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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO II

4.2 A classificação dos parâmetros expressivos e estruturais ao longo das escutas

4.2.8 As percepções de timbre e registro

McAdams e Giordano (2008) apontaram que o timbre é um elemento complexo que envolve vários parâmetros em sua realização e percepção como a altura ou registro, a intensidade, duração, pedalização e características

extramusicais como reverberação da sala. Além disso, o timbre é o responsável pela identidade sonora do instrumento. Além disso, o timbre é um dos aspectos mais abordados em pesquisas sobre expressão musical. Em estudos sobre elementos que influenciam a expressividade, esse parâmetro é visto como um parâmetro com alta influência (QUADROS JÚNIOR e BRITO, 2012).

Para Nogueira e Maeshiro, a realização de variedades de timbres é um dos desafios dos pianistas:

O piano é um instrumento muito peculiar no sentido da produção de sonoridades, pois sua técnica convencional não possibilita ao instrumentista o acesso direto às cordas, que gerarão as ondas sonoras, ao invés do que ocorre em inúmeros outros instrumentos. Desse modo a produção de variedade tímbrica é um dos principais desafios do pianista, que por isso desenvolve uma interação rica de possibilidades com sua interface: o teclado (NOGUEIRA e MAESHIRO, 2016, p. 1)

Uma das principais abordagens sobre o timbre envolve o estudo de como as sonoridades são percebidas de maneiras diferentes. Askenfelt e Jansson (1991) apontaram que a maneira de acionar as teclas do instrumento pode mudar o timbre e que isso torna possível a diferenciação do toque entre pianistas. Em pesquisa sobre timbre, Goebl, Bresin e Galembo (2005), estudaram que é possível para um ouvinte perceber a diferença entre sons com toques pressionados e batidos.

A Figura 22 representa as incidências de referências positivas e negativas percebidas pelos ouvintes (n.12) para timbre na interpretação de PA, PB e PC:

Figura 22 - Incidências de referências positivas e negativas mencionadas pelos ouvintes (N=12) em termos de Timbre para os pianistas PA, PB e PC na interpretação do tema de

Estrela Brilhante de Ronaldo Miranda

De acordo com a Figura 22, o timbre realizado pelo Pianista A foi o mais abordado e apontado como ponto positivo. Apesar de não ter sido um parâmetro muito comentado pelos participantes nesse trabalho, também não foi muito criticado.

O1 foi o único ouvinte que avaliou o timbre de PA como um ponto negativo da performance. Esse ouvinte indicou que o parâmetro poderia ter sido mais valorizado se o pianista pensasse em como elaborar timbres específicos para determinado registro, ritmo e articulação: "Eu acho que isso poderia ser um pouco mais em termos de timbre. Pensar o timbre de forma... não sei explicar, mas valorizar mais. A concepção timbrística de utilizar aquele registro, com aquele ritmo, com aquela articulação". (O1, modalidade 1, PA). Ao ver o vídeo, O1 criticou o timbre novamente e indicou que percebeu imprecisão na performance: "A parte timbrística do tema A poderia ser mais bem explorada. Dá pra ver que está um pouco impreciso. Eu acho, na minha opinião... para esse caráter, esse ritmo, articulação, enfim" (O1, modalidade 2, PA). Esse ouvinte manteve sua opinião ao observar a partitura e afirmou que a interpretação não foi tão expressiva quanto poderia: "Na minha concepção, pensar... realmente definir timbres específicos para esse contexto, para essa parte da música... ajudaria a ressaltar esses elementos. (...) eu acho que poderia ter sido melhor. Não ficou tão expressivo como eles poderiam ser..." (O1, modalidade 3, PA).

4

3

2

1 1

0

PA -Timbre PB -Timbre PC -Timbre

Pontos Positivos Pontos Negativos

O10 apontou que pôde ouvir diferenças timbrísticas em PA: "E eu consegui ouvir bem mais coisas. As diferenças timbrísticas" (O10, modalidade 1, PA). Após assistir o vídeo O10 acrescentou que as mudanças de caráter produzidas pelas mudanças de toques e timbres ficaram acetuadas: "Ficou bem, bem visível assim. Acentuou bastante... uma coisa que vendo foi diferente, foi... que ficou acentuado as mudanças de caráter que ele faz com toques assim... De mudanças timbrísticas..." (O10, modalidade 2, PA).

