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5. TURISMO NÁUTICO DE PASSAGEIROS: CRUZEIRO MARÍTIMO

5.3 Aspectos Legais da Atividade de Cruzeiro Marítimo

Ressalta que, diferente do transporte de cargas, no transporte marítimo de passageiros em águas marítimas a Antaq não regulamenta299 essa atividade, como já esclarecido anteriormente.

Desta forma, o turismo marítimo de passageiros prescinde de autorização da Antaq. Assim, entre os marcos legais dessa atividade de turismo mencionam-se, primeiramente no que tange à prestação de serviços turísticos de modo geral, a aplicação de alguns dispositivos legais pertinentes a meios de hospedagem, operação e agenciamento turístico, transporte, eventos, entre outros.

297 BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo náutico: orientações básicas. Op. Cit. p. 16. 298 Ibidem. p. 17.

299 Regulação não se confunde com regulamentação. A primeira pode ser entendida, de acordo com Maria

Silvia Zanella Di Pietro, no enfoque econômico como o conjunto de regras de conduta e de controle da atividade privada do Estado, com a finalidade de estabelecer o funcionamento equilibrado do mercado. E, no enfoque jurídico, conