• Nenhum resultado encontrado

As políticas públicas voltadas para os informais: as iniciativas da

No que tange às políticas públicas de apoio às atividades informais em São Luís, estas tem seu marco inicial com a implantação, no fim da década de 80 (século XX), do que ficou popularmente conhecido como “camelódromo”, (denominação que, aliás, não é muito bem vista pelos trabalhadores informais), na Praça Deodoro (Figura 6) o que segundo Melo (1991, p. 38, apud, PORTO,

2003, p. 7) não foi amparado em ato legal. Entretanto tal medida, que pode ser entendida como uma tentativa de dotar os trabalhadores de melhores condições para o desenvolvimento de suas atividades, pode ser também interpretada como fruto do atendimento às reivindicações dos comerciantes do centro, que tinham como meta retirar os informais da Rua Oswaldo Cruz (Rua ou Caminho Grande) e de suas transversais.

Figura 6: Imagem aérea da Praça Deodoro (São Luís-MA), no local onde foi instalado no fim dos anos 80 o “Camelódromo” da cidade.

Fonte: Google Earth

No período recente, sob a justificativa de racionalizar o uso dos espaços públicos da capital, e de atender as determinações constantes do código de posturas do município de São Luís (Lei n.º 790 de 12 de Maio de 1968), bem como da Lei que regulamenta o comércio ambulante na cidade (Lei n.º 3.016 de 28 de Dezembro de 1989) a atual administração municipal promoveu a retirada de comerciantes informais de vários pontos da cidade, ato que gerou indignação e motivou uma série de protestos realizados pelos trabalhadores informais, bem como de parte da comunidade local. Tais ações motivaram a elaboração por parte do Centro de Integração Sindical de Assistência e Representação dos Vendedores Ambulantes e Similares (CISARVAL), na pessoa de seu presidente, de uma pauta (em anexo), contendo um conjunto reivindicações dos trabalhadores, datada de 17 de março de 2005, a fim de conter o conflito e

acalmar os ânimos dos trabalhadores, a qual continha entre outras propostas, a de que se instalassem “camelódromos” nos diversos bairros da capital, em locais de grande circulação de pedestres e dotados de toda a infra-estrutura necessária, em termos de barracas, fardamento para os ambulantes, iluminação, segurança pública e saneamento.

O atendimento de parte das reivindicações pela municipalidade ludovicense acabou por dirimir, ou pelo menos atenuar o conflito. Entre as reivindicações atendidas estão a construção na Avenida Magalhães de Almeida, de um “mini-shoping” popular (Figura 7), o qual irá abrigar (segundo informações da Prefeitura) cerca de 172 trabalhadores informais atualmente instalados na referida avenida, bem como na Praça João Lisboa e Rua de Nazaré, contando ainda com cerca de 100 vagas, destinadas a trabalhadores cadastrados pela SEMTHURB, e que se interessem em trabalhar no local.

Figura 7: Projeto do CCI (Centro do Comércio Informal) ou Shoping Popular de São Luís – MA.

Fonte: Secretaria Municipal de Terras Habitação e Urbanismo de São Luís (SEMTHURB).

Com previsão inicial de instalação para setembro de 2005, o projeto (financiado com recursos do Banco do Brasil, a serem pagos pelos trabalhadores), ainda encontra-se em fase de construção (Figura 8), e irá contar, além das barracas padronizadas (as quais irão custar cerca de R$ 600,00, que

poderão ser financiados em até dois anos) com espaços para armazenamento de mercadorias, bem como banheiros, praça de alimentação e administração.

Além disso, conforme informações do presidente do CISARVAL em entrevista a nós concedida, estão previstas a instalação no local de uma agencia/posto do Banco Popular do Brasil, de um posto da Polícia Militar, bem como de rede de cartão de crédito. Nos finais de semana, o espaço será utilizado para a chamada “feira do troca-troca”, contando também com shows de artistas populares a fim de que se atraia o público e se crie uma cultura de freqüentamento ao local (assim como já ocorre nos shoping-centers, por exemplo).

