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CAPÍTULO 2 O GOVERNO LULA E O NEODESENVOLVIMENTISMO

2.5 As parcerias público-privadas

O governo Lula através da Lei 11.079/2004 introduziu as parcerias público-privadas no Brasil. As Parcerias Público-Privadas (PPP) tiveram início no governo Fernando Henrique Cardoso, pela Lei no 8.987/95. Na prática, essas parcerias se aplicam em contratos de

52Fonte:

<http://www.greenpeace.org/raw/content/brasil/documentos/transgenicos/greenpeacebr_050430_transgenicos_d ocumento_contexto_politico_port_v1.pdf>. Acessado em 07 de agosto de 2013.

135 concessão de serviços públicos que não consigam se sustentar por ausência de condições de financiamento próprio oriundo do Estado. Essa situação permite ao setor privado financiar, projetar e desenvolver determinado serviço contando com a contribuição financeira do setor público.

De acordo com Lins (2006) as PPP representam a retomada dos pressupostos do Acordo Multilateral de Investimentos, que proporciona aos grandes grupos internacionais exercerem grande domínio político no Brasil.

O acordo do AMI – defendido pelos EUA e pela UE -, quando da sua negociação, foi veementemente criticado por organizações da sociedade civil, pois estas entendiam que este acordo reduziria de forma drástica a capacidade regulatória dos governos nacionais quanto à entrada e à atuação de investidores estrangeiros em seu território. O Acordo Multilateral de Investimentos revelava-se, pois, nocivo à democracia – em sua acepção tradicional de instrumento do direito soberano dos povos (e não, como hoje parece, de defesa dos direitos das corporações capitalistas) -, já que colocava as obrigações para com os investidores estrangeiros à frente das prioridades e necessidades do país em que investiam. Caso tivesse sido concluído o AMI, governo de um país signatário não poderia mais definir que sua prioridade estava no atendimento à sua população; em primeiro lugar, viriam os intocáveis investidores. Qualquer impedimento ao lucro seria taxado, e o patrimônio nacional poderia ser vendido a qualquer comprador interessado, não importando suas prioridades: era a privatização dos países. A mobilização da sociedade civil, revelando as nefastas conseqüências deste acordo, constrangeu os governantes e deu suporte para que o AMI não se concretizasse. Agora, esta possibilidade encontra-se de novo em pauta, sob nova roupagem. Com a divulgação para o grande público, que acabou levando à não-conclusão do AMI, ficou claro que o mundo ainda não estava preparado para aceitar o domínio inconteste das grandes empresas, nem a declarar o lucro como único fim válido a ser defendido na justiça – conseqüências diretas de se aceitar como incontestáveis as modernas regras do livre comércio. (LINS, 2006, s/p)

Como resposta das grandes empresas transnacionais ao processo de disputa presente na sociedade, foi adotada uma estratégia de negociar com países periféricos formas de inserção internacional de empresas transnacionais em suas economias.

Porque é disso que se trata: as PPP dão todas as garantias às grandes empresas, sem que estas assumam nenhum risco como contrapartida. E quem se encarrega da conta? Os governos nacionais, é claro. Aos governos nacionais (cujas instituições são seguidamente chamadas de paquidérmicas, antiquadas, ineficientes, morosas, dispendiosas) cabe assumir os riscos que as grandes empresas ("eficientes", "dinâmicas", "arrojadas", "competentes", "eficazes") não desejam, garantindo simultaneamente a remuneração de seus

136 investimentos. Nada de novo no front: parcerias entre governo e setor privado não são nenhuma novidade e sempre existiram: para isso os instrumentos da licitação, da concessão governamental e, evidentemente, as empresas estatais. O que este projeto coloca em pauta é uma mudança de regras em favor dos interesses dos investidores, que garante às empresas privadas o lucro sem risco, e engessa o governo na obrigação de priorizar o pagamento das empresas "parceiras" em detrimento de outras necessidades. (LINS, 2006, s/p)

De acordo com Dércio Garcia Munhoz, em entrevista ao Correio da Cidadania:

