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As relações econômicas e sociais na República do café-com-leite

CAPÍTULO 2 CONTEXTUALIZAÇÃO

2.3 As relações econômicas e sociais na República do café-com-leite

A Primeira República também é conhecida como a época do café-com-leite, devido à existência de uma aliança entre os Estados de São Paulo, grande produtor de café e Minas Gerais, que produzia leite.

O período que se estende do final do século XIX até a primeira metade do século XX corresponde a uma fase de crescente desenvolvimento da economia regional, visto que o café foi o responsável pela liderança econômica que o Estado de São Paulo assumiu no panorama nacional.

Quando a República foi proclamada, o Estado já era organizado. A sociedade era constituída por grandes proprietários rurais que formavam a aristocracia do Império e que

possuíam uma forte influência política; esses fazendeiros eram chamados de barões do café e dominaram a política do país até o início da República.

A união das oligarquias mineira e paulista representou um traço importante na política da Primeira República. Os grandes lucros obtidos pela cultura do café contribuíram para o desenvolvimento industrial do país, como aponta Queiroz (2004):

A lavoura cafeeira seria a responsável, em última instância, pelas grandes transformações que então ocorrem. Como se sabe, as ferrovias foram criadas para atendê-la, seguindo em seu traçado a expansão das frentes agrícolas pioneiras. Com isso, tiveram um efeito multiplicador, acelerando o dinamismo da economia e atraindo gente de todas as partes. Como se sabe também, não foram só brasileiros de outras plagas que chegaram. Ante a desarticulação de escravismo e a necessidade de braços para a lavoura, a solução preferida pelos paulistas foi atrair o imigrante, notadamente o europeu, que acorreu em números crescentes desde a década de 1870 até o início da década de 1920, momento a partir do qual, a imigração europeia foi arrefecendo. (QUEIROZ, 2004: 15)

São Paulo era um Estado autônomo, porém dependia do Governo Federal para valorizar suas plantações de café. A grande oferta do produto no mercado nacional e internacional ocasionaria a queda do preço das sacas de café, em 1906, gerando mais oferta do que procura. Para solucionar o problema, o governo comprou as sacas excedentes, fazendo estoque do produto e vendendo-o num momento oportuno por um preço melhor. Mas houve resistência ao plano pelo Governo Federal e por alguns Estados, fazendo com que São Paulo tomasse as próprias medidas. Dessa forma, os paulistas associaram-se a um grupo de importadores dos Estados Unidos liderados por Hermann Sielckene, posteriormente, em 1908, por meio do intermédio do presidente Afonso Pena, conseguiram um empréstimo de cerca de 15 milhões de libras. Sobre essa questão, Fausto (2012) assevera que

(...) o Estado de São Paulo pode prosseguir a operação valorizadora, entregando o controle da operação aos banqueiros internacionais. Os primeiros resultados do esquema surgiram em 1909. Os preços internacionais do café começaram a subir e se mantiveram em alta até 1912, graças à retração da oferta provocada pela estocagem e à diminuição do volume das safras. Em junho de 1913, o empréstimo foi pago. (FAUSTO, 2012:151)

A União realizou outras operações de valorização do café, mas, em 1924, o presidente Artur Bernardes deixou de apoiar a política cafeeira, ficando por conta do Estado de São Paulo a administração do produto.

O Estado de Minas Gerais não possuía um só polo produtor dominante. Sua economia girava em torno das produções de café, de gado e, de certo modo, da indústria. Não tinha o mesmo potencial econômico que São Paulo, portanto, dependia dos subsídios da União. No

entanto, Minas apresentava uma bancada de políticos na Câmara dos Deputados maior do que a de São Paulo, com trinta e sete membros mineiros, enquanto os paulistas eram apenas vinte e dois, segundo o censo de 1890. Por meio desse poder político, construíram estradas de ferro a fim de atender aos interesses de seu Estado.

Entre 1894 e 1902 foram eleitos seguidamente três presidentes paulistas: Prudente de Moraes, Campos Sales e Rodrigues Alves. A partir daí, firmava-se um acordo entre São Paulo e Minas Gerais que duraria até 1909 e que foi quebrado na campanha civilista, em 1910, onde o Marechal Hermes da Fonseca, apoiado por Minas, Rio Grande e pelos militares, venceu Rui Barbosa, que tinha o apoio de São Paulo e da Bahia.

Em 1913 foi selado um novo pacto entre Minas e São Paulo que firmaria o revezamento dos Estados nas eleições para a Presidência da República. Mesmo sem participar das sucessões presidenciais, a oligarquia gaúcha, após 1910, tomou seu espaço na cena política dividindo cargos públicos nos ministérios entre seus conterrâneos. Nesse sentido, Fausto (2012) assinala que:

A análise dos acordos entre as várias oligarquias indica que o governo federal não foi um simples clube dos fazendeiros de café. O Poder Central se definiu como articulador de uma integração nacional que, mesmo frágil, nem por isso era inexistente. Tinha de garantir certa estabilidade no país, conciliar interesses diversos, atrair investimentos estrangeiros, cuidar da questão da dívida externa. (FAUSTO, 2012:155)

No entanto, pela falta do não-cumprimento do acordo estabelecido pelo presidente Washington Luís, em 1929, que indicaria como sucessor o paulista Júlio Prestes, ocorreu uma ruptura política entre os dois Estados.

Nesse movimento de espaços sociais e interesses políticos, ocorreu em 1929, a queda da bolsa de Nova Iorque, que produziu efeitos determinantes para a economia mundial. No Brasil, o setor cafeeiro sofreu uma desvalorização avassaladora de suas ações, acarretando a queda do preço das sacas de café e causando, o fim da política do café-com-leite, em 1930.