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5. PRODUZINDO SIGNIFICADOS: AS ATITUDES, INFORMAÇÕES E IMAGENS

5.2 Limites/contribuições do curso de Licenciatura em Matemática da UFV para a formação,

5.2.3 Sugestões para a melhoria do curso de Licenciatura e de suas disciplinas ofertadas em

Pensando em reconfigurações possíveis, foi proposto aos docentes que indicassem pontos que deviam ser revistos, sugerindo mudanças a serem acrescentadas no curso de licenciatura em matemática, considerando as experiências vivenciadas no âmbito da formação inicial e da prática profissional.

A docente Flávia reconhece a necessidade de uma adequação entre os conteúdos pedagógicos e os conteúdos específicos (matemática), dizendo que estes

poderiam conversar mais. Eu me sentia um peixinho fora d‟água nas matérias da pedagogia porque uma vez que misturava cursos diferentes, muitas vezes o enfoque que era dado na matéria de didática não era um que serviria muito pra mim. E matemática é um bicho muito objetivo, né?Então a partir do momento que o negócio fica muito no blábláblá a gente começa a perder o interesse. Então eu acho que essas áreas deviam conversar mais, fazer algo mais específico pra matemática, né? Não sei como funcionaria, mas eu sentia muito a necessidade de ter um envolvimento maior entre as duas coisas (Flávia).

Em relação à importância de ampliar o número de disciplinas de psicologia direcionadas à compreensão das diversidades dos sujeitos, ela reconhece que enfrentou dificuldades em lidar com as diferenças individuais dos seus alunos. E para isso, essa professora considera que

deveria ter mais disciplina de psicologia, mas não essas assim, que falam sobre Piaget, eh, ... sei lá, deveria ter algum curso que tratasse de estratégias de como lidar com os alunos, como ensinar repertórios diferentes para os alunos, porque muitas vezes os alunos só agem daquela forma porque foi daquele forma que ele aprendeu. Então muitas vezes a gente quer fazer com que o aluno apresente outro comportamento. Eu acho que essa parte de psicologia seria interessante. Deveria ter também um curso de LIBRAS, estou sabendo que já está na grade atual, que bom, algum curso pra você ter um contato com deficientes visuais. Alguma coisa para inclusão aí. Não sei como seria (Flávia).

Refletindo sobre as necessidades emergentes enfrentadas no início da profissão, o professor Juca diz sobre a importância de aproximar o curso de Licenciatura da realidade da sala de aula:

O necessário é tentar levar um pouco mais a realidade da sala de aula pro curso de licenciatura e se possível trabalhar com simulações, com pessoas que estão no ambiente escolar. Eu acho que se isso for possível seria o ideal, excelente. Trabalhar com turma de alunos heterogêneos, alunos com níveis diferentes, com interesses diferentes, acho que, com condições sociais diferentes e eu acho que ter um feedback, pra saber se você está fazendo um bom trabalho ou não (Juca).

A professora Ana Luísa retoma a questão de ter um leque mais ampliado de disciplinas na hora de escolher as optativas a cursar:

A grade já mudou muito depois que a gente saiu, né? Eu já vi que colocaram o curso de libras, que eu acho que é importante, pelo menos pra mim, que tenho muitos futuros alunos surdos. Se eu continuar na mesma série que eu estava no ano passado esse ano eu terei três alunos surdos. Nós enquanto professores deveríamos estar aptos a fazer qualquer disciplina dentro do departamento de educação. Eu acho isso errado sabe. Eu acho que todas as disciplinas que o curso de pedagogia faz deveriam ser optativas pra gente, e não é, só algumas. Cada professor tem uma maneira diferente de ver a profissão, então eu acho que quanto maior fosse o nosso

leque, mais a gente poderia aprender, mais profissionais diversificados sairiam, e sem contar que a gente não teria aquela tradicional,..., como é que fala,..., quem faz as disciplinas porque são obrigados estar, não porque escolheu, principalmente da área da educação que é muito subjetiva, a gente vê os alunos reclamando, né?, burlando a aula, enrolando. Na hora que a gente vê a disciplina e está lá porque gostou da ementa, sabe, eu acho que isso poderia ser um diferencial dentro da sala de aula num momento de aprendizado (Ana Luísa).

