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Capítulo 1 A cultura da vinha

1.2. As principais doenças da cultura da vinha

Tal como qualquer outra cultura, a videira está sujeita ao ataque de inúmeros agen- tes patogénicos. Entre esses agentes encontram-se fungos, bactérias e vírus, mas na sua maioria são as doenças causadas por fungos as que mais fazem sentir os seus efeitos na qualidade da produção; estas doenças são conhecidas como doenças criptogâmicas (Du- bos, 2002; Agrios, 2005). Entre estas,asmais comuns sãoo míldio (Plasmopara viticola

(Berk. et Curt.) Berl. et de Toni), o oídio (Erysiphe necator Schwein (syn. Uncinula neca- tor) e a podridão cinzenta, também conhecida como botrytis (Botryotinia fuckeliana (de Bary) Whetzel, forma sexuada de Botrytis cinerea Pers. Fr.) (Tomáz e Costa, 1983; Agui- ar, et al., 2001; Pearson e Goheen, 2001; Chicau, et al., 2003; Agrios, 2005; Garrido e Sonego, 2005; Neto, 2008).

1.2.1. Míldio

O míldio é um endoparasita obrigatório específico da videira que, pela frequência e pelo longo período de actividade,assim como pelos prejuízos que provoca, tende a ser um dos mais importantes agentes patogénicos da videira. Plasmopara viticola (Berk. et Curt.) (Berl. et de Toni) é o fungo responsável do míldio da vinha e não pertence ao reino dos fungos mas sim ao reino dos Chromistas. A conjugação da chuva, humidade e calor são determinantes no seu crescimento; regiões vitícolas quentes e secas na prima- vera/verão raramente têm problemas com a doença (Pearson e Goheen 2001). As con- taminações são favorecidas por chuvas intensas, seguidas de noites quentes, especial- mente em locais húmidos (Dubos, 2002). Todos os órgãos verdes, não atempados, da videira são sucetiveis de serem atacados pelo míldio: folhas, flores, inflorescências, pâmpanos e cachos (Gadoury et al., 2001). Nas folhas, na página superior, observam-se manchas com aspeto de “mancha de óleo” (infeções primárias), que tomam uma colora- ção amarelada ou avermelhada consoante a casta afetada (brancas ou tintas). Na zona coincidente dessas manchas, na página inferior, surge um enfeltrado branco que corres- ponde às frutificações dos conídios do fungo (infeções secundárias) (Dubos, 2002; Gobbin et al., 2005). As inflorescências, quando atacadas, por serem extremamente sen- síveis, ficam castanhas, engelham, secam e caem. Após a floração, as inflorescências cobrem-se de frutificações brancas acinzentadas, estado conhecido por “Rot Gris”. Em ataques mais tardios (entre as fases dos estados de bagos em tamanho de grão de chum- bo e fecho dos cachos, aparece o estado conhecido como “Rot Brun” em que os bagos

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apresentam zonas de depressão, de coloração acastanhada ou púrpura. No final da Cam- panha, no outono, as folhas apresentam-se com manchas de cor amarela ou castanha avermelhada, de forma poligonal, designado por fase “míldio mosaico” (Gadoury et al., 2005).

Medidas como a drenagem de solos, sem poças de água, controlo equilibrado do vigor, promoção do arejamento do interior da videira, eliminação de varas contaminadas através da poda, eliminação dos “ladrões” da planta e controlo adequado de infestantes são algumas das medidas preventivas que devem ser tomadas para um melhor controlo da doença (Aguiar, et al., 2001). O tratamento deve ser essencialmente preventivo, sendo o recurso a curativos só em situações de erros técnicos no tratamento preventivo ou na impossibilidade da sua realização (Amaro, 2001). Em anos chuvosos e particularmente em regiões húmidas, a luta contra o míldio é incontornável, podendo o número de tra- tamentos ultrapassar a dezena. A calda bordalesa continua a ser o tratamento clássico e biológico por excelência, existindo, paraalém desta,toda uma gama de outros produtos químicos de contacto, penetrantes e sistémicos que devem ser escolhidos em função das necessidades e diagnóstico da gravidade ou risco epidemiológico da doença (Amaro, 2001).

