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Formação em Jornalismo: aspectos conjunturais

FORMAÇÃO EM RADIOJORNALISMO: O CASO BRASILEIRO

2.1 Formação em Jornalismo: aspectos conjunturais

No campo da Educação, o ensino da Comunicação ocupa um amplo espaço, sendo o Jornalismo um dos segmentos que desperta grande interesse dos alunos. Exemplo disso é a concorrência registrada em 2014 nas provas do maior vestibular do Brasil, organizado pela Fuvest. No total, 2.205 pessoas se inscreveram para disputar uma das 60 vagas oferecidas para o curso de Jornalismo, totalizando a média de 36,75 candidatos/vaga64. Outro dado que revela o desejo pela carreira em Jornalismo é a existência de um considerável número de faculdades voltadas à área que estão dispersas pelo país, sejam elas públicas ou privadas. Levantamento feito por Bernardo e Leão (2012) revelou que o Brasil tinha 375 cursos de Jornalismo, assim divididos: 194 no Sudeste, 62 no Nordeste, 61 no Sul, 31 no Centro-Oeste, e 25 no Norte65.

Gráfico 11 – Cursos de Jornalismo por região no Brasil

Fonte: (BERNARDO E LEÃO, 2012, p. 256)

64 Em 2013, a procura pelo curso de jornalismo da ECA/USP foi maior, com média de 45,10 candidatos/vaga. Os

números apresentados refletem o interesse dos estudantes em ingressar na principal instituição pública de Ensino Superior do Brasil – a Universidade de São Paulo, não representando um padrão para os demais processos seletivos. A Fuvest é responsável pelos exames que são realizados em suas fases, sendo que, em 2014, foram oferecidas 11.177 vagas e, ao todo, a entidade recebeu 141.888 inscrições.

65 Segundo os autores, os números foram obtidos, dentre outras fontes, a partir do site do Instituto Nacional de

Do universo identificado, os pesquisadores analisaram as matrizes curriculares dos cursos de Jornalismo de 153 instituições de Ensino Superior, classificando as disciplinas em blocos cujas nomenclaturas eram comuns à maioria das matrizes verificadas. Dos resultados obtidos, o estudo revelou que o ensino oferecido pelos cursos avaliados apresentou-se distante das características regionais das localidades onde estão inseridas as instituições, uma vez que a estrutura curricular nacional adotada mantém-se próxima a encontrada no Sudeste, região que comporta mais da metade dos cursos do país (op. cit., p. 272).

A carga horária média, em nível nacional, ficou em 2.890 horas-aula, sendo que as disciplinas voltadas à prática profissional ocuparam mais de 50% desse espaço temporal. “Também não há um local destinado, nas estruturas, para uma crítica à mídia, reflexão imprescindível para que possamos criar um vínculo franco com o mercado de trabalho e não ficarmos com as estruturas curriculares a mercê do que o mercado considera bom ou ruim” (BERNARDO E LEÃO, 2012, p. 273). Vale salientar que o panorama apresentado na pesquisa foi constituído dentro dos parâmetros determinados pelas últimas Diretrizes

Curriculares Nacionais – DCN – que, segundo os autores citados, não foram atendidas em

sua plenitude pelas instituições.

Atualmente, os cursos de Jornalismo estão às voltas com mudanças em seus currículos depois que foi aprovada, pelo Ministério da Educação, a Resolução nº 1, de 27 de setembro de 2013 que estabelece novas DCNs. De acordo com o artigo 17 do documento, as alterações deverão ser implantadas, obrigatoriamente, no prazo máximo de dois anos após a publicação, ou seja, logo após o início do segundo semestre de 2015.

