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O conceito de representações sociais foi postulado por Moscovici em seu estudo sobre psicanálise na França. O autor diz que “(...) as representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, através duma palavra, dum gesto, ou duma reunião, em nosso mundo cotidiano” (MOSCOVICI, 2013, p. 10). E mais,

Elas impregnam a maioria de nossas relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou consumimos e as comunicações que estabelecemos. Nós sabemos que elas correspondem, dum lado, à prática específica que produz essa substância, do mesmo modo como a ciência ou o mito correspondem a uma prática científica ou mítica (MOSCOVICI, 2013, p. 10).

As representações sociais são uma espécie de realidade da sociedade como um todo, pois somos capazes de enxergar apenas o que as “convenções subjacentes” nos permitem. Pode-se até acreditar em liberdade sob alguns aspectos, mas jamais estaremos desvinculados totalmente dos preconceitos. Moscovici (2013, p. 37) afirma que “(...) enquanto essas representações, que são partilhadas por tantos, penetram e influenciam a mente de cada um, elas não são pensadas por eles; melhor, (...) elas são representadas, re-citadas e re- apresentadas”. Para o autor,

A atividade social e intelectual é, afinal, um ensaio, ou recital, mas muitos psicólogos sociais a tratam, erradamente, como se ela fizesse perder a memória.

Nossas experiências e ideais passadas não são experiências ou ideais mortas, mas continuam a ser ativas, a mudar e a infiltrar nossa experiência e ideais atuais. Sob muitos aspectos, o passado é mais real que o presente. O poder e a claridade peculiares das representações sociais – deriva do sucesso com que elas controlam a realidade de hoje através da de ontem e da continuidade que isso pressupõe (MOSCOVICI, 2013, p. 37-38).

Em qualquer relação, entre duas pessoas que seja, haverá representações. As representações são os acontecimentos psicológicos entre os participantes das interações sociais e podem cristalizar ou mudar ideias: “(...) o importante é a natureza da mudança, através da qual as representações sociais se tornam capazes de influenciar o comportamento do indivíduo participante de uma coletividade” (MOSCOVICI, 2013, p. 40). O autor afirma que, interna e mentalmente, o processo coletivo penetra no pensamento individual.

Ou seja, ao se ler um livro, um texto visual ou verbo-visual, haverá sempre uma relação estabelecida entre os participantes do ato comunicativo e, assim, o que está sendo dito ou apresentado poderá sempre influenciar na perspectiva de vida dos sujeitos participantes da comunicação. As representações sociais estão sempre presentes no cotidiano de todo indivíduo e fazendo com que ele aja de acordo com o que foi estabelecido socialmente. Pode- se dizer que

Tais ganhos culturais e perdas estão, obviamente, relacionados a fragmentos de representações sociais. Uma palavra e a definição de dicionário dessa palavra contêm um meio de classificar indivíduos e ao mesmo tempo teorias implícitas com respeito à sua constituição, ou com respeito às razões de se comportarem de uma maneira ou de outra – uma como que imagem física de cada pessoa, que corresponde a tais teorias. Uma vez difundido e aceito este conteúdo, ele se constitui em uma parte integrante de nós mesmos, de nossas inter-relações com outros, de nossa maneira de julgá-los e de nos relacionarmos com eles; isso até mesmo define nossa posição na hierarquia social e nossos valores. Se a palavra “neurose” desaparecesse e fosse substituída pela palavra “desordem”, tal acontecimento teria consequências muito além de seu mero significado em uma sentença, ou na psiquiatria. São nossas inter-relações e nosso pensamento coletivo que estão implicados nisso e transformados (MOSCOVICI, 2013, p. 39).

As relações estabelecidas pela sociedade são uma espécie de troca de conhecimento diário, pois a todo tempo há influência de um ser sobre o ouro. Monnerat (2012, p. 308) discorre acerca da memória dos discursos, afirmando que se constitui “(...) em torno de saberes de conhecimentos e de crenças sobre o mundo”. Os discursos estão na sociedade como “(...) representações sociodiscursivas em torno das quais são construídas as identidades coletivas de uma sociedade e a fragmentação desta em comunidades discursivas”. Por isso, as comunidades acabam por se agrupar relacionando seus posicionamentos em comum.

Charaudeau (2004) pronuncia-se em relação às memórias dos discursos afirmando que estão relacionadas aos conhecimentos de crença sobre o mundo. Ou seja, os discursos que circulam na sociedade como forma de representações, em que são construídas as identidades coletivas. As memórias das situações de comunicação estão relacionadas ao dispositivo que

regula as trocas comunicativas a fim de que os parceiros da troca linguageira partilhem da mesma visão/representação do mundo. E as memórias das formas de signos são responsáveis pela utilização adequada do próprio comportamento linguístico, pode-se dizer que se corresponde a uma espécie de padronização do estilo “pessoal”, ou seja, do saber dizer.

As representações sociais estão, portanto, presentes na interpretação e no sentido que cada indivíduo dá aos textos. São essas representações que acabam por estabelecer o que é certo ou errado, bonito ou feio, aprazível ou chato. Vivemos em uma sociedade na qual a coletividade e o pensamento daqueles que se determinam como “superiores” estabelecem e limitam o pensamento de muitos seres: “Os sistemas de representação social refletem e refratam imaginários, interpretando a realidade que nos cerca e mantendo com ela relações de simbolização, por um lado, e atribuindo-lhe significações, por outro” (MONNERAT, 2012, p. 308). Essas representações fazem parte do conhecimento adquirido pela sociedade e possuem grande fator de influência na leitura.

Além de considerar o conhecimento extratextual na construção de sentidos no ato de ler, torna-se necessário ter consciência acerca do conceito de letramento, processo de desenvolvimento da capacidade leitora, intimamente relacionado ao ensino-aprendizagem da leitura. E é sobre a concepção do letramento que a próxima seção debruçará seus estudos.