• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

2.1. Edifícios “Gaioleiros”

2.1.4. Constrangimentos à Reabilitação das Fachadas de Edifícios Históricos

Quando se perspectivam intervenções quer seja ao nível de reabilitação, ampliação ou de alteração de edifícios que detêm um carácter histórico, seja pela época de construção ou pelo local onde estão inseridos, há que considerar um conjunto de barreiras e constrangimentos legais impostos pelas diversas entidades, nomeadamente câmaras municipais e/ou entidades de gestão do património histórico. No caso concreto da cidade de Lisboa, reconhecida pela sua riqueza histórica, destacam-se no âmbito dos edifícios antigos, os referentes ao período pombalino e pós- pombalino que marcam um período histórico após o terramoto de 1755. A maior concentração deste tipo de edificado situa-se na denominada baixa Pombalina ou simplesmente “Baixa”,

engloba um conjunto de edifícios cujas características arquitectónicas detêm um importante interesse histórico e cultural para a cidade.

No Plano Director Municipal da cidade de Lisboa (PDM) [17], existem várias indicações com o objectivo da preservação do património histórico da cidade. De acordo com este documento, nas áreas históricas habitacionais, de uma forma geral, são permitidas obras de alteração dos edifícios desde que sejam efectuadas simultaneamente obras de beneficiação e/ou restauro, com a conservação dos elementos arquitectónicos e construtivos considerados de valor cultural ou que constituam um contributo para a caracterização do conjunto em que se inserem. No âmbito desta temática e no sentido de criar regulamentação com orientações específicas acerca dos limites efectivos ao nível de reabilitação de um edifico histórico, foi elaborado um “Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina” (PP) [18]. O objectivo do PP passa por assegurar a manutenção das principais características arquitectónicas dos edifícios, definindo um conjunto de orientações que devem ser respeitadas com vista à não alteração das condições arquitectónicas iniciais, nomeadamente no que diz respeito ao seu aspecto exterior. No referido regulamento estão contempladas uma série de imposições à alteração de componentes como fachadas; coberturas; sistema estrutural; interiores; saguões e logradouros. No contexto do presente trabalho, interessa apenas definir o que é imposto para a envolvente exterior, nomeadamente para fachadas. Nesse sentido, o PP no seu Artigo 21º dispõe de um conjunto de orientações gerais para a reabilitação de fachadas, a referir:

I. são autorizadas obras de conservação e beneficiação de fachadas, com valorização dos elementos de revestimento originais, bem como daqueles que, não sendo originais, constituem elementos com reconhecido valor histórico e artístico;

II. obras de conservação e beneficiação de fachadas, incluem o restauro de elementos degradados e reposição de elementos alterados ou destruídos;

III. são autorizadas obras de alteração de fachadas que tenham o propósito de:

 melhorar o desempenho estrutural do edifício, e/ou repor métricas, ritmos, materiais e características originais dos edifícios;

 reforçar a estrutura do imóvel através da introdução de elementos resistentes nos seus paramentos interiores para, entre outros, garantir a segurança sísmica do edifício, e

 remover revestimentos desadequados e sem valor cultural, bem como elementos dissonantes.

As directrizes definidas anteriormente definem os critérios de intervenção nas fachadas dos edifícios, caso se conceda autorização para o efeito são definidas regras claras no anexo 3 do PP para o tratamento dos elementos que constituem as fachadas. No que diz respeito à substituição dos vãos envidraçados e portas exteriores o plano estabelece que:

 portas e janelas que apresentem características tradicionais2 apenas podem ser substituídas por outras de idêntica forma e cor;

 portas e janelas, sem características tradicionais e sem reconhecida qualidade formal, podem ser substituídas por outras que se integrem no edifício e na envolvente, com respeito pelas métricas, formas e cores dominantes, e

 não é permitida a aplicação de vidro reflector ou pigmentado em portas e janelas. As cantarias tradicionais de enquadramento dos vãos e as cantarias das varandas e respectivas consolas, apenas podem ser substituídas por outras de igual material, forma e acabamento, em casos em que os elementos existentes apresentem um nível de deterioração grave com impossibilidade de restauro, não sendo também autorizados o seu capeamento. A aplicação de estores e persianas exteriores nos vãos envidraçados, carece de aprovação municipal.

A remoção de elementos decorativos exteriores dos edifícios, designadamente cunhais, frisos, cornijas, platibandas, socos, molduras e os acessórios decorativos existentes e de revestimento exterior caracterizadores do edifício, como cantarias, azulejos e mosaicos, só é permitida nos casos em que os elementos sejam dissonantes ou então que a sua conservação e restauro seja comprovadamente impraticável, devendo a sua substituição respeitar as características iniciais, nomeadamente os materiais, a pormenorização e a cor. No que diz respeito aos revestimentos exteriores a aplicar numa fachada, existem também considerações que visam a manutenção das condições naturais do edifício e que vão no sentido de garantir que a substituição de rebocos em fachadas deve ser realizada de forma a recuperar a aparência original do edifício.

Em síntese, qualquer medida de reabilitação que vise a alteração do aspecto exterior das fachadas é totalmente proibida, o que de certa forma impossibilita a utilização de sistemas de isolamento térmico como, por exemplo, os revestimentos independentes com interposição de isolante térmico no espaço de ar ou sistemas compósitos de isolamento térmico pelo exterior (ETICS). As intervenções a realizar ficam desta forma limitadas a uma intervenção pelo interior, com colocação de isolamento térmico nas superfícies interiores das paredes da envolvente. Não é igualmente permitida a aplicação pelo exterior de dispositivos de protecção solar ou de oclusão. Em relação às janelas, as mesmas podem ser alteradas desde que se mantenham as características iniciais, sendo fundamental a conservação da forma e cor da janela bem como dos materiais que as constituem.

2