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2.1 A Economia Informal Urbana e as Atividades Informais em São Luís

2.1.1 As Atividades Informais em São Luís

No que se refere à situação Maranhense, tem-se a capital São Luís, como principal centro receptor de migrantes do estado, por ser o centro administrativo e principal centro comercial-industrial do mesmo, além é claro de ser a maior área urbana maranhense, e uma das mais antigas do país. Segundo Andrade (1995, p. 39) o surgimento de São Luís estimulou o povoamento de toda a região, visto que “A fundação de uma colônia francesa no Maranhão [...], com a implantação da cidade de São Luís em uma ilha de fácil defesa, estimulou os portugueses a se expandirem em direção à área”.

Ross (2001, p. 426) demonstra a importância de São Luís, especialmente no século XIX, quando esta chegou a figurar entre as dez cidades mais populosas do país.

Com a crise da economia têxtil-algodoeira, base econômica do Maranhão até o século XIX, o estado e consequentemente, a cidade de São Luís, entraram em um período de inércia entre os fins do século XIX e a segunda metade do século XX, momento em que, a implantação do complexo portuário na

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Foi aprovada em 08 de novembro de 2006 a lei geral das micro e pequenas empresas, que prevê a criação de um sistema diferenciado de previdência para os trabalhadores autônomos, permitindo a eles um menor recolhimento para a previdência, com uma alíquota de 11%, em vez dos 20% previstos antes da aprovação da referida lei.

baía de São Marcos e dos chamados grandes projetos industriais provocou uma aceleração do crescimento populacional da cidade, sem precedentes em sua história (conforme demonstra a tabela 1), o que segundo Porto (2003, p. 27), contribuiu para o agravamento dos “distúrbios sócio-espaciais” (tais como a piora da qualidade nos setores de habitação, educação, saúde e transportes) na capital do Maranhão.

Tabela1: Crescimento populacional de São Luís – MA (entre fins do Século XVII e 2000)9 Período Nº. de habitantes Crescimento da população

(%)

Fins do século XVII 10.000 ---

Fins do século XVIII 17.000 70%

1820 20.000 17,64% 1835 25.000 25% 1868 30.000 20% 1872 31.000 3,33% 1890 35.000 12,9% 1920 42.000 20% 1940 58.735 39,84% 1950 88.425 50,55% 1960 158.292 79% 1970 265.486 67,71% 1980 449.877 69,45% 1991 695.199 54,53% 2000 870.028 25,15% 2006 998.385 14,75%

Fonte: IBGE/SERFHAU. Adaptado por SILVA, 2006, Apud: Costa, 2007, p. 56.

A expansão da população de São Luís, a partir da segunda metade do século XX, tem uma estreita relação, como já referido, com a implantação de um embrião de distrito industrial na cidade a partir da década de 1960. Entretanto, outros elementos servem para explicar a elevação das taxas de crescimento populacional da capital maranhense no período.

Sem dúvida alguma, a introdução do Maranhão (como parte da Amazônia Legal) no chamado Plano de Integração Nacional (PIN), bem como a

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A não periodicidade das contagens populacionais observada na tabela refere-se ao fato não haver, até 1940, uma norma que definisse o intervalo de realização de pesquisas de caráter censitário, o que só veio a se modificar após a criação do IBGE em 1939, o qual ficou responsável pelas mesmas, realizando a primeira pesquisa sob sua responsabilidade no ano seguinte. A partir desta data, os censos demográficos passam a ser realizados com uma periodicidade de dez anos, o que só veio a ser desrespeitado em 1990, quando, alegando escassez de recursos, o governo federal não realizou a pesquisa, o que só aconteceu no ano seguinte (Sobre tal assunto, ver SCARLATO, 2003).

opção pela substituição da ferrovia como principal meio de transporte e escoamento do estado, por uma nova malha rodoviária, serviu como uma das bases para a implantação posterior de um complexo industrial no local, bem como, passou a ser o elemento responsável pelo mais fácil acesso à capital maranhense de migrantes, vindos ou do interior maranhense, ou de áreas pertencentes a outras unidades da federação.

Esse aumento populacional, como visto, tem estreita relação com a implantação dos projetos industriais já citados, pelo fato de os mesmos delinearem “Uma nova perspectiva para a capital do Estado que restabelecia sua antiga vocação de centro exportador de matérias-primas, aliada à possibilidade do surgimento de um novo ciclo industrial [...]”. (LEMOS, 1999, p. 19). Porém, como já demonstrado, não se pode invalidar o fato, já destacado anteriormente, de que a principal responsável pelo acelerado (e desordenado) crescimento da população urbana, é sem dúvida a arcaica e ainda bastante concentrada estrutura fundiária maranhense.

