• Nenhum resultado encontrado

3.3 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A RELAÇÃO COM O MEIO ENVOLVENTE

3.4.1 AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: CIDADÃOS DE PLENO DIREITO

“Hou daquesta! Quem é?

Eu sô. É esta naviarra nossa? De quem? Dos tolos? Vossa. Entra! De pulo ou de Vôo? (…) (…) Hou da Barca! Que me queres? Queres-me passar além? Quem és tu?

Samica alguém. (…)168

Só nos finais do século XX, é que as pessoas, portadoras de deficiência, passam a ser vistas como cidadãos, com direitos e deveres de participação na sociedade, mas sob a dicotomia do assistencial.

A perspetiva social, pessoal, de que o infortúnio de ter uma deficiência, implicava uma vida arruinada ou de que a pessoa portadora de deficiência não podia vivenciar momentos de concretização pessoal e de alegria com os que o rodeiam,

168 Gil Vicente – Auto da baça do inferno – o Parvo. Citado por Manual E – Book Aluno – Ponto e Virgula – Língua

Relatório Final da Prática de Ensino Supervisionada - UL 1 “A Pessoa Humana” 57 mudou. A negação da deficiência como entrave à realização pessoal, é realizada por quem vive um problema de deficiência, ou quem, hodiernamente, convive com a “problemática”. Este argumento permite exaltar a pessoa do deficiente, não a deficiência em si, é necessário que, quer o deficiente, quer quem os rodeia, seja capaz de destrinçar os “momentos”, da pessoa e da deficiência.

A manutenção da dignidade nos “momentos” de adversidade implica, obrigatoriamente, ou quase, duas etapas. A primeira é a de manter a dignidade, fazendo o melhor, mesmo numa situação de adversidade ou muito adversa. Esta significa encarar as calamidades tal como elas são. Sendo capaz de as enfrentar com segurança e ajudando os outros a fazerem o mesmo. A segunda é de ser capaz de evitar futuras tragédias, esta implica decidir ajudar os outros a evitarem situações semelhantes. É necessário perceber que, sem a primeira, a segunda não é possível. Sem a segunda podemos ter unicamente um simulacro de integridade169.

O maior obstáculo à harmonia social é talvez a falta de apreciação do valor do outro. A melhor forma de vencer esta ignorância, é chegar à compreensão do outro através do diálogo. A importância primordial da prática, do diálogo, sincera quando reconhecemos a relação “doentia” dos indivíduos com a problemática da deficiência é, juntamente, com a ignorância, o fator que mais contribui para a desarmonia comunitária. É necessário não voltar as costas aos que têm uma aparência estranha, os miseráveis da sociedade, os enfermos. Estes não são inferiores perante o “não” superior social, não há uma concorrência de superioridade ou inferioridade, mas sim de consciência da pessoa no seu todo. Pois se por alguma razão, individual ou de incapacidade social, não poder ajudar os outros, ao menos não os prejudique.

O amor, respeito pelos seu ser pessoa, pelos outros, quais quer que sejam e o que quer que façam, e o respeito pelos seus direitos e dignidades, é tudo o que se precisa de fazer para que o “anormal” seja…

A sociedade torna-se cada vez mais consciente da dignidade da pessoa, esta dignidade, não resulta das funções que desempenha nem das capacidades que possui, a dignidade de pessoa radica no “múnus” de natureza humana. A pessoa é dotada de uma dignidade original e única, inviolável e indivisa, é um todo no seu ser, não se baseia na sua funcionalidade, ou funcionalidade das partes, do seu organismo, mas na essência da sua natureza170.

169

CF. KAUFFMAN, James M. e LOPES, João A. Pode a Educação Especial Deixar de ser especial?, Braga, Psiquilibros edições, 2007, pp. 16-17.

170

Cf. Nota Pastoral da Conferencia Episcopal Portuguesa, As pessoas com deficiência – Cidadãos em pleno direito, Lisboa, 1/2003, p. 4.

Relatório Final da Prática de Ensino Supervisionada - UL 1 “A Pessoa Humana” 58 Todo o ser humano é pessoa, daí todo o ser humano possui o mesmo fundamento para a sua dignidade171, seja qual for o seu estado de desenvolvimento, a idade, a saúde, os conhecimentos adquiridos a as possibilidades de intervenção social.

A pessoa tem direito inato à plena inserção no tecido social, politico, cultural, religioso, etc., pois a sociedade/comunidade só existe porque existe a pessoa, isto é a sociedade existe por causa das pessoas e não as pessoas por causa da sociedade.

Mas estes princípios são entendidos e adquiridos pelo saber ser de pessoa, bem como saber ser de pessoa aprendiz. É pela educação que a pessoa aprende e aprende o ser humano enquanto vivente. Porque a razão mais sublime da dignidade humana, não é a do ter, mas sim a do ser, ou seja, consiste na sua vocação e missão individual de ser pessoa. Só se sabe da pessoa quando se conhece a pessoa. A pessoa, na sua totalidade, só se entende numa educação digna e “frutífera”. Daí ser necessário perceber o que é a Educação.

4 – O que é a Educação!

Perante uma “pergunta exclamativa” como esta, não se pode descorar uma visão da educação do ambiente social, perante o poder instituído da escola.

Hodiernamente o papel da educação é do interesse geral. A instrução não é só do campo dos pedagogos ou das secretárias. De uma forma geral, todos somos instrutores, se não for por mais, somos pela preponderância que exercemos com quem nos relacionamos. O alcance da capacidade “educan-te”172 é um efeito para toda a vida, desde a juventude até à idade adulta. O alcance da educação estende-se para além do simples ato de educar. Isto é, ninguém se educa a si mesmo, mas sempre através de um outro, implícita ou explicitamente, a educação deve ajudar a que cada um seja ele mesmo, nas suas diferenças e igualdades.

“A dignidade de cada pessoa fundamenta o seu direito inalienável a uma educação adequada às suas circunstâncias específicas. A pessoa é o sujeito primeiro e o objeto último da educação”173.

171 Cf. GS e Act. 17,26. 172

A construção e produção da palavra, dá-se na necessidade de querer exprimir a ação da educação do individuo enquanto educador e educado.

173

Cf. Nota Pastoral da Conferencia Episcopal Portuguesa, Educação, direito e dever – missão nobre ao serviço de

Relatório Final da Prática de Ensino Supervisionada - UL 1 “A Pessoa Humana” 59 É um facto que a educação deve tocar em tudo e compreender todas as dimensões da formação humana, visto que “a pessoa é um ser complexo, nas suas dimensões física, intelectual, afetiva, estética, social, moral, ética, espiritual e religiosa; por isso exige-se uma cuidada atenção ao desenvolvimento equilibrado de todas estas vertentes”174.

Contudo quando falamos de educação, nas diversas galerias, ouve-se muitas das vezes a expressão “que a educação vem de casa, e que aprendizagem é da escola”. Perante tal expressão será necessário analisar o que é a educação conceptualmente.