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O saneamento é um fator de suma importância para toda e qualquer cidade, o aumento da área ocupada pela população e o seu próprio crescimento exigem um nível mais complexo na gestão e organização da mesma, como exemplo do presente trabalho temos a cidade de Natal- RN, a qual se pretende ser a primeira cidade com 100% de esgotamento sanitário no país.

Ao observarmos o crescimento populacional da capital do Rio Grande do Norte (Gráfico 1), veremos que a população até a década de 1940 teve um aumento lento. No entanto, a partir desta década é possível notar um crescimento cada vez mais acelerado da população. No último Censo demográfico divulgado pelo IBGE a população era de 803.739 pessoas, mas segundo a estimativa para o ano de 2018 feita pelo órgão a cidade já conta com aproximadamente 877.640 pessoas.

Gráfico 1: Crescimento populacional em Natal-RN segundo os Censos demográficos de 1920 à 2010

Fonte: IBGE- Censo Demográfico

Ao analisarmos os dados cruzando as informações a respeito do crescimento da população com o histórico das ações que levaram a implementação e ampliação do macro saneamento urbano na cidade de Natal durante diversos períodos na história até os dias atuais, veremos a conexão existente entre eles. Porém, notamos um avanço desproporcional entre os dois,

0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 900000 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 Ano

Crescimento Populacional em Natal (RN) -

1920 a 2010

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estando o esgotamento muito para atrás em relação ao ritmo de crescimento da cidade e da sua população (Tabela 3).

Tabela 3: Relação entre o crescimento da população e a quantidade de cobertura do serviço de esgotamento na cidade de Natal-RN a partir da década de 70.

1970 1980 1990 2000 2010 População 270.127 428.721 606.681 709.536 803.739 Cobertura do serviço de esgotamento 11% 8% 20% 37% 37%

Fonte: IBGE; PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2015)

As ações que contribuíram para a implementação do sistema de esgotamento da cidade de Natal, como podemos observar na Tabela 4, tiveram avanço apenas em 1935 quando através do decreto 823 foi criada a comissão de saneamento de Natal, que abrangia os serviços de água e esgoto. Porém, antes disso, no início da fundação da cidade a água consumida pela população era obtida das cacimbas e do rio do Baldo, apenas em 1882, foi contratado o serviço de água encanada.

Após o decreto 823 de 1935, outras ações foram tomadas à respeito do saneamento, como a aprovação da criação da repartição de saneamento de Natal (1937), a criação do Departamento de Saneamento do Estado (DSE) em 1952, a transformação do DSE em Departamento de Água e Esgotamento em 1964 e por último a criação da CAERN – Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte em 1969, o órgão atua até hoje na prestação desses serviços no Estado.

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Tabela 4: Ações que contribuíram para a implementação do esgotamento sanitário da cidade de Natal-RN.

ANO AÇÕES

1700

A água utilizada provinha do rio do Baldo e de cacimbas cavadas ao pé das colinas;

1858-1872 O rio do baldo exigiu uma grande quantidade de investimento financeiro para continuar sendo fonte de água, devido a construção da ladeira do baldo;

1882

Contratação do serviço de água encanada com o dinamarquês Felipe Heinhardt;

1900 Renovado o contrato com a intendência municipal;

1910 O serviço de água foi arrendado à firma Melhoramentos de Natal;

1920 O serviço passou por várias mãos até o governo do Estado retomar o abastecimento para o benefício da população; 1935 O decreto 823 criou a comissão de Saneamento de Natal,

abrangendo os serviços de água e esgoto;

1937 Aprovada a criação da repartição de saneamento de Natal; 1952

Criado o Departamento de Saneamento do Estado (DSE)- responsável pela manutenção dos serviços de abastecimento de água e esgotamento.

1964 O DSE se transformou no Departamento de Água e Esgotamento.

1969 Criação da CAERN (Lei nº 3.724) Fonte: CASCUDO (1999); CAERN.

Dessa forma, a década de trinta, mais precisamente o seu final, pode ser considerado um marco temporal de avanço para a questão do esgotamento e como visto anteriormente existe uma conexão com o aumento da população. Na década de 1920, foi instituída a comissão de saneamento de Natal, responsável pelo projeto de implantação dos primeiros serviços de esgoto.

Segundo os dados obtidos, no final da década de 30, a cidade que contava com aproximadamente 75.000 hab. se concentrava na zona central da cidade, compreendendo os bairros de Santos Reis, Rocas, Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis, Tirol, Barro Vermelho e parte do Alecrim (Figura 9). A rede de esgoto

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era do tipo convencional, e os índices de cobertura do serviço de esgoto para a época eram muito diferentes da situação atual. Nesse período foram realizadas obras importantes, onde se destacam a estação elevatória na Ribeira e a estação depuradora do baldo.

Figura 9: Atendimento do serviço de esgotamento sanitário nos bairros de Natal na década de 30.

Fonte: Elaboração própria, 2019.

