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CAPÍTULO 2 O GOVERNO LULA E O NEODESENVOLVIMENTISMO

2.4 O governo Lula e o meio ambiente

empresas. O terceiro veto se refere à indicação do administrador judicial condicionada à aceitação da assembleia composta por todos os credores.

2.4 O governo Lula e o meio ambiente

O governo Federal introduziu um conjunto de medidas no que se refere ao meio ambiente. Entre essas medidas merece destaque a criação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e de Queimadas no Cerrado (PPCerrado). No ano de 2003 foi criado o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal.

Desde 2003, o governo brasileiro atuou fortemente na implementação da Agenda 21 Brasileira. Essa Agenda é um instrumento de planejamento participativo e tem como eixo central a sustentabilidade e a transversalidade. A partir de 2003, a Agenda 21 Brasileira não somente entrou na fase de implementação, como também foi elevada à condição de programa do PPA 2004-2007. O Programa Amazônia Sustentável (PAS) e a Política Nacional de Mudanças Climáticas são exemplos da transversalidade da política ambiental, uma vez que suas ações e programas envolvem os três entes da Federação (União, Estados e Municípios), diferentes segmentos econômicos e sociais e vários ministérios. (MERCADANTE, 2010, p. 402)

A tabela abaixo demonstra as ações do governo Lula no que se refere à concessão de licenças ambientais emitidas entre os anos de 2002 a 2009.

Tabela 19 - Número de licenças ambientais 2002-2009

Ano Número de Licenças

2002 213 2003 123 2004 240 2005 295 2006 312 2007 373 2008 480 2009 339 Fonte: IBAMA.

O conflito enfrentado pelo Governo Lula se deu no processo de liberação dos transgênicos. A medida provisória n. 131, que liberou o plantio de soja transgênica, atendendo

133 a forte pressão política de setores do empresariado e dos latifundiários do Rio Grande do Sul51, e da empresa transnacional Monsanto, acirrou os debates no Brasil.

Um embate governamental entre o Ministro da agricultura, Roberto Rodrigues e a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se instalou no Brasil. O primeiro representava os interesses do agronegócio privado no Brasil, defensor de uma concepção neoliberal de agricultura empresarial voltada à exportação. Sua postura política foi favorável às existência de sementes transgênicas no Brasil. Marina Silva, por sua vez, possuía forte ligações com o movimento ambientalista e lutas sociais.

Apesar das promessas de campanha do governo Lula que:

[...] se eleito, manteria a moratória a estes produtos até que fossem feitos todos os estudos de impacto ainda necessários e enquanto não estivessem esclarecidas todas as dúvidas quanto aos seus riscos para a saúde e para o meio ambiente. Lula mostrava-se, também, ciente das questões econômicas envolvendo o caso e disposto a levá-las em conta ao conduzir sua política. Estas "promessas" aparecem, pelo menos, em seis momentos de seu programa de governo (Caderno "Meio Ambiente e Qualidade de Vida", pp. 12 e 28, Caderno "Vida Digna no Campo", p. 22, e Caderno "Fome Zero", pp. 50, 87 e 92). (LONDRES, s/d)

O desenrolar do processo em disputa pelos transgênicos mobilizou as frações de classe empresariais e os movimentos sociais. Iniciaram-se campanhas de ONGs, movimentos populares, organizações sindicais contra a liberação dos transgênicos. Do lado empresarial, a Monsanto aglutinou os interesses dos empresários privados em posição distinta às dos movimentos sociais.

De acordo com Londres (s/d), organizou-se em Brasília, em meados de março, o Seminário Internacional "A Ameaça dos Transgênicos - Propostas da Sociedade Civil".O Seminário de Brasília reuniu 85 entidades e terminou com um caderno de propostas detalhadas sobre cinco temas - o destino da safra gaúcha; legislação sobre os transgênicos na agricultura; composição e atribuições da CTNBio; propostas de ação para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária / Ministério da Saúde); e Pesquisa em Biotecnologia. A única ministra de Estado que conseguimos atrair para o encontro para receber as propostas da sociedade civil organizada foi Marina Silva, do Meio Ambiente.

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Os produtores do Rio Grande do Sul argumentaram que possuíam um estoque elevado de sementes transgênicas que se não fosse liberados para o plantio ocasionaria grande prejuízo.

134 O governo Lula se aproximou dos interesses dos empresários sinalizando a regularização das sementes transgênicas no Brasil, desenvolvendo um acordo com a bancada ruralista ao qual se comprometia a promover um projeto de lei em curto prazo sobre a questão dos transgênicos.

No final de setembro, Lula chamou, sem prévios avisos e atropelando todos os processos e instâncias consolidados pelo próprio governo, o governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (atual líder dos grupos pró-liberação no estado), o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, três parlamentares do PT e um do PMDB, todos favoráveis à liberação dos transgênicos, para, numa tarde, definir e assinar a MP liberando a safra 2003/04. Isso só não se deu nesse dia graças à determinada intervenção da Ministra Marina Silva, que, sabendo da reunião através da imprensa, apressou-se em se intrometer. (LONDRES, s/d)

Apesar da relutância do vice-presidente José Alencar – presidente em exercício devido à ausência de Lula em viagem diplomática – em assinar a medida Provisória 131, a medida foi assinada e legitimada pelo Governo Federal.

Em março de 2005, o Presidente Lula finalmente sancionou a nova Lei de Biossegurança (11.105, de 24/03/2005) (3), que regulamenta definitivamente o plantio e a comercialização das variedades transgênicas. O texto final aprovado afirmar que toda e qualquer empresa que desejar plantar e/ou comercializar um variedade transgênica precisa submeter um pedido à CTNBio, que deverá emitir seu parecer, que, caso seja favorável à liberação, será confirmado ou rejeitado pelo Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), composto por 9 Ministros e um Secretário Especial. Desta forma, a nova lei retira a obrigatoriedade a realização de estudos de impactos ambientais e sobre a saúde humana, cabendo à CTNBio solicitá-los ou não. A lei também retira a competência dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, que antes tinham o poder de exigir a realização deste tipo de estudos e avaliar os impactos que a liberação da variedade transgênica poderiam trazer para suas áreas de atuação.52

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