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Aspectos convergentes na interface com a Rádio USP

FORMAÇÃO EM RADIOJORNALISMO: O CASO BRASILEIRO

3.5 Estudo de caso: o curso de Jornalismo da ECA/USP

3.5.2 Aspectos convergentes na interface com a Rádio USP

Criada em 11 de outubro de 1977, a Rádio USP FM tem seus estúdios instalados na Cidade Universitária, no Butantã, em São Paulo, transmitindo de forma convencional, mas também disponibilizando as sonoridades ao vivo no site da emissora via streaming. Em quase quatro décadas de existência, a emissora educativa foi diversas vezes premiada pela qualidade da programação e também inovou ao fazer parte, em setembro de 2002, da Rede USP de

Rádio – pioneira nesse tipo de integração na internet. A rede usou tecnologia implantada no

estúdio de multimeios do Departamento de Tecnologia da Informação da USP. Além da emissora de São Paulo, integraram a rede as rádios de São Carlos e Ribeirão Preto90.

A programação jornalística da Rádio USP revela-se generalista, mas também voltada à divulgação de atividades acadêmicas e culturais da Universidade de São Paulo. O destaque são os radiojornais USP Notícias, que tem duas edições diárias, além de boletins noticiosos. Há também programas variados com viés jornalístico, como Áudio Papo (de entrevistas),

Biblioteca Sonora (educativo) e É o bicho! (prestação de serviços). A emissora apresenta

ainda programas especializados como Sobre Rodas (automobilismo), Cinema Falado, Via

Sampa (cultura), Sala de Leitura (Literatura), Clip Informática, Saúde Feminina e Esporte Acontece. A diversidade musical é outra marca da Rádio USP, que oferece espaço para vários

gêneros, priorizando a Música Popular Brasileira (MALULY, 2013, p. 64).

Os trabalhos dos estudantes de Radiojornalismo e Projetos em Rádio são transmitidos na Rádio USP aos domingos, às 11h30, no programa Universidade 93,7 – iniciativa criada

pelo DJE em 2008 e que tem, em média, 30 minutos de duração, caracterizando-se em três formatos: entrevistas, temas especializados e audiobiografias. Os programas veiculados têm

90

As informações utilizadas são provenientes do site da emissora onde é possível acesso aos conteúdos

específicos pelos links HOME, PROGRAMAS, ESPECIAIS, HISTÓRICO, REDE USP, EQUIPE e AO VIVO! Nesse último

link, o site informa que a emissora opera na frequência 93,7 Mhz e oferece programação voltada à área

educativa, atuando como cabal de comunicação entre a Universidade e a sociedade. A transmissão online é feita em tempo real por intermédio de dois padrões de áudio: Windows Media e Mp3. Disponível em: <http://radio.usp.br/2014/> . Acesso em 10 dez. 14.

como proposta explorar assuntos de interesse público, como saúde, educação, segurança, habitação e esportes, entre outros. Na homepage da Rádio USP há um link indicativo do programa onde são publicadas informações atualizadas sobre eventos e outros assuntos.

Figura 1 – Homepage da Rádio USP / Programa Universidade 93,7

Fonte: http://radio.usp.br/2014/

O site do CJE91 mantém um link para o programa, que ainda possui uma homepage própria para exposição dos conteúdos92. No topo dessa página há links que dão acesso a informações sobre o projeto, onde é possível identificar no texto disponível para consulta o caráter de transversalidade do curso de Jornalismo da ECA/USP, que permite aos alunos, do primeiro ao último semestre, elaborar e divulgar produtos de caráter radiojornalísticos. “O interesse é estimular o exercício do Radiojornalismo diante do conteúdo, formato e estrutura, como forma de rediscutir a atual produção radiofônica no Brasil”, salienta o texto disposto na Web.

91 Acesso ao site do DJE: http://www.usp.br/cje/

O site do programa ainda apresenta links com a bibliografia usada pelos alunos nas duas disciplinas e com um expediente onde são identificados os responsáveis pela orientação acadêmica, pela produção radiofônica e pelo Web Designer. A iniciativa conta também com supervisão da coordenação de programação da Rádio USP.

Figura 2 – Homepage do programa Universidade 93,7 (DJE-ECA/USP)

Fonte: http://www.radiojornalismo.jornall.com.br/

A veiculação convencional pelas ondas da Rádio USP e a disponibilização do material transmitido no suporte virtual são estratégias que visam inserir os futuros profissionais numa condição próxima ao contexto do Radiojornalismo. “O trabalho em rádio é uma alternativa para os futuros profissionais de comunicação, principalmente dos que desejam conduzir o Jornalismo como forma de conhecimento, democratizando assim à informação”, completa o texto do item o projeto.

A variedade de assuntos e de fontes consultadas chama a atenção quando é realizada a audição dos programas radiojornalísticos, que também são apresentados em grande número no decorrer do ano. Entre 20 de março a 11 de dezembro de 2014, o site do Universidade 93,7 recebeu 24 novos trabalhos93 elaborados pelos alunos. Essa produção, que foi veiculada pela

93 Torna-se oportuno ressaltar que, em 2014, a produção foi afetada por conta do movimento grevista que

emissora universitária pelas vias convencional e digital, faz parte de um acervo composto por 260 trabalhos elaborados desde a criação do projeto. Cada edição é disponibilizada para audiência, seja pelo computador ou por outras tecnologias digitais com acesso à internet. Se o

ouvinte/usuário desejar é possível também fazer o download dos áudios.

