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5. TURISMO NÁUTICO DE PASSAGEIROS: CRUZEIRO MARÍTIMO

5.4 Aspectos Econômicos e Sociais do Cruzeiro Marítimo

Uma vez que o desenvolvimento deve constituir a busca do crescimento econômico nos limites da preservação do meio ambiente, aliado ao desenvolvimento social, torna-se imprescindível analisar a atividade de turismo náutico (cruzeiro marítimo) sobre esse crivo. O desenvolvimento de qualquer atividade econômica que aglutine esses três aspectos é um desafio, mas necessário, sob o ponto de vista ambiental. E, neste sentido, Capra afirma que:

O principal desafio deste século – para os cientistas sociais, os cientistas da natureza e todas as pessoas – será a construção de comunidades ecologicamente sustentáveis, organizadas de tal modo que suas tecnologias e instituições sociais – suas estruturas materiais e sociais – não prejudiquem a capacidade intrínseca da natureza de sustentar a vida. 310

No aspecto econômico ressalta-se que, além de proporcionar lazer à população demandante, todo segmento turístico traz inúmeros impactos econômicos para a região onde está sendo implementado, impactos tanto positivos como negativos.

O emprego é o setor mais beneficiado pela atividade de cruzeiros marítimos no Brasil. Conforme dados da ABREMAR (2012), a estimativa é de que, para cada US$7 mil (sete mil dólares) deixados no país, abre-se um novo posto de trabalho.311

De acordo com a ABREMAR, além dos empregos em escritórios regionais das operadoras de vendas, marketing e atendimento a clientes dos cruzeiros marítimos, são gerados postos de trabalho durante toda a temporada. Em especial nos terminais

310 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável. CIPOLLA, Marcelo

Brandão, tradução. São Paulo: Cultrex, 2005. p. 17.

311 SOBRAL. Eryka Fernanda Miranda Sobral. Impacto Econômico nos setores produtivos. Op. Cit. p.

portuários e na cidade como um todo (comércio, bares, restaurantes, receptivo, transporte, souvenirs e atrativos turísticos em geral), além dos navios que, por vezes, precisam repor muitos dos insumos necessários para as suas operações, movimentando toda a cadeia de serviços locais. Ressalta-se, ainda, que o ambiente do navio favorece o intercâmbio cultural com a tripulação de diferentes nacionalidades, a qualificação profissional e oportunidade de trabalho no exterior.312

Na temporada 2010/2011 os cruzeiros marítimos pelo Brasil geraram, aproximadamente, 20.638 postos de trabalho na economia brasileira, sendo 5.603 tripulantes dos navios e 15.035 gerados de forma direta e indireta pelos gastos dos turistas nas cidades portuárias e na cadeia produtiva de apoio ao setor.313

Outro impacto positivo importante é a alavancagem da economia local, gerada pelo movimento de pessoas nos destinos. A ABREMAR aponta que a temporada 2010/2011 contou com 20 navios, que transportaram 792.752 cruzeiristas, sendo 693.723 brasileiros e 99.029 estrangeiros. Esses números comprovam que a atividade contribui para o turismo interno e como também para a entrada de turistas estrangeiros no País. 314

A ABREMAR identificou que os impactos totais (diretos e indiretos dos armadores e dos cruzeiristas) foram de R$1,3 bilhão, sendo R$ 791,6 milhões gerados pelos gastos dos armadores com compras de suprimentos, custos portuários e combustíveis e R$ 522,5 milhões gerados pelos gastos dos cruzeiristas nos portos de embarque/desembarque e de trânsito, na temporada marítima de 2010/2011. Os setores que mais se beneficiaram pelos gastos dos cruzeiristas e tripulantes no Brasil foram o de comércio varejista e o de alimentos e bebidas. Dos R$ 522,5 milhões gastos na economia local, R$ 172,6, foram gastos na atividade comércio varejista e R$ 155,1 milhões, aproximadamente 30% dos gastos totais, foram direcionados ao setor de alimentos e bebidas, com aumento de vendas de até 40% no comércio local.315

Como pondera Eryka Sobral:

Desse modo, aumenta a renda no destino turístico, ocorrendo uma espécie de exportação invisível na economia nacional, em que, os consumidores e não a mercadoria é que se deslocam. Permitindo com tal transição, muitas vezes, uma redistribuição social da renda, de regiões mais desenvolvidas para menos desenvolvidas.

