de 05 de julho de 2004. p. 262.

A (3) obrigação de adequar as disposições no ordenamento interno também possui relação com essas obrigações já citadas. A CADH dispõe sobre o dever geral dos Estados partes de adequar seu ordenamento interno aos parâmetros estabelecidos na convenção, comprometendo-se a adotar medidas necessárias para efetivar os direitos e as liberdades protegidos pela mesma302. E isto, segundo o tribunal, significa que o Estado tem um dever duplo: de um lado, suprir normas e práticas de qualquer natureza que provoquem violações às garantias previstas nesse documento e; de outro, expedir normas e desenvolver práticas condizentes com a efetiva observância dessas garantias303. Essa é uma obrigação que inclui o dever de esclarecer as violações ocorridas dentro do Estado304, e a CorteIDH tem reconhecido o valor transformador da verdade, ao entender que o esclarecimento dos crimes denunciados no sistema previne a sociedade de situações similares no futuro305.

Um detalhe, quanto à análise dessas obrigações, é quando estão envolvidas pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade. Neste contexto, os Estados têm deveres especiais para satisfazer essas obrigações, isto é, devem tomar medidas positivas, focadas especialmente em prevenir ações ou omissões que tenham resultados mais agravados dependendo do sujeito a que se destina ou da situação específica em que se encontre306. A CorteIDH entende que esses deveres especiais são exigidos em situações que envolvam Povos Indígenas307,

crianças308, mulheres em situação de risco309, pessoas com deficiência310, pessoas

302 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Convenção Americana de Direitos Humanos. Artigo 2 da CADH. San José, 1979.

303 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso do Massacre de Mapiripán Vs. Colômbia. Sentença de mérito, reparações e custas de 15 de setembro de 2005. p. 109; Caso Lori Berenson Mejía Vs. Peru. Sentença de mérito, reparações e custas de 25 de novembro de 2004. p. 219.

304 CEJIL, Centro por la justicia y el Derecho Internacional. La protección de los Derechos

Humanos em el Sistema Interamericano: Guía para defensores y defensoras de Derechos Humanos. 2ª Edição. CEJIL/Buenos Aires, Argentina, 2012. p. 30.

305 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso de los 19 Comerciantes Vs. Colômbia. Sentença de mérito de 05 de julho de 2004, parág. 259.

306 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Sentença de mérito, reparações e custas de 04 de julho de 2006, parág. 111.

307 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Comunidade Indígena Yakye Axa Vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas de 17 de junho de 2005, parag. 132.

308 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso”Instituto de Reeducación del Menor” Vs. Paraguai. Sentença de mérito de 02 de setembro de 2004, parag. 112.

deslocadas forçadamente311. E, dentre esses deveres especiais, estabelece o

tribunal o dever estatal de capacitar seus servidores no sentido que sempre atuem de modo a respeitar e promover os Direitos Humanos, sendo sensíveis a casos envolvendo grupos em situação de vulnerabilidade312.

Além dessas obrigações, quando um Estado se torna parte da CADH e, assim, submete-se à jurisdição da CorteIDH, adquire a obrigação internacional de reparar as vítimas que peticionaram no SIDH, ou seja, tem o dever de cumprir com as recomendações contidas nos relatórios finais da CIDH e as ordens de reparação expressas nas sentenças da CorteIDH313, pois, se um Estado viola os direitos que se comprometeu a proteger, deve realizar atos que eliminem ou reparem as consequências do ato ou da omissão que os vulnerou314.

Essas reparações, além de se prestarem para sanar violações sistemáticas315, não têm como única finalidade o estabelecimento da responsabilidade internacional, mas também a restituição do direito maculado e, caso isto não seja possível, a reparação dos danos causados316, já que, por mais que a CorteIDH reconheça que suas sentenças são, por si sós, uma forma de reparação317, a reparação de fato somente ocorre com o restabelecimento da

309 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso González e outras (“Campo Algodonero”) Vs. México. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas de 16 de novembro de 2009.

310 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Sentença de mérito, reparações e custas de 04 de julho de 2006.

311 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso do Massacre de Mapiripán Vs. Colômbia. Sentença de mérito, reparações e custas de 15 de setembro de 2005.

312 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Tibi Vs. Equador. Sentença de mérito de 07 de setembro de 2004, parág. 263.

313 ANZOLA, Sergio; SÁNCHEZ, Beatriz Eugenia e UREÑA, Rene. Después del fallo, el cumplimiento

de las decisiones do Sistema Interamericano de Derechos Humanos – una propuesta de metodología. In: BURGOGUE-LARSEN, Laurence; MAUÉS, Antonio e MOJICA, Beatriz Eugenia Sánchez. Derechos Humanos y Políticas Públicas. Manual. DHES, Red de Derechos Humanos y Educación Superior, 2014, p. 448.

314 PERMANENT COURT OF INTERNATIONAL JUSTICE. Factory at Chorzow Case. Merits,

Judgment, nº 13, Serie A, Nº17, 1928, p.47. Apud CEJIL, Op. Cit. 2012. p. 32.

315 ANZOLA, et. Al. Op. Cit. 2014, p. 448.

316 VALERO, Dora Alicia Martínez. Experiencia mexicana en la ejecución y cumplimiento de las

sentencias de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. In SOSA, Edgar Corzo; TINOCO, Jorge Ulisses Carmona; ALESSANDRINI, Pablo Saavedra. (Coord.). Impacto de las sentencias de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. México: Tirant lo Blanc, 2013. p. 378.

317 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Raxcacó Reyes Vs. Guatemala Sentença de mérito, reparações e custas de 15 de setembro de 2005, parág. 131.

situação existente antes da ocorrência da violação, o que a CorteIDH entende por reparação integral318.

Os Estados devem remediar a violação restituindo integralmente a vítima à situação anterior ao ato lesivo. Em caso de uma restituição plena e possível, deve- se outorgar uma indenização econômica à vítima e se devem, ademais, adotar todas aquelas outras medidas de reparação não pecuniárias adequadas à remediação do dano causado. A reparação dos danos também está destinada a garantir que fatos como os denunciados não voltem a se repetir319, motivo por que a CorteIDH considera que o seu não cumprimento faz com que o Estado incorra em uma violação adicional da CADH320.

O pleno cumprimento das reparações por parte dos Estados constitui um elemento indispensável para assegurar a plena vigência dos Direitos Humanos, e o impacto delas depende da seriedade com que os Estados assumam suas obrigações internacionais em atender as ordens de reparação. Por isso, o SIDH tem desenvolvido mecanismos para supervisionar o cumprimento dessas reparações, seja no âmbito da CIDH, ou da CorteIDH, por meio de procedimentos destinados a facilitar esse cumprimento321.

2.3 AS MEDIDAS DE REPARAÇÃO QUE A CORTEIDH ORDENA EM SUAS