• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

2.2. Eficiência Energética em Edifícios de Habitação

2.2.1. Aspectos Condicionantes do Desempenho Energético dos Edifícios

A eficiência energética de um edifício é condicionada por múltiplos factores associados às soluções construtivas adoptadas, assim como às condições ambientais da envolvente. Desta forma, existem um conjunto de variáveis que devem ser conjugadas no sentido de promover condições de redução do consumo de energia nas estações de aquecimento e de arrefecimento que serão abordados na presente secção.

A tomada de opções ao nível do projecto de construção e/ou reabilitação de um edifício, deverá seguir as linhas orientadoras da regulamentação em vigor, contudo, terá também de ter em consideração aspectos que elevam o desempenho energético do edifício. Nessa perspectiva, a eficiência energética nos edifícios de habitação começa na fase de projecto no qual se deve optimizar o seu balanço energético no Inverno (Nic) e no Verão (Nvc).

a) Forma e Clima

As necessidades energéticas de aquecimento de uma habitação prendem-se de uma forma geral com o facto do calor gerado no seu interior ser continuamente transmitido para o exterior através das suas superfícies externas. Daqui resulta que um dos factores que mais contribui para promover as transferências de calor de uma habitação é o factor de forma (FF), que resulta do quociente entre o somatório das áreas da envolvente em contacto com o exterior e interior e o volume, e portanto, quanto maior for o seu valor, maiores serão as trocas de calor associados à habitação. Nesta perspectiva deve procurar-se formas simples e que reduzam o factor de forma. A localização geográfica e o clima têm uma influência decisiva no comportamento térmico dos edifícios. De acordo com o RCCTE [2], numa zona classificada como I3 (clima mais severo) poderemos ter 2860 GD de aquecimento, enquanto numa zona I1 (corresponde a locais amenos) teremos cerca de 940 GD de aquecimento, assim o clima pode reportar-se a um factor de 3,0 nas necessidades de aquecimento. Na estação de aquecimento, com base nas temperaturas médias de arrefecimento poderemos ter um factor de 1,3 entre a zona V3 e V1. Assim, uma das preocupações do sector da construção deve ser projectar e conceber edifícios com o clima,

atendendo aos valores médios das estações, bem como aos valores extremos. A radiação solar disponível no país é relativamente constante.

Os edifícios devem ser então adaptados às características da localização onde se inserem, possibilitando assim adaptar soluções construtivas que visem limitar as transferências de calor.

b) Isolamento Térmico da Envolvente

As necessidades energéticas de um edifício estão intimamente relacionadas com a qualidade dos elementos que compõem a sua envolvente. As insuficiências que sistematicamente acontecem no dimensionamento e/ou aplicação dos isolamentos térmicos, têm repercussões a médio prazo nas condições higro-térmicas interiores ou consumo energético. Por definição, a envolvente de um edifício é a barreira física entre o interior e o exterior, representado pelas paredes, vãos envidraçados, portas, pavimentos e coberturas pelo que devem conter um conjunto de características e elementos que limitem as trocas de calor do interior para o exterior.

Como principal factor ligado às perdas de calor pela envolvente, destaca-se o nível de isolamento térmico dos elementos opacos da envolvente, os quais nos edifícios mais antigos é normalmente insuficiente.

Associado ainda à envolvente opaca, deve também ser destacado o contributo das pontes térmicas planas e lineares, que de uma forma geral podem ser definidas como zonas na envolvente onde existe uma concentração do fluxo de calor em relação às restantes superfícies correntes dos elementos da envolvente. As pontes térmicas são provocadas por descontinuidades existentes no isolamento térmico, resultado da deficiente aplicação do mesmo e também por elementos cujos coeficientes de transmissão térmica são superiores aos das paredes onde estão inseridos como é o caso das vigas, pilares e caixas de estores. Para além de aumentar o consumo de energia, o fenómeno é causa frequente de patologias na envolvente dos edifícios, uma vez que constituem locais mais frios e que propiciam a ocorrência de condensações [32].

Os vãos envidraçados e portas são também elementos que assumem um carácter preponderante no comportamento térmico da envolvente, devido ao seu baixo isolamento térmico poder dar origem a perdas de calor por transmissão térmica e por infiltrações de ar importantes.

Nesta secção, as coberturas não serão objecto de estudo uma vez que no âmbito do presente trabalho não foi considerada a sua influência.

Como requisitos mínimos da qualidade térmica para a envolvente dos edifícios, o RCCTE [2] indica para a zona climática de Lisboa (I1), os coeficientes de transmissão térmica (U) máximos e valores de referência para a zona corrente representados no Quadro 2.3.

Quadro 2.3 - Coeficientes de transmissão térmica máximos e de referência [2] Elementos da

envolvente

Val. Máximos (I1) Val. Referência (I1)

Unid. Exteriores Interiores Exteriores Interiores

Zonas opacas

horizontais 1,25 1,65 0,50 1,00

W·m-2·ºC-1

Zonas opacas verticais 1,80 2,00 0,70 1,40

Vãos envidraçados - 4,30

c) Ganhos Solares no Inverno

Apesar dos envidraçados serem normalmente o elemento da envolvente com menor isolamento térmico, estes possibilitam a transmissão da radiação solar para o interior, que no inverno permite compensar parte importante dessas perdas térmicas. A capacidade de um edifício em captar energia solar a partir dos vãos envidraçados nos meses de Inverno, possibilita a diminuição dos consumos de energia para aquecimento. Neste período, o efeito da radiação solar nos paramentos exteriores é favorável do ponto de vista das necessidades energéticas de aquecimento, uma vez que de uma forma “gratuita”, a simples incidência solar nos vãos envidraçados e paredes por si só contribuem para aquecer a habitação, sendo este último ponto negligenciado no actual regulamento português.

