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5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

5.3 DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL

5.3.5 Aspectos da Conservação de Solo e Percepção Ambiental

A partir da análise das informações emitidas pelos agricultores, foram identificados sete indicadores de Conservação do Solo, de acordo com a percepção do público entrevistado. Os indicadores foram classificados conforme a frequência de citação e o nível de percepção relativo, visualizado na Tabela 16.

Tabela 16: Classificação dos indicadores de Conservação do Solo mencionados pelos agricultores entrevistados

Indicador Frequência (%) Nível de Percepção (A) Alto (B) Baixo

Presença de Erosão (formas variáveis) 52 Alto

Relevo 10 Baixo

Práticas Mecânicas Recomendadas 14 Baixo

Alternativas Isoladas ou Aleatórias 26 Alto

Sistema de Plantio Direto 72 Alto

Cobertura Verde 28 Baixo

Importância C.S 82 Alto

Fonte: Dados de campo.

Conforme as informações apresentadas, a caracterização do modelo produtivo dos agricultores familiares do Município de Vitorino centra-se no cultivo de grãos (principalmente

Gráfico 5: Práticas de manejo do solo adotadas nas áreas manejadas de culturas anuais, pelos agricultores da Microbacia do Rio Vitorino

na soja, milho e feijão) mesclado com a pecuária leiteira. A presença deste rebanho bovino demonstra que a bovinocultura de leite é uma importante fonte de renda para as famílias do município que, em conjunto com a produção de grãos, formam o sistema ―grãos+leite‖, num sistema de integração lavoura-pecuária, caracterizando um sistema de produção existente.

Assim, a presença de expressivo rebanho bovino é um fator a ser ponderado no contexto local, além da questão econômica, a presença do rebanho pode ser atrelada à questão ambiental. Afinal, podemos pensar que os dejetos do rebanho podem ter duas diretrizes: quando não tendo um descarte de forma correta, pode gerar contaminar o meio ambiente; porém se bem conduzido pode ser útil e fonte para o manejo da fertilidade dos solos.

Quando questionados da existência de erosão em suas propriedades, 62% admitiram ter em um ou outro estado ou intensidade, demonstrando que o modelo de produção vigente é resiliente a readequações ambientais concordando quando comparado com o baixo nível de adoção de práticas mecânicas recomendadas agronomicamente de controle da erosão (14%). Além disso, um número maior de propriedades adotaram ou experimentaram práticas isoladas e aleatórias (26%), na maioria sem êxito conforme alguns relatos:

“Q7 – Fiz algumas caixas de retenção”;

“Q9 – Canalizei com pedras, como se fosse um dreno”;

“Q27 – Formou valetas em alguns locais, mas aos poucos vou colocando terra novamente”;

“Q24 – Contratei uma máquina e fomos abrindo buracos de contenção nas áreas mais irregulares”;

“Q37 – Todo ano após a colheita escarifico em alguns pontos pra aumentar a infiltração”;

Com base nessas informações, nota-se que 72% relataram que fazem uso do plantio direto como prática conservacionista, nas áreas de lavouras é uma prática incipiente pelos agricultores. Essa forma de manejo é desejável, pois o sistema plantio direto é tido, atualmente, como a principal forma de manejo do solo de forma conservacionista. Tendo como princípios o não revolvimento ou revolvimento mínimo do solo, a rotação de culturas e a cobertura permanente do solo, favorecendo o incremento dos teores de matéria orgânica do solo, infiltração das águas das chuvas e diminuição da erosão dos solos. Porém, as práticas de plantio em nível, rotação de culturas e uso de terraços não têm sido adotadas de forma complementar ao plantio direto em sua totalidade, o que pode tornar-se um ponto vulnerável em relação à qualidade do plantio direto executado pelos agricultores.

Quanto à prática do sistema plantio direto/SPD, foi observado que ocorre no município, exatamente como relatado por Bertol et al. (2016). Os autores têm o entendimento do emprego unicamente do SPD como estratégia para o controle da erosão hídrica, além de contrariar os esforços empreendidos nas ações de pesquisa e assistência técnica, e que contribuíram para uma melhoria ambiental considerável, tem favorecido o processo de erosão, se caracterizando como ineficiente se não adotada conjuntamente com demais.

No que se refere à cobertura vegetal, apenas 28% citaram como prática conservacionista, evidenciando, assim, a falta de compreensão das esferas que compõe um sistema de plantio direto de qualidade como, por exemplo, no relato dos agricultores 04 e 42:

“Q04 - Sempre deixo o solo coberto. Ajuda pra evitar a erosão”.

“Q42 – Nas áreas onde faço a silagem é mais difícil. Mas nas outras mantenho a palhada”.

Percebemos a necessidade de melhorar o processo de manejo de solo pela adoção do plantio direto, inclusive devido a pouca área com adoção de terraceamento, declividade das áreas e a citação pelos agricultores de ocorrência de erosão laminar em aproximadamente 52% das áreas manejadas. A conservação do solo deve ser compreendida como uma associação de métodos de manejo e de uso do solo, com a finalidade de preservá-lo das formas de degradação ocorridas por fatores antropogênicos ou naturais.

