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Em assembléia da APROPUCC realizada no dia 24 de junho de 1992, deflagrou-se a divisão sobre os preparativos das prévias eleitorais que seriam realizadas ao final do mesmo ano. Nessa assembléia apontou-se para princípios básicos que deveriam ser adotados por qualquer chapa que viesse a se inscrever. Isso denotaria um compromisso dos candidatos com as reais necessidades da instituição, bem como o fortalecimento do processo democrático, segundo a avaliação desse segmento da Universidade.

Resumidamente, os quatro princípios enunciados seriam os seguintes:

a) - assegurar a autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira em relação à mantenedora e ao Estado.

b) - ampliar o processo democrático que se desenvolve na universidade, possibilitando uma ampliação da representação da comunidade universitária em todas as instâncias deliberativas. c) - capacitar os estudantes para o exercício profissional, reflexão

crítica e superação dos saberes isolados. Para tanto é necessária a efetiva implantação da carreira docente que possibilite a integração do ensino, pesquisa e extensão.

d) - reformulação da estrutura administrativa, desburocratizando e descentralizando a administração (cf. APROPUCC, Carta de Princípios, 1992).

Esses princípios foram rediscutidos no mês de agosto e republicados na íntegra no mês de setembro. Então o processo para a realização das prévias eleitorais estava em pleno andamento. A APROPUCC, AFAPUCC e DCE já haviam constituído uma comissão eleitoral e muitos professores, através de suas respectivas faculdades de origem, foram reelaborando a carta de princípios, ampliando as discussões. Os professores da Faculdade de Educação e os da Faculdade de Letras entregaram à APROPUCC o resultado de suas

produzido na Faculdade de Educação, intitulado "Carta de Princípios", ampliava a reflexão iniciada pela APROPUCC, indo para além das questões mais genéricas e aprofundando a temática das questões pedagógicas, o texto subscrito pelos professores da Faculdade de Letras tinha três eixos fundamentais: a- reivindicação salarial; b- problemas específicos da unidade; c- avaliação da gestão da atual reitoria.

Neste último item são listados 7 pontos nos quais o vocabulário "falta" avaliava as necessidades dos professores. Assim, faltavam planejamento, captação de fontes alternativas de receitas, política de anuidades, política salarial e planejamento para a implementação do regime de dedicação da Carreira Docente, entre outros. (cf. PROFESSORES DO INSTITUTO DE LETRAS, 1992, p. 2).

De alguma forma os professores se mobilizavam para participar do processo eleitoral. A conjuntura do país, com taxas altas de inflação, provocava constantemente assembléias dos vários segmentos da universidade. Professores e funcionários se mobilizavam para repor as perdas salariais, e os estudantes, para que não ocorressem aumentos significativos nas mensalidades dos cursos. A sociedade civil também estava mobilizada para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.

No dia 09 de outubro de 1992, uma única chapa, denominada 'Qualidade e Descentralização', se inscreveu para as prévias eleitorais. Fruto de um acordo e composição de diversos grupos políticos dentro da universidade, a chapa estava assim constituída:

- candidato a reitor: Gilberto L. M. Selber, professor do Instituto de Ciências Exatas e vice-reitor para assuntos administrativos;

- candidato a vice-reitor para assuntos acadêmicos: Pe. José Benedito de Almeida David, professor e diretor do Instituto de Teologia e Ciências Religiosas;

- candidato a vice-reitor para assuntos administrativos: Alberto Martins, professor e diretor do Instituto de Ciências Exatas.

No "Resumo do Programa de Trabalho para a Gestão da Reitoria PUCCAMP, 1993-1996" (p. 1), seus signatários explicavam o nome da chapa, ligado aos pressupostos das ações a que se propunham:

A – Qualidade: entendida como aprimoramento permanente das atitudes da PUCCAMP, através da definição clara de projetos acadêmicos que explicitem compromissos com a transformação social, da sólida competência técnico- profissional capaz de integrar a ciência aos problemas sociais e de processos permanentes de avaliação.

B - Gestão Democrática: no sentido de transparência e de agilidade administrativa, que deve contar com ações de fortalecimento dos colegiados, das Unidades Acadêmicas, de organização da Reitoria, procurando efetivar a Descentralização administrativa.

