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6.2 A percepção dos trabalhadores informais de São Luís – MA

6.2.1 Vínculos com o mercado de trabalho

Durante as trinta e duas entrevistas realizadas, procurou-se inicialmente identificar aqueles trabalhadores egressos do mercado formal de trabalho, indagando a estes se já haviam tido empregos e/ou carteira de trabalho assinada, bem como o tempo de permanência nos mesmos, e há quanto tempo haviam deixado o chamado mercado formal.

Nos itens a seguir, mostram-se alguns dados relativos às relações entre os trabalhadores informais de São Luís e o mercado formal de trabalho.

a) Egressos do mercado formal de trabalho

No tocante à existência ou não de vínculos anteriores dos trabalhadores entrevistados com as atividades formais, percebeu-se que grande parte dos trabalhadores é oriunda da chamada economia formal, especialmente no que se refere aos trabalhadores de maior idade, fato que pode comprovar a estreita relação da expansão das atividades informais na capital do Maranhão com a já verificada expansão das taxas de desemprego formal na mesma.

Deste modo, do total de entrevistados, mais da metade, ou 56,2% já exerceram de alguma forma atividades ligadas à economia formal, sendo importante ressaltar, no entanto, que nem todos os que responderam que já haviam trabalhado para a economia formal eram de fato formais, haja vista que

22,2% dos trabalhadores atuavam nesta, mas sem ter carteira de trabalho assinada, como mostram os gráficos a seguir:

Gráfico 1: Emprego formal

sim=56,25% não=43,75%

Gráfico 2: Emprego com carteira assinada

sim=77,8% não=22,2%

b) Atividades exercidas

Quando se analisou as principais atividades exercidas pelos trabalhadores em meio à economia formal, percebeu-se que estas são, em geral, ocupações que requerem pouca ou nenhuma qualificação, e mesmo nos casos em que as atividades requerem algum tipo de conhecimento um pouco mais técnico, grande parte dos trabalhadores afirmou que aprendeu o ofício “na prática”, sem necessidade de realização de cursos de qualificação ou aperfeiçoamento, o que confirma o fato, presente na literatura pesquisada, de que as atividades informais estão relacionadas a pessoas com pouca qualificação para o trabalho. Entre as atividades mais exercidas, podem ser citadas as de vigilante (em geral não contratados de firmas de segurança), trabalhadores na

construção civil (mestres de obras, pedreiros e auxiliares) e domésticas (sendo que tal categoria compõem o maior percentual de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada).

No que se refere ao período em que se encontravam, na data da pesquisa, trabalhando sem carteira de trabalho assinada (tabela 08), constatou-se que uma parte expressiva dos trabalhadores já estava há algum tempo fora do mercado formal de trabalho, sendo que a maioria admitiu que não mais procura por vagas no mesmo (inclusive nos casos em que demonstraram algum interesse em voltar a trabalhar como empregados), como é o caso de um dos entrevistados, que trabalha na Rua Grande, próximo ao antigo Cine Passeio, o qual afirmou que:

Nos primeiros meses até que eu tinha estímulo para procurar trabalho, mas quando chegou um ano tive que procurar uma coisa fixa para fazer, pois não dava mais para viver de ‘bico’. A partir daí, deixei de procurar, mas se aparecer a gente aceita.

Tabela 08: tempo de ruptura de vínculo empregatício formal

Período Totais (%) Até 1 ano 14,3 Entre 1 e 2 anos 21,4 Entre 2 e 3 anos 21,4 Entre 3 e 4 anos 14,3 4 anos ou mais 28,6

Além da questão do tempo em que os trabalhadores se encontram fora do mercado de trabalho, perguntou-se também por quanto tempo os trabalhadores estiveram ligados ao trabalho formal, através de carteira de trabalho assinada, (tabela 09), sendo que nesse caso, também se percebeu o predomínio de trabalhadores com mais de quatro anos de trabalho, havendo inclusive alguns que chegaram a se aposentar, mas que voltaram a trabalhar como forma de complementar a renda da família.

Tabela 09: período de tempo com Carteira assinada

Período Totais (%) Até 1 ano 7,2 Entre 1 e 2 anos 21,4 Entre 2 e 3 anos 21,4 Entre 3 e 4 anos 7,2 4 anos ou mais 42,8

c) Percepção acerca do aumento da força de trabalho em meio às atividades informais

Outro dado interessante, e que comprova boa parte das afirmações contidas no presente trabalho, bem como serve de boa justificativa para o mesmo, refere-se à opinião dos trabalhadores quanto ao aumento do número de pessoas trabalhando em meio às atividades informais. Nesse sentido, a totalidade dos entrevistados verificou aumento no número de informais seja no local onde trabalham, seja ao longo de toda a cidade, sendo que alguns afirmaram as duas coisas, sempre demonstrando grande preocupação com um possível aumento da concorrência, bem como colocando a culpa por tal aumento no governo.