Essa falta de opções de disciplinas relatada por Ana Luísa pode ser compreendida na fala de Pereira (2000, p. 60), quando este diz que esse fato ocorre por muitas Faculdades de Educação contentar-se ―em dar apenas a complementação pedagógica, mínima e necessária, estipulada por lei aos diversos conteúdos específicos‖, tornando-se limitada a grade dos cursos quanto às disciplinas disponíveis.

A professora acrescenta ainda a importância das disciplinas pedagógicas, importância essa que muitos ainda não identificam e só vão sentir a falta quando atuando em sala de aula. A sugestão que ela coloca é de ser trabalhado com os alunos em início de curso o valor que deve ser atribuído às disciplinas de cunho pedagógico, para que futuramente não sintam a falta dessa formação:

E eu sei também que essa visão que eu tenho nem todo mundo tem, da importância dessas disciplinas, então deveria ser feita alguma coisa com os calouros, pra mostrar que as disciplinas da educação sim, elas podem contribuir, com o nosso aprendizado. Porque você lembra: vou pegar essa matéria de EDU aqui porque eu estou precisando aumentar meu coeficiente de rendimento, ou então: vou pegar aquela matéria de EDU ali porque aquela matéria é fácil, sabe?Eu acho que isso é errado. Eu acho que aquelas disciplinas, por exemplo, a EDU 144 que fala das leis, eu não gostei da maneira como ela foi dada e hoje eu vejo o quanto ela é importante pra mim, e naquela época eu não consegui ver isso. Depois que vi a sua importância eu procurei uma facultativa que falava sobre isso também. Hoje eu vejo o tanto que a gente não sabe o que é a realidade escolar. Eu passei bem na matéria, mas eu não sei de nada dela. E é uma matéria que eu deveria saber por que na escola a gente lida com isso toda hora. E eu não sabia disso. Aquelas leis ali, independente de onde a pessoa vai trabalhar, se é escola pública ou particular, vão dizer o que pode e o que não pode nas escolas, o que vai acontecer, quais são os nossos direitos, que eu fui descobrir na marra, quais não são, quais são os meus deveres. Sabe, esse olhar sobre as disciplinas da educação, eu acho que tem que mudar muito (Ana Luísa).

Pode-se fazer uma relação entre essa questão relatada pela professora e um dos primeiros dados discutidos neste trabalho, que foi o grande número de alunos que chegam a ingressar no curso de licenciatura em matemática da UFV e o reduzido grupo que esse se torna ao final, quando se formam. Este fato ainda é mais agravado quando se percebe que dos poucos que se formaram quase nenhum se encontrava atuando na educação básica no

momento da coleta de dados para esta pesquisa, nem sequer lecionando em qualquer nível de ensino.

Quando a professora Ana Luísa fala da importância de mudar o olhar do licenciando sobre as disciplinas pedagógicas, constatou-se que essa mudança deve ocorrer de forma ainda mais ampla, mudando-se o olhar sobre o curso de licenciatura e sobre a profissão docente na sua totalidade. É claro que existem inúmeros outros fatores que interferem nessa esfera, como a desvalorização profissional, principalmente por parte do setor governamental. Entretanto, é preciso enfatizar que o próprio professor deve se valorizar como profissional, com seus direitos e deveres, tendo a consciência da importância da sua formação inicial e continuada.

No geral, como pode ser observado nas falas dos professores iniciantes, muito pode ser feito no curso de licenciatura para amenizar as dificuldades enfrentadas por eles no início da carreira. O curso analisado, em especial, tem muito a contribuir para a formação pedagógica dos seus licenciandos, principalmente no que se refere à sua formação como profissionais, que segundo Tardif et al. (1998) engloba: poder, ética, base de conhecimentos, estreitar dicotomia entre professores e investigadores, práticas inovadoras, avaliação do ensino, autonomia dos professores, gestão coletiva, participação dos pais, redução de burocracia, plano de carreira, valorização pública e prestígio.

5.2.4 O papel da licenciatura em matemática da UFV na constituição dos saberes