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As relações entre as produções das programações e o financiamento da rádio

4 A INTRODUÇÃO DA MÍDIA EVANGÉLICA NO MARANHÃO: Origem e

4.4 As relações entre as produções das programações e o financiamento da rádio

Em princípio, a Igreja deveria assumir todas as despesas em relação à Rádio Esperança, pois a publicidade não era suficiente para a Rádio se autossustentar ou se manter, pois ainda existia “um preconceito imenso [por parte dos anunciantes], porque eles diziam que era „coisa de crente‟, então, ninguém queria anunciar na rádio. Eu tive que provar para eles que crente também era consumidor; e aí, Deus foi abrindo a mente das pessoas e nós fizemos esse trabalho”51. Por outro lado, alguns anunciantes, embora, tivessem interesse em

ganhar o público dessa emissora que não era alcançado por outras rádios seculares e comerciais,

a Rádio acabava perdendo, já que alguns anunciantes não se compatibilizavam ou não se adaptavam com o que a Rádio apresentava, pois “nasceu sobre essa égide de que não poderia ter nada que lembrasse o „mundo‟” 52. Por consequência, os primeiros anunciantes não tinham

espaços dentro da emissora para que pudessem divulgar informações sobre seus estabelecimentos, produtos e serviços.

Na verdade, existia um conflito entre anunciantes – principalmente com alguns de maneira mais específica – e a Rádio (e por extensão com a Igreja). Segundo Marco Aurélio D‟Eça,

A ideia sempre foi desde o início que a Rádio sobrevivesse das próprias pernas, com as vendas de anúncios comerciais, com as vendas de espaços publicitários dentro da programação. A gente tinha... A dificuldade nossa era exatamente a restrição que se tinha em relação aos anunciantes. A gente não tinha como anunciar bebidas alcoólicas, cigarros e vários outros tipos de shows seculares, casas de shows, boates, bares. Não tinha como. Então, nós tínhamos um público muito restrito. Muito dos anunciantes era do próprio segmento evangélico: livrarias, igrejas, pizzarias que tinham vinculo com a fé evangélica e alguns outros seculares. Tentávamos buscar de uma forma patrocínios de anúncios públicos, Governo do Estado, prefeitura, até mesmo do próprio Governo Federal para tentar, garantir essa manutenção da Rádio, pagamentos de salários, da estrutura, manutenção de logística de veículos e tudo... [A Rádio Esperança] trabalhava sempre para que atraísse patrocinadores para que pudesse se autossustentar, para evitar exatamente esse vínculo intenso, inteiro, o

51 SOUZA, Benjamin Lima de. Entrevista concedida à autora. São Luís, 28 jun. 2017. 52 VIANNA, Jonas. Entrevista concedida à autora [por e-mail]. Austrália, 11 set. 2017.

tempo inteiro à Igreja, a Igreja ter que bancar as contas da Rádio. A rádio mantinha essa tentativa de seguir sozinha.53

Geralmente, além da própria Igreja e as contribuições dos fiéis, os colaboradores da Rádio Esperança eram pessoas ligadas à Igreja que tinham empresas na Ilha de São Luís, com produtos e serviços, principalmente voltados para livrarias evangélicas, vestuário, educação, serviços, alimentação, materiais de construção, saúde, comércio em geral. Sobre ainda à questão da publicidade, a ex-apresentadora da Rádio Esperança, Irma Hellen, complementa que:

[...] Tinham as empresas que ajudavam muito como as livrarias evangélicas e outras empresas que eram de evangélicos, eu não saberia te dizer quais, mas também ajudavam, né. A Igreja, a Igreja várias vezes levantou ofertas direcionadas a manutenção da Rádio, quando a Rádio não conseguia atingir os ativos [financeiros] necessários para pagar as despesas naquela época, né, naquele determinado momento. Então, a Igreja tanto com contribuições dos fiéis quanto com os recursos

da própria Igreja mantinha, mantinha a Rádio pagando funcionários, pagando contas de energia, né, e tudo mais que era necessário para Rádio funcionar.54 (grifo nosso)

