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Desenho da investigação

Capítulo II Estudo empírico

2.1 Desenho da investigação

O presente trabalho tem como aporte investigativo o estudo de caso, no qual “se observa o fenômeno em sua evolução e suas relações estruturais fundamentais” (Triviños, 2011, p.134). Segundo Amado e Freire (2013), “a credibilidade dos estudos de caso que, pela sua natureza holística, tendem a refletir a complexidade dos fenómenos que estudam” (p.123), onde esses fenômenos representam a integração de teorias, as quais credibilizam a prática da investigação social, e impulsionam a criticidade da interpretação do fenômeno social com o qual o(a) pesquisador(a) estabelece o contato.

Quanto ao enquadramento, a pesquisa é classificada como qualitativa. Bogdan e Biklen (1994) pontuam que "A investigação qualitativa é descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números" (p.48). Essa perspectiva corresponde aos propósitos de desenvolvimento dessa pesquisa, com o resgate das informações pautadas nos discursos compartilhados pelas pessoas entrevistadas, a observação, mesmo que representada por uma frequência limitada, como também pelo complemento dos registros fotográficos, pertinentes e autorizados.

Como elemento norteador do resgate dos discursos coletados da comunicação estabelecida entre a investigadora e as pessoas investigadas, destaca-se a validação do vínculo estabelecido entre esses sujeitos presentes. A representatividade desse vínculo se destaca pelas histórias de vida, que “constam de dimensões pessoais, sociais e culturais” (Lima, 2013, p.31).

Com o aporte de elementos presentes na técnica de pesquisa da observação, onde "é o investigador quem decide o foco da investigação, em vez de permitir que o foco surja por si" (Bell, 1997, p.143), desenvolveu-se a pesquisa. A atenção as vivências que constituem as pessoas investigadas, é captada pelo registro de todos os elementos expressos pelo ambiente e das pessoas que constituem o mesmo, sendo definido como descritivo onde, “a preocupação é a de captar uma imagem por palavras do local, pessoas, acções e conversas observadas” (Bogdan & Biklen, 1994, p.152). E já o processamento dessas informações, onde o observador/pesquisador ‘conversa’ com os dados captados é definido como reflexivo, pois

40 representa “a parte que apreende mais o ponto de vista do observador, as suas ideias e preocupações" (Bogdan & Biklen, 1994, p.152).

Com base nessa orientação, de que o estudo de caso se pauta em um encaminhamento mais pontual, sobre o direcionamento da investigação empírica, a qual “tem como referente a própria realidade” (Tuckman, 2000, p.18), e de contato com o fenômeno específico, o qual motiva o desenvolvimento da pesquisa, que se segue o processo de contextualização e identificação das instituições relacionadas às pessoas entrevistadas. Essas instituições, que correspondem ao número de seis, além de serem apontadas pelas pessoas entrevistadas, atenderam aos critérios da intervenção social (Vieira & Vieira, 2019), sendo: dispor de atividades educativas e promotoras da autonomia das pessoas participantes; contribuir para as mudanças e o protagonismo social da pessoa idosa; como também estar aberto à comunidade, com o tempo superior a dois anos.

Em atenção a contextualização das instituições, se tem a apresentação de dois cenários, sendo: Cenário A, pautado nos espaços frequentados pelas pessoas idosas entrevistadas, mas que não representam os espaços onde as pessoas não idosas entrevistadas atuam; Cenário B, contempla os espaços onde ocorre a interação entre as pessoas idosas e não idosas entrevistadas. Tanto no Cenário A, como no Cenário B, a identificação das instituições, se mantém em sigilo. De acordo com a Tabela 1, se tem a representação do que delimita as diferenças presentes entre o Cenário A e o Cenário B, em relação as instituições investigadas.

Tabela 1

41 A iniciar pelo Cenário A, o qual corresponde as instituições que foram citadas pelas pessoas idosas entrevistadas, e onde o processo de investigação decorreu pelas informações publicadas no site das mesmas, e demais recursos mediáticos (e.g. Facebook), sem que houvesse o contato direto com qualquer representante dessas instituições, a considerar três instituições, aqui identificadas como: I1, I2 e I3.

Sobre a I1, é possível referenciar que ela está presente em todos os estados do Brasil, mas que neste trabalho se pauta em uma cidade do estado de Santa Catarina, no qual existe a mais de 70 anos, composto por uma diversidade de atividades, nas quais são contempladas as mais variadas faixas etárias. Como características de educação não formal, se tem como destaque a disponibilidade de um espaço de referência nacional; o alinhamento entre os interesses de ordem social, cultural, de cidadania, político, econômico, histórico, transacional - no que compete em dispor de atividades que venham minimizar o distanciamento geracional entre as ações do passado, as vivências e modernidades do presente, e as potencialidades dos planejamentos futuros. Esse enfoque, no que diz respeito as ações centradas na pessoa idosa, é pontuado pelo uso das tecnologias, pelo contato com diferentes profissionais, pelo relacionamento interpessoal, pelas atividades dispostas (escrita, dança, rodas de conversa, passeios, canto, teatro, cinema, informática), a participação da comunidade e de familiares, alertas sobre o Estatuto do Idoso (Brasil, 2003), segurança econômica, saúde e bem estar, protagonismo social.

Em relação a I2, que é uma Instituição de ensino, tem representação em oito municípios do estado de Santa Catarina, e que a mais de 50 anos possui uma ampla oferta de cursos, como também de envolvimento e comprometimento com as atividades de pesquisa e extensão. Oferta uma gama de ações pautadas na promoção do bem estar da pessoa idosa, com a constituição de um grupo específico, o qual possui mais de 30 anos de existência. Neste grupo são ofertadas diversas atividades, como: caminhada, canto, dança, pilates, dentre outras. Como características de educação não formal é possível indicar a troca de conhecimentos intergeracionais; o compartilhamento de vivências; a apresentação de atividades que reforçam o exercício da cidadania, com enfoque no bem estar físico, cognitivo e social; ações que exploram a motricidade, a relação de tempo e espaço; disponibilidade e atenção para cultivar o autocuidado e as relações interpessoais.

Já a I3, está localizada no município de Florianópolis, estado de Santa Catarina, que possui um pouco mais de dez anos de existência, e é caracterizada pela oferta de atividades focadas no desenvolvimento do equilíbrio corporal, físico, das pessoas jovens, adultas e

42 idosas. A promoção do bem estar físico; a motricidade ativa; o estabelecimento do relacionamento interpessoal; a dinamização dos aprendizados, caracterizam a educação não formal do espaço.

Como representantes do Cenário B, que corresponde as instituições nas quais as pessoas idosas entrevistadas e as pessoas não idosas entrevistadas, estavam vinculadas, sendo assim estabelecido o contato direto da investigadora com um ou mais representantes dessas instituições. Esse contato permitiu que o processo de investigação decorresse pelas informações publicadas no site das instituições, dos demais recursos mediáticos (e.g. Facebook, Instagram), como também complementadas pelo acesso a documentos compartilhados pelas pessoas não idosas entrevistadas. As instituições apontadas pela identificação de I4, I5 e I6, compõem o Cenário B.