Na maioria das situações práticas, procura-se evitar a erosão, mas as técnicas conservacionistas vão além dessa preocupação. Busca-se, também, proteger o solo dos danos causados pela atividade agropecuária, como a compactação ou desagregação excessiva (NAIME, 2008). Essa afirmação pode ser evidenciada pelo relato do Agricultor 17 e 33:

“Q17 - "Se eu tivesse mais áreas não largava o gado. Isso iria ajudar".

“Q33 - “Precisamos cuidar da terra, deixar a cobertura, não largar o gado [...]”.

Observamos a escassez do público que admite o problema conservacionista de forma sistêmica e integrada, em que, na maioria dos relatos, mesmo nos mais positivos, ocorreu a adoção de apenas algumas medidas, trabalhadas de maneira pontual e isolada como observadas nas falas Q38 e Q47. Assim:

“Q38 - “Ainda mantenho na lavoura uma boa cobertura vegetal, algumas curvas de níveis e rebaixei os terraços. Mas, quando chove muito é possível perceber os problemas”.

Destacando que, nesse caso, provavelmente não estão sendo observados outros critérios de aptidão e uso agrícola do solo, e/ou as unidades hidrográficas de planejamento.

Já no Q47 o relato apresenta-se da seguinte maneira:

Q47 - “Tirei as curvas de níveis pra facilitar as operações. Minha conservação é feita por plantio direto e entendida como não revolvimento do solo”.

De forma geral podemos concluir que a percepção ambiental relacionada à importância da conservação do solo dos agricultores entrevistados é alta. Em relação a esse dado, 82% apontam ser importante conservar o solo, conforme seguem algumas declarações:

Q 18 - "Se cuidar da terra garantimos nosso lucro”.

Q29 – “Temos um bom clima, mas para boas colheitas o solo é mais importante". Q33 - "Não adianta colocar adubação e a água levar embora”.

Q 44 – “É muito importante conservar o solo. Sem as boas condições dele não produzimos direito”.

A associação por parte dos agricultores foi de apenas 14% cujas respostas aos processos erosivos foram relacionadas ao relevo de suas terras. Os agricultores identificam os solos localizados nas áreas de relevo que possuem menor declividade como as de menor susceptibilidade erosiva. Exemplificando:

Q02: “Não escorre água. A maioria do terreno é plano”.

Q8: “Não preciso colocar curvas de nível ou terraços, pois onde eu planto é „chato‟”.

Q35: “No geral não tenho erosão, pois as áreas são mais planas”.

Apesar de não ter sido abordada a relação direta dos processos erosivos aos tipos de solos presentes no município, estes se constituem em importantes indicadores de uso e manejo a serem considerados de acordo com suas aptidões específicas, que nos permitem fazer associações importantes. Nas áreas de relevo mais suave, ocorrem solos mais profundos, muito intemperizados, já nas áreas de relevo mais movimentado, os solos são normalmente menos desenvolvidos, menos profundos e com fertilidade natural alta (ALMEIDA, 2011).

Quanto ao nível geral de sensibilização ambiental dos agricultores de Vitorino, cabe ainda abordar, uma vez que este nível de conscientização ambiental está diretamente relacionado ao grau de percepção ambiental do mesmo, seu elevado estado identificado por meio do indicador da importância das práticas de CS (82%). Em contrapartida, mesmo com

este elevado estado de sensibilização, o nível geral do problema de CS também se demonstrou alto, denotando, dessa maneira, que somente a compreensão e sensibilização não foi suficiente para transformá-los em ações mitigadoras.

Normalmente, isso é explicado conforme Siqueira (2008), em razão de que os problemas ambientais são percebidos e interpretados de diferentes maneiras, uma vez que as pessoas encaram os problemas de acordo com as peculiaridades de suas percepções. Tais peculiaridades influenciam a percepção de determinados aspectos do ambiente em detrimento de outros problemas que, de fato, são ameaças imperceptíveis aos órgãos sensoriais.

Ainda para o autor, tanto o processo de mobilização dos atores quanto à conexão das aspirações políticas e coletivas, devem considerar que impactos ambientais são percebidos e interpretados de forma diferente pelas pessoas Tendo em vista que a percepção individual afeta a forma de encarar os problemas ambientais. Isso significa dizer que a comunidade como um todo pode perceber determinados impactos como sendo muito mais importantes que outros, que seriam, de fato, ameaças reais e, a partir disso, apresentar comportamentos singulares frente a sua postura.

Há sem dúvidas um descompasso eminente ao passo que a relação entre percepção e medidas efetivas de ação e controle sob o problema avaliado são divergentes. Como apresentado historicamente, ocorreu uma insistência governamental preocupada com as questões conservacionistas no estado do Paraná, principalmente à medida que o governo institui diretrizes socioambientais, sem que sejam realizadas ações de mobilização dos atores envolvidos. Tais diretrizes devem ser elaboradas, sobretudo ao se avaliar a cultura institucional e a percepção coletiva, para que se adotem estratégias que resultem maior eficácia na implantação das políticas no cenário real e maior efetividade no processo de educação ambiental junto ao público participante.