O9 comentou que PA evidenciou de forma positiva os timbres e sons agudos: 'Achei que ele deu destaque pro timbre. Gostei dos timbres, dos agudos dele" (O9, modalidade 1, PA). O5 apontou que percebeu um timbre diferente em PA; "Nessa eu acho que senti um timbre diferente também como ponto positivo" (O5, modalidade 1, PA). E O7 indicou que esse elemento foi valorizado nesta performance: "Um parâmetro valorizado por esse pianista foi o timbre" (O7, modalidade 1, PA).

A avaliação negativa sobre o timbre para PB foi realizada por O12, no entanto, esse ouvinte não soube especificar o que faltou para esse parâmetro: "Em questão de timbre, acho que falta alguma coisa... não sei dizer" (O12, modalidade 3, PB).

O9 percebeu nuances de timbre no som e na realização gestual de PB: "As nuances do timbre que eu ouvi no áudio, percebi ela fazendo com gestos também. Tem mais timbre" (O9, modalidade 2, PB). Com a partitura, O9 ressaltou que a qualidade de timbres que chamou sua atenção envolveu o acompanhamento da mão esquerda do trecho: "(...) nas semicolcheias da mão esquerda que foi o que me chamou mais atenção... que foi dos timbres que eu falei que ela deu" (O9, modalidade 3, PB).

O4 considerou o timbre como ponto forte pois percebeu mais leveza e clareza no som: Timbre foi positivo. Estava mais... mais levezinho, mais claro. (O4, modalidade 3, PB). E O10 e O11 indicaram rapidamente o timbre como parâmetro positivo na interpretação de PB: "Acho que valorizou o timbre" (O10, modalidade 1, PB). "Eu falei da articulação e falei do timbre, sonoridade, tá um som bonito" (O11, modalidade 1, PB).

Após ter criticado a questão do timbre para PA, O1 apontou esse aspecto como ponto positivo para PC. Esse ouvinte percebeu o timbre e toque do Pianista C mais incisivo, rítmico e percussivo, harmonizando com o caráter

da obra: "(...) senti um pouco mais da questão do toque e do timbre: mais incisivo, rítmico, percussivo... senti isso um pouco melhor. Ficou mais de acordo com o caráter" (O1, modalidade 1, PC).

O outro comentário sobre o timbre de PC foi realizado por O9 que percebeu esse elemento com um som brilhante e parecido com estrelas, remetendo ao título da obra: "Achei os agudos bem parecidos com... assim de brilho, estrelas... O timbre, achei legal (...) bem brilhante como fala o título" (O9, modalidade 3, PC).

O timbre foi mais comentado em termos de variações da qualidade sonora, mas pouco se falou sobre o tipo da sonoridade aí observada, demonstrando que esse é um elemento complexo, como aponta a literatura.

Neste trabalho, o registro está relacionado às alturas agudas e graves do piano. Um dos parâmetros associados a produção do timbre é o registro (GUIGE et al., 2014). Esse é um elemento imposto pela notação musical, portanto, não pode ser alterado, porém é possível valorizá-lo através de escolhas interpretativas. Houve apenas três comentários relativos ao registro, e apenas um comentário sobre registro para cada performance, assim, este parâmetro não foi considerado como significativo para avaliação de expressividade por esta população de ouvintes.

A interpretação de PA envolveu o único comentário negativo sobre o registro, realizado por O1, que sentiu falta da valorização desse parâmetro em termos tímbricos: "(...) poderia valorizar mais, por exemplo, o registro. (...) a concepção timbrística de utilizar aquele registro, com aquele ritmo, com aquela articulação" (O1, modalidade 1, PA).

O4 indicou que PB evidenciou o registro colocando a melodia, altura e a agógica: "Ela valorizou o registro agudo destacando bastante a melodia e a nota mais aguda assim... e a agógica" (O4, modalidade 2, PB).

O4 também apontou o registro como ponto forte na interpretação de PC, porém aparentemente sem tanta convicção: "Ele pode ter valorizado o registro... por exemplo, ter separado aquela nota do resto do acorde [acorde final]. Não sei se ele fez isso de verdade, se os outros também fizeram, mas isso... pareceu" (O4, modalidade 1, PC).