A I4, que está alocada em Lisboa - Portugal, e possui um pouco mais de cinco anos de existência, faz parte de um projeto que é vinculado a uma Associação sem fins lucrativos. A consolidação do projeto se deu pela contemplação da premiação em uma das edições do Programa BIP/ZIP Lisboa - Parcerias Locais (Fermenta, 2019), o qual protagonizou o início do aporte financeiro para que as atividades focadas na pessoa idosa pudessem ser concretizadas. As atividades desenvolvidas promovem o encontro entre os saberes técnicos manuais, a exemplo dos bordados, com as técnicas e inovação do design. Como características de educação não formal do projeto, é possível destacar o comprometimento do grupo; o ser e estar presente na sociedade, a demarcar assim o espaço político, criativo, social, e econômico; a promoção de encontros entre pessoas de diferentes faixas etárias, oportunizando assim a troca de aprendizados, de responsabilidades, e da importância do respeito e da comunicação no estabelecimento das relações intergeracionais. Também se destaca que os projetos com os quais estão envolvidos, onde a valoração dos meios empresariais, mediáticos, sociais, são presentes e impulsionadores para que continuem em desenvolvimento, se comprometem com a promoção do empoderamento e visibilidade da pessoa idosa.

Já a I5, é identificada como uma Sociedade sem fins lucrativos, e está localizada no município de Florianópolis, e completou um pouco mais de 30 anos de existência, dos quais se destacam as ações pautadas na cultura, no esporte, na recreação. O espaço é identificado socialmente pela protagonização das influências históricas africanas, e de conscientização da importância das mesmas, sem perder o seu compromisso com as diversidades étnicas, culturais e de identidades que constituem a sociedade local e global (Novo Horizonte, 2020).

43 A constituição do grupo de idosos(as) se deu no ano de 2017, onde encontros e reuniões são realizados. Dentre as atividades desenvolvidas são apontadas, as palestras, as confraternizações, os eventos culturais, os passeios, como também a promoção de encontros intergeracionais, sendo assim envoltos pelos aspectos de responsabilidade e representatividade social, vindo assim a apresentar características de educação não formal. O espaço é também disponibilizado para a realização de eventos diversos, a exemplo de aniversários, festas típicas e seminários. Um dos aspectos a serem destacados, é o envolvimento familiar que sustenta a identidade do espaço.

Sobre a I6, que também está alocada no município de Florianópolis, desenvolve ações em atenção às pessoas idosas a mais de 18 anos. Com o apoio da Secretaria de Assistência Social, o programa aqui registrado, possui a representatividade de 65 grupos de idosos(as), os quais podem estar vinculados a igrejas, associações, centros comunitários, a exemplo da I5. Como características de educação não formal se destaca a coordenação e a disponibilização de atividades que estão relacionadas ao bordado, pintura em tecido, jogos, realização de passeios, eventos culturais, a promoção do protagonismo social - tendo como referência os encontros entre os diversos grupos, com a participação no carnaval, no arraiá e no show de talentos. Também existe uma preocupação com o bem estar da pessoa idosa, e em manter os(as) representantes de cada grupo informados(as) sobre as temáticas atuais, e em disporem de momentos onde as experiências possam ser compartilhadas. Fica um alerta sobre as motivações políticas que norteiam essas atividades, e até mesmo a essência desse programa.

As ações previstas com foco na observação, como um dos métodos de recolha de dados, não pode ser empregada de modo expressivo, pois, com o advento da pandemia COVID-19, os momentos da pesquisa que demandavam o contato social presencial, foram interrompidos, com a consideração de que as pessoas idosas estavam integradas ao grupo identificado como de risco (DGS, 2020a), ou seja, com uma vulnerabilidade significativa de contágio, assim as indicações de alerta recebidas tinham de ser respeitadas e seguidas. Com isso, a etapa de observação, que estava condicionada a Instituição 4, limitou-se a realização da observação em dois momentos específicos, e as entrevistas semiestruturadas realizadas, que ocupam um lugar fundamental na validação e contextualização deste trabalho, ocorrem com o apoio de recursos mediáticos.

As instituições atentas ao desenvolvimento de atividades promotoras do envelhecimento ativo, contribuem para o compartilhamento das vivências, como também

44 podem promover uma ressignificação dos sentidos do viver de cada um(a) dos(as) integrantes do grupo, como também de fundamentar o respeito das relações intergeracionais estabelecidas.