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4. A CRIAÇÃO E A PROTEÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

4.4 Caracterização do Arquipélago de Fernando de Noronha como Polo

A procura do turismo no arquipélago Fernando de Noronha ocorre porque o potencial desse arquipélago como polo turístico é incontestável pelo fato de ser detentor de riquezas naturais e belezas cênicas exuberantes, as quais se encontram localizadas e protegidas nas unidades de conservação lá implantadas (um PARNMA e uma APA).

A geodiversidade da paisagem, o clima agradável, o espetáculo dos golfinhos, as tartarugas marinhas e as belas praias constituem grandes atrativos turísticos. As limitações impostas ao turismo e a vigilância exercida pelos fiscais do ICMBio é uma das garantias de preservação ambiental da biodiversidade e da geodiversidade local.253

A atividade turística está prevista no Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) para algumas categorias de unidades de conservação, como é o caso dos Parques Nacionais e das Áreas de Proteção Ambiental, espaços naturais protegidos que existem em Fernando de Noronha.

Os principais pontos turísticos do arquipélago encontram-se situados no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, unidade de conservação federal de proteção integral onde é consentida, segundo a Lei do SNUC, a visitação controlada e fiscalizada para recreação e turismo ecológico, em algumas partes de sua área. Esse Parque abrange área terrestre e marinha, ocupando a maior área do arquipélago, ora administrado pelo ICMBio.

252 BRASIL. Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental – FN- Resumo Executivo – Fase 1. 253 CASTRO, J. W. A. Ilhas oceânicas da Trindade e Fernando de Noronha. Brasil: Uma visão da

A visitação ao PARNAMAR-FN pode ser realizada por meio de caminhadas, utilizando veículos ou barco, sendo acessíveis aos turistas os seguintes atrativos: mirantes, em locais elevados que possibilitam um amplo e deslumbrante panorama do arquipélago; praias, com locais apropriados para mergulho, onde se pode apreciar a grandeza e beleza da fauna e flora marinhas; trilhas, cujas caminhadas de cunho ecológico são orientadas por guias que repassam informações sobre o meio ambiente visitado, constituindo um trabalho de educação ambiental ao ar livre, tudo isso em locais detentores de vegetações cercadas de morros, que constituem traços característicos da ilha de Fernando de Noronha.

Como enfatizado acima, além do PARNAMAR-FN o arquipélago de Fernando de Noronha possui outra unidade de conservação federal, a Área de Proteção Ambiental, que contempla a parte do arquipélago não protegida pelo Parque Nacional Marinho, ou seja, os 30% (trinta por cento) restantes. Na APA-FN onde estão localizadas as moradias e as infraestruturas de hotelaria, comércio, serviços públicos, entre outras, além de constituir essa unidade de conservação a zona de amortecimento

do PARNAMAR-FN. 254

De acordo com Plano de Manejo da APA-FN255 são objetivos específicos de manejo dessa unidade de conservação, entre outros:

Criar normas para práticas de mergulho livre e autônomo, que assegurem a utilização adequada dos ambientes marinhos na APA, de acordo com sua capacidade de suporte.

Realizar estudo completo e atualizado sobre a capacidade de suporte da APA.

Promover a instalação e a manutenção de trilhas, sinalização e quiosques, dentre outros equipamentos necessários à estruturação dos roteiros de uso público da APA.

Apoiar a ADEFN no controle do número de cruzeiros marítimos e fiscalização dos procedimentos de manutenção dos navios ancorados do embarque-desembarque e das atividades turísticas realizadas pelos passageiros na ilha, principalmente durante períodos de alta estação. (Grifo

nosso).

Participar do processo de padronização da divulgação do produto “Fernando de Noronha” e o comprometimento das operadoras e agências de viagem com o desenvolvimento sustentável da APA.

Atualizar e manter um Banco de Dados – SIG como suporte para o planejamento e monitoramento contínuo da APA.

Promover a conduta consciente dos turistas, por meio da inserção de temas sobre as unidades de conservação (APA e PARNA) no ciclo de palestras realizadas no Centro de Visitantes do IBAMA/TAMAR na UC, de modo a servir como orientação institucional e comunitária, indicando as ações e restrições necessárias ao seu manejo. Apesar da multiplicidade de

254 BRASIL. Resumo Executivo - Plano de Manejo, Fase 1, APA de Fernando de Noronha – Rocas – São

Pedro e São Paulo.

órgãos e entidades aparentemente afetar a proteção e manejo da APA, devido às iniciais dificuldades de articulação e coordenação, deve-se encarar e promover tal multiplicidade, pois da soma de esforços poderão ser obtidos melhores resultados.

As normas são definidas de forma difusa para toda a UC, mas também de acordo com áreas específicas e com as zonas delimitadas pelo Zoneamento.

As atividades e empreendimentos que são proibidos nessa categoria de unidade de conservação encontram-se assinaladas na Lei n.º 6.902/81, de 27 de abril de 1981256, e no Decreto de criação da APA-FN, não se enquadrando, entre elas, o turismo. Averigua-se que a atividade turística pode perfeitamente ser desenvolvida dentro da área da unidade de conservação, pois tem sua previsão e disciplinamento previstos no Plano de Manejo da APA-FN.

Conforme prevê o Plano de Manejo da APA, há um zoneamento da unidade de conservação, dividido em dez zonas. Na Zona de Recreação Marinha, adequado para atividade turística, contígua à costa, os atrativos naturais constituem um dos principais elementos de beleza cênica da APA. Nesta Zona podem ser desenvolvidas atividades recreativas marinhas e pesca artesanal, respeitando-se os locais de alimentação e reprodução de tartarugas, de passagem de golfinhos e baleias, de reprodução de tubarões e de maior densidade de peixes e corais, na faixa entre a Baia de Santo Antônio e a Cacimba do Padre.

Outra zona com vocação turística da APA-FN é a Zona Histórico-cultural, onde são encontrados sítios arqueológicos e o centro histórico, bem ainda a Zona Urbana, dispondo de infraestrutura consolidada, de uso residencial, comercial, institucional, serviços, lazer etc.

O Plano de Manejo do PARNAMAR-FN257, no zoneamento estabelecido para o uso das respectivas áreas, prevê, na Zona de Uso Extensivo, o acesso e facilidades para fins educativos e recreativos. Na mencionada Zona estão localizados, na parte terrestre, os mirantes, trilhas e a praia do Leão e, na parte oceânica, áreas de mergulho.

Diante do exposto, pode-se deduzir que, a despeito de a finalidade essencial das unidades de conservação federais implantadas no arquipélago de Fernando de Noronha – PARNAMAR e a APA-FN – seja conservar seus recursos naturais, é

256 BRASIL. Lei n.º 6.902, de 27 de abril de 1981 – Dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas, Áreas

de Proteção Ambiental e dá outras providências.

257 BRASIL. Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.

possível, nas áreas em análise, o exercício de atividades econômicas sustentáveis, a exemplo do turismo ecológico, desde que observadas à capacidade de suporte do ambiente e as normas que disciplinam o processo de gestão desses espaços, especialmente protegidos pela legislação brasileira.

Para que possa ser identificada a capacidade dessas áreas, em face das especialidades do arquipélago em explanação, o governo do Estado de Pernambuco, através do Instituto de Administração e Tecnologia, em 2001, elaborou o Plano de Gestão do Arquipélago de Fernando de Noronha Ecoturismo e Desenvolvimento Sustentável, objetivando garantir as condições de exploração sustentável de sua principal atividade econômica, qual seja o turismo. 258

O aludido Plano, inclusive, arremata que a atividade turística de Fernando de Noronha deve atender às características do ecoturismo dentro de uma visão de desenvolvimento sustentável, em busca da melhoria da qualidade de vida da comunidade local.

A expressão ecoturismo defende a atividade de mínimo impacto, onde o turista, igualmente, seja responsável pelo ambiente que visita. A ideia do ecoturismo gira em torno de três elementos: desenvolvimento sustentável, educação ambiental e envolvimento das comunidades locais. Nesse sentido a Organização Mundial do Turismo (OMT), em 2002, definiu ecoturismo como:

Todas as formas de turismo em que a motivação principal do turista é a observação e apreciação da natureza, de forma a contribuir para a sua preservação e minimizar os impactos negativos no meio ambiente natural e sociocultural onde se desenvolve.259

Resta, portanto, evidenciado que depois da implantação do PARNAMAR- FN e da APA-FN, pelo governo federal, somada a criação do Distrito Estadual de Fernando de Noronha, pelo governo de Pernambuco, que disciplinou, por meio da expedição de lei específica, a ordenação do Distrito, restou acentuada a imperiosa necessidade de preservar os bens ambientais do arquipélago e, ao mesmo tempo, a importância de promover o turismo local.

258 BRASIL. Plano de Gestão do Arquipélago de Fernando de Noronha: ecoturismo e

desenvolvimento sustentável. (Relatório final). Recife: Instituto de Administração e Tecnologia (ADM&TEC), 2001.

259 OMT. Organização Mundial do Turismo, 2002. Declaração de Ecoturismo de

Quebec. Disponível em <http://www.world-

A abordagem do turismo no arquipélago repercutiu positivamente na seara privada, principalmente na sociedade local, com o incremento da economia, que passou a desenvolver ações direcionadas para o turismo, como instalação de pousadas, restaurantes, empresas de turismo e, consequentemente, a venda de pacotes turísticos com destino àquele arquipélago.

Nesse contexto, o cruzeiro marítimo é um segmento da atividade turística atraente, em função de a própria embarcação constituir um dos atrativos, motivador do deslocamento do cruzeirista.

A prática desse tipo de turismo, que está em plena expansão em todo o mundo, no Brasil tem um grande diferencial, haja vista o país apresentar extraordinárias condições naturais favoráveis à realização de cruzeiros, tendo um amplo litoral, com mais de 07 (sete) mil quilômetros, banhado pelo oceano Atlântico, possuir um clima tropical e uma paisagem natural esplendorosa. 260

Afora esses aspectos, a viagem de cruzeiro marítimo ao arquipélago de Fernando de Noronha permite aos cruzeiristas usufruir das vantagens oferecidas por essa modalidade turística. Soma-se a isso, o fato de o turista poder conhecer, em escalas do itinerário do passeio oferecido, outros pontos turísticos, como Recife, Natal e Fortaleza, sem precisar se hospedar nos lugares visitados.

Portanto, a atividade de cruzeiro marítimo representa um segmento significativo para o desenvolvimento econômico e social do país, com destaque ao arquipélago de Fernando de Noronha que tem no turismo sustentável uma das maiores rendas aos ilhéus, estimulando os serviços de transporte, alimentação, guias locais, artesanatos, entre outros.

Sob o ponto de vista ambiental, não há dúvida que o turismo realizado por meio de cruzeiros marítimos representa um instrumento de estímulo à compreensão dos turistas sobre a importância de contribuir para a preservação dos recursos naturais e culturais da comunidade visitada, haja vista que a existência destes bens ambientais constitui o elemento motivador do passeio turístico.

Feitas essa considerações sobre a viabilidade ambiental do turismo no arquipélago de Fernando de Noronha, demonstrando não haver incompatibilidade com a legislação protetoras das duas unidades de conservação lá implantadas nem com a as

260 SAAB, W.G.L.; GIMENEZ, L.C.P.; RIBEIRO, R.M. Supermercados no Brasil: O Movimento das

normas disciplinadoras da administração daquele Distrito Estadual, passa-se a tecer algumas considerações sobre a atividade de cruzeiro marítimo, como fator de desenvolvimento econômico, haja vista que é esse tipo de transporte de viagem que, entre outros, conduz turistas a Fernando de Noronha, o qual constitui alvo de atenção deste trabalho.