O CCI deve contar também com rede de cartões de crédito, recebimento de contas diversas, ponto final das “vans” que circulam pelo centro da cidade e restaurante popular (para isso a prefeitura deve comprar o prédio do antigo Oscar Frota, próximo ao local de instalação do CCI). Fora o que já foi referido, os trabalhadores terão direito a uma linha de crédito no Banco do Brasil, onde será disponibilizado aos mesmos o valor correspondente a 30% do financiamento das barracas (cerca de R$ 180,00) para que estes possam incrementar e diversificar suas mercadorias, bem como serão incentivados a pagar à previdência social (em função da diminuição da alíquota exigida para trabalhadores autônomos, prevista na lei geral das micro e pequenas empresas, já referida no presente trabalho) o que deve aumentar o total de contribuintes dos cerca de 30% atuais para mais de 80% (pelo menos entre os sindicalizados, segundo o presidente do CISARVAL).

Como exigências para ingresso no projeto, feitas pela prefeitura, juntamente com o Banco do Brasil, estão a não inserção de vendedores de CD’s e DVD’s pirateados (por se tratar de uma ilegalidade, que envolve um série de direitos, tais como os autorais), os quais terão disponíveis as suas vagas no projeto desde que aceitem fazer a troca nas suas mercadorias (para isso o Banco do Brasil está oferecendo o acesso a linhas de crédito exclusivas para tais trabalhadores). Alem disso, os envolvidos no projeto terão que abrir contas no Banco do Brasil, bem como se submeterem à realização de cursos de capacitação, envolvendo noções de administração de pequenos negócios e técnicas de venda, oferecidos pelo SEBRAE, sendo prevista também, em uma

etapa posterior, a criação de uma cooperativa dos trabalhadores do centro do comércio informal de São Luís – MA, que terá a função de administrar o CCI.

Entretanto, as medidas ora tomadas ainda não são consideradas suficientes, nem mesmo pelos trabalhadores informais, haja vista que, segundo o presidente do CISARVAL cerca de dez pessoas procuram o sindicato de suas responsabilidade todos os dias, com o objetivo de ter um local para trabalhar fato que, segundo o mesmo, está ligado principalmente aos problemas no campo maranhense e brasileiro, tendo em vista que “enquanto não houver um trabalho para fixar o homem no campo, as cidades não vão crescer, vão inchar”, sendo tal inchaço, segundo o referido entrevistado, o grande responsável pela ampliação das atividades informais.

Figura 8: Centro do Comércio informal (CCI), em fase final de construção.

Além do projeto referente à Magalhães de Almeida, há outro que tem por objetivo organizar as atividades informais instalados nas transversais da Rua Oswaldo Cruz ou Rua Grande (Foto 9), o qual contará com cadastramento dos informais, bem como com a padronização das barracas e o fornecimento de uniformes aos trabalhadores.

Nos dois projetos está prevista a capacitação dos mesmos com cursos envolvendo noções de atendimento ao público, bem como de empreendedorismo

e auto-gestão, coordenados pelo Programa Nossa Vez, vinculado à prefeitura e voltado para o apoio a pequenos comerciantes e empreendedores.

Alem das iniciativas citadas, outra mais recente refere-se à implantação do Programa Nossa Feira, implantado pelo Instituto Municipal da Produção e Renda, o qual tem por objetivo dotar as feiras livres da capital maranhense de uma estrutura composta de barracas padronizadas, administração e quiosques para lanche, visando uma maior qualidade na comercialização dos produtos expostos nas referidas feiras.

Figura 9: Trabalhadores informais na Rua Oswaldo Cruz (Rua Grande), no centro de São Luís (Imagem aérea).

Fonte: Google Earth

Assim sendo, pode-se afirmar que a realidade municipal acompanha a tendência nacional (e por que não dizer mundial) de não combater, mas sim tentar dotar tais atividades de uma melhor infra-estrutura, a fim de proporcionar a estas condições de trabalho mais próximas do definido como trabalho decente, até por que, segundo os dados anteriormente apresentados no presente trabalho (p. 120), mais da metade da população ativa da capital maranhense (50,7%) encontra-se na informalidade, sendo que só no centro comercial da cidade estima-se que haja cerca de 5.000 trabalhadores nestas condições, dos quais, cerca de 1200 são cadastrados pela prefeitura municipal (através da

SEMTHURB) e 1186 são sindicalizados, afiliados ao CISARVAL (conforme informações do mesmo), o que pode ter despertado a atenção do poder público municipal para a extensão do problema.