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Sistema Cantareira: esquema hidráulico e a localização de

Apesar de rodeado por condomínios de moradias de alto padrão, o núcleo de Vila Machado é formado por aproximadamente 250 residências que podem ser consideradas ‘de classe média baixa’, construídas em sua maioria em alvenaria. Muitas das construções se encontram inacabadas.

O bairro conta com uma única rua central com trechos asfaltados, que o divide em duas áreas. A partir desta rua principal é possível o acesso às demais, que são de terra batida e de difícil trânsito por carro. As casas dispõem de fossas individuais para captação dos esgotos sanitários. Devido à sua localização e ao acesso que propicia à represa, Vila Machado transformou-se em ponto de turismo, atraindo centenas de pessoas durante os fins-de-semana e feriados.

Fotografia 6 Vista aérea de Vila Machado, e a localização do núcleo do bairro, objeto do Projeto de Recuperação Ambiental.

Fonte: ‘Projeto de Recuperação Ambiental de Vila Machado’, apresentação à XIX FENASAN e XIX Encontro Técnico AESABESP

Ocorre, no entanto, que a falta de infra-estrutura urbana e de apoio vem promovendo a degradação do ambiente e o comprometimento da qualidade de vida dos habitantes do bairro. Apesar das placas indicativas de restrição de acesso às águas e do risco de morte por afogamento, a presença de banhistas é constante e os acidentes fatais, regulares. Esse padrão de turismo causa ainda transtornos aos moradores do bairro, os quais

sofrem ameaças e constrangimentos, além de ter comprometido o seu direito de locomoção, pela forma como os turistas se apropriam do espaço.

Diante dessa situação, em novembro de 2007, a SABESP deu início ao projeto de Recuperação Ambiental de Vila Machado. Trata-se de uma iniciativa-piloto para testar a metodologia de gestão territorial compartilhada, tendo por instrumentos principais a integração entre estado e município nas ações de planejamento, aliada ao monitoramento por moradores em seu domicílio e arredores. Gestão territorial, pois um dos focos do projeto SABESP é o ordenamento do uso e ocupação do solo no entorno da Represa. Seu objetivo geral é, portanto, promover a gestão territorial integrada do bairro, com base no engajamento dos moradores. Os objetivos específicos são: contribuir para a manutenção da qualidade e disponibilidade hídricas; reduzir as fontes de poluição e / ou contaminação das águas, disciplinar o uso e ocupação do solo no entorno da represa Paiva Castro; fomentar a participação social e as práticas voltadas à conservação do ambiente (DARDIS et al, 2008). Seus resultados sinalizarão a possibilidade de introdução da metodologia em outras áreas para a proteção ambiental, num processo de colaboração entre moradores, técnicos e autoridades municipais.

5.4.2 A SABESP e a participação de moradores.

A SABESP é a principal operadora do abastecimento de água e esgoto na Bacia do Alto Tietê. Até 1994, o planejamento na SABESP era centralizado e caracterizava a empresa como sendo do ‘ramo de obras’, já que seus esforços dirigiam-se à construção e / ou ampliação de obras. A partir de 1994, a empresa passa a dar importância a um melhor atendimento de seus clientes. Foi também nesta época que o Governo Estadual reestruturou a organização, buscando sanear suas contas e melhorar sua competitividade. Em 1995 a empresa passa a redefinir-se como ‘empresa de prestação de serviços’. Em 1999 foram criados departamentos de planejamento nas Unidades de Negócios, descentralizando o planejamento. Por outro lado, a degradação do meio ambiente, ações judiciais fruto de demandas ambientais, e a falta de atuação dos órgãos competentes são fatores de permanente vigília, e são consideradas como “ameaças” em exercício feito entre funcionários da SABESP para conhecer pontos fracos e fortes da empresa (MYRRHA e BORBA, 2005).

A pressão de populações cada vez mais conscientizadas de seus direitos por melhores serviços, sobretudo em áreas urbanas; a abertura dada pela legislação a processos participativos e a sua finalidade social de atendimento à população através da prestação de serviços essenciais levaram a SABESP a adotar ideias inovadoras. Novas formas de prestação de serviços foram adotadas para atender cada vez melhor um público com demanda crescente por bons serviços.

Assim, procurou estabelecer, em seu funcionamento, arranjos institucionais para o trabalho com a comunidade, pautado também por uma clara preocupação com o crescimento das taxas de pobreza nas regiões metropolitanas. Pratica tarifas específicas para consumidores residenciais, comerciais, industriais e governos. Presume que usuários com menor faixa de renda tendem a consumir menos, e as tarifas acompanham o nível de consumo. São as denominadas “tarifas sociais” (MYHRRA e BORBA, 2005).

Além desse aspecto, a SABESP tem desenvolvido trabalho de extensão à comunidade em seus programas e através de ONGs, como é o caso da SOS Mata Atlântica, para o Projeto Tietê, e da ONG Água e Cidade, para o uso racional da água em escolas e empresas. Dentre as atividades de trabalho com a população está o Programa de Participação Comunitária descentralizado por Unidades de Negócio (UN). Na UN Zona Sul, um técnico dá apoio comunitário em cada sub-divisão da zona. Assim, são atendidos os pedidos dos moradores de implantação de obras da rede de água e esgoto; os moradores têm a possibilidade de decidir o nível da tarifa e de discutir a regularização de ligações em favelas (RAMOS, 2005). O mesmo se dá durante as reuniões periódicas com lideranças comunitárias patrocinadas pela UN Zona Norte. Estas oferecem espaço para a colocação de demandas por lideranças comunitárias, e do compromisso de solução de problemas pela SABESP.

O site da SABESP51 publica informações sobre o trabalho com a comunidade, como o acontecido em 12 de julho de 2008, quando, em reunião com a comunidade do Parque Residencial Cocaia, RMSP, foram apresentados os projetos de melhoria do

abastecimento de água, e de obras previstas para levar o serviço de coleta de esgoto para o bairro.

5.4.3 O processo levado a cabo em Vila Machado

Os contactos iniciais em Vila Machado aconteceram em setembro de 2007. Nessa época, projeto e metodologia foram apresentados a dez lideranças do bairro e a autoridades do Município de Mairiporã: Secretária de Educação, Secretário de Meio Ambiente e um representante da Secretaria de Obras. Participaram também representantes do setor Comunitário UN Norte da SABESP. A apresentação foi feita pelo Engenheiro Gerente de Divisão dos Recursos Hídricos Metropolitanos Norte da SABESP, pela Analista de Sistemas de Saneamento do Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos da SABESP, coordenadora do projeto pela SABESP, e a metodologia de envolvimento dos moradores foi apresentada pela pesquisadora. A importância dessa reunião deveu-se ao interesse demonstrado pelas lideranças comunitárias, à presença de autoridades municipais, e à apresentação do projeto por técnicos da SABESP em cargo de chefia.

Tendo sido definidas as áreas-alvo das intervenções do projeto, as lideranças se comprometeram a entrar em contato com os seus vizinhos e com os comerciantes, e a colocar cartazes sobre o projeto, convocando para a reunião geral. Esta foi realizada na escola estadual do bairro, e o objetivo foi o desenho do mapa hidro-social.

Dezenove mulheres e treze homens desenharam mapas de cada um dos três setores de intervenção identificados na atividade anterior. Um deles é ilustrado no Desenho 4, acima. Detalharam ruas, residências, equipamentos existentes, comércios, associações, igrejas, locais onde há falta de conexão à rede de água, locais onde há maior quantidade de esgoto a céu aberto e mato alto, áreas verdes sendo loteadas para venda a particulares, presença de roedores e insetos, os problemas ambientais e as boas práticas.

O resultado principal foi a mobilização, o conhecimento do projeto, o engajamento dos moradores e a identificação por eles mesmos de seus problemas.