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As relações intergeracionais e a educação não formal

Capítulo I Enquadramento teórico

1.4 Relações intergeracionais

1.4.1 As relações intergeracionais e a educação não formal

Dentre as possibilidades de espaços onde as relações intergeracionais podem estar evidenciadas, identificam-se as instituições educativas, sejam essas representantes da educação não formal, educação formal ou não.

Segundo Patrício (2018) a constituição de espaços educativos onde a comunicação entre diferentes gerações acontece naturalmente, reflete em “uma abordagem intergeracional [que] implica [em] um conjunto de práticas estruturadas e organizadas que promovam experiências de caráter social, cultural, educativo e lúdico, enriquecedoras e integradoras das pessoas em atividades coletivas” (p.143).

Essa intergeracionalidade pode estar relacionada ao papel exercido pelo(a) professor(a) ou correspondente e os(as) estudantes/aprendizes, como também entre pares - no grupo de profissionais e/ou no grupo de estudantes/aprendizes, onde experiências são compartilhadas, o que vem a evidenciar que “a aprendizagem por via da experiência é um processo natural e intrínseco à essência do ser humano” (Cavaco, 2009, p.221), presente nas diferentes gerações. O dinamismo representa um dos quesitos bases para que as relações intergeracionais nos espaços educativos se desenvolvam com potencialidades.

“No tempo presente, as transformações e opções educativas aproximam e alargam as oportunidades consagradas pela maior longevidade e geram conhecimentos, laços e sensibilidades capazes de edificar uma sociedade para todas as idades” (Palmeirão & Menezes, 2009, p.32). Com essa percepção, se firma o compromisso para com a sociedade, no que tange na constituição de espaços educativos atentos a intergeracionalidade. “O contributo dos programas intergeracionais implica o reforço de ferramentas necessárias para que a pessoa adulta maior se sinta membro ativo da sociedade (cidadania participativa),

35 protagonista dos saberes partilhados e produtor de uma economia emergente familiar e comunitária” (Martins, 2015, p.681). Esse protagonismo pode estar presente no desenvolvimento de objetos artesanais que, além de representarem a atividade da pessoa idosa, que vem a contribuir para a economia local e para o compartilhamento de conhecimentos e de habilidades no contato intergeracional, também expressam a criatividade, que é entendida como “uma capacidade de criar e recriar-se” (Bachert & Mundim, 2013, p.174).

Como representação dos espaços que fundamentam o desenvolvimento deste trabalho, foca-se nas ações pautadas na prática da educação não formal. Dentre as definições atribuídas a educação não formal, se apresenta a apontada por Gohn (2014) onde, a educação não formal é compreendida “como um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania, entendendo o político como a formação do indivíduo para interagir com o outro em sociedade” (p.40).

Segundo Canário (2006), “A aprendizagem de coisas que não são ensinadas, ou seja que não obedecem aos requisitos do modelo escolar, corresponde ao que de uma forma genérica se pode designar por educação não formal” (p.196).

Os espaços de educação não formal assumem o compromisso de promover práticas atentas ao exercício da cidadania, da diversidade cultural, do estabelecimento de relações sociais nos diferentes contextos, e com o desprendimento das normativas presentes na educação formal. “A educação não-formal estendeu-se de forma impressionante nas últimas décadas em todo o mundo como “educação ao longo de toda a vida” (conceito difundido pela Unesco), englobando toda sorte de aprendizagens para a vida, para a arte de bem viver e conviver” (Gadotti, 2012, p.15).

Essas aprendizagens estão relacionadas as diferentes fontes de informação, das mais simples às mais complexas, e mostram-se atentas as diferentes etapas do desenvolvimento humano, se alinhando assim a disposição de espaços de educação não formal promotores das relações intergeracionais, e de uma educação emancipatória. Cavaco (2008) destaca que, "As práticas de educação não formal são por natureza muito diversificadas e surgem numa base de proximidade entre as populações e as entidades que actuam na comunidade" (p.557). Como educação emancipatória se entende a legitimação das vivências que constituem cada sujeito, onde as mesmas não devem ser negadas no processo de ensino e aprendizagem, mas sim evidenciadas e compartilhadas entre educadores e educandos (Freire, 2011a).

