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Na cidade de Natal, como vimos no capítulo anterior, aproximadamente 37% da cidade apresenta coleta através da rede de esgoto e esta situação se torna um problema quando atinge de forma prejudicial o meio ambiente e a população, através principalmente da qualidade das águas que levam a problemas ainda maiores a nível local.

No entanto, muito além da área de estudos que se limita a cidade de Natal, a problemática do saneamento e, consequentemente, da prestação do serviço de esgotamento sanitário é visivelmente percebido em todo território nacional e também, infelizmente, através das suas consequências negativas que afetam tanto o meio ambiente quanto a saúde da população.

A nível estadual, conforme o “Atlas Esgotos: Despoluição de Bacias Hidrográficas” da Agencia Nacional de Águas –ANA, o estado do Rio Grande do Norte é responsável pela geração de 80,17 mil metros cúbicos de esgoto por mês, dessa quantidade 37,79 mil metros cúbicos (47,13% do total) são descartados sem tratamento, ou seja, 37 milhões de litros lançados in natura no meio ambiente por mês. (SILVA, 2017)

Outros dados importantes apresentados por Silva (2017) no jornal Tribuna do Norte, foi que apenas 31% da população urbana é atendida pela rede de esgotamento, e desses são tratados somente 25%. Quanto as fossas sépticas utilizadas de forma individual para descarte dos efluentes, por mês somam 17,73 mil metros cúbicos, ou seja, representam 22,12% da carga total gerada no estado. É constatado também pelo jornal que 70% dos 5.570 municípios do país tratam, no máximo 30% dos esgotos produzidos.

Em nível nacional, conforme os dados disponibilizados pelo Instituto Trata Brasil, 52,36% da população brasileira tem acesso a coleta de esgoto e desses apenas 45,1% são tratados no país. São quase 100 milhões de brasileiros sem acesso ao esgotamento sanitário, 13 milhões de crianças e adolescente não tem acesso a saneamento básico e 3,1% dessas não possuem se quer sanitário em casa, uma situação ainda crítica que permanece sendo negligenciada, quando consideramos os avanços da sociedade.

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Ainda de acordo com o instituto, a média do tratamento de esgoto das 100 maiores cidades brasileiras é de 50,26% e destas apenas 10 tratam mais de 80%. Quando analisamos a situação do esgotamento no contexto regional (Tabela 7) vemos que as regiões norte e nordeste são as que apresentam os menores percentuais de coleta e tratamento e a região Sudeste é a que têm os percentuais mais altos.

Tabela 7: Percentual de esgoto coletado e esgoto tratado por região.

REGIÃO ESGOTO COLETADO

(%) ESGOTO TRATADO (%) Norte 10,24 22,58 Nordeste 26,87 34,73 Sudeste 78,56 50,39 Sul 43,93 44,93 Centro-Oeste 53,88 52,02

Fonte: Trata Brasil.

Em 1990, segundo a Trata Brasil, 17% dos brasileiros não tinham acesso a banheiro, nos dias de hoje apenas 2% ainda não tem acesso a esse tipo de estrutura. Quando comparamos a porcentagem da década de 90 e hoje a quantidade parece ser muito menor, mas devemos considerar que o aumento da população que já chega a 208,4 milhões de pessoas segundo o IBGE, dessas, 4 milhões ainda não possuem banheiro, ou seja, não usufruem do seu direito ao acesso ao saneamento básico.

Nascimento (2019), aborda que em dados da Munic (Pesquisa de Informações Básicas Municipais) não é estabelecido plano de saneamento em um terço dos municípios brasileiros e também que 70% das pessoas que são afetadas pela falta de saneamento são de baixa renda domiciliar, ou seja, as populações pobres são as que se encontram em situação de maior vulnerabilidade, e isso só vem se agravando já que segundo o IBGE houve um salto de 2 milhões de pessoas a mais vivendo em situação de pobreza de 2017 para 2018.

Acontece que a luta por saneamento básico é um assunto de longas datas, desde a década de 1930 a constituição prevê que os municípios são os

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titulares dos serviços de saneamento, mas de lá pra cá sempre estiveram sendo propostas privatizações para o setor, e fruto disso foi a fundação de diversas instituições e outras entidades do setor de saneamento como a Frente Nacional pelo Saneamento Básico (FNSA). Somente no governo Lula foi tirado da agenda do país as privatizações do saneamento, e foi investido bastante dinheiro no setor, favorecendo o seu crescimento, assim como também foi criada a lei 11.445/2007 para nortear as ações de saneamento no Brasil.

No cenário recente, com as diversas tensões políticas que o Brasil vem passando, novamente o setor do saneamento passou a ser alvo do governo ao entrar novamente na agenda de privatizações, a ação representa uma ameaça para a meta de universalização do serviço e, consequentemente, para o meio e para a população que não tem acesso ao saneamento.

Ora, com 55 milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, a privatização representa prejuízo e condenação aos mais pobres, e ainda além dos prejuízos a saúde de milhões de pessoas, privatizar o setor de saneamento significa também a condenação do meio ambiente, já que esgotos e lixo não coletado e tratado são responsáveis pela poluição de rios, córregos e praias. (NASCIMENTO, 2019).

No mundo, os dados disponibilizados pela Trata Brasil mostram que desde 1990 2,1 bilhões de pessoas passaram a ter acesso ao saneamento, mas ainda são 2,4 bilhões de pessoas que ainda vivem sem saneamento de qualidade. Apesar dessa situação, entre 2000 e 2015 houve um crescimento em relação ao acesso ao serviço de saneamento básico, que passou de 59% para 68%, percentual menor do que o que era esperado pela ODM.

É de fato uma problemática não apenas local como também atinge o mundo, mas encontra-se em estado mais urgente em países em desenvolvimento e nos subdesenvolvidos. Assim, seja a níveis nacionais, seja a níveis regionais, estaduais, ou até mesmo mundiais, o que vemos é um direito que deveria ser garantido a todo cidadão para uma vida digna não é fornecido ainda a muitos, sendo a universalização do saneamento até agora apenas uma realidade ainda distante principalmente nos países em desenvolvimento como o Brasil.

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Diante desta situação, a percepção do problema de saneamento nas diferentes dimensões espaciais, permite os seguintes questionamentos: como são categorizados por relevância os problemas ambientais? Será que não estamos dando mais relevância a questões globais por serem maiores e estamos esquecendo de cuidar dos problemas particulares de cada local?

De acordo com Mira (2005), a investigação desse tratamento diferente para questões ambientais globais e locais, de certa forma impulsionados pelos meios de comunicação e grupos ecologistas, mostram a inexistência de coordenação entre essas diferentes dimensões. O fato é comprovado na pesquisa de UZZELL (2000) onde se é demonstrado que as pessoas veem os problemas ambientais com mais seriedade quanto mais longe estiverem, tal fenômeno foi denominado pelo autor como “Hipermetropia Ambiental”.

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