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CAPÍTULO 01 – POLÍTICA EXTERNA DA CHINA – DA FUNDAÇÃO DA

1.6 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA CHINA

Nas relações internacionais, Pequim busca reforçar as instâncias multilaterais a nível mundial, como a Organização das Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio, bem como contribui para a criação de organismos de pequenas dimensões em áreas que considera de relevância estratégica. É nesta esfera que se agrega a dinamização chinesa em fóruns trans-regionais com países do continente africano: o Fórum China-África (Forum on China-Africa Cooperation – FOCAC), criado nos anos 2000, e o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, criado no período de 2003 com a finalidade de facilitar a relação regional de países africanos (Fórum Macau 2003) (MENDES, 2015 et seq.).

A China é participante de todas as organizações da Ásia Oriental – Asia- Pacific Economic Cooperation (APEC), Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) Plus Three (Coreia, Japão e China), ASEAN Regional Fórum (ARF), Council for Security Cooperation in Asia Pacific (CSCAP) (GODEMENT, 2006 apud MENDES, 2015) – e na Ásia Central iniciou conjutamente com a Rússia, em 2001, a Organização de Cooperação de Xangai (Shanghai Cooperation Organization – SCO), que possui como membros o Cazaquistão, Quirgistão, Tadjiquistão e Uzbequistão e o Irã, a Mongólia, a Índia e o Paquistão como observadores (SCO,

qualitativas, de forma prioritária ao desenvolvimento. Portanto, o plano é significativo para se entender as novas estruturas comportamentais do governo chinês e, consequentemente, a sua política externa. O XI plano, elaborado para o período 2006-2011, definiu o crescimento da desigualdade social como prioridade, além de estabelecer uma estratégia de equilíbrio que seria combinada ao apoio de grupos desfavorecidos através de uma política de fomento ao desenvolvimento da parte ocidental do país (ABDENUR, 2011).

2010 apud MENDES, 2015), e, membros recentes como o Afeganistão e a Bielorússia.

Todavia, o Brasil, a Rússia, a Índia, a África do Sul e a China são atores que reivindicam maior protagonismo nas instituições internacionais centrais, predominantemente no ocidente. Tais países fazem parte do bloco dos BRICS e pertencem a distintas áreas geográficas, contudo, tem significativa relevância econômica e política, e almejam a multipolaridade. O novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, fundado em 2014, mantém direcionamento para a criação de infraestruturas e desenvolvimento sustentável (BRICS, 2013 apud MEDEIROS, 2014), além de sustentar um posicionamento firme em oposição ao Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, as quais são instituições do sistema Bretton Woods.

1.6.2 Relações Sino-latinoamericanas

As transformações na conjuntura internacional e as reformas de Deng Xiaoping, a contar da década de 70, deram abertura para a China de protagonismo nas relações internacionais. Devido ao seu desenvolvimento econômico no decorrer das últimas décadas, o país ganhou força nas importantes decisões que orientam o campo internacional e obteve um status de grande potência mundial pelo sistema internacional. Nessa perspectiva, intensificou as relações chinesas com o Hemisfério Sul, na qual corresponde uma maior inserção do país que procura por meio da diversificação de parcerias, assegurar seu desenvolvimento interno e seu lugar no sistema internacional. O fortalecimento de parcerias com a América Latina e a África é essencial para a nação chinesa e seu molde de desenvolvimento vigente (PEREIRA, CARVALHO, 2015 et seq.).

As relações Sul-Sul da China com a América Latina e o continente africano se desenrola na retórica de que a China é um dos maiores países dentre os subdesenvolvidos, e se mantém como parceiro dos países latino-americanos e africanos com o objetivo de abrir caminho para o desenvolvimento. Através do fracasso das políticas de desenvolvimento organizadas pelos países centrais do ocidente, a China se mostra o caminho de desenvolvimento econômico com maior

possibilidade de cooperação com seus parceiros do hemisfério sul. Esses são os elementos para justificar a pragmática presença chinesa nestas regiões, sendo que para muitos destes países, o aprofundamento da relação com a China é importante para ampliar suas parcerias correspondentes aos interesses europeus e norte- americanos.

Dessa forma, as transformações que a China estabeleceu nas últimas décadas e o seu desenvolvimento econômico foram importantes para a sua aprovação nestas regiões, se tornando o primeiro parceiro comercial de países latino-americanos e africanos. As suas principais prioridades com o decorrer dos anos são a busca por matérias-primas e recursos energéticos, de maneira que possa estabelecer um avanço econômico sólido. Nessa direção, a América Latina e a África são estratégicos no entendimento de política externa chinesa, quer por seus fartos recursos naturais, quer por suas enormes populações, assim como as possibilidades de alianças políticas e outras questões no contexto multilateral.