Em virtude desse aspecto tão específico, pois diferente das outras rádios, a trajetória da Rádio Esperança é marcada por muitas dificuldades, problemas e crises financeiras. Benjamin de Souza chegou a criar um projeto intitulado “Igreja no lar” para amenizar essas situações. Esse plano, além de ter a proposta de levar igrejas que não se encaixavam ao grupo religioso da Igreja, pretendia investir e conseguir também recursos financeiros dessas igrejas à Rádio. De modo que, todos os domingos, algumas e diferentes igrejas evangélicas, em espaços pequenos de “30 minutos”, que compraram na Rádio Esperança, realizavam os programas de suas igrejas. Referindo-se a isso, ele explica que:

[...] A gente resolveu abrir para as igrejas fazerem suas programações no domingo que era chamado “Igreja no lar”. Qualquer igreja que quisesse contratar um horário, meia hora para cada igreja, ninguém podia ter mais de meia hora. Então, domingo, domingo de manhã 6h da manhã até 24h era para quem quisesse contratar o seu horário, da sua igreja e apresentar com seu próprio apresentador. Nós teríamos apenas lá da FM Esperança o operador. Aí foi uma salada doida porque todo mundo fazia de qualquer jeito. [...] Isso foi uma revolução

para muita gente, porque eles não tinham vez nem voz em lugar nenhum, eles nem podiam pagar uma rádio em lugar nenhum do mundo, nem a FM Esperança eles podiam pagar, mas nós fizemos um trabalho subsidiado, porque nossa intenção era só zerar o custo e, às vezes, nem zerava custo, porque era uma questão mais de, de abrir um espaço para que a igreja tivesse sua voz ouvida em São Luís. [...]. Diga-se de passagem, que qualquer igreja em São Luís sem nenhuma restrição, a única exigência era: pregue o Evangelho.55 (grifo nosso)

53 D‟EÇA, Marco Aurélio. Entrevista concedida à autora. São Luís, 20 set. 2017.

54 SOUZA, Irma Helenn Ribeiro de. Entrevista concedida à autora. São Luís, 25 set. 2017. 55 SOUZA, Benjamin Lima de. Entrevista concedida à autora. São Luís, 28 jun. 2017.

A ideia do projeto não deixou, também, de ser uma oportunidade, na qual algumas igrejas tiveram visibilidade pública por intermédio da Esperança que, de forma incipiente, se inseriam nos meios de comunicação. No entanto, a autonomia oferecida aos apresentadores fez com que muitos programas transmitidos não tivessem uma preocupação com a “excelência”, pois eram feito de forma desorganizada, de “qualquer jeito”. Isso era decorrente da falta de experiência na produção de programas de rádio. Para continuarem na Rádio, os locutores passaram por um processo de formação e capacitação durante um mês para aperfeiçoamento e superar as deficiências que eram visíveis durante os programas, porque eles não tinham formação acadêmica nenhuma. Também, alguns desses locutores tornaram- se, mais tarde, apresentadores oficiais da Rádio, devido aos estilos e às posturas durante as programações reproduzidas.

Além disso, e sob tal contexto, Jonas Vianna considera que:

Benjamin consegue trazer recursos de outras igrejas. [...] Basicamente, o que Benjamin fez foi o seguinte: tirou a programação da Rádio dos finais de semana e vendeu esse final de semana fracionado a várias igrejas. Trouxe receita para dentro da Rádio. Solucionou os problemas da emissora em termos de finanças? De forma nenhuma. A emissora tinha um problema e ainda tem um problema histórico com INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], com algumas coisas relacionadas a direitos trabalhistas, como FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço], tributos municipais. Tudo atrasado. Eu me lembro de fases em que a Esperança, em que o diretor Benjamin chamava os funcionários lá e sentava e falava: “vamos orar para que Deus faça alguma coisa, porque está, está complicado”. A gente não tem para pagar folha, não tem para pagar conta de luz. A CEMAR foi várias vezes lá para cortar energia, né. Várias vezes. Eu, eu testemunhei algumas dessas. Aí, sempre se renegociava, enfim... Mas era uma dificuldade muito grande. A emissora passava

por uma dificuldade financeira muito grande. Benjamin consegue amarrar acordo com essas igrejas, dar uma carona mais profissional, [...]. A Rádio vendia publicidade, como ainda vende, tentava tirar mais receitas dessas, desses horários vendidos às igrejas.56 (grifo nosso)

A criação do projeto “Igreja no lar”, pelo Benjamin de Souza, nos anos de 1990, ainda perdura até hoje nas programações da Esperança, mas de maneira ampliada. Atualmente, a Esperança abre espaços de sua programação para igrejas pentecostais e históricas, além da própria Igreja que administra a Rádio, como de outros campos pastorais, que se originaram do novo reordenamento institucional da Assembleia de Deus, dentre eles, o campo Tirirical e o campo Vila Brasil. Ambos possuem programas na Rádio, durante a semana.

