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1 MARCO HISTÓRICO: O MOVIMENTO

2.2 AS PRIMEIRAS TRADUÇÕES NA ESCRITA

com os falares das diversas províncias romanizadas, tiveram sua escrita desenvolvida, na maior parte, sob a influência da atividade tradutória. O latim, língua dominante, pouco a pouco vai perdendo sua hegemonia enquanto os vernáculos começam a ocupar espaços cada vez maiores, ora na redação de documentos, ora na divulgação da religião cristã e, em especial, na produção literária, cuja afirmação é proporcionada, durante o Renascimento, pela retomada dos valores da tradição clássica. Vejamos, a seguir, como se dá este processo em cada uma das quatro línguas selecionadas.

A tradução no francês

O francês tem, na própria fundação, como seu primeiro e mais importante documento uma forma de tradução, Le Serment de Strasbourg (842). Primeiro registro conhecido de uma língua vernácula neolatina, este texto refere-se à herança de Carlos Magno, o restaurador do ensino do latim, e por isso teria sido redigido nesta língua. Mas, para que os conselheiros e soldados dos dois irmãos herdeiros pudessem testemunhar a aliança, foi necessário que se fizesse a tradução em uma variedade que seria o francês primitivo. (TRITTER, 2003)

Embora, naquela época, tanto a atividade tradutória quanto a língua francesa ainda não estivessem definidas, Le Serment constitui, ao menos, um indício de que o latim já não era entendido e, por isso, era preciso recorrer-se à versão em língua vernácula. (HALE, 2003, p. 160) Ainda durante alguns séculos, o latim continuou sua vigência como língua de cultura na França, bem como em outros países da Europa ocidental, até que as literaturas e gramáticas vernaculares, unidas às forças políticas e culturais de cada comunidade, pudessem ganhar visibilidade. O latim era a língua da Bíblia, da religião, do clero, das escolas e da escrita em geral, quase equivalente ao termo “gramática”, porque era ensinado e aprendido por meio de regras (VERGER, 1999). Já o vernáculo era considerado a língua sem regra, aprendida e transmitida pela oralidade.

Mas, enquanto decorria a articulação dos fatores externos que contribuiriam para a afirmação do francês perante o latim, a nova língua

foi tendo seu léxico ampliado através do que poderíamos denominar, se não traduções propriamente53, ao menos formas de tradução, tais como empréstimos, decalques e neologismos semânticos, cujo papel formador da língua sempre esteve presente.

A partir do século IX, entraram no francês muitas palavras do árabe, pertencentes aos vários domínios das ciências, como matemática, química, medicina, botânica, zoologia, comércio, entre outros. No século XIV, foi a vez do vocabulário político ampliar-se, por meio das traduções de textos religiosos e filosóficos de autoridades greco-latinas e também da adoção de italianismos, em especial no campo bélico, financeiro e artístico em geral, como resultado dos contatos entre a França e a Itália (BERTRAND, 2008). Contatos estes que, mesmo tendo ocorrido através de conflitos, favoreceram os intercâmbios lexicais entre ambas as línguas.

Importante também foram as trocas e influências interlinguísticas advindas da tradução de textos literários. Segundo Rubio Tovar (1997, p. 237), a tradução, em especial na Idade Média, “oferece uma luz extraordinária sobre a recepção e a compreensão de muita literatura e é um verdadeiro atuante, um poderoso fermento que transforma os textos e converte-os em algo diferente do que são.54” Entretanto, a tradução literária nesta época ainda estava muito distante do que viria a ser depois, no modo renascentista, em que os valores formais e estilísticos seriam considerados fundamentais para a expressão completa do sentido.

Devido à necessidade de adequar o conteúdo dos textos para um público que não tinha acesso aos originais, os tradutores foram incorporando a tradução à criação literária própria. A França foi a primeira das comunidades neolatinas a desenvolver a sua produção literária com base nos escritos greco-latinos, em especial sobre história e lendas, divulgando-as em grande parte da Europa, ainda que os relatos tradicionais tenham sido alterados. Fazem parte deste ciclo diversos poemas heroicos, como a Chanson de Roland e o Roman de Troie, dos

53 Conforme Jakobson (1969, p. 64-5), a tradução propriamente dita é a interlingual, ou tradução que consiste na interpretação dos signos verbais de uma língua por meio dos signos verbais de alguma outra língua.