Tabela 10: Percepção acerca do aumento do número de trabalhadores informais no local onde trabalha.

Opinião Totais (%)

Sim, onde trabalho 90,6

Sim, em toda a cidade 56,25

Tais dados nos expõem o ritmo acelerado em que se expandem as atividades de cunho informal, como também a preocupação destes trabalhadores com tal expansão, tendo em vista o conhecimento que têm acerca da realidade que envolve as mesmas, bem como a preocupação, seja com o aumento da concorrência, seja com a confirmação da impossibilidade cada vez maior de retorno ou ingresso nas atividades formais, pois para muitos dos entrevistados, o aumento do número informais significa que não estão sendo gerados empregos em quantidade suficiente, o que sepulta em muitos a esperança de conseguirem um lugar em meio à economia formal, bem como reduz as esperanças alimentadas com relação ao ingresso de seus filhos, e/ou pessoas próximas no mesmo.

d) Desejo de retorno ao mercado formal de trabalho

No tocante ao já referido interesse de alguns em se empregar novamente, percebeu-se certo desalento por parte de alguns entrevistados, sendo que, embora a maioria (55,5%) ainda mantivesse algum interesse em retornar a

um posto formal de trabalho, uma parcela considerável dos trabalhadores que já foram empregados (44,5%), não demonstrava mais nenhum interesse em retornar ao mesmo, tais dados poder ser observarvados no gráfico 3:

Gráfico 3: Iinteresse em se empregar novamente

sim=55,5% não=44,5%

Quanto aos motivos dados para as respostas, as principais alegações dos que ainda almejam trabalhar no chamado setor formal ligaram-se ao fato de os empregos formais oferecerem maior segurança, direitos trabalhistas, bem como pelo fato de o trabalho ser em geral menos duro “a nossa atividade é muito insegura, tem dia que se vende bem, tem dia que não, isso sem falar que a gente não tem direito a nenhum benefício quando se adoenta ou quando envelhece”, é o que afirmou outro entrevistado, trabalhador da Praça Deodoro. Já os que não demonstraram interesse em voltar ao mercado formal alegam principalmente que são independentes (patrões), não tem que seguir horários fixos e seus rendimentos são superiores aos do período em que eram formais “aqui eu sou patrão né, sou eu que faço meu dia e meu horário” diz um dos entrevistado, que trabalha na Rua Grande.

Um dado curioso é, que apesar do expressivo número de trabalhadores egressos da economia formal que não demonstrou interesse em regressar à mesma, no geral, a maioria dos informais (62,5%) admitiram que não estão satisfeitos/não gostam da sua atividade, sendo que os motivos alegados por estes em geral, foram praticamente os mesmos citados no item anterior. Os números a esse respeito podem ser vistos no gráfico 4:

Gráfico 4: Satisfação em trabalhar como informal

sim=37,5% não=62,5%

Pode-se perceber que a grande maioria dos trabalhadores entrevistados pertence ao que a literatura especializada em relações de trabalho chama de “grupos com maior vulnerabilidade” ou com “dificuldades de inserção” no mercado formal de trabalho, haja vista que a maioria dos egressos de atividades formais, entre os entrevistados, constitui-se em pessoas do sexo masculino, com faixa etária variando entre 40 e 55 anos, (grupos vulneráveis) havendo ainda, no total dos entrevistados, um número expressivo de jovens (entre 18 e 25 anos), predominantemente do sexo masculino e com baixa qualificação educacional/profissional (grupos com dificuldade de inserção).

Tais dados servem também para confirmar a tese de que na impossibilidade de conseguir um espaço em meio ao mercado formal, é preferível se inserir nas atividades informais, mesmo considerando as dificuldades inerentes às mesmas, bem como os fatores que dificultam (ou mesmo impedem) o ingresso em atividades formais.

6.2.2 Acesso às políticas de microcrédito

Outro aspecto incluído na presente análise refere-se ao nível de acesso a crédito entre os trabalhadores informais da cidade de São Luís – MA, item incluído na mesma em função da constatação, em meio ao referencial teórico utilizado, de que uma das tendências atuais das políticas de trabalho constitui-se no fornecimento de crédito de pequena monta, a juros mais baixos e prazos considerados mais realistas, a populações com dificuldade de inserção no