Também, dentre outras estratégias, o “Mensageiro do ar” foi outro projeto idealizado pelo Reinaldo Gama para amenizar as dificuldades financeiras da Rádio, que pretendia fazer com que os ouvintes da Rádio sustentassem com suas doações.

[...] O “Mensageiro do ar” foi uma espécie de carnê que o pastor Reinaldo Gama quando estava na direção da Rádio criou juntamente com a diretora comercial Marina Souza, que era da rádio, porque as rádios antigamente eram, eram rádios Clube, lembra? Rádio Clube da Bahia, Rádio Clube de Feira de Santana, Rádio Clube de São Paulo, porque a ideia do Rádio Clube quando o rádio surgiu no

Brasil é que os ouvintes mantinham a rádio através de colaboração dos ouvintes.

[...] Mas não funcionou muito por várias razões, enfim, por uma questão logística, não houve profissionalismo. A ideia era muito boa, mas a execução dela não estava sendo profissional e a Igreja nunca apoiou essa ideia, também. Nunca apoiou.57 (grifo nosso)

Essa tentativa de levar investimento financeiro para a Rádio Esperança por meio dos ouvintes não deu resultados positivos. Mas, por outro lado,

A prefeitura passou a colocar dinheiro na Esperança, isso vai se arrastar por muitos anos depois dessa época. A gente está falando de 94 para frente. E de certa forma se vende para um grupo político que estava no poder. Isso aí é triste, porque eu não acho que a rádio de igreja devia ter a publicidade de partido político, de prefeitura ou de governo de Estado, pelo simples fato da Igreja ter a responsabilidade social de sustentá-la.

Corroborando essa opinião, a Rádio Esperança “tinha Costa Ferreira que sempre apoiava a Rádio, também, com coisas ligadas aos governos, né. A Rádio sempre foi muito ligada a Sarney, sempre foi muito ligada a grupo de políticos. Então, ela tinha sempre esse apoio”.58 Aqui, volta àquela discussão sobre a contribuição de políticos na construção da

Rádio, como tratamos há pouco, principalmente sobre o processo de concessão da emissora. Essa situação não deixa de demonstrar que seu custeio e manutenção estão profundamente ligados aos benefícios de políticos, indicando ainda que a Rádio Esperança tem um posicionamento político, ou seja, não é neutra politicamente. Sua posição pode não ser explícita ideologicamente, mas que tem um determinado tipo de compromisso com o poder local.

Algumas questões colocadas sobre a publicidade da Rádio não mudaram, até hoje, mas ampliaram-se, ganhando novos desdobramentos. A Rádio, em nenhum momento, foi custeada pela Igreja, totalmente. Sua contribuição ocorria de forma mais complementar

57 VIANNA, Jonas. Entrevista concedida à autora [por e-mail]. Austrália, 23 out. 2018. 58 MUKAMA, Ruben. Entrevista concedida à autora. São Luís, 10 jul. 2017.

quando os recursos eram poucos. Também, continuamente, os diretores elaboravam projetos que procuravam solucionar a manutenção da Rádio, bem como havia uma preocupação pela busca de anunciantes que vai se estender ao longo das diferentes direções e administrações que a Rádio possuiu.

Por esses motivos, durante todo o período de sua existência, a publicidade era “o forte” da Rádio Esperança para mantê-la aberta e funcionando a contento, apesar de algumas objeções da Igreja que, inicialmente, mostrava-se contrária aos investimentos externos, de outras igrejas e do mercado em geral. Hoje, há recursos provenientes da prefeitura, do governo de estado do Maranhão e do governo federal que são voltados geralmente para informações de utilidade pública transmitidas na Rádio.