54 “ofrece una luz extraordinaria sobre la recepciñn y comprensiñn de mucha literatura y es un verdadero activo, un poderoso fermento que transforma los textos y los convierte en algo diferente de lo que son.”

quais foram feitas muitas imitações, adaptações e traduções, tanto em latim quanto nos diversos vernáculos europeus.

A literatura francesa também foi a primeira que recebeu influência das obras de Ovídio, completando assim a temática principal da época que, segundo Highet (1954, p. 102), compunha-se de “combates, amor e coisas maravilhosas”. O tema do amor, por exemplo, divulgado pelos trovadores provençais, depois é retomado, a partir do século XII, por poetas de outros países, como Itália55 e Espanha, que, por sua vez, fomentam suas literaturas.

A tradução no italiano

Na literatura italiana, os primeiros exemplos de reelaboração, que podem ser considerados formas de tradução, aparecem na poesia trovadoresca de origem provençal. Iacopo da Lentini (1210-1270) é tido como o primeiro poeta tradutor/criador da poesia siciliana. Sua canção Madonna dir vo voglio seria uma tradução de um poema do trovador Folchet de Marseille (1150-1231), em que, usando as condições poéticas do seu vulgar, ele conseguiu recriar o texto. De igual modo teria procedido Jacopo Mostacci (1240-1262) na composição de Umile core, que seria uma tradução poética feita a partir do poema Longa sazón ai estat vas amor, de Rigaut de Berbezilh (1140-1163). (RUBIO TOVAR, 1997, p. 242)

Do século XIII até por volta do início do século XVI, na Itália, é a época das vulgarizações (volgarizzamenti56) de obras latinas, bem como de textos literários franceses e provençais, que diferem muito do que viriam a ser as traduções renascentistas, porque, enquanto nestas buscava-se uma retextualização artística, naquelas predominava o interesse pelo conteúdo, com finalidade divulgativo-didática. (FURLAN, 2002, p. 144-5)

A respeito da atividade tradutória medieval, Folena (1994, p. 12) distingue dois níveis: “vertical”, em que o latim, língua de partida, é um

55 Na Itália, em especial, por Petrarca.

56 O conceito de volgarizzamento não se deve confundir com o sentido muitas vezes pejorativo que os derivados do termo “vulgar” adquirem posteriormente, através de gramáticos puristas. Aqui trata-se de uma forma de tradução/adaptação de textos das línguas clássicas para as línguas vernáculas, com o objetivo de tornar acessível ao leitor popular (uulgus). Maiores deta- lhes encontram-se em Folena (1994).

modelo ideal, por causa do seu valor e prestígio; e outro tipo de tradução, “horizontal”, que ocorre entre as línguas de estruturas semelhantes e culturalmente afins, como as línguas neolatinas. Entre estas, mais do que tradução entre sistemas linguísticos, ocorre intercâmbio de influências em algum aspecto, especialmente no plano vocabular.

No nível vertical, um grande número de latinismos foi incorporado ao vocabulário vernacular, muitas vezes de forma indiscriminada. Mesmo assim, este procedimento teve sua importância na ampliação do léxico, pois a língua vulgar não possuía os elementos formais suficientes para receber o texto clássico com toda a arte, uma vez que o grego e o latim posuíam palavras em número muito maior. Neste período, também nas estruturas linguísticas57 operou-se nos vernáculos uma “revolução cultural” (VEGA CERÑUDA, 1995, p. 73).

Marazzini (2004) observa que, do ponto de vista sociolinguístico, os volgarizzamenti são importantes para a preservação das variedades linguísticas da Itália, porque eram realizadas nos diversos vernáculos locais, como o siciliano, o napolitano, o lígure; e, especialmente a prosa, mais do que a poesia, mantinha os traços regionais, resistindo à toscanização pretendida pelos florentinos.