1.2.2. Oídio

O oídio ataca todas as partes verdes da videira (folhas, pecíolos, ramos, gavinhas, inflorescências e bagos verdes), sendo a ocorrência de dias com forte humidade relativa (40-100%) e a presença de luz difusa (dias com nevoeiro) favoráveis ao seu desenvol- vimento. Nas folhas desenvolve-se, na página superior, um pó cinzento-esbranquiçado que dá origem a manchas acastanhadas na página inferior. Em ataques precoces os lan- çamentos jovens apresentam um crescimento retardado com uma forte crispação das folhas; estes lançamentos cobrem-se de um enfeltrado branco, forma essa que se desig- na por “bandeira” (Val e Alves, 2012). Nos sarmentos, os sintomas manifestam-se atra- vés de manchas verde-escuro, tornando-se acastanhadas, que permanecem durante todo o inverno. Em ataques muito intensos, podem evoluir para cor negra, comprometendo o seu normal atempamento (Val e Alves, 2012). As inflorescências e bagos apresentam-se cobertos com uma poeira branca acinzentada, observando-se o posterior dessecamento das inflorescências. Se os ataques forem muito intensos, os bagos podem não se desen- volver, acabando por secar ou se os bagos apresentarem maior dimensão, o micélio do

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fungo pode colonizar parte ou a totalidade do cacho, cobrindo-o com uma camada pul- verulenta intensa que provoca paragem de crescimento do bago, levando-o ao seu ra- chamento (Val e Alves, 2012).

Sem um tratamento adequado os tecidos morrem, os pequenos bagos rebentam e a podridão cinzenta acaba por destruir parte ou a totalidade da colheita. É mais estimulado pela densidade da copa da videira que pela humidade do ar. A luz solar forte e direta inibe a germinação dos esporos (Pearson et Ghoeen, 2001). Como medidas de preven- ção cultural faz-se, sobretudo, a eliminação pela poda das varas com cleistotecas (pon- tos negros onde hibernam os esporos sexuais do fungo), promovendo-se o arejamento da videira e evitando o vigor excessivo. Sabendo que a luta química é indispensável no combate ao oídio, deve dar-se prioridade à luta cultural para melhorar a eficácia dos tratamentos. É necessário proteger a vinha desde a floração até ao fecho dos cachos. A doença é controlada, desde 1854, com a aplicação de enxofre, apresentando-se este sob duas formas: o enxofre molhável e o enxofre em pó (a primeira tende a ser a mais utili- zada, de preferência até à floração). Na luta química, existe um número variado de fun- gicidas que inibem a germinação do fungo e/ou bloqueiam a formação do apressório, onde se formam estiletes de penetração sob a forma de haustórios, necessários à pene- tração do fungo na planta (Amaro, 2001).

1.2.3. Podridão cinzenta

A podridão cinzenta da videira, conhecida desde a antiguidade (1875), é uma do- ença que está presente em todos os vinhedos do mundo. Também designada por podri- dão dos cachos, ou simplesmente Botrytis é o inimigo mais temido pela qualidade da colheita, afetando gravemente a composição qualitativa das uvas e dos vinhos, condu- zindo a alterações na cor e nos aromas, e ao aparecimento de gostos anormais, iodados, terrosos, etc (Santos, 2007), ou por outro lado, o inimigo desejado para o desenvolvi- mento da forma “Podridão Nobre”, produzindo vinhos brancos licorosos de grande prestígio mundial. Esta doença ocorre maioritariamente durante o período que decorre desde a floração ao fecho do cacho e depois do pintor, sempre que as condições climaté- ricas sejam favoráveis, nomeadamente chuva e/ou muita humidade, e 18ºC de tempera- tura média do ar (Costa et al., 2004). Na vinha, pode atacar todos os órgãos herbáceos, como gomos, folhas, pâmpanos, inflorescências e cachos sendo, no entanto, no início do pintor que os bagos atingem o limiar de sensibilidade máxima à doença, ou seja, logo

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que o teor de açucar nos bagos aumenta (Perez, 1998). Neste período o parasita intro- duz-se pelas micro-fissuras da película dos bagos que se tornam menos resistentes. Es- tas lesões cobrem-se de frutificações (micélio) cinzento acastanhado dispostas em estre- la e todos os cachos podem ser rapidamente atacados pela doença (Donèche, 1992).

Na prevenção da doença usam-se medidas culturais como utilizar os porta- enxertos menos vigorosos, evitar as castas ou clones muito sensíveis, limitar o uso ex- cessivo de adubos azotados, que induzem vigor e sensibilidade da videira, a promoção do arejamento da copa e dos cachos pela eliminação de ramos verdes e folhas, bem co- mo a eliminação de uvas afectadas por este fungo (Pais, 2010). A aplicação da calda bordalesa é considerada uma boa medida preventiva pois, segundo alguns autores (Aguiar et al. 2001), estimula o aumento da grossura das peliculas da uvaevitando a sua rachadura, diminuindo a oportunidade de entrada deste fungo nas uvas (Perez, 1998). Na luta química aconselham-se 4 tratamentos com fungicidas dirigidos ao cacho: na alimpa/vingamento, no início do fecho do cacho, ao pintor e 3 a 4 semanas antes das vindimas (Giraud et al., 1998; Magalhães, 2008).

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