• Nenhum resultado encontrado

Desentendimentos entre os professores Coelho, Paulo de Tarso e Pinho, durante a gestão da reitoria – 1985 a 1988 – não permitiram selar uma proposta de continuidade. Quem acompanhava de perto o trabalho da administração da Universidade percebia claramente que as alianças forjadas na campanha eleitoral não resistiram às idiossincrasias de cada um dos vencedores. O Reitor manejava habilmente os números econômicos da Instituição, transitava com facilidade em meio ao Conselho de presbíteros da Arquidiocese de Campinas (assessoria do arcebispo), cedia parcialmente às reivindicações da APROPUCC nas ocasiões de greve e com isso se projetava politicamente dentro e fora da Universidade. Esse personalismo é que teria dividido a reitoria e as vice- reitorias.

No dia 1º de agosto de 1988, em conjunto, APROPUCC, AFAPUCC e DCE lançam o “comunicado nº 1”, no qual apontavam para o fim do mandato da reitoria em 31.12.88. Com isso diziam ser necessária a mobilização dos três segmentos da Universidade, para que no momento em que as candidaturas fossem efetivadas houvesse debates a partir das respectivas plataformas de trabalho:

Para permitir a participação de todos julgamos que o processo de consulta ampla deve ser precedido de debates, envolvendo toda a comunidade. É um momento fundamental, de vivência democrática, quando devemos aprofundar a discussão sobre Política Educacional, o papel da Universidade, analisando as

propostas pedagógicas e administrativas, buscando definir uma efetiva participação de todos nos rumos da Puccamp (APROPUCC/AFAPUCC e DCE, comunicado n.1, 01.08.88).

Para iniciar o processo de consultas eleitorais prévias, uma comissão eleitoral constituída de três representantes de cada segmento foi formada. Seria ela o ponto de referência e agilizadora das diversas etapas desse mesmo processo.

Ainda, no citado boletim, chama a atenção a linguagem arrojada utilizada quando se refere a escolha do reitor:

As três entidades defendem um processo democrático, com ampla consulta à comunidade, exigindo posteriormente que seja nomeado como Reitor o nome que contar com a preferência dos vários segmentos (APROPUCC/AFAPUCC e DCE, comunicado n.1, 01.08.88).

O termo exigindo soa exagerado, pois que pelos estatutos nada obrigava o Colégio Eleitoral a acatar aqueles resultados. Do ponto de vista legal, os trâmites eram outros, como já vimos. Acatar o resultado das prévias poderia ser, no máximo, uma condição moral, visto que diretores e vice-diretores de unidades acadêmicas também haviam sido eleitos pelos seus pares, portanto os representavam.

Mas, sabemos que as diversas forças políticas da Universidade mediam forças nas diversas instâncias, o que por si só poderia dificultar ainda mais, por parte do Colégio Eleitoral, a simples ratificação dos nomes eleitos nas prévias. Em nome do direito, da legalidade, outros nomes poderiam aparecer naquela instância.

Naquela conjuntura, porém, a correlação de forças apontava para uma continuidade tranqüila na direção da Universidade, de tal forma que o termo "exigindo" aparecia mais como força de expressão do que como camisa de força para o Colégio Eleitoral. O contexto sociopolítico brasileiro também caminhava na direção da democratização da sociedade e de suas instituições.

Nas Normas Gerais para a eleição prévia da Reitoria da PUCCAMP/88, na página 4, encontramos, em relação à ponderação de votos:

funcionários terão os seus votos ponderados conforme tabela abaixo e os estudantes terão peso igual a 1 (um) por serem o segmento mais numeroso.

DADOS SEGMENTOS

Número de Eleitores

Peso Voto Ponderado Proporcionalidade

Professores 1.340 15,223 20.399 1/3

Funcionários 956 21,337 20.399 1/3

Estudantes 20.399 1.000 20.399 1/3

TOTAL 22.695 61.197 1

APROPUCC, AFAPUCC, DCE. Normas Gerais para a Eleição Prévia da Reitoria da PUCCAMP/88, p. 4

No comunicado n° 2, de 13 de setembro de 1988, as três entidades defendiam que as inscrições seriam feitas por chapas e que as mesmas, no ato, deveriam apresentar sua plataforma programática. Definia também o calendário das prévias:

De 1° a 21/set.: divulgação das normas do processo

De 21/set a 04/out.: período de inscrição de chapas, mediante plataformas programáticas

De 05 a 15/out.: divulgação das chapas, suas respectivas plataformas e as datas e horários dos debates a serem realizados nos campi I, II e Central; De 17 a 28/out.: debates com as chapas

De 02 a 08/nov.: realização das prévias em toda Universidade (APROPUCC/AFFAPU e DCE, comunicado n. 2, 13.09.88, p. 12).