312 ABREMAR – Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas. Cruzeiros Marítimos. Op. Cit.

313 Ibidem. 314 Ibidem. 315 Ibidem.

A atividade de cruzeiros marítimos torna-se, igualmente, responsável por proporcionar o chamado efeito multiplicador, que ocorre devido ser essa atividade constituída de uma gama de serviços, que possuem, por sua vez, uma grande variedade de fornecedores. E é dessa forma que se torna possível identificar neste segmento do turismo verdadeiramente um efeito multiplicador seccionado em cinco características: multiplicador de renda, do emprego, do produto, de importações e de impostos, que geram impactos diretos, indiretos e induzidos.316

Eryka Sobral esclarece que:

Pela ótica do chamado efeito multiplicador de renda, os impactos caracterizam-se pelos seguintes aspectos:

Diretos: gerados a partir das despesas locais nos portos de embarque/desembarque, através dos cruzeiristas e tripulantes, impactando os setores locais de passeios turísticos, alimentação e bebidas, transporte e souvenires (lembranças ou presentes em geral).

Indiretos: por necessitarem de fornecedores, os cruzeiros, por via de sua cadeia de compras em bens e serviços demandam e geram renda em outros setores da economia. Dentre seus insumos estão: compras de suprimentos, que se dividem em corporativos, quando envolve material de escritório, computadores etc.; compras técnicas, que envolvem peças de motor, tapetes etc.; compras de hotel, demandando alimentos, bebidas e outros insumos. Além desses, despesas com combustível, serviços de atracagem, impostos (como taxas portuárias), empregados e entre outros.

Induzidos: representados pela série de gastos originados das remunerações dos empregados, seja propriamente na área turística ou outra do segmento comercial.

Contudo, através do que afirma Dias (2005) apud Pinho (2011) sobre o turismo, pode-se concluir que quando um cruzeirista injeta fundos na economia de um destino, ocorre um efeito econômico muito maior do que a quantia gasta inicialmente, e assim, este efeito passa a dinamizar a economia, promovendo o crescimento de diversos outros setores que não estão diretamente ligados a ele.

Entre as oportunidades que se encontram na atividade de turismo náutico, citam-se: promoção dos destinos turísticos, geração de postos de trabalho, movimentação da cadeia de suprimentos e serviços e expansão de nicho de mercado.

Um possível efeito econômico negativo que pode ser identificado nos cruzeiros marítimos é a empregabilidade sazonal, pois se trata de um segmento turístico que ocorre em períodos temporários.

316 SOBRAL. Eryka Fernanda Miranda Sobral. Impacto Econômico nos setores produtivos. Op. Cit. p.

Assim, grande é o emprego temporário que gera nas cidades portuárias, e o efeito sobre isso é o desestímulo ao trabalho tradicional, por remunerar relativamente menos que a atividade ligada ao turismo.317

Outro impacto negativo que pode ser identificado é a priorização do investimento local em infraestrutura turística, porquanto otimista com os resultados que podem surtir através da atividade turística. Dessa maneira, a necessidade de melhorias e de construção de equipamentos turísticos faz com que o investimento em algumas necessidades fundamentais para a região sejam tratados sem a devida urgência.318

Como barreiras ao impulso da atividade de turismo marítimo, podem ser citados: precariedade da infraestrutura portuária, pois o sistema portuário necessita de intervenções e investimentos públicos e privados, especialmente nos terminais de passageiros; elevadas taxas operacionais praticadas pelos portos; burocracia na administração pública com a existência de diferentes agentes envolvidos na operação, com suas respectivas competências e atribuições, que torna o processo mais custoso, lento e burocrático.

De acordo com a ABREMAR, os gastos dos armadores incluem tarifas portuárias, impostos, compras de suprimentos, combustível, água, entre outros. Já os gastos dos cruzeiristas e tripulantes, nos portos de embarque/ desembarque e trânsito, englobam compra de passeios turísticos, alimentos e bebidas, transporte, souvenir e presentes em geral.319

Mesmo elencando impactos positivos e negativos de forma geral que devem ser sempre analisados e ponderados em casos concretos, os Eryka Sobral, comenta:

Como se pode observar em toda a conjuntura explanada até então, os impactos positivos são os que se sobressaem, na prática, com relação aos negativos e isso é o que dinamiza o setor turismo na economia e o que pode explicar o crescente desejo do segmento cruzeiros marítimos por algumas localidades. Cabe, portanto, às autoridades locais cautela na expansão dos insumos à atividade, direcionando e não sendo direcionado por este crescimento. 320

317 SOBRAL. Eryka Fernanda Miranda Sobral. Impacto Econômico nos setores produtivos. Op. Cit. p.

352.

318 SOBRAL. Eryka Fernanda Miranda Sobral. Impacto Econômico nos setores produtivos. Op. Cit. p.

353.

319 ABREMAR – Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas. Cruzeiros Marítimos. Op. Cit.

320 SOBRAL. Eryka Fernanda Miranda Sobral. Impacto Econômico nos setores produtivos. Op. Cit. p.

Como o presente estudo é desenvolvido com base em um estudo de caso, especificamente na atividade de turismo náutico com destino a Fernando de Noronha, todos esses aspectos econômicos serão abordados tendo como marco a temporada marítima de 2012, período este objeto de estudo ambiental.

5.5 Aspectos Ecológicos do Cruzeiro Marítimo e as Normas de Prevenção de