Luciano Maluly afirma94 que, nos programas, os alunos também trabalham a questão da responsabilidade profissional, não apenas quanto à qualidade dos conteúdos e formas radiofônicas emitidas, mas também pelo cumprimento de metas comuns à rotina de trabalho das diversas redações. “Ele [o aluno] tem responsabilidade sobre aquilo. É o nome dele que está ali, claro que com a supervisão do professor”, enfatizou o docente. Outra característica evidente dessa iniciativa pedagógica é o estímulo à divulgação das produções acadêmicas por intermédio do uso das potencialidades do ambiente digital.

Os alunos, de acordo com Maluly, se encarregam em dar visibilidade às suas ações nos canais institucionais da Universidade, como a Agência, a Rádio e o Jornal da USP, ou então elaborando cartazes que são fixados nas dependências da escola, chamando a atenção para as produções. Em alguns trabalhos os estudantes criam ainda conteúdos complementares que convergem com os programas de rádio disponibilizados na internet. Making of, vídeos, fotos e ilustrações, entre outras expressividades, são adicionados ao lado do mecanismo virtual que dá acesso, no site, aos conteúdos em áudio. O mesmo ocorre com conteúdos excedentes dos programas de áudio que não vão ao ar na rádio, mas que são colocados no site que dá a ficha técnica completa do grupo, indicando quem fez a locução, a reportagem, a produção, a edição e a coordenação do trabalho.

Ainda ocorre no âmbito virtual a divulgação feita pelos alunos nas redes sociais, com destaque para as postagens feitas no Facebook95 onde foi criada uma fan page – interface

específica do Universidade 93,7. Dentre os conteúdos disponibilizados, a página na rede social oferece links aos programas, bem como imagens, vídeos e textos relacionados aos trabalhos radiojornalísticos efetivados pelos estudantes. Nessa ambiência, os estudantes tem a possibilidade de reverberar seus trabalhos na área de Radiojornalismo para públicos que podem não ser atingidos pelas transmissões da Rádio USP feitas de forma convencional por por intermédio das outras formas virtuais de difusão.

94 Depoimento obtido em entrevista gravada.

95 Essa interface específica pode ser acessada pelo endereço https://www.facebook.com/pages/Programa-

Figura 3 – Fanpage do programa Universidade 93,7

Fonte: https://www.facebook.com/pages/Programa-Universidade-937/286428344773141

Apesar do empenho dos alunos em apresentar elementos comunicacionais adicionais somados às expressividades radiojornalísticas na internet, a prioridade do projeto é o conteúdo em áudio. O responsável pela iniciativa salienta que a convergência desejada acontece durante o processo de adaptação dessas sonoridades à emissão no rádio:

Essa é a convergência que a gente trabalha hoje: oferecer um produto que seja ouvido em qualquer lugar [ou condição e situação]. Como dizia a própria Gisela [Ortriwano]: radio é radio em qualquer lugar. A nossa convergência se dá em termos de estilo. Temos que produzir um conteúdo mais marcado pela sensorialidade. [A convergência] é uma questão sensorial (DEPOIMENTO DE LUCIANO MALULY, 2014).

Essa preocupação, além de priorizar a principal essência do rádio, mostra-se oportuna no sentido de qualificar profissionais que atuarão em emissoras que, hoje, não aparentam ter a atenção concentrada aos aspectos sensoriais. Para o docente, os programas devem se adequar às formas de captação sonora que tem se consolidado perante as audiências, como pelo fone de ouvido ligado ao smartphone ou pelos falantes do computador ou notebook. A orientação, de acordo com Maluly, é para a composição de sons que não sejam agressivos ao ouvido e que ofereçam uma linguagem mais acessível – condição preconizada nos referenciais teóricos relativos à produção de rádio, mas que no cotidiano das emissoras, principalmente às de apelo popular, tornou-se quase que inexistente.

Questionado sobre a viabilidade em relacionar Radiojornalismo e a convergência das mídias no processo de formação acadêmica, o professor reafirma que o importante é o trato da informação manifestada pelas sonoridades. O que ocorre na atualidade, principalmente nas grandes emissoras é, para Maluly, um processo mais próximo à complementaridade do que a convergência, sendo que a tendência do ouvinte/usuário é a busca pelo som. “A foto e o vídeo são mais complementares do que convergentes. Eles podem ilustrar, mas não vão representar um programa de rádio”, salientou o docente.

Ao verificar os planos de ensino e a iniciativa proposta pelo programa Universidade

93,7 como projeto que amplifica e dinamiza as atividades educacionais foi possível constatar

que a convergência das mídias não aparece, de fato, integrada às ações teórico/práticas promovidas pelas disciplinas Radiojornalismo e Projetos em Rádio. Porém, ficou evidente no processo de formação a ocorrência das convergências tecnológicas e de conteúdos, como tipificou Salaverría (2010).

Compreende-se que tal constatação revela-se como positiva, pois aproxima os alunos da realidade na qual está inserido o Radiojornalismo. De outro lado, os planos de estudo e a ação analisada indicam a ausência, nas disciplinas oferecidas pelo CJE da ECA/USP, de propostas que explorem efetivamente a convergência das mídias. Essa condição pode ser considerada adversa no sentido de não possibilitar, aos estudantes, envolvimento pleno a esse fenômeno decorrente da nova era.

CAPÍTULO IV