[...] a diferença para a PPP é que não há uma empresa constituída para isso. É um sistema de parcerias em que o Estado dá garantias de rentabilidade ao capital privado. O capital, para investir em uma economia em crise, bloqueada, como a nossa, precisa de garantia de lucro. Isso significa que chova ou faça sol o governo tem que dar um rendimento determinado para o capital privado." A lógica do governo é simples: decretada a inexorabilidade da geração de superávits pelo governo, é necessário que o setor privado realize os investimentos necessários ao país. E para isso, deve-se garantir ao "parceiro" privado o lucro sem risco que o levará a realizar o investimento. O que acontece, então? Os recursos que o governo não tem para investir (por causa da necessidade de gerar superávit) subitamente aparecem quando se trata de remunerar os investidores privados, conforme reza o artigo 7o: "para o cumprimento das obrigações mencionadas no art.6o desta Lei [obrigações contraídas pela administração pública com o parceiro privado], será admitida a vinculação de receitas e a instituição de fundos especiais...". E, no artigo 8o: "para a concessão de garantias (...) fica a união autorizada a integralizar recursos (...) em fundos fiduciários de incentivo às parcerias público- privadas criados por instituições financeiras públicas." Como aponta a economista Ceci Vieira Juruá: "Paradoxal no entanto, na proposta de PPPs, é que o mesmo governo que se considera desprovido de recursos financeiros suficientes para cumprir suas atribuições constitucionais, apresenta-se ao setor privado, e à sociedade, como um parceiro que poderá assumir o resgate das dívidas contraídas pelo setor privado para operacionalização dos contratos de parceria. (...) Mais uma vez, o dinheiro vai para os poderosos, e a sociedade que elegeu Lula com esperança de mudança "assiste bestificada". Assim como o compromisso com o superávit primário faz com que os pagamentos de juros da dívida venham antes das reais necessidades do país (de saúde, educação, moradia, segurança), as PPP garantem que os lucros vêm antes dos salários dos professores e dos médicos do setor público, antes do pagamento aos aposentados, antes da reparação de escolas e hospitais. E o "governo democrático e popular" revela-se, a cada passo, o algoz de seus eleitores e o humilde cumpridor dos mais obscuros desejos do FMI e do Banco Mundial. (LINS, 2006, s/p)

Com referência ao primeiro governo de Lula e os avanços apresentados com relação ao governo FHC merece destaque as seguintes realizações:

137 - tem uma política externa ativa e soberana, de enfrentamento dos interesses dos países mais ricos, na questão das relações comerciais. Conseguiu até o momento barrar a ALCA, enfrentou os EUA e a União Européia na OMC em Cancún; procura articular-se com os países emergentes (China, Índia, África do Sul), procura articular os países da AL em favor de um Mercosul ampliado; tem sido barreira contra o intervencionismo dos EUA na Venezuela.

- tem uma política de apoio aos pequenos agricultores, à agricultura familiar. - várias medidas conseguiram reduzir os preços de produtos básicos, facilitando a vida das classes populares.

- tem programas sociais amplos e melhores dos que os do governo FHC. - interrompeu o processo mais amplo de privatizações (Petrobras, Banco do Brasil, Correios). Mas propôs e fez aprovar o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privado), que é outro caminho para a privatização de alguns serviços públicos.

- promoveu o aumento do salário-mínimo acima da inflação. Isto foi melhor do que fez FHC.

- tem promovido criação de empregos: segundo o governo, mais de cem mil empregos ao mês. Mas a taxa de desemprego passou de 11,6% (média de 2002) para 12,3% (2003), 11,4% (2004), 9,8% (2005) e 10% (primeiros meses de 2006) – nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pelo IBGE. - tem promovido um reforço em alguns setores do Estado, entre outras coisas realizando concursos públicos. Tem substituído funcionários terceirizados por funcionários concursados.

- frente à pressão dos movimentos sociais, o governo Lula em geral não os criminaliza e tem mantido uma disposição de diálogo e aqui certamente inova face aos governos anteriores. (LESBAUPIN, 2006, s/p)

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