Segundo a Prefeitura Municipal do Natal (2015), quando a CAERN foi criada em 1969, a cobertura do serviço de esgotamento era de 11%. Até o final da década de 70, a cidade de Natal contava com três estações elevatórias que localizavam-se no bairro da Ribeira, no bairro das Rocas e a terceira do bairro de Tirol dentro da unidade militar (16º batalhão de infantaria motorizada). E, posteriormente, visando atender a coleta dos efluentes de hospitais e órgãos federais de saúde, foi implantado um trecho coletor na Av. Alexandrino de Alencar.

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Da década de 80 até o início da década de 90, a cobertura passou de 8% para 20% com a ampliação dos serviços de saneamento na zona leste da cidade, nos bairros das Rocas e Santos Reis e com a implantação da rede coletora em parte de algumas bacias que abrange os bairros das Quintas, Bom Pastor, Dix- Sept Rosado e Cidade da Esperança.

Do final dos anos 90 a 2000, houve a implantação do serviço de coleta e tratamento de esgotos em Ponta Negra, abrangendo a praia, a vila, o conjunto alagamar e parte do conjunto Ponta Negra. Também houve nesse período a implantação dos serviços de rede coletora de esgotos do conjunto Potilândia e do Centro Administrativo, além de parte de Mãe Luiza e Lagoa Nova.

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Tabela 5: Situação do serviço de Esgotamento ao longo dos anos na cidade de Natal-RN. Fim da década de 30 a 60 Até o final da década de 70

Final dos anos 80 e início dos anos

90

Final dos anos 90 a 2000 Rede de esgoto do tipo convencional Natal contava com 3 Estações Elevatórias: 1ª na Ribeira; 2ª nas Rocas; 3ª em Tirol (unidade militar) Implantado Sistema de Esgotamento Sanitário envolvendo grande

parte do bairro das Quintas, parte do bairro Nordeste, Dix-sept Rosado, Nossa Senhora de Nazaré, Cidade da Esperança, partes de Morro Branco, do Conj. Potilândia e do Centro Administrativo do RN, localizado em Lagoa Nova. Implantação do serviço de coleta e tratamento de esgotos em Ponta Negra Saneamento de parte dos bairros Tirol, Petrópolis e Alecrim. Posteriormente foi implantado um trecho coletor na Av. Alexandrino de Alencar para atender a coleta de efluentes de hospitais e órgãos Federais de saúde. Ampliação dos serviços de saneamento na zona leste da cidade, nos bairros das Rocas e Santos

Reis Implantação dos serviços de rede coletora de esgotos do conjunto Potilândia e do Centro Administrativo, além de parte de Mãe Luiza e Lagoa

Nova. Realização de obras importantes, como a estação elevatória na Ribeira e a estação depuradora do baldo. A cobertura do serviço de esgotamento era de 11% A cobertura passou de 8% para 20% A cobertura de saneamento ao longo 2000 permaneceu sem alteração, atingindo aproximadamente 37% da cidade

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Na Zona Norte, os dados fornecidos não apresentam décadas especificas para os aparelhos que lá estavam instalados antes das obras mais recentes, provavelmente devido a esta zona ter sido ocupada a menos tempo. O que foi constatado de infraestrutura de esgotamento foram quatro sistemas de tratamento em operação no Jardim Lola e em Igapó, e um em implantação no bairro da Redinha.

Em 2011, a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do sistema central, a ETE do Baldo, entrou em operação. A cobertura de saneamento ao longo 2000 permaneceu sem alteração, atingindo aproximadamente 37% da cidade. No ano de 2015, a CAERN, que conseguiu recursos para ampliar a rede de esgoto da cidade até chegar aos 100%, começaram as obras de ampliação.

Na Figura 10 vemos que a quantidade de bairros na cidade aumentou e, consequentemente, os bairros assistidos por algum tipo de serviço de esgotamento. No entanto, são, em sua maioria, atendidos parcialmente ou muito pouco. No caso da zona norte, que como já foi observado vem constantemente crescendo em população e oferta de serviços, o único bairro que tem acesso ao serviço é igapó e este ainda é atendido parcialmente pela rede.

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Figura 10: Mapa dos bairros atendidos pelo serviço de esgotamento na atualidade.

Fonte: Elaboração própria, 2019

De acordo com a Figura 11, disponibilizada pela Prefeitura Municipal do Natal (2015) no Plano Municipal de Saneamento Básico-PMSB, é possível ter uma visão mais completa do sistema de esgotamento sanitário. No mapa observamos de acordo com a ampliação da legenda (Figura 12) que a área ainda não é contemplada com o sistema é muito grande, em sua disposição a zona leste de Natal é totalmente saneada contrapondo as demais zonas.

É apresentado também na Figura 11, as ZPA’s existentes na cidade, os pontos de lançamento do esgoto tratado e as estações de tratamento de esgoto que já estão funcionando, as que já estão sendo construídas e as que se planeja construir, dentre as que já estão em construção são as estações de tratamento Jaguaribe, na zona norte, e a Guarapes, na zona oeste.

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Figura 11: Situação da rede de esgotamento sanitário na cidade de Natal-RN em 2015.

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Figura 12: Legenda ampliada do Mapa do Sistema de Esgotamento Sanitário.

Fonte: Prefeitura Municipal do Natal (2015).

