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Conforme visto anteriormente, no último quartel do século passado aconteceram diversas mudanças no contexto internacional e nacional, e, após a implementação das reformas econômicas nos países centrais, essas reformas se estenderam para os outros continentes, como foi o caso da América Latina, durante as décadas de 1980 e 1990. Nesse período o Brasil passa pela transição de um regime ditatorial para um regime democrático, em que surge “um intenso movimento democrático” (VIEIRA, 2009, p. 129), de redemocratização, que resultou na promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988, conhecida também como a Constituição Cidadã, a qual apresentou como uma de suas características “a presença do povo e a valorização da cidadania e da soberania popular” (TÁCITO, 2002, p. 55).

Entretanto, conforme descreve Vieira e Farias (2011), essa democracia não foi fruto da concessão do regime militar, mas, resultado de uma conquista que nasceu a partir da mobilização dos movimentos sociais populares, que foram iniciados a partir do final da década de 1970, com a greve dos metalúrgicos das cidades paulistas de Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C), que ficou popularmente conhecida como a greve dos metalúrgicos do ABC paulista. Em seguida, outros movimentos sociais populares foram surgindo, e assim eles

emergiram no contexto social e político brasileiro com uma fantástica capacidade criativa, organizativa e mobilizadora, principalmente na década de 80, sendo responsáveis por expressivas conquistas que garantem melhorias na qualidade de vida de amplos setores sociais, afirmação de direitos e exercício da cidadania para um número cada vez maior de agrupamentos humanos, construção de identidades coletivas e auto-estima pessoal e social de setores e grupos historicamente discriminados ou oprimidos (BRITO, 2005, p. 3).

Brito (2005) destaca o surgimento dos movimentos ligados às necessidades coletivas relacionadas com a saúde, a moradia, o trabalho, dentre outros, com destaque para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para os movimentos relacionados com a identidade coletiva, como o das mulheres, dos negros, dos portadores de necessidades especiais, dos índios, dos grupos de orientação diferenciada, dentre outros. Na esfera escolar, o movimento ocorre, segundo Vieira (2009),

simultaneamente ao processo de redemocratização do país, quando crescem as reivindicações participativas, por parte de diversos atores sociais. Tais circunstâncias geram pressões, por formas de operacionalização mais abertas e eficazes, de políticas e de gestão educacional (VIEIRA, 2009, p. 35).

Nesse contexto de contradições, de mobilizações sociais, de falhas políticas e fortes interesses do capital, o Brasil aprovou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as quais criaram uma série de novas regulações, definidas por Beech (2009) e Vieira (2009) como um conjunto de regulamentações, projetos e programas.

Para Frigotto (2010), a LDB sofreu várias modificações por sugestões de parlamentares com tradição oligárquica. Por isso, diversos avanços nesta Lei foram alterados ou retirados, transformando a LDB em uma matriz cultural escravocrata, oligárquica, elitista e despótica. Contrário a essas modificações,

Florestan Fernandes, um dos parlamentares que mais se empenhou na defesa das propostas dos educadores progressistas, representados num fórum permanente de 34 instituições científicas e sindicais da área, reiteradamente tem mostrado como as forças conservadoras se opunham à promulgação de diretrizes e bases que configurassem um amplo reforço à escola pública, laica e unitária (FRIGOTTO, 2010, p.169).

Mesmo diante dessas manobras políticas, a LDB foi implementada e apresentou as seguintes regulações:

I - O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), criado por meio da Lei nº 9.424/96, com objetivo de assegurar a universalização do Ensino Fundamental e uma remuneração mais digna para os profissionais do magistério. Em substituição ao FUNDEF, que teve dez anos de existência, é criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), por meio da Lei nº 11.494/2007, com vigência até o ano de 2021, atingindo as creches, a pré-escola, a educação básica, o ensino médio, a educação especial e a educação de jovens e adultos.

II - O Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado pela Lei nº 10.172/2001, com vigência de 2001 até 2010, que trouxe diversos princípios, diretrizes, prioridades, metas e estratégias de ação na perspectiva de melhorar a qualidade do ensino em nosso país.

III - O Programa Educação para todos, que teve como objetivo proporcionar uma

educação básica para todas as crianças com a finalidade de reduzir o analfabetismo entre os adultos até ao final da década.

IV - Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que foram os documentos elaborados nas áreas da Língua Portuguesa, da Matemática, de Ciências Naturais, da História, da Geografia, da Arte e da Educação Física, com objetivo de realizar uma renovação e reelaboração da proposta curricular. Além desses foram elaborados outros documentos que

abordavam a Pluralidade Cultural, a Orientação Sexual, o Meio Ambiente e a Saúde (BRASIL, 1997).

V - As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica e de nível Superior, que foram criadas por meio da resolução do conselho nacional de educação/conselho pleno, de 18 de fevereiro de 2002, com o objetivo de preparar os professores para o ensino, para o acolhimento do trato da diversidade, para o exercício de atividades de enriquecimento cultural, para o aprimoramento de práticas investigativas, para a elaboração de projetos, o uso de tecnologias de informação e comunicação e o desenvolvimento de hábitos para o trabalho de colaboração e em equipe.

VI – A instalação de uma política efetiva de avaliação no Brasil, instituída pelo Sistema Nacional de Avaliação para a Educação Básica, criado por meio da Portaria nº 1.795, de 27.12.1994, que formalizou a criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), do Exame Nacional de Cursos, instituído por meio da Lei nº 9.131/1995, e do Exame Nacional para Concluintes do Nível Médio, estabelecido por meio da Portaria nº 24, de 23 de março de 2004, que instituiu o ENEM.

Com esse conjunto de regulações, em particular neste último item, temos a implantação de um modelo hegemônico de avaliação. Nesse contexto, a educação, torna-se um instrumento de disputa hegemônica, quando articula os interesses da classe dominante, suas concepções, com os conteúdos curriculares na escola, conforme Frigoto (2010). A hegemonia apresenta como uma de suas funções a articulação dos interesses particulares, em prol dos interesses da sociedade, fazendo com que os interesses particulares se tornem também interesses de toda a sociedade. Assim, devemos ter um olhar crítico quanto à implementação desse conjunto de ações.

Todas as argumentações e análises apresentadas neste capítulo, no qual tratamos da função do Estado na sociedade capitalista, bem como de suas crises e das reformas de Estado que aconteceram no final do século passado, serviram para destacar o motivo de a avaliação ter se tornado um instrumento importante nesse Estado neoliberal. Nosso objetivo é, a partir dessas análises, aprofundar no capítulo seguinte como a avaliação tornou-se um instrumento central nesta virada de milênio no mundo globalizado, assim como nas redes educacionais de ensino do Brasil.

2 AS POLÍTICAS DE AVALIAÇÕES NO CONTEXTO INTERNACIONAL E NACIONAL: BASES LEGAIS DA REGULAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E EXPERIÊNCIAS VIVIDAS

2.1 A AVALIAÇÃO EXTERNA COMO INSTRUMENTO DE PADRONIZAÇÃO DO