A intensificação das relações da China com uma grande parte do sistema internacional é decorrente de suas necessidades por recursos naturais50. Inicialmente com o Oriente Médio, onde estes recursos, principalmente, o petróleo é abundante. Apesar disso, a instabilidade e os conflitos políticos na região, em conjunto com os Estados Unidos após o fim da Guerra Fria, desencadearam a busca por parcerias estratégicas pela China em outras regiões, priorizando os países periféricos para investir e explorar recursos naturais como petróleo e gás. Outro motivo da intensificação das relações chinesas com os países latino-americanos e africanos foi com mão de obra chinesa, que logo após a crise que abalou o país, fechando fábricas, provocou a diminuição de postos de trabalho. Esse é um detalhe de possível embate nas interações da China com esses países, referindo-se que as crises do sistema internacional são frequentes a todos os países e a abertura para imigrantes chineses pode ser visto como conturbada para estas nações.

Em consideração a propensão de crescimento do setor de exportação de matérias-primas e do alargamento da competitividade sobre as indústrias domésticas, pode-se observar que a ascensão da China implementou condições que 50 A nação chinesa para conseguir manter um crescimento sustentado tem como prioridade a busca

por matérias-primas e recursos energéticos, e por esse motivo, tem buscado o estreitamento das relações com a América Latina, Oriente Médio e a África (VISENTINI, 2013).

podem favorecer à desindustrialização e a dependência da exportação de recursos naturais nas nações em desenvolvimento. No entanto, se essa mudança influenciaria tanto positivamente quanto negativamente o desenvolvimento a longo prazo de cada país dependeria exclusivamente da dinâmica de cada política econômica (HUNG, 2017).

O impacto gerado pela exportação chinesa de bens industriais para economias asiáticas e latino-americanas fizeram com que seus vizinhos asiáticos ajustassem suas estruturas industriais como forma de melhoramento de integração com a nação chinesa. Assim, quando estas economias conseguiram mudar sua produção de maior ou menor valor nas cadeias globais em comparação do produzido pela China alcançaram outros níveis de competição. Além disso, o setor de exportação chinês está concentrado na montagem, o que faz com que a China importe componentes de seus vizinhos asiáticos e exporte para mercados consumidores finais. Com isso, uma rede regional de produção foi se desenvolvendo na Ásia, onde os fabricantes que abastecem a China se beneficiam de sua ascensão como potência industrial. Em contraste com as economias asiáticas estão as economias latino-americanas, “que entram nesta rede de produção global sinocêntrica como fornecedoras de recursos naturais em vez de ofertantes de componentes industriais” (HUNG, 2017, p. 13).

As relações da República Popular da China com os países da América Latina foram retomadas a partir dos anos de 1970, no mesmo período que se restabelecia as relações chinesas com os Estados Unidos. Todavia, as relações diplomáticas chinesas se tornaram mais fortes após as reformas de Deng Xiaoping. A primeira visita oficial foi no México, em 1981, seguido pela Colômbia, Brasil, Argentina e Venezuela. Nos anos de 1990 é que foram realizadas visitas pelo então presidente Yang Shangkun, no México, no Brasil, no Uruguai, na Argentina e no Chile (ZHANG et al., 2003, p. 238).

Logo após os anos de 1990 as relações entre as duas regiões começaram a se intensificar. Na Rio-92, teve a participação do primeiro-ministro Li Peng, onde houve conversações de alto nível com o Brasil, Cuba, México, Peru, Argentina, e o Suriname. Nos anos de 1993, foram firmadas a primeira parceria estratégica da China, mais precisamente com o Brasil. E, no decorrer de 1995, as visitas do

primeiro-ministro Li Peng foram regulares a diversos países da América Latina. Em 1997, a China firmou a parceria de cooperação com o país do México, sendo evoluída em 2003, para parceria estratégica. No período de 2001, foram estabelecidas a Parceria Estratégica de Desenvolvimento Comum com a Bolívia. Em 2004, se estabeleceram a Parceria estratégica e de Cooperação com a Argentina e o Chile, nessa ordem. Em 2006, foi assinado o Tratado de Livre Comércio entre a China e o Chile, e também, nesse mesmo ano, foram firmados a parceria de cooperação entre a China e o Peru. Somente em 2010, o Peru assinou o Tratado de Livre Comércio com a China (ZHANG et al., 2003; MITCHELL, 2007).

Nesse capítulo, demonstrou-se um breve contexto da política externa chinesa, bem como a ascensão da China ao sistema internacional impulsionada pelo avanço econômico acelerado. Assim, a República Popular da China para conseguir sustentar o seu mercado doméstico, ampliou suas relações diplomáticas com os países latino-americanos, mais precisamente neste estudo, o Brasil. No próximo capítulo pretende-se compreender as relações diplomáticas entre a China e o Brasil a partir de 1974, através da evolução das parcerias estratégicas, acordos de cooperação e investimentos.

CAPÍTULO 02 – RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ENTRE BRASIL E CHINA A