Esses pressupostos se desdobravam em três pontos fundamentais:

1. o aprimoramento das atividades acadêmicas – ensino, pesquisa e extensão; 2. diálogo permanente com os vários segmentos da Universidade,

consolidação da carreira docente, implantação da carreira funcional, consolidar programas de apoio aos alunos;

3. aprimorar a gestão democrática na PUCCAMP e também descentralizar a administração (cf. RESUMO DO PROGRAMA DE TRABALHO PARA A GESTÃO DA REITORIA DA PUCCAMP, 1993-1996, 1992, p. 2). Percebia-se uma grande preocupação na Universidade com a questão da democracia interna e também com a melhoria, em geral, das condições de trabalho. A carreira docente, ainda que num projeto tímido, havia sido efetivada (atingia pouco mais de 10% dos professores), o que permitia que professores utilizassem as horas de pesquisa em seus respectivos projetos de capacitação (mestrado ou doutorado). Além disso, a reitoria, cujo mandato expirava em 1992, podia contabilizar a seu favor a manutenção de um diálogo permanente com os três segmentos da Universidade, e, embora se tivesse defrontado com várias greves durante sua gestão, conseguiu contorná-las dentro dos limites razoáveis de uma universidade particular, via de regra concedendo aumentos salariais de acordo com os índices de inflação e onerando os alunos com aumentos nas mensalidades que não ultrapassavam os índices concedidos nos salários de professores e funcionários.

Nessa data, da inscrição da chapa "Qualidade e Democratização", 09 de outubro, quando seus três componentes compareceram à sede da APROPUCC para efetivar a inscrição, foram surpreendidos com a presença, no local, do diretor do Instituto de

prévias não contemplavam inscrições individuais, mas só através de chapas completas (candidato a reitor e candidatos a vice-reitor acadêmico e vice-reitor administrativo), isso inviabilizava sua candidatura. Na ocasião, entregou uma carta à presidenta da APROPUCC, professora Maria Clotilde Lemos Petta.

Na carta, o professor Veiga fazia um balanço de seus 21 anos de atividades na PUC-Campinas e afirmava que, apoiado pelo Instituto de Ciências Biológicas e outros setores da Universidade, havia colocado seu nome à disposição desse grupo como candidato a vice-reitor para assuntos administrativos.

Em seguida, mostrando toda a sua contrariedade afirmava:

Lamentavelmente, desenvolveu-se o processo, em meu ponto de vista, de forma equivocada. Em momento algum os vários grupos e tendências foram reunidos – apesar de meus insistentes e contínuos estímulos – de forma que minhas idéias e concepções e as do grupo de que faço parte pudessem ser apresentadas e debatidas, antes que se chegasse à composição final. Algumas vezes fui levado a crer que este caminho democrático e participativo seria adotado. Tal não aconteceu, porém. No dia 2 de outubro, sexta-feira, véspera das eleições municipais, às 20 horas, fui informado da impossibilidade de meu nome constar da chapa. Assim tornou-se inviável minha participação nas prévias promovidas pelas entidades (Carta de José F. B. V. Silva à presidenta da APROPUCC).

A forma de composição de chapas, e até aquele momento – terceiras eleições prévias – chapa única, que reunia pessoas de diversas tendências e grupos políticos na universidade, PT, PC do B, PSDB e representantes de partidos mais à direita do espectro político nacional, mas também pessoas não alinhadas com algum partido diretamente, mas com visões diferenciadas sobre o que é e os caminhos que deveriam ser perseguidos pela universidade, mais a influência direta do arcebispo metropolitano e grão-chanceler da Universidade, tudo parecia indicar problemas num futuro próximo.

Em nossa opinião, como demonstraremos à frente, foi nesse momento que D. Gilberto, grão-chanceler da PUC-Campinas, decidiu que, numa conjuntura favorável às suas pretensões, daria um novo rumo à Universidade.

Agradecendo àqueles que o apoiaram, o prof. Veiga encerrava sua carta dizendo:

Perseguirei meu trabalho ao lado daqueles que têm como valores indicadores de sua caminhada a TRANSPARÊNCIA, a JUSTIÇA, a ÉTICA, a VERDADE, não como simples discurso, mas como parte integrante de sua postura na vida diária.

Essas palavras representavam um sentimento de indignação por ter sido alijado do processo, por não fazer parte da chapa, e qualquer grupo que ficasse de fora certamente se sentiria do mesmo jeito. Obviamente, sobrava a alternativa do Colégio Eleitoral, mas isso não representaria uma saída democrática.

Ora, voltando à composição da chapa, o que era certo é que os acordos que viabilizavam a composição dos vários grupos eram feitos em nome de uma "chapa forte", capaz de representar a maior parte dos grupos organizados da instituição, o que garantiria uma participação representativa dos três segmentos da universidade nas prévias. O que não queriam as respectivas diretorias das associações de professores, alunos e funcionários, era deixar a escolha da reitoria nas mãos do Colégio Eleitoral, pois aí qualquer coisa poderia acontecer, e segundo as análises que eram feitas, tendenciosamente, nessa instância, as forças conservadoras eram mais fortes.