Uma única chapa se inscreveu para concorrer às prévias. Denominada “Qualidade e Compromisso Social”. Era constituída pelo professor Eduardo J. P. Coelho, da Faculdade de Ciências Tecnológicas, reitor em exercício e candidato ao mesmo cargo para um novo mandato; professor Gilberto L. M. Selber, do Instituto de Ciências Exatas, candidato a vice-reitor para assuntos administrativos, e professora Vera S. M. Beraquet, da pós-graduação da Faculdade de Biblioteconomia, candidata a vice-reitora para assuntos acadêmicos.

No dia 04 de outubro, último dia reservado às inscrições, o acadêmico Noel Lázaro Taufic, presidente do Diretório Acadêmico “XVI de Abril”, da Faculdade de

Direito, em documento assinado por ele e entregue à Comissão Eleitoral requeria a inscrição de uma outra chapa, assim constituída: candidato a Reitor, prof. Álvaro César Iglesias; candidato a Vice-Reitor Administrativo, prof. Ronaldo Passini; candidato a Vice- Reitor Acadêmico, prof. Carlos de Aquino Pereira.

Requeria também a dispensa de apresentação de plataforma programática, já que não eram os próprios professores que estavam se inscrevendo. Tratava-se, segundo o documento, de uma iniciativa estudantil. Sugeria ainda que, consultados os professores em questão, se os mesmos assumissem as respectivas candidaturas, de imediato apresentassem uma plataforma programática.

Os argumentos utilizados para embasar tal ato eram assim elencados: Parece ao requerente, data venia, que restringir as candidaturas às autolançadas empobrece a possibilidade de escolha dos melhores – os quais, por motivos diversos, embora não recusassem uma indicação, talvez sentissem constrangimento na propositura de seus próprios nomes [...].

Por fim, se o interesse das Entidades que promovem as prévias é, como se acredita, fazer do processo de escolha da Reitoria a oportunidade para amplo debate de idéias e para o aprofundamento da reflexão sobre os problemas da Universidade, não faz sentido excluir a participação de quem não queira ser candidato de si mesmo (TAUFIC, requerimento entregue à Comissão Eleitoral, 04.10.88).

No mesmo dia, a Comissão Eleitoral, representada pelos três segmentos da Universidade, se reuniu e manteve as normas estabelecidas para as eleições prévias, indeferindo a formalização da inscrição da chapa solicitada pelo presidente do Diretório Acadêmico de Direito.

Em 5 de outubro, a Comissão Eleitoral assina um termo de compromisso no qual declarava que, caso o resultado das prévias apontasse para um impasse – a soma dos votos nulos e brancos superasse os votos da chapa inscrita –, cada segmento deveria chamar uma assembléia e colocar em votação duas propostas:

A – seus representantes no CONSUN e no CONCEP votam nulo ou branco B – seus representantes votam na chapa inscrita

O resultado destas assembléias deveria ser levado à Comissão Eleitoral e, não havendo consenso, a posição majoritária deveria ser acatada pelos representantes dos mesmos no Colégio Eleitoral.

Isso demonstrava uma certa fragilidade daquele processo, pois, ao aventar-se a hipótese de os votos nulos e brancos superarem os da chapa inscrita, denotava-se uma preocupação com o eventual baixo comparecimento dos eleitores às urnas, ou, ainda, uma campanha orquestrada por pessoas (professores) que não se inscreveram e pretendiam deslegitimar as eleições prévias ou as suas normas. Em qualquer um dos casos, a representatividade das diretorias das entidades associativas, AFAPUCC, APROPUCC e DCE, estava colocada em jogo.

Para complicar ainda mais, na reunião da Comissão Eleitoral das Prévias, realizada em 27 de outubro, o representante dos estudantes na referida Comissão, fazendo uso da palavra, comunicava que no dia anterior havia ocorrido uma reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB), e que, apesar de não ter havido quorum, deliberou-se que a cédula eleitoral deveria ser alterada, ou seja, ao invés de um espaço em branco à frente do nome da chapa inscrita que seria ou não assinalada com um ‘X’, deveriam ser colocados dois espaços em branco seguidos das palavras SIM e NÃO. Com isso a cédula e as eleições teriam caráter plebiscitário.

A Comissão Eleitoral prontamente recusou tal indicativo, mesmo diante da ameaça do DCE de abandonar o processo caso não houvesse a alteração da cédula.

No mesmo dia, 28 de outubro, em Carta Aberta à Universidade, representantes das Diretorias Acadêmicas de Engenharia, Psicologia, Farmácia, Fonoaudiologia, Educação e Letras questionaram a legitimidade do Conselho de Entidades, pois não havia quórum, acusaram a diretoria do DCE de “manipuladora” e “interesseira” e se posicionam favoráveis ao processo de prévias (cf. CARTA ABERTA À UNIVERSIDADE, 28.10.88).

