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As rodas de conversas e os caminhos para onde levaram

3. A FORMAÇÃO COM O OUTRO

3.1. As rodas de conversas e os caminhos para onde levaram

Três rodas, três conversas, todas registradas em áudio e vídeo. Elas ocorreram em momentos diferentes, mas num mesmo local, a Casa Ranzini, onde fica situada a sede

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Para maior informação sobre o perfil de formação dos educadoers que atuam no campo da mediação na cidade de São Paulo, sugiro leitura de “O mediador cultural.- Considerações sobre a formação e profissionalização de educadores de museus e exposições de arte”, de Valéria Peixoto de Alencar (2008)

administrativa do AEP e onde também ocorreram e ocorrem muitos dos encontros de formação dos educadores. A familiaridade com o espaço e a similaridade do formato do grupo focal com os de formação fez os participantes sentirem-se mais à vontade para narrar sobre suas experiências. Contudo, no meu caso, foi preciso certa contenção, pois minha atuação não era mais de supervisora, mas de pesquisadora e, como tal, precisava falar menos e ouvir mais.

A presença de uma pequena câmera de vídeo e de um celular para garantir um segundo registro de voz buscou ser discreta, mas não se pode assegurar que não tenha inibido alguns participantes, principalmente na primeira dinâmica, até mesmo por eu ter ficado mais tensa ao precisar controlar todos esses equipamentos e o tempo da dinâmica combinado previamente com os educadores – elas duraram em torno de 1:30 a 2:00 horas cada - além da atenção a ser dedicada a conversa.

No decorrer das conversas as narrativas se tornaram mais fluidas mesmo entre aqueles participantes que não se conheciam. Percebi, porém, que aqueles que mais falavam, e às vezes tendiam a dominar a conversa nas dinâmicas, também tinham essa tendência nos encontros de formação na época em que eu supervisionava o projeto, e o comportamento daqueles com tendência ao silêncio também se manteve. Esse descompasso ocorreu somente com o segundo e terceiro grupos, nos quais precisei fazer algumas intervenções para que percebessem a necessidade de todos se colocarem. Contudo, as mudanças não foram tão significativas e, mesmo insistindo mais algumas vezes, precisei respeitar o movimento de cada indivíduo e grupo. A qualidade das colocações e reflexões dos que falaram menos não foi menor, ao contrário, foram bastante significativas e coerentes. E, em relação aos que falaram mais, percebi qualidades como entusiasmo e emoção ao recordar e detalhar experiências vividas no projeto, principalmente daqueles que já haviam saído dele há mais tempo.

Com alguns dos participantes eu já vinha compartilhando algumas questões, reflexões e inquietações sobre o tema de minha pesquisa de mestrado e, por esse motivo e até mesmo por certa cumplicidade e amizade entre nós, creio que parte deles se interessou em participar dessas dinâmicas. Afinal, se foi um convite aberto, posso pressupor que houve interesse da parte deles, de todos eles, aliás.

Sendo assim, a maioria deles sabia sobre o tema geral da pesquisa, inclusive porque eu os havia situado no convite pelo correio eletrônico como uma conversa sobre o “processo de formação no projeto educativo do Museu da Cidade de São Paulo”. Além do tema geral, preparei para as dinâmicas um roteiro com algumas questões que foram apresentadas para os participantes, como sugestões de assuntos que eu gostaria que eles conversassem, e avisei que poderiam se sentir a vontade para não segui-lo com exatidão e para proporem outros assuntos. As questões do roteiro vinham no rastro de minhas reflexões que

acabavam de ser registradas no relatório de qualificação e permeavam assuntos que buscavam instigar os participantes a:

Mapear, qualificar e compartilhar experiências de formação vivenciadas no projeto;

Tecer relações entre formação continuada e mediação, considerando o contexto e público do projeto;

Tecer relações entre formação continuada e criação e desenvolvimento de propostas de mediação;

Perceber e situar influências e relações de sua formação individual com os integrantes do projeto educativo – os próprios educadores, supervisores e coordenação;

Tecer relações entre formação e formas pessoais de interação e construção de conhecimento, como ler, escrever, desenhar...

Nas três dinâmicas esses assuntos não foram seguidos ou contemplados rigorosamente, mas vez ou outra foram pontuados por mim quando sentia que a conversa tendia a perder o foco ou, mencionados pelos próprios participantes, quando percebiam relações com a conversa do grupo ou com novos assuntos e experiências que queriam introduzir.

Além dessas questões, havia uma mais ampla sobre a qual pedi que se manifestassem, “O que é formação para você?”. Essa questão foi respondida logo de início por alguns e no decorrer das dinâmicas por outros, e delineia a primeira categoria que busco refletir nesse capitulo final.

Analisar as conversas a partir dos registros foi um processo árduo e vagaroso, mas que proporcionou novas camadas de interpretação e reflexão sobre a ideia e significados de formação. Desde as impressões mais imediatas das três dinâmicas até essas análises mais aprofundadas, percebi certa tônica e dominância na temática da mediação com o público, o que me levou a considerar como importante reflexão o papel dessas experiências na formação dos educadores, segunda categoria de análise.

A terceira categoria abarca os relatos dos participantes sobre suas experiências com os outros educadores do projeto, vivenciadas em situações mais esporádicas como os encontros ou reuniões coletivas, mas, principalmente, as vivenciadas diariamente com seus parceiros de mesma unidade do MCSP, também enfatizadas nas três dinâmicas de grupo focal. Essa categoria envolve a anterior, já que a mediação com o público faz parte de um conjunto de experiências partilhadas entre educadores, portanto, algumas reflexões atravessam as duas categorias. Nessa última categoria, também dou relevo às reflexões e criticas dos participantes em relação aos aspectos frágeis do projeto, que contribuem para

reflexão nessa pesquisa sobre o papel dos desafios, descontentamentos e frustrações em nossos processos de formação.

3.2. Forma, fôrma, deforma: considerações iniciais dos educadores sobre