Em resposta à carta do prof. Veiga, a Comissão Eleitoral se manifestou em carta datada de 15 de outubro de 1992. Nela, a referida comissão diz ter se reunido no dia anterior para deliberar a respeito daquele conteúdo expresso pelo missivista. Considerava, no entanto, que o processo organizacional das prévias havia sido democrático e que não havia como se posicionar, porque não era de sua competência se posicionar acerca da forma como as chapas são constituídas (cf. COMISSÃO ELEITORAL, carta ao Prof. José F. B. V. Silva, 15.10.1992).

Os debates com os membros da chapa inscrita se realizaram em vários horários nos diversos campi da universidade, entre os dias 03 e 06 de novembro.

No desenrolar do processo o Diretório Central dos Estudantes começa a pregar o "voto nulo". O motivo de tal posicionamento nunca ficou muito claro, mas, sem dúvida, o fato de existir uma única chapa inscrita era o dado preponderante.

Em resposta a tal atitude, em boletim conjunto direcionado "À Comunidade Acadêmica da PUCCAMP", datado em 9 de novembro de 1992, APROPUCC e AFAPUCC, esclareciam sobre:

1º - as prévias e a democracia na PUC-Campinas; 2º - as prévias em 1992;

3º - o significado do voto nas prévias.

Em relação ao terceiro item, os argumentos arrolados pelas duas entidades corroboram em nosso ponto de vista (exposto acima) a respeito de como as prévias e o Colégio Eleitoral eram avaliados naquele momento histórico. Diz o texto:

Embora uma única chapa tenha se inscrito, apresentando uma proposta de trabalho e colocando-a para debate, consideramos que o voto de toda comunidade é uma busca da consolidação do processo democrático na universidade.

Para que o processo democrático se fortaleça, há necessidade de uma demonstração de unidade e coesão em torno da chapa vencedora, o que só poderá ser feito através do voto. Qualquer resultado contrário deixa aberta a possibilidade do Colégio Eleitoral escolher pessoas que não ousaram expor seus planos à comunidade.

Embora co-responsável pela organização das prévias, o DCE surpreendeu a comunidade universitária pregando o voto nulo. O voto nulo, sendo um direito de todos, pode ter um significado de retrocesso neste momento, favorecendo aqueles que, por incapacidade de articulação ou por outras razões, são contra o processo democrático (APROPUCC e AFAPUCC, boletim, 09.11.92, p. 1).

Esclarecia ainda o boletim que o voto na única chapa inscrita não significaria adesão incondicional ao programa da mesma, mas um avanço na democracia interna da instituição.

A votação obedecia à seguinte ponderação: Dados

Segmentos

Número de eleitores

Peso Voto Ponderado Proporcionalida

de

Professores 1.300 13,665 17.765 1/3

Funcionários 1.102 16,121 17.765 1/3

Estudantes 17.765 1.000 17.765 1/3

Total 20.167 - 53.295 1

APROPUCC, AFAPUCC e DCE – Ponderação dos Votos, 1992

As eleições tiveram os seguintes resultados:

/ Chapa Brancos Nulos Total

Professores 856 80 139* 1075

Funcionários 789 83 118** 990

Alunos 2.370 347 1.149*** 3.866 Total 4.015 510 1.406 5.931

Cf. Comissão Eleitoral, mapeamento das Prévias para a reitoria – nov./1992

* acrescido de 03 votos impugnados; ** acrescido de 08 votos impugnados; *** acrescido de 01 voto impugnado.

Esses números, quando ponderados, ganhavam a seguinte proporcionalidade: - A chapa "Qualidade e Descentralização" obteve entre os professores 11.697,240 votos, entre os funcionários 12.719,469, e entre os alunos 2.370,000. Isso perfazia 26.786,709 votos, representando 78,1% dos eleitores que foram às urnas (cf. PRÉVIA DA REITORIA – 1992, Tabela Geral da Universidade).

Assim, a chapa "Qualidade e Descentralização", apesar dos 38,69% de votos nulos/brancos dos estudantes, havia conseguido uma legitimidade fantástica. Entre os professores, 82,68% do universo total foram às urnas e 79,62% votaram na chapa. Entre os

Em "Carta aos membros do Colégio Eleitoral", sem data, a APROPUCC e a AFAPUCC, em posse dos números dos resultados das prévias, apontam para a vitória expressiva da chapa inscrita no processo, e em face da proximidade da reunião do Colégio Eleitoral para elaboração das listas sêxtuplas pedem a todos "que confirmem os nomes da chapa vitoriosa, pois isso significará a manutenção da vontade da maioria da comunidade e a consolidação do processo democrático na PUCCAMP".