Reconsiderando o que havia sido dito e feito, em carta datada em 01 de novembro, o presidente do DCE comunica ter ocorrido no dia 31 de outubro uma nova reunião da CEB, desta feita com 17 entidades presentes. Ali se decidiu pela “reincorporação do DCE à Comissão Eleitoral e conseqüentemente no processo das prévias”.

Nesse sai e volta os representantes da AFAPUCC e APROPUCC, no dia 03 de novembro, em boletim de esclarecimento à comunidade universitária, comunicam que o DCE não estava cumprindo com suas obrigações, assumidas coletivamente na Comissão Eleitoral. O debate realizado em 19 de outubro entre os candidatos, no Campus I da Universidade, que deveria ter sido organizado pela entidade estudantil nem contou com a presença da mesma; não estava assumindo 1/3 das despesas do processo das prévias, conforme o acordado; não havia tomado as providências necessárias para a efetiva participação dos estudantes no processo eleitoral. Apelava-se, ao final, para o bom senso e a responsabilidade dos representantes estudantis neste processo (cf. APROPUCC/AFAPUCC, Boletim de 03.11.88).

5.1- O Programa da Chapa “Qualidade e Compromisso Social” e as Eleições

O professor Eduardo J. P. Coelho, reitor em exercício e candidato a Reitor, o professor Gilberto L. M. Selber, candidato a Vice-reitor para Assuntos Administrativos, e a prof. Vera S. N. Beraquet, candidata a Vice-reitora para Assuntos Acadêmicos, eram os integrantes da chapa “Qualidade e Compromisso Social”.

Na apresentação do programa elaborado pela chapa e apresentado em um boletim das prévias afirma-se:

Ao assumir sua identidade-confessional, comunitária e de caráter público, explicitando os contornos de um projeto comprometido com a Qualidade e Transformação Social, a PUCCAMP eleva sua qualidade perante a comunidade e órgãos de fomento e dá passos fundamentais para o enfrentamento consciente de suas históricas e estruturais dificuldades financeiras (APROPUCC/AFAPUCC, Boletim, 11/88, p. 1).

No mesmo boletim são listadas 14 diretrizes prioritárias. Entre elas a consolidação do projeto político educacional, a melhoria do ensino, integração com a comunidade externa para viabilizar a pesquisa, desburocratização do modelo acadêmico administrativo, busca de recursos externos, reestruturação e ampliação dos serviços da Secretaria de Assistência aos Estudantes, fortalecimento e ampliação dos canais de

conteúdo do item n° 6: “Consolidar uma política de recursos humanos para docentes e funcionários, que contemple condições de trabalho, capacitação e carreira docente e funcional, compatíveis com o projeto da PUCCAMP” (cf. APROPUCC/AFAPUCC, Boletim das prévias, nov/88, p. 3).

Por ser uma antiga reivindicação dos professores, a carreira docente era condição sine qua non para que a Universidade começasse a produzir pesquisas internamente. Os professores que pesquisavam à época o faziam em outras instituições universitárias, normalmente dentro de programas de mestrado ou doutorado, buscando qualificação e titulação pessoal.

Depois da realização de debates nos três campi da Universidade, entre os dias 03 e 09 de novembro de 1988 realizaram-se as eleições prévias, que tiveram os seguintes resultados:

PORCENTAGEM DOS VOTOS EM RELAÇÃO AO COLÉGIO ELEITORAL Segmento Colégio

Eleitoral

Chapa % Brancos % Nulos % Total %

Prof. 1.340 846 63,1 82 6,1 66 5,0 994 74,2 Func. 896 741 82,6 48 5,4 39 4,4 828 92,4 Alunos 20.410 1.211 5,9 361 1,8 571 2,8 2.143 10,5 TOTAL 22.646 2.798 12,3 491 2,2 676 3,0 3.965 17,5

Fonte: Comissão eleitoral das prévias/1988

Como se observa nos números acima, só o setor estudantil deixou de comparecer às urnas de forma representativa. 74,2% dos professores e 92, 4% dos funcionários participaram das prévias, legitimando o processo e dando a vitória à chapa inscrita.

Em carta aberta enviada aos membros do Colégio Eleitoral, datada em 24 de novembro de 1988, as entidades representativas dos três segmentos universitários, DCE, AFAPUCC e APROPUCC, conclamavam:

Como os professores, funcionários e estudantes, que são representantes nos três segmentos no Colégio Eleitoral, têm o

compromisso formal de votar na chapa vencedora das prévias, convidamos também V. Excia. a referendar o resultado deste processo eleitoral que, embora não tenha valor legal, representa legitimamente o desejo de toda comunidade acadêmica.