Segundo Furlan (2002, p. 147-9), as vulgarizações do século XIII, em especial de textos latinos, revelam a formação de um novo público leitor, composto de elementos que haviam frequentado universidades ou escolas de direito e interessavam-se pelas obras clássicas, mas que não as acessavam no original devido à falta de domínio linguístico, pois o latim que haviam adquirido era suficiente apenas para as necessidades práticas.

Entre o Trecento e o Quatrocento, à medida que as línguas vulgares iam sendo incrementadas e à medida que se afirmava a possibilidade da tradução artística dos clássicos latinos, a atividade tradutória foi se tornando cada vez mais autônoma. (RUBIO TOVAR, 1997 p. 243)

No final do século XV, com a política de Lorenzo de Medici, que visava à promoção do vernáculo, multiplicaram-se as vulgarizações de obras clássicas feitas pelos eruditos. Em Florença, Cristoforo Landino

57 As diferenças sintáticas observadas pelos renascentistas iriam motivar, mais tarde, os estudos teóricos a respeito da gramática.

traduziu a História Natural, de Plínio, em 1475; e Bernardo Pulci traduziu as Bucólicas de Virgílio, em 1481 (CELLA, 2011).

A partir desta época, com a contribuição dos filólogos humanistas, ao mesmo tempo em que o vernáculo se expandia ocorriam inovações também no modo de traduzir os textos antigos, ampliando-se o cuidado com a fonte e com a conservação do estilo, iniciando-se o papel que a tradução iria assumir no Renascimento, como reelaboradora da produção artística.

A Itália, apesar de não estar unificada politicamente no século XVI, era o lugar onde mais se buscava a unificação de uma língua vernácula, na teoria e na prática. A polêmica sobre o plurilinguismo, conhecida como Questione della lingua, teria iniciado com Dante Alighieri (1265-1321), que, na obra De vulgari eloquentia, após discorrer sobre os vários vernáculos italianos, menciona a escolha de uma língua ideal, de uso comum, com a qual ele já havia escrito um texto anterior, Convivio. Para ele, esta língua não deveria se confundir com a gramática (a língua literária), restrita a poucos.

No início do século XVI, reacendeu-se a discussão, com Castiglione, no Libro del Cortigiano (1513-24), e Maquiavel, no Discorso o dialogo intorno alla nostra lingua (1524-5), consagrando-se com Pietro Bembo, em Prose della volgar lingua, que defendia uma base literária ilustre para a unificação linguística italiana. Por isso, ele sugeriu que fosse adotada a língua do Cancioneiro de Petrarca para a poesia, e para a prosa, a do Decameron de Boccaccio, considerando-os exemplos literários que poderiam substituir os grandes autores clássicos do passado. (SOZZI, 1976)

O diálogo Prose della volgar lingua é uma recriação fictícia de um debate que teria ocorrido em 1502, em Veneza, entre quatro personagens ilustres, cada um representando diferentes posições a respeito da questão linguística: Ercole Strozzi, que defendia a língua latina, como digna e honrada, contra a vulgar, que era vil e empobrecida; Carlo Bembo, irmão e porta-voz de Pietro, defensor do toscano arcaico, com o léxico e os usos de Petrarca e Boccaccio; Federico Fregoso e Giuliano de Medici, que apoiavam Bembo na refutação do argumento de Strozzi.

A discussão apresentada gira em torno das possibilidades do vulgar, para o qual são pensadas soluções de diversos problemas linguístico-literários e, ao sistematizar os seus recursos literários, os interlocutores acabam formulando os preceitos retóricos, gramaticais e

poéticos que depois se tornariam exemplares para a construção dos vernáculos literários. Como o latim havia adquirido grande valor com a restauração feita pelos humanistas, para que o vulgar pudesse suplantá- lo era preciso dar aos escritores italianos uma pauta linguística a que pudessem recorrer para a expressão de suas ideias. Bembo tinha um ponto de vista retórico e ciceroniano, com a diferença de que estava transferindo ao vernáculo italiano a “depuração” que os humanistas haviam feito no latim clássico. Suas obras, Prose, Rimas e Asolani, constituíam, no início do Cinquecento, os paradigmas, tanto da poesia quanto da prosa em vernáculo. Ele ocupou-se, porém, apenas com o que deveria ser a língua literária, sem levar em conta os esforços de outros florentinistas, como Leon Battista Alberti, Cristoforo Landino e Lorenzo de Medici, que antes dele haviam se posicionado em favor do vernáculo58. (NELSON, 1981, p. 433)