Neste contexto, a orientação da habitação adquire uma grande relevância no seu desempenho energético, sendo a solução mais vantajosa a orientação a Sul dos vãos envidraçados, uma vez que o percurso do sol no Inverno efectua-se para azimutes muito próximos do Sul geográfico (Figura 2.11 a). As restantes orientações no Inverno são menos relevantes uma vez que numa fachada orientada a Este e Oeste só recebem radiação solar de manhã e de tarde respectivamente e os ângulos de incidência do sol nas fachadas são elevados reduzindo assim o efeito da radiação (Figura 2.11 b). A Norte no período de Inverno, não existe nenhum tipo de radiação directa, apenas a radiação difusa, no entanto, no sentido de reduzir a influência das baixas temperaturas, é aconselhável reduzir as paredes e janelas orientadas a norte e aumentar as que estão orientadas a Sul [23].

a) b)

d) Protecção Solar dos Vãos Envidraçados no Verão

No Verão, os elevados níveis de radiação solar incidentes nos elementos, podem fazer subir as temperaturas interiores das habitações para valores significativamente mais altos do que a temperatura do ar exterior [34]. A falta de protecções solares adequadas tem como consequência o sobreaquecimento no interior dos edifícios, sendo necessário recorrer a sistemas de arrefecimento que aumentam significativamente o consumo energético.

Na estação de arrefecimento é então necessário minimizar os ganhos solares, nesse sentido é de evitar fachadas com orientação a Este e a Oeste uma vez que estão expostas a longas horas de sol nos períodos de manhã e tarde respectivamente (Figura 2.12 b), sendo responsáveis por grandes cargas térmicas. Neste tipo de fachadas, deve haver um cuidado especial ao nível das áreas de parede e vãos envidraçados, o tipo de vidro e os dispositivos de sombreamento utilizados.

a) b)

Figura 2.12 – Incidência solar Verão: a) Fachada Sul; Fachada Este [33]

Como é possível verificar pela Figura 2.12 b), o percurso do sol sendo próximo do zénite4 a Sul, apresenta um ângulo de incidência com a normal de valor mais elevado [33]. Nessa perspectiva é mais fácil controlar a radiação incidente através de protecções para o sombreamento da fachada. De acordo com o RCCTE [2] em edifícios novos ou grandes reabilitações, e de modo a controlar os ganhos solares na estação de arrefecimento, nenhum vão envidraçado da envolvente com área superior a 5% da área útil de pavimento (desde que não seja a Norte), pode apresentar um factor solar correspondente ao vão envidraçado com os dispositivos de protecção a 100% activos para a zona climática de Lisboa (V2) maiores do que 0,15 (inércia térmica fraca) e 0,56 (inércia térmica média e forte).

e) Inércia Térmica

A inércia térmica de um elemento, pode ser definida como a sua capacidade em armazenar calor e libertá-lo ao fim de um determinado período de tempo. Esta característica está associada a elementos constituídos por materiais densos e pesados, como por exemplo os tijolos maciços ou paredes de alvenaria de pedra. O calor retido em cada camada de parede vai elevar a sua

4

temperatura e só depois passar esse calor às camadas adjacentes, havendo por isso retenção de calor, o que não seria possível acontecer numa parede com reduzida massa térmica [34]. De uma forma geral, o fenómeno associado à inércia térmica nos edifícios diz respeito à retenção de calor durante o dia, reduzindo o consumo de energia com arrefecimento, e por outro lado, a sua libertação durante a noite reduzindo a energia consumida no aquecimento da habitação.

Quando se perspectivam medidas de reabilitação para a envolvente opaca dos edifícios, o mesmo deve ser feito de modo a tirar o maior partido possível da inércia térmica subjacente às paredes, e por isso devem ser adoptadas soluções de isolamento pelo exterior, em que a massa que está em contacto com o interior do edifício é que interage com este e condiciona as variações de temperatura. O calor proveniente do ambiente interior tende a aquecer a parede, ficando retido na mesma devido ao isolamento exterior, e a tendência será a de aquecer novamente o interior. A solução de isolamento pelo interior bloqueia por completo esta interacção, não sendo aproveitada a inércia térmica da parede e só faz sentido a sua aplicação se for impossível a alteração do aspecto exterior da fachada, ou se a habitação não for de ocupação permanente uma vez que a resposta térmica é muito rápida pois o único elemento aquecido é o ar interior.

f) Ventilação

A ventilação assume um carácter importante nas perdas associadas à envolvente dos edifícios, uma vez que o processo não controlado pode aumentar significativamente as necessidades de aquecimento. Os edifícios devem por isso estar dotados de meios de ventilação para assegurar a qualidade do ar, o bom funcionamento dos aparelhos de combustão e minimizar o risco de ocorrência de condensações. O aumento dos níveis de humidade nos edifícios está directamente relacionado com a qualidade do ar interior5, causando desconforto dos seus ocupantes, e aumentando a probabilidade de aparecimento de patologias relacionadas com bolores.

Nos edifícios, a ventilação pode ser assegurada por meios mecânicos, por ventilação natural e por meios híbridos, este aspecto foi tratado com mais pormenor por Silva (2011) [35], salientando-se aqui apenas que a ventilação natural é por defeito um sistema com menor consumo de energia. Para intensificar a ventilação, é importante que os edifícios estejam dotados de folhas móveis para ventilação dos espaços e para promover o arrefecimento nocturno.