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AS TRANSFORMAÇÕES NATURAIS: A RUPTURA COM A INFÂNCIA

1. CAPÍTULO I ADOLESCÊNCIA: UM PROCESSO IDENTITÁRIO

1.3 AS TRANSFORMAÇÕES NATURAIS: A RUPTURA COM A INFÂNCIA

Neste passo, após o entendimento do que é identidade, trata-se de grande relevância no presente estudo explorar ainda outros detalhes intimamente ligados à adolescência.

Antes de entrar na fase da adolescência propriamente dita, fundamental se faz esclarecer que, entre os onze e os doze anos, tem-se a fase que se denomina puberdade, “o período da vida em que o indivíduo se torna apto para a procriação, isto é, adquire a capacidade física de exercer a função sexual madura.”54

Difere-se a puberdade da adolescência, sendo esta uma fase de indagações e alterações vinculada às alterações psicossociais e aquela corresponde às alterações concernentes aos aspectos fisiológicos e anatômicos. A puberdade está relacionada exclusivamente com o aspecto orgânico do ser humano e a adolescência tem relação exclusivamente com o aspecto psicológico e social.55

Uma vez esclarecida a fase da puberdade, Tânia Zagury56 esclarece que a adolescência,

caracteriza-se por ser uma fase de transição entre a infância e a juventude. É uma etapa extremamente importante do desenvolvimento, com características muito próprias, que levará a criança a tornar-se um ser adulto, acrescida da capacidade de reprodução. As mudanças que ocorrem nesta fase são universais, com algumas variações, enquanto as psicológicas e de relações variam de cultura para cultura, de grupo para grupo e até entre indivíduos de um mesmo grupo.

Nesta fase, na busca desta nova identidade, o adolescente tem de experimentar várias alterações naturais do seu corpo, tais como a questão sexual. A forma de encarar a vida tem que ser agora com seriedade, a questão do afastamento do meio familiar e até mesmo voltar-se para a questão sentimental, a sensação amorosa. Segundo Flávio Gikovate57, só a questão de alterabilidade do

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BECKER, D. O que é adolescência. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003, p. 18. 55

KALINA, E. GRYNBERG, H. Aos pais de adolescentes: viver sem drogas. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1999, p. 19.

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ZAGURY, T. O adolescente por ele mesmo. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 24. 57

corpo e a sexualidade poderiam ser consideradas mais do que suficientes para que se justificasse a crise na adolescência. Entretanto, essas alterações trazem uma crise de identidade.

Na fase da adolescência ocorrem muitas alterações no jovem, mas “a característica mais visível e clara é o acentuado desenvolvimento físico com fortes transformações internas e externas. Ocorrem também mudanças marcantes nos campos intelectual e afetivo.”58

Tânia Zagury ainda mostra que “outra importante mudança é o amadurecimento sexual, o disparar do relógio biológico, colocando em funcionamento glândulas que produzirão hormônios importantíssimos.”59

Em relação à questão afetiva, o adolescente passa por uma fase bastante conflituosa. Neste ponto “é comum períodos de serenidade sucederem a outros de extrema fragilidade emocional, com demonstrações freqüentes de instabilidade60. A crise de maior relevância por que passam os adolescentes está “relacionada com a necessidade de assumir responsabilidades para as quais não foram alertados e muito menos preparados.”61

Ainda, no que diz respeito ao que se denomina crise da adolescência, que para muitos chega a ser considerada uma patologia, como exemplo para os próprios pais, tem-se a esclarecer que esse momento jamais poderá ser entendido dessa forma, mas sim como uma fase normal, todavia, com certas turbulências.62

Eduardo Kalina e Halina Grynberg63, ainda, esclarecem que,

Por ser um fenômeno tão arraigado nas estruturas sociais onde emerge e que vem contestar, a adolescência pode ter diferentes expressões e formas como resultado das pressões e influências do meio em que se instala. Para entender o significado real da adolescência, é preciso conhecer o contexto no qual ela está sendo vivenciada. Por exemplo, quanto mais rígida e estratificada for a cultura que ocorra, maior será a crise existencial do adolescente. Se é que, ao menos, a adolescência tiver condições de se manifestar em toda sua complexidade. Em alguns casos, a rejeição pelo

58

ZAGURY, T. Op. cit., p. 24. 59

Ibidem. 60

Ibid., p. 28. 61

GIKOVATE, F. Op. cit. p. 27. 62

FREITAS, L. A. P de. Adolescência, família e drogas - a função paterna e a questão dos limites. Rio de Janeiro: Mauad, 2002, p. 37.

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KALINA, E. GRYNBERG, H. Aos pais de adolescentes: viver sem drogas. Rio de Janeiro, RJ: Rosa dos Tempos, 1999, p. 19.

grupo social do novo que ela representa pode vir a ser tão intensa que é tolhido até mesmo o vislumbre de liberdade que ela timidamente propõe.

Esta fase gera de fato uma grande confusão mental no jovem, tendo em vista a grande quantidade de alterações que ocorrem. Por isso os autores retro citados esclarecem que a camada social em que vive o adolescente é bastante determinante em sua estrutura, sendo mais exigente em uma e mais flexível noutra, e assim por diante.

Para uma melhor compreensão do assunto, importante relembrar as observações de Ilana Pinsky e Marco Antônio Bessa64,

A adolescência é uma fase de metamorfose. Época de grandes transformações, de descobertas, de rupturas e de aprendizados. É, por isso mesmo, uma fase da vida que envolve riscos, medos, amadurecimento e instabilidades. As mudanças orgânicas e hormonais, típicas dessa faixa etária, podem deixar os jovens agitados, agressivos, cheios de energia e de disposição em um determinado momento. Mas, no momento seguinte, eles podem ser acometidos de sonolência, de tédio e de uma profunda insatisfação com seu próprio corpo, com a escola, com a família, com o mundo e com a própria vida. [...]. O jovem atingirá a vida na plenitude de todos os seus potenciais e dispondo de um substrato orgânico, afetivo, emocional e cognitivo para desenvolvê-los. Entretanto, se os fatores intrínsecos – biológicos, genéticos e emocionais – ou extrínsecos – a família, a escola, os amigos e a comunidade – falharem ao longo desse processo, a transformação pode ser interrompida, em diversos níveis e graus de complexidade.

Considerando esse esclarecimento, percebe-se que os momentos de insegurança durante a fase da adolescência é algo extremamente de risco para o jovem. A mudança de comportamento altera-se constantemente, isto é, não há uma postura com convicção em suas decisões, quando então, neste momento de grande exaltação, é influenciado muitas vezes pelo grupo; o adolescente pode tomar a decisão que pode por em risco todo o seu futuro, como exemplo o uso de drogas, e o arrependimento posterior pode ser tarde.

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