Dentre as principais modificações determinadas está a autonomia dos bacharelados de Jornalismo, que antes eram vinculados ao campo da Comunicação Social como habilitações, conforme indica o Artigo 5 que trata da qualificação a ser oferecida pelos cursos:

O concluinte do curso de Jornalismo deve estar apto para o desempenho profissional de jornalista, com formação acadêmica generalista, humanista, crítica, ética e reflexiva, capacitando-o, dessa forma, a atuar como produtor intelectual e agente da cidadania, capaz de responder, por um lado, à complexidade e ao pluralismo característicos da sociedade e da cultura contemporâneas, e, por outro, possuir os fundamentos teóricos e técnicos especializados, o que lhe proporcionará clareza e segurança para o exercício de sua função social específica, de identidade profissional singular e diferenciada em relação ao campo maior da comunicação social (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013).

A resolução do Ministério da Educação determina ainda a divisão equilibrada da carga horária entre ações teóricas e práticas, conforme indica o artigo 9. Houve também aumento da carga horária para o mínimo de 3.200 horas, sendo que 200 horas serão atribuídas para o estágio dos estudantes (Artigo 10), que se tornou obrigatório e supervisionado (Artigo 12). Outra mudança foi a obrigatoriedade de desenvolvimento individual dos TCCs – Trabalhos de Conclusão de Curso (Artigo 11)66.

As novas diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo surgiram do trabalho de uma comissão de especialistas nomeada em 2009 pelo Ministério da Educação, sob a presidência do Prof. Dr. José Marques de Melo67. Docente-fundador da ECA/USP, onde também atuou entre 1989 a 1993 como diretor, Marques de Melo68 ressalta que as novas diretrizes resultam de um modelo brasileiro de ensino de comunicação construído nas últimas sete décadas e que tem, em sua matriz pedagógica, certa singularidade que se projeta no panorama mundial.

Criamos uma via crítico-experimental mesclando o padrão europeu com o modelo americano, ou seja, o estudo teórico com a aprendizagem pragmática e, portanto, logramos uma via crítico-experimental de ensino e pesquisa. Daí vem a pergunta: o sistema é perfeito? Absolutamente não. Ele tem muitas fragilidades, ele deve ser melhorado e é isso que nós vamos fazer a partir dessas diretrizes (FÓRUM – DEPOIMENTO DE JOSÉ MARQUES DE MELO, 2014).

A declaração, exposta durante o fórum Diretrizes Nacionais Curso de Graduação de

Jornalismo, realizado na ECA/USP em 14 de fevereiro de 2014, reforça o propósito de que a

formação no novo contexto deve envolver os profissionais em questões de foro social, sem deixar de observar a reconfiguração dos meios. “O Jornalismo adquiriu maior complexidade, principalmente em função da convergência midiática e das transformações da sociedade. Precisamos imediatamente vencer a batalha pela inclusão educativa das maiorias incultas e

66 A íntegra da resolução pode ser acessada na internet pela página da FENAJ – Federação Nacional dos

Jornalistas. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/educacao/novas_diretrizes_curriculares_jornalismo.pdf>. Acesso em: 05 Ago. 2014.

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O grupo também foi integrado por Aldredo Vizeu, Carlos Chaparro, Eduardo Meditsch, Luiz Gonzaga Motta, Lucia Araújo, Sergio Mattos e Sonia Virgínia Moreira.

68 Informações adicionais podem ser encontradas no Cibermemorial Marques de Melo. Disponível em:

iletradas que povoam o território nacional” (Idem, Ibidem). Para Marques de Melo, esse deve ser um dos compromissos do Jornalismo.

Outro representante da comissão responsável por elaborar as diretrizes que esteve presente no fórum realizado na ECA/USP foi o Prof. Dr. Eduardo Meditsch, da UFSC. Na ocasião, ele declarou que a aprovação das matrizes curriculares representa uma oportunidade de aprimorar a formação de jornalistas, que devem ser capacitados para enfrentar os desafios da profissão nos mais diversos âmbitos. “Isso significa também uma mudança de rumos, uma quebra de paradigmas na maneira como a questão do ensino do Jornalismo tem sido levada no Brasil, [ensino] que tem problemas estruturais muito graves” (FÓRUM – DEPOIMENTO DE EDUARDO MEDITSCH, 2014).