Seguindo a divisão utilizada pela CAERN, foi constatado que quando começaram as obras os níveis de cobertura (Tabela 4) pelo sistema de esgotamento eram na zona Sul formada pelas Regiões Administrativas Sul, Leste e Oeste, de 55,60%, sendo a Zona Leste totalmente comtemplada pela cobertura de saneamento enquanto as outras zonas apresentam níveis muito baixos. Na Zona Norte, os níveis de cobertura são muito baixos, apenas 5,42%, atingindo apenas 1 bairro da região administrativa.

Tabela 6- Nível de cobertura do sistema de esgotamento sanitário de Natal por subsistema e unidade de receita.

Subsistema ou Unidade de Receita Nível de cobertura (%)

Regional Natal Sul (RNS) 55,60

Unidade de Receita Zona Sul (URZS) 35,66 Unidade de Receita Zona Leste (URZL) 100,0 Unidade de Receita Zona Oeste (URZO) 29,46

Regional Natal Norte (RNN) 5,42

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Segundo as informações obtidas pelo órgão, para ampliação do sistema de esgotamento na zona norte seriam implantadas 10 novas bacias, e ampliadas as duas bacias já existentes, também seria implantada uma ETE. A zona foi dividida em 11 bacias que integram o sistema de tratamento Jaguaribe (Figura 12) e beneficia os bairros Potengi, Nossa Srª da apresentação, Pajuçara, Lagoa Azul e Igapó.

Figura 13: Estação de Tratamento de Efluentes Jaguaribe margem esquerda do Rio Potengi, Zona Norte de Natal.

Fonte: Portal Tratamento de Água (2018)

Já na zona sul é previsto a ampliação de três bacias que fazem parte do sistema central que faz o tratamento na ETE do Baldo (Figura 14) e também a ampliação de cinco bacias que encaminharão os esgotos para o sistema de tratamento de esgoto Jundiaí/ Guarapes (a ser executado). Os bairros beneficiados pela ampliação são Quintas, Alecrim, Nordeste, Lagoa Nova, Nova Descoberta, Lagoa Seca, Nazaré, Cidade da Esperança, Cidade Jardim, Mirassol, Candelária, Neópolis, Ponta Negra, Capim Macio, Pitimbu e Cidade Satélite.

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Figura 14: Estação de Tratamento de Efluentes do Baldo na Zona Leste de Natal.

Fonte: Tribuna do Norte (2011)

Em 2017, segundo uma matéria do jornal Tribuna do Norte, no ano da publicação a CAERN já havia instalado por volta de 70 mil ramais na cidade, representando 61,4% dos 114 mil ramais previstos, porém apenas 3.173 estavam disponíveis para interligação com as residências. Os demais, em sua maior parte só poderiam ser ligados quando as obras das ETE’s do Jaguaribe e do Guarapes estivessem prontas.

Ainda de acordo com o jornal, algumas ruas dos bairros de Capim Macio, Lagoa Nova, Dix-Sept Rosado e Morro Branco, poderiam ligar seus ramais a nova rede de ETE’s do Baldo e de Ponta Negra. Na zona norte, por sua vez, não foi disponibilizada nenhuma rua pois não haviam ligações com as estações atuais. De acordo com os dados do Instituto Trata Brasil apenas 37,58% da população é atendida pela rede.

Em outra matéria, dessa vez do Portal Saneamento Básico de 2018, 74% da rede de esgoto já estava instalada. Na zona norte, já havia sido concluído 77% das obras correspondendo a 463,15 km de rede coletora e na zona sul 62% havia sido instalado. A previsão é seja instalado 900 km, até o momento da matéria em toda cidade haviam sido instalados 641 km da tubulação.

Às residências que ainda não podem ser ligadas a rede de coleta, a recomendação é que continuem sendo utilizadas as fossas sépticas até poderem fazer a ligação. No entanto, muitos optam pelas ligações clandestinas na rede

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que já foi instalada, na rede de drenagem ou diretamente na natureza, como pode ser observado, por exemplo, no Rio das Quintas (Figura 15) e no Passo da Pátria.

Figura 15: Poluição no Rio das Quintas, Natal-RN.

Fonte: Tribuna do Norte (2017).

Outro problema observado no processo de tratamento de esgoto é o lixo sólido retirado da rede por mês, que, de acordo com a Secretaria da Infraestrutura (2019) é aproximadamente 23 toneladas e quando acrescentada a quantidade de areia vinda de ligações clandestinas de água de chuva a rede esgoto, o número pode dobrar em alguns meses chegando a 50 toneladas.

Em decorrência disso, os descartes causam obstruções e podem levar a transbordamentos para a via ou para dentro das próprias casas, o que acaba ocasionando riscos à saúde dos moradores locais, além de perdas materiais.

De fato, o saneamento básico assim como o esgotamento sanitário são de fundamental importância na infraestrutura de uma cidade, mas a demora do crescimento da rede de coleta e tratamento de esgoto em relação ao aumento populacional e, consequentemente, do meio urbano, não condiz com a real necessidade que existe em relação ao serviço, o que afeta não só a população como também o meio ambiente.

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