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Capítulo 2 – O Sistema de Segurança Interna e o modelo de policiamento de

2.5. As Polícias Municipais 22!

Na verdade, também as polícias municipais podem assumir um papel relevante em matéria de policiamento nas zonas balneares.

De acordo com a Lei n.º 19/2004, de 20 de Maio, no eu artigo 1.º, n.º 1, “as polícias municipais são serviços municipais especialmente vocacionados para o exercício de funções de polícia administrativa”. A polícia constitui uma atribuição dos municípios ao abrigo do artigo 13.º, n.º 1, alínea p), da Lei n.º 159/99, de 14 de Setembro, diploma que estabelece o quadro de transferência de atribuições e competências para as autarquias locais. Aliás, no artigo 30.º do mesmo diploma, estabelece-se que “os órgãos municipais podem criar polícias municipais nos termos e com intervenção nos domínios a definir por diploma próprio”.

As polícias municipais exercem funções de polícia administrativa nos respectivos municípios, essencialmente nos domínios da “fiscalização do cumprimento das normas regulamentares municipais; fiscalização do cumprimento das normas de âmbito nacional ou regional cuja competência de aplicação ou de fiscalização caiba ao município; [e] aplicação efectiva das decisões das autoridades municipais”, de acordo com o n.º 1 do artigo 2.º, da Lei n.º 19/2004.

Por sua vez, o n.º 2 do artigo 2.º desta lei consagra ainda outras funções destas polícias: designadamente, “as policias municipais cooperam com as forças de segurança na manutenção da tranquilidade pública e protecção das comunidades locais” – como, aliás, a própria Constituição estabelece no n.º 3 do seu artigo 237.º. Deste modo, o artigo 3.º, n.º 2, preceitua que as polícias municipais têm funções de “vigilância de espaços públicos ou abertos ao público, designadamente de áreas circundantes a escolas, em coordenação com as forças de segurança”. Segundo Catarina Sarmento e Castro (2003: 257), esta cooperação é “realizada numa situação de paridade, sem que qualquer destas entidades [forças de segurança e polícias municipais] detenha qualquer poder de direcção que pudesse traduzir uma relação de hierarquia”. Ainda nesta senda, “a cooperação é uma relação administrativa entre dois entes públicos numa posição de igualdade, excluído a imperatividade ou a coacção [...,] o que se procura é a harmonização de actuações” (Castro, 2003: 403).

As polícias municipais têm igualmente funções de “vigilância nos transportes urbanos locais, em coordenação com as forças de segurança”; funções de “intervenção em programas destinados à acção das polícias junto das escolas ou de grupos específicos de cidadãos”; a “guarda de edifícios e equipamentos públicos municipais, ou outros

23 temporariamente à sua responsabilidade”; e a “regulação e fiscalização do trânsito rodoviário e pedonal na área de jurisdição municipal” – tudo conforme decorre das várias alíneas do n.º 2 do artigo 3.º da Lei n.º 19/2004.

No entanto, “é vedado às polícias municipais o exercício de competências próprias de órgãos de polícias criminal”, conforme estatui o n.º 5 do artigo 3.º. Não obstante, e de acordo com o n.º 4, “os órgãos de polícia municipal que directamente verifiquem o cometimento de qualquer crime podem proceder à identificação e revista dos suspeitos no local do cometimento do ilícito, bem como à sua imediata condução à autoridade judiciária ou órgão de polícia criminal competente”, sendo estas verdadeiras medidas cautelares e de polícia previstas no Código de Processo Penal, com “futura relevância”, como estabelece o Parecer n.º 28/2008 emitido pelo Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 155, 12 de Agosto de 2008. Ainda de acordo com o mesmo Parecer, estas medidas devem respeitar os princípios constitucionais da tipicidade e da proibição do excesso, e somente podem ser utilizadas no contexto do exercício das funções previstas no artigo 3.º.

De acordo com o artigo 5.º n.º 1, da mesma lei, “a competência territorial das polícias municipais coincide com a área do município”, e ao abrigo do n.º 2, os agentes de polícia municipal “não podem actuar fora do território do respectivo município, excepto em situações de flagrante delito ou em emergência de socorro, mediante solicitação da autoridade municipal competente”. A polícia municipal encontra-se, em cada município, na dependência hierárquica do presidente da câmara respectivo, de acordo com o artigo 6.º. Ao abrigo do artigo 15.º, “no exercício efectivo das suas funções, o pessoal das polícias municipais tem de apresentar-se devidamente uniformizado e pessoalmente identificado”, sendo que “quem faltar à obediência devida a ordem ou mandado legítimos que tenham sido regularmente comunicados e emanados do agente de polícia municipal será punido com a pena prevista para o crime de desobediência”, conforme determina o n.º 1 do artigo 14.º. Por seu turno, o n.º 2 habilita os agentes de polícia municipal a identificar infractores, obrigando estes a apresentar-lhes os documentos necessários às acções de fiscalização.

Segundo o artigo 15.º e 16.º, os agentes de polícia municipal estão autorizados a usar os meios coercivos previstos, incluindo arma de fogo, “na estrita medida das necessidades decorrentes do exercício das suas funções, da sua legitima defesa ou de terceiros”, conforme o n.º 1 do artigo 16.º. O artigo 19.º estatui que no n.º 1 que “os agentes das polícias municipais estão sujeitos ao regime geral dos funcionários da

24 administração local”, com as necessárias adaptações (como, por exemplo, um estatuto disciplinar próprio).

Para a criação de uma polícia municipal é necessária a observância das disposições do Decreto-Lei n.º 197/2008, de 7 de Outubro.

Face ao exposto precedentemente, sobretudo no que respeita a atribuições e competências das polícias municipais, verifica-se que estas têm um papel activo na segurança pública e na criação do sentimento de segurança no cidadão. A mais valia da criação das polícias municipais “deve residir nas condições privilegiadas de que dispõem para estabelecer uma relação de proximidade ao cidadão, e na articulação – policial interdisciplinar – de que devem ser testemunho” (Castro, 2003: 171). Concretamente, nas zonas balneares da Linha de Cascais, as Polícias Municipais de Oeiras e de Cascais desenvolvem um papel bastante activo em coordenação com as forças de segurança competentes na área, designadamente a PSP e a PM. Tal cooperação será analisada mais adiante.

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