36 A pretensão de uma sociedade para todas as idades e para todas as gerações

consegue-se com cidadãos que sejam protagonistas da aproximação à sua história

(memória), pela comunicação/diálogo, com a participação ativa para consolidar o

sentido comunitário e refletir sobre os benefícios da educação (inter)geracional e

intercâmbio de experiências e saberes. (Martins, 2015, p.681)

O compartilhamento de experiências associadas ao exercício da educação intergeracional, envolve a legitimação das práticas presentes nas diferentes formas e etapas do processo de aprendizagem, e que do “ponto de vista político, [permitam] repensar a educação numa perspectiva de emancipação” (Canário, 2006, p.247).

Por uma questão cronológica, os sujeitos idosos tendem a acumular um número maior de experiências, as quais evidenciam o significado da sua presença nos diferentes contextos que norteiam as relações, o desenvolvimento social e de reconhecimento da sua interação com o meio.

As relações que o homem trava no mundo com o mundo (pessoais, impessoais,

corpóreas e incorpóreas) apresentam uma ordem tal de características que as

distinguem totalmente dos puros contatos, típicos da outra esfera animal.

Entendemos que, para o homem, o mundo é uma realidade objetiva, independente

dele, possível de ser conhecida. É fundamental, contudo, partirmos de que o homem,

ser de relações e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o mundo.

Estar com o mundo resulta de sua abertura à realidade, que o faz ser o ente de

relações que é. (Freire, 2011b, p.55)

O enriquecimento da comunicação estabelecida entre os sujeitos das diferentes gerações, em que as relações se estabelecem com a demarcação das ações no meio, e com o meio, vem a contribuir para a constituição de ambientes respeitosos, “na expectativa de uma sociedade melhor, mais justa, mais livre e mais democrática” (Finger & Asún, 2003, p.88), e atentos às potencialidades e riquezas de cada uma das fases da vida.

37 A legitimação das potencialidades, da capacidade e disposição em aprender coisas novas pode se fazer presente no consumo e reconhecimento dos produtos criados e confeccionados pelo grupo de pessoas idosas, como também em reforçar as ações que evidenciam o protagonismo social dessas pessoas, que integram uma instituição promotora de educação não formal.

A educação não-formal tem outros atributos: ela não é, organizada por séries/

idade/conteúdos; (...) atua sobre aspectos subjetivos do grupo; trabalha e forma a

cultura política de um grupo. Desenvolve laços de pertencimento. Ajuda na

construção da identidade coletiva do grupo (este é um dos grandes destaques da

educação não-formal na atualidade); ela pode colaborar para o desenvolvimento da

auto-estima e do empowerment do grupo, (...) Fundamenta-se no critério da

solidariedade e identificação de interesses comuns e é parte do processo de

construção da cidadania coletiva e pública do grupo. (Gohn, 2006, p.30)

Os aprendizados compartilhados quando da promoção da educação não formal, perpassam pelas experiências de vida de cada sujeito, “as proibições, as exigências e expectativas” (Alves, 2015, p.37), pela representatividade das conexões que cada uma dessas experiências vai desencadear, e pelos contatos intergeracionais que irão se propagar. O processo criativo ocupa um lugar de destaque, um lugar que se atém ao que ultrapassa ao cumprimento de um cronograma didático normativo.

Os prazos e regras existem, mas os objetivos a serem atingidos nem sempre estão focados no atendimento a essas regras, mas sim na promoção do desenvolvimento dos sujeitos participantes, como também do compartilhamento de ideias e reforço da credibilidade de que todos(as) são importantes e contribuem socialmente.

Segundo Fragoso e Martins (2011), “All educational activities, through culture, sports, etc., would help the building of more fluid relationships between us – an ‘us’ that could gradually evolve, taking away the ‘them’ and displacing meaningless stereotypes” (p.263). A educação não formal chama a atenção para constituição de relações intergeracionais onde, a comunicação estabelecida entre as pessoas das diferentes gerações,

38 possibilita que os estereótipos sejam afastados, e o entrelaçamento interpessoal cultivado, e que a compreensão da importância do nós, seja presente.

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