Ademais, por não ter uma estrutura econômica suficientemente capaz de absorver a mão-de-obra atraída pelo crescimento econômico e pela possibilidade de melhorias de vida (pois a expectativa de geração de milhares de empregos, que atraiu muita gente, não absorveu grande parte), bem como a que foi expulsa do campo em razão da concentração de terras e dos conflitos fundiários, a cidade de São Luís vê o seu setor terciário crescer de forma desordenada, especialmente no seu circuito inferior, pois o ingresso neste “[...] geralmente é fácil, na medida em que, para isto, é mais necessário o trabalho que o capital.” (SANTOS, 1979b, p. 161).

Assim sendo, Diniz (2005, p. 80), afirma que:

No Maranhão [...] a urbanização não se deu apenas em função da indústria e da modernização da agricultura, mas principalmente pela expulsão da população camponesa em virtude da desarticulação das relações de produção, e por isso, a quantidade de migrantes que chega à cidade excede a capacidade de absorção de mão-de-obra [...] Essa incapacidade do setor produtivo da economia nordestina [e maranhense] de incorporar parcelas cada vez maiores da força de trabalho superdimensionou o setor terciário ao mesmo tempo em que deu origem a novas formas de inserção da população urbana na divisão social do trabalho. Surgiram, dessa forma, atividades não tipicamente capitalistas mas que constituem parte integrante do processo de articulação que as articula e delas se alimenta.

Cabe lembrar que nem todas as atividades do circuito inferior são informais, porém, no caso específico de São Luís, são estas últimas as que mais crescem o que é facilmente observado, principalmente pelo aumento do número de “camelôs”10, não só no centro comercial da cidade, como também nas áreas comerciais da grande maioria dos bairros da capital maranhense (figuras 1 e 2), sendo este o motivo pela escolha de tais trabalhadores para compor o objeto do presente estudo.

Figura1: Atividades Informais em bairro considerado nobre em São Luís (Renascença)

Tais trabalhadores, no contexto da economia da capital maranhense, caracterizam-se pela precariedade das suas condições de vida e de trabalho, marcadas por baixos rendimentos, péssimas condições de moradia, e acesso irregular a serviços básicos, tais como educação, saúde, transportes saneamento básico e abastecimento de água11.

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Explica-se o uso das aspas no termo camelôs, pelo fato de tal termo, apesar de popularizado pela sociedade como um todo para se referir aos trabalhadores informais sem ponto fixo, ou de rua; não ser bem aceito em meio aos próprios trabalhadores, os quais preferem ser chamados de trabalhadores ou comerciantes informais.

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Existembons trabalhos que tratam da questão da economia informal em São Luís – MA, os quais servem como boas fontes para a caracterização dos trabalhadores envolvidos na mesma. Entre os trabalhos que tratam da questão, pode-se citar os de SOUSA (2000), PORTO (2003), RODRIGUES (2003), MOREIRA FILHO (2005) e NUNES (2006), bem como o de DINIZ (2005), o qual resultou em tese de doutorado.

Para Diniz (2005, p. 81), são fatores que facilitam a expansão das atividades informais no estado do Maranhão, a necessidade de pequenos investimentos, a baixa qualificação exigida por tais atividades, bem como a boa aceitação dos produtos oferecidos pelas mesmas em meio à população local (especialmente a de baixa renda), assim, percebe-se um elevado crescimento destas atividades em razão do aumento da população economicamente ativa (PEA) maranhense, de forma mais acelerada do que a capacidade da economia local de gerar postos de trabalho formais, do que resultam elevados períodos de permanência na atividade.

Figura 2: Informais em Frente à Shoping-center, em São Luís (bairro Renascença).

Diniz (2005) afirma ainda que há uma grande diversidade em meio aos trabalhadores informais no que se refere a uma série de indicadores sociais importantes, tais como, escolaridade, local (e qualidade) das moradias e rendimento, os quais em geral estão abaixo de níveis aceitáveis, e tem uma relação direta com as precárias condições em que se desenvolvem as atividades, as quais caracterizam-se como causa e produto dos indicadores citados anteriormente.

A fim de melhor caracterizar as atividades informais no Maranhão, e em São Luís em particular, procurou-se alguns trabalhos que pudessem fornecer

dados sobre as condições de vida dos trabalhadores informais da capital maranhense.

Cabe considerar que a expansão das atividades informais no estado do Maranhão, e em sua capital, é em grande medida resultado (além das transformações verificadas no mundo do trabalho contemporâneo especialmente nas economias mais industrializadas, frutos da reestruturação produtiva) da insistência de situações típicas do período colonial e que permaneceram até hoje presentes no mesmo, especialmente a extrema concentração fundiária, a qual libera (diariamente) grandes levas de migrantes, que sem a menor perspectiva em suas áreas de origem, acabam por desembarcar nos maiores municípios do estado, principalmente em São Luís.

