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5. PRODUZINDO SIGNIFICADOS: AS ATITUDES, INFORMAÇÕES E IMAGENS

5.2 Limites/contribuições do curso de Licenciatura em Matemática da UFV para a formação,

5.2.1 As principais contribuições e os limites do curso: domínio de conteúdo, clareza da

Quando se fala em contribuições do curso de licenciatura em matemática para atuação docente, os professores são enfáticos ao dizer que este colaborou muito no que se refere ao domínio de conteúdo.

O que mais contribuiu foi no domínio do conteúdo, principalmente nessa área (Juca).

Contribuição foi a parte das disciplinas na UFV. É suficiente pra gente não ter dificuldades no conteúdo, mas aí é avaliando o que depende só do conhecimento no caso, e não como vai passar o conteúdo, como o conteúdo vai realmente chegar no aluno (André).

Porém, duas falas se referiram também às experiências vivenciadas no estágio, nos projetos e no PIBID, como se pode observar a seguir:

(...) Eu acho que o estágio foi o que mais contribuiu (Flávia).

Eu acho que o curso me moldou muito o que eu sou hoje, sabe? A minha prática, ela foi refinada pelo meu curso. Eu já gostava de dar aula, (...) mas o curso me proporcionou uma visão mais apurada, me proporcionou experiências que eu sei que não teria se não fosse por causa do curso. Os projetos, o PIBID, todas aquelas vivências com muitos alunos enquanto eu ainda estava só na graduação. Eu sei que foi um privilégio que muitos professores não tiveram. O curso me proporcionou clareza na parte teórica, me proporcionou segurança.(...) Uma vez que eu estudei, eu consigo responder perguntas de outros alunos, de outros professores, aliás, muitos professores vêm perguntar muita coisa pra mim. Então isso me deixa muito satisfeita sabe, embora tão jovem muitos colegas de trabalho vem tirar dúvidas comigo. Então essa segurança que o curso me deu eu acho muito importante. Não só de ter um diploma em federal. (...) Quanto à parte prática com os alunos, isso a gente vai moldando dentro da gente mesmo ao longo do tempo né. (...) Talvez as disciplinas não contribuíssem positivamente com uma dica do que eu poderia fazer,

mas dava uma do que eu não deveria fazer. Eu não me arrependo do curso que eu fiz, me sinto muito satisfeita (Ana Luísa).

Conclui-se que são extremamente reconhecidas pelos ex-alunos as qualidades do curso de licenciatura que os formou, principalmente no que diz respeito aos conteúdos relativos às disciplinas da parte específica. Em muitas falas que virão no decorrer do capítulo será possível perceber que há ainda algumas defasagens no que se refere às disciplinas pedagógicas, como as que estão relacionadas com o ensino do conteúdo e a prática de sala de aula, por exemplo, lidar com alunos. Porém, quando indagados sobre os limites do curso de licenciatura em matemática para a atuação docente, dois dos ex-alunos, mesmo fazendo críticas quando analisaram as disciplinas, que serão apresentadas a seguir, não consideraram que o curso tinha esses limites. Acreditam que as dificuldades enfrentadas são consequências das dificuldades pessoais, e não da falta de alguma formação:

Comigo ainda não aconteceu não. Ainda não (Ana Luísa).

Vou ser sincero, talvez assim, tenha alguns problemas na forma em que eu trabalho e tal, mas eu acho que não está relacionado com o curso não, talvez com minha personalidade, com minhas características, entendeu? Não tem relação com o curso, eu não consigo ver agora alguma coisa que o curso não tenha conseguido me preparar (André).

Durante a entrevista foi possível perceber que em vários momentos os docentes percebiam o curso de licenciatura em matemática mais como um curso de formação de um matemático do que de um professor. Em vários períodos pontuais da entrevista eles demonstraram que não conseguem ver que o curso deve formar, além de um profissional que saiba matemática, um profissional que saiba ensinar matemática na educação básica nas condições que hoje esta se encontra. Talvez essa seja a justificativa para o fato de, mesmo tendo elencado em outros momentos inúmeras dificuldades enfrentadas como docentes, em relação à sua prática, não considerarem o curso uma instância responsável por suprir algumas dessas dificuldades. Essa é uma questão que Roma (2010) reforça em suas discussões sobre a formação do docente de matemática: saber matemática para ser um matemático é diferente de saber matemática para ser um professor de matemática.

Fazendo a análise de forma diferente, Flávia e Juca apresentam para os limites da formação aspectos que poderiam ter sido mais bem trabalhados durante o curso, fazendo relação desses limites com as dificuldades enfrentadas na prática docente:

A parte de psicologia de lidar com alunos de inclusão. Isso eu senti bastante falta (Flávia).

Acho que faltou na estratégia de sala de aula mesmo, né?, de trabalhar em sala, de trabalhar com alunos de níveis completamente diferentes mesmo que na mesma sala, formas de autoavaliação, de como avaliar o aluno. Não ficar elaborando coisas pra colegas do curso, fazer, sei lá, tinha que ter um professor que leciona na educação básica e que lecionasse essas disciplinas para o aluno de graduação né? Acho que seria interessante. E aí a gente tivesse vivenciado realmente as duas práticas. Porque no curso você tem um professor que te dá aula e te ensina a dar aula, mas ele nunca deu aula no ensino básico, como que ele vai te falar se a coisa funciona ou não daquele jeito (Juca).

Percebem-se nessas falas duas questões de grande repercussão no debate dos cursos de licenciatura. Uma se refere ao discutido anteriormente sobre a falta de integração entre as disciplinas específicas e pedagógicas do curso, bem como a clara separação entre o que e o como ensinar discutido por Pereira (2000). A outra questão é a que Ludke (1994) coloca sobre os professores formadores não terem preparação suficiente para lecionar disciplinas para a licenciatura, pois sequer conhecem a realidade da educação básica. Para essa autora, os docentes universitários, formadores de futuros educadores da educação básica, não têm uma visão sequer razoável da realidade desses sistemas de ensino e não têm, em sua maioria, nenhuma vivência desse ensino como professores. Este fato, segundo ela, contribui para aumentar a distância entre os estudantes de licenciatura e a realidade escolar que terão de enfrentar depois de formados.

Essas e outras questões são mais bem identificadas e analisadas pelos professores quando são colocados a refletir sobre as atividades e as disciplinas do curso licenciatura, o que é apresentado na subseção a seguir.

5.2.2 Refletindo sobre as disciplinas da licenciatura e as experiências vivenciadas durante o