Segundo Tavosanis (2002, p. 2), a maior importância do diálogo bembiano Prose della volgar lingua é que, por meio dele, o autor faz com que a imitação dos escritores toscanos do Trecento se torne o modelo para os literatos da Renascença e das gerações sucessivas. Suas ideias também contaram com a contribuição dada pelo desenvolvimento da filologia humanística e da imprensa, pois muitos textos de Dante, Petrarca e Boccaccio que haviam circulado no Quatrocento, em forma de manuscritos, haviam sofrido adulteração pelos copistas. No início do século XVI, Aldo Manuzio edita, sob os cuidados de Bembo, obras procedentes diretamente dos originais trezentistas, que estariam mais livres das alterações formais do último século.

As preocupações de Bembo com a escrita literária, apesar de puristas, têm valor se compreendidas em seu contexto, pois, com sua obra, começa uma nova etapa da história das línguas vernáculas: a tradução do ideal estilístico latino para uma língua neolatina (BAHNER, 1966, p. 66). Etapa esta que marca o fim do uso exclusivo do latim na escrita das grandes obras literárias. Sua atitude iria estimular os literatos

58 Alberti havia descrito, entre 1434 e 1438, um conjunto de normas (Grammatichetta) com base no uso da fala de Florença, diferenciando-se de outras gramáticas italianas baseadas apenas na escrita literária; Landino (1424-1498), em suas traduções e comentários sobre obras literárias, procurava adaptar o texto à linguagem comum de Florença; Lorenzo, inspirando-se na obra Convivio, de Dante, defendia o uso literário do vulgar florentino como mais expressivo do que as línguas clássicas.

de outros países a elevarem suas línguas vernáculas ao grau de excelência antes só concedido ao latim.

O autor das Prose ganharia espaço mais tarde para expor sua acirrada defesa da língua vulgar culta, baseada nas obras de Boccaccio e Petrarca, como um dos personagens do Dialogo delle lingue, de Speroni (1542), selecionado para nossa antologia e que apresenta, de modo abrangente, a problemática da diversidade de línguas na Itália renascentista.

Em termos de inovação cultural, a Itália precede as outras comunidades neolatinas, mas ficou atrás quanto à concretização dos ideais de unificação da língua vernacular, o que, em geral, depende de questões políticas, a exemplo do espanhol, consolidado junto ao poder central com os reis católicos, e do francês (parisiense), a partir dos decretos do rei Francisco I.

No entanto, a produção literária dos italianos garantiu a permanência do prestígio que, desde o Humanismo, continuou a se irradiar para os demais países europeus, em grande parte graças às traduções. Dentre os exemplos significativos de produções literárias italianas traduzidas em outras línguas europeias que influenciaram criações e adaptações locais, em especial na França e na Espanha, encontram-se os sonetos de Petrarca; o Pastor fido, de Guarini; a novela pastoril Arcadia (1481), de J. Sannazaro; e o Morgante (1483), de L. Pulci. (VAN TIEGHEM, 1939; HIGHET, 1954)

A tradução no espanhol

Na Espanha, a atividade tradutória teria iniciado por volta do século IX d.C., ou antes, considerando a tradição romana dos exercícios escolares, ou a língua gótica, para a qual o bispo Úlfilas havia traduzido a maior parte da Bíblia, no século IV. Depois deste, foram os árabes os primeiros que a praticaram de modo mais ou menos contínuo, com as versões de obras científicas para o latim, promovidas pelo bispo Miguel, em Tarazona de Aragão. Havia também outros centros, como Ripoll, Barcelona, Sahún, Osma e San Millán. (RUIZ CASANOVA, 2000)

Traduzia-se nos mosteiros, dentre os quais destaca-se o dos cluniacenses, que, através do latim, acessaram a ciência oriental. No século XII, ainda para o latim, eram traduzidos, talvez do árabe ou do hebraico, textos didáticos, cujo objetivo era doutrinar. No século XIII, o famoso centro de tradução da Espanha situava-se em Toledo, onde

membros oriundos de três culturas, judaica, árabe e cristã, trabalhavam na maior biblioteca da Europa, composta de aproximadamente 400.000 textos orientais. Motivados pela curiosidade e erudição, os árabes traduziram para sua língua obras gregas, hindus e persas, contribuindo para o enriquecimento e a conservação do acervo cultural da península. (RUIZ CASANOVA, 2000)

Mas para a história da língua espanhola, a etapa mais importante de Toledo deu-se sob a proteção do rei Afonso X, o Sábio, quando, entre 1250 e 1270, realizaram-se as primeiras traduções do árabe ao castelhano primitivo, marco das primeiras manifestações da cultura nacional hispânica.

A respeito da tradução medieval na Península Ibérica, Santoyo (1999, p. 9) ressalta que havia uma intensa prática costumeira, crescente desde o século VIII, e que estaria ligada ao progressivo desconhecimento do latim culto e desenvolvimento dos vernáculos. O autor enumera uma série de traduções feitas por necessidade utilitária, na maioria intraculturais, cujo objetivo era divulgar o conhecimento de conteúdos locais. Primeiro, aparecem as glosas, Emilianenses e Silenses, visando à catequese dos cristãos que não entendiam os atos litúrgicos escritos em latim. Tais glosas, segundo ele, revelam os primeiros indícios de que uma nova língua estava nascendo, o proto-castelhano.

Santoyo (1999) cita também o uso da tradução na instrução e na escola, em que explicações aos alunos eram dadas em língua vernácula, quando não compreendiam os textos latinos. Além do contexto religioso e escolar, o autor expõe outras situações variadas em que a tradução ocorria na península ibérica entre os séculos XIII e XV. Entre elas, há documentos notariais e legislativos, decretos, termos de doações, privilégios e tratados, que eram redigidos em latim e junto apresentavam a versão romanceada, como prova de que o latim já não era suficiente para registrar os atos legais.

A tradução no português

No português, é difícil detectar o início da tradução como atividade prática. Costuma-se datar o seu surgimento no século XIII, durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), coincidindo com o aparecimento da forma escrita da língua portuguesa, que começa a ser usada na substituição do latim. No século seguinte, surgiram os códices

dos mosteiros e alguns textos inventariados, como a Regra de S. Bento e a Vita Christi. (PAIS, 1997, p. 27)

A atividade dos primeiros tradutores portugueses teria sido verter textos religiosos, o que faziam como “prática social” (GOMES, 2010, p. 175) a serviço da igreja católica, para facilitar o acesso dos leigos ao culto cristão. A versão dos primeiros vinte capítulos do Gênesis, a partir da Vulgata Latina, atribui-se ao próprio rei D. Diniz.

Mais tarde, também o Novo Testamento foi traduzido para o português, durante o reinado de D. João (1385-1433), o qual ordenou a tradução dos Evangelhos, dos Atos e das Cartas Paulinas. Trabalho este que teria sido realizado por padres católicos e também a partir da Vulgata. O próprio D. João teria traduzido o livro de Salmos, que foi publicado junto às partes do Novo Testamento. (PEREIRA JÚNIOR, 2001) A linguagem destes primeiros textos era ainda muito arcaica, possivelmente porque a preocupação era mais religiosa do que literária.

Mesmo no século XVI, quando as traduções literárias já floresciam nas outras línguas neolatinas ocidentais, em Portugal ainda era o latim a língua mais prestigiada, tanto que era comum entre os humanistas, como observa Rebelo (1982, p. 185), “a tradução de obras portuguesas para os idiomas antigos, no intuito de conquistar uma universalidade de expressão que a língua original lhes negava.”

Por estas e outras razões, a contribuição da atividade tradutória para o português, ao menos na época renascentista, foi menos expressiva do que se observa nas demais línguas neolatinas literárias. Quanto à trasladação dos modelos clássicos, no entanto, a influência dos antigos, sobretudo dos romanos, é bastante significativa.

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