Além disso, deve-se ressaltar a implantação de projetos industriais no Maranhão, os quais atraíram para seu entorno, como já destacado anteriormente, um número muito maior de pessoas do que poderiam efetivamente suportar, pessoas estas, em sua maioria, despreparadas para o tipo de trabalho oferecido pelas referidas empresas.

A conjugação de tais fatores (concentração fundiária, implantação de projetos industriais, falta de preparo profissional da maioria da população local para os postos de trabalho gerados), associada à crescente redução do número de empregos, mesmo em meio ao setor terciário (fruto em grande parte do enxugamento das estruturas estatais, bem como das sucessivas crises vividas pela economia nacional nas três ultimas décadas), pode ser considerada a base para o entendimento da expansão das atividades informais em meio à economia maranhense.

Essa expansão é reforçada, especialmente a partir dos anos 90, pela percepção de um movimento cada vez mais acentuado de saída das referidas atividades de suas áreas de concentração tradicional, localizadas em geral no centro comercial da cidade, ou centro velho, para locais periféricos da mesma, (como já dito anteriormente) acompanhando o crescimento horizontal desordenado da mancha urbana ludovicense (Figuras 3 e 4) que leva ao surgimento de sub-centros comerciais fora do centro tradicional (Figura 5), a fim de evitar grandes deslocamentos para a realização de compras:

Figura 3: Mancha urbana de São Luís em 1984 (áreas em tom avermelhado):

Figura 4: Mancha urbana de São Luís em 2000 (áreas em tom avermelhado):

Fonte: Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Maranhão-2007).

Em estudo feito por Porto (2003) sobre a dinâmica da economia informal na cidade de São Luís – MA a partir dos trabalhadores da Praça Deodoro (um dos locais de maior concentração de informais na cidade, escolhido pela prefeitura para a instalação do “camelódromo”, no final da década de 1980), tem- se um bom perfil dos trabalhadores informais da capital maranhense.

Tal estudo traz informações quanto ao gênero dos trabalhadores, estado civil; número de filhos; origem e motivo da vinda para São Luís (no caso dos migrantes); motivo de escolha e tempo no exercício da atividade, atividades anteriormente exercidas; local e situação das moradias; grau de escolaridade;

tipo, posse e local de aquisição das mercadorias que comercializam; níveis de renda, entre outros indicadores.

Figura 5: Áreas de concentração de atividades informais na periferia da cidade de São Luís – MA.

Ainda segundo Porto (2003), tem-se em meio às atividades informais em São Luís, predomínio de trabalhadores do sexo masculino; casados e tendo entre 2 e 4 filhos (predominantemente), o que demonstra o grande número de famílias dependentes de tal atividade, fato que associado aos níveis de renda verificados (predominantemente entre 1 e 2 salários mínimos), e aos locais de moradia (a grande maioria vivendo em áreas de ocupação irregular ou em conjuntos habitacionais de caráter popular), demonstram a precariedade das condições de vida da maioria dos trabalhadores informais de São Luís (que, aliás, são predominantemente, oriundos ou do interior do estado, ou de outras unidades da federação).

Tais dados são confirmados por outros estudos anteriores (caso de SOUSA, 2000) e posteriores (casos de MOREIRA FILHO, 2005 e NUNES, 2006) ao aqui referido, apresentando as mesmas tendências, apenas com pequenas variações em termos percentuais. Assim sendo, confirma-se a necessidade de se observar em que nível as políticas públicas voltadas para o trabalho tem se adaptado a essa realidade de predomínio de trabalhadores informais sobre os formais, considerando as importantes transformações na visão que tais políticas têm dos referidos trabalhadores, bem como a percepção que os mesmos têm dessas políticas além do grau de abrangência das mesmas em meio aos trabalhadores de São Luís – MA.

Deve-se também tentar perceber até que ponto podem ser propostas medidas que mitiguem o atual quadro sócio-econômico desses trabalhadores, os quais, apesar de serem hoje mais bem vistos pelo poder público estatal do que em tempos pretéritos, ainda demonstram necessitar de diversos tipos de auxílio por parte do Estado.

3 A EVOLUÇÃO DO ESTADO CAPITALISTA, POLITICAS DE TRABALHO E RENDA E EXPANSÃO DAS ATIVIDADES INFORMAIS

Um outro elemento considerado importante para o presente estudo, é o processo de constituição e evolução do Estado, em sua vertente capitalista, bem como a maneira pela qual tal evolução acabou por propiciar uma situação de precarização ou mesmo extinção do trabalho (pelo menos se entendido como emprego), e ampliação das atividades precárias, entre as quais temos as informais, fatos que tentar-se-á compreender no presente item.

3.1 A evolução das formas de Estado: uma tentativa de resgate das