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As técnicas participativas usadas nas áreas da pesquisa

Capítulo 1 Metodologia de pesquisa

1.4 As técnicas participativas usadas nas áreas da pesquisa

Durante as reuniões com os moradores sobre os projetos a serem implantados, foram usadas as técnicas participativas descritas a seguir nas duas áreas da pesquisa, adaptadas para responder às peculiaridades de cada área. Todas as técnicas participativas estão descritas em detalhe no Anexo 2, item 1.

O Mapa hidro-social

Essa ferramenta é importante não só pela informação que coleta, mas também pelo fato de deixar que os moradores, espontaneamente, deem sua opinião sobre os problemas do seu bairro e domicílio. Esta atividade situa moradores em grupo de pessoas com mesmas preocupações quanto à água, esgoto, drenagem e lixo, mostrando visões divergentes e ou convergentes, e, finalmente, ajuda a engajar o morador em atividade para melhorias e para a fase de monitoramento. Ainda que já existam mapas das ruas e da área, os participantes entendem que a atividade resultará em mapas elaborados pelos próprios moradores, em que serão identificados os problemas e as boas-práticas, tal como eles as veem. Os moradores são motivados a descrever as características mais comuns da localidade quanto à água, esgoto, drenagem e lixo, identificando ruas principais, córregos, obras hidráulicas existentes, equipamentos (escolas, igrejas, associações, organizações de bairro), zonas de residências, zonas de

comércio, zonas de indústria, hortas, escritório das agências prestadoras de serviço, se houver e o que acharem importante para elucidar aspectos relativos à água, ao esgoto, à drenagem e aos resíduos sólidos. As informações que resultam dessa atividade devem ajudar a entender o bairro, seus problemas e as boas-práticas com relação à água urbana, além de mostrar como se dá a participação nas reuniões. Nos mapas, é registrada a presença de organizações de bairro, de projetos para melhorias, de escritórios de autoridades locais, de áreas de risco de inundações e deslizamentos, de fontes naturais ou minas de água ou área de mananciais, do alcance da rede de abastecimento e de esgotamento sanitário, da existência de fossas e do seu tipo. São também registrados problemas resultantes da perda de vegetação, da presença de insetos e roedores, de lugares onde há lixo depositado sem cuidado. Pelo aqui exposto, fica claro que o mapa hidro-social, assim como todas as demais dinâmicas, são atividades preparatórias para o monitoramento. Baseados nos resultados obtidos com as dinâmicas, os moradores, junto com técnicos e autoridades locais, definem os aspectos prioritários para monitoramento e a conseqüente proteção da solução técnica implantada, dialogando então com o projeto com um todo.

A Caracterização das moradias

Essa ferramenta é importante para a análise da situação dos domicílios na área abrangida pelo mapa hidro-social. Posteriormente, essa informação é registrada no mapa para a identificação das áreas de maior risco e verificação da existência de relação entre tipo de moradia e participação nas atividades de análise de monitoramento. O fato da informação resultante desse exercício ser integrada ao mapa hidro-social facilita a caminhada por todos os setores da área: moradias em ‘situação melhor’, ‘regular’ e em ‘situação pior’, segundo os critérios dos próprios moradores e complementados pelos condutores da atividade. Ajuda ainda a dinâmica de ‘percepções em escala classificatória’, que deve ser feita em locais diferenciados para que os diferentes grupos sociais possam expressar livremente seus problemas e demandas, e para que seus problemas sejam bem explorados. Com isso se pretende que os tópicos a serem monitorados abranjam os problemas de cada grupo social. É importante registrar os critérios que os próprios moradores usam para classificar as moradias em melhores, regulares e piores, sobretudo quanto ao abastecimento de água, ao esgoto, à drenagem, aos riscos de deslizamento e inundação, ao lixo, se a moradia é própria ou alugada, se está assentada em terreno da Prefeitura. Também importante é a porcentagem percebida

de moradias em cada uma das situações descritas. De qualquer modo, outros critérios de classificação das moradias lançados por moradores devem ser registrados também.

A Caminhada pelo bairro

Essa ferramenta ajuda a que todos visualizem e analisem a situação do abastecimento de água, do esgotamento sanitário e da deposição de lixo, tanto nas áreas de moradias melhores e regulares como nas de moradias em pior situação. A caminhada serve para verificar se há grandes discrepâncias no mapa hidro-social, e corrigi-lo mais tarde, se for o caso. A caminhada deve ser acompanhada não só pelos condutores da atividade, moradores e técnicos, mas também por lideranças locais, algum membro da companhia de água e esgoto e da(s) subprefeitura(s). Dessa maneira, obtém-se uma visão mais completa e em diferentes perspectivas. A informação resultante desse exercício é útil não só para as finalidades do monitoramento (por exemplo, quais tópicos são mais importantes de serem monitorados), como também para revelar opiniões dos diferentes grupos sociais, já que outros moradores podem juntar-se à caminhada e passar a participar. Deve-se explorar, sobretudo, a percepção dos moradores frente à solução técnica existente e ou projetada e suas opiniões sobre possíveis alternativas. Dependendo do número de condutores e participantes, o grupo poderá dividir-se para concentrar-se nos locais, conforme identificados no mapa, de moradias melhores, regulares e em pior situação. Nesses três locais, em separado, cada condutor mobiliza o grupo de moradores para que discutam tópicos que percebem como mais ou menos problemáticos, usando a dinâmica ‘percepções em escala classificatória’.

Percepções em escala classificatória

Durante a caminhada pode-se trabalhar com a dinâmica ‘percepções em escala classificatória’ por áreas de moradias dos vários tipos, para se ter uma visão da percepção dos vários grupos sobre o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a deposição de resíduos sólidos ou lixo. Moradores discutem como percebem questões ligadas à água, ao esgoto, à drenagem, ao lixo e às obras implantadas. Qualquer outra peculiaridade do local deverá se considerada para a dinâmica. Se a dinâmica é realizada em grupos de acordo com a situação de moradia, os moradores se sentem mais à vontade para expressar suas opiniões. Desta atividade devem resultar informações sobre o grau de satisfação dos moradores com relação aos diferentes aspectos detectados no mapa inicialmente desenhado e durante a caminhada: situação do esgoto, do

abastecimento de água, da deposição e coleta de lixo, dos serviços prestados pelas agências de saneamento e autoridades locais, situação de obra hidráulica próxima ao domicílio, sua própria atitude e comportamento frente à gestão da água urbana e ainda frente à sua capacidade de contribuir para melhorias. A partir desse exercício, é feita a classificação de prioridades para melhorias e dos itens a serem monitorados.

O planejamento do monitoramento por moradores em seu domicílio e arredores Trabalhar com moradores em dinâmicas participativas visa, sobretudo, a que os moradores sintam-se engajados no programa de monitoramento. O objetivo da dinâmica para o desenho e implementação do monitoramento é definir, com o apoio dos técnicos da agência provedora de serviços e, se possível, de autoridades locais, os aspectos que merecem atenção e que, portanto, devem ser monitorados até alcançar a situação esperada, e, no caso da presente pesquisa, a preservação da solução técnica que será implantada. Essa definição é feita a partir de uma análise dos problemas detectados nas discussões e registrados no mapa, aperfeiçoado com as observações da caminhada e das percepções dos moradores em escala de prioridade para intervenção. No quadro-guia são registrados os aspectos a serem monitorados, seus indicadores, quem deve coletar a informação, quem deve verificar, como a informação será coletada, quem deve agir para resolver o problema, que ação deve ser tomada se o problema não for resolvido localmente, entre outros. O acompanhamento periódico por liderança comunitária e por técnicos deve verificar se o problema está sendo resolvido, e as mudanças que devem ser feitas nos aspectos a serem monitorados e indicadores. Um mês depois de iniciado o monitoramento, deve ser feito um primeiro acompanhamento para verificar seu andamento e graus de implementação: quais tópicos estão sendo monitorados e por quem, e quais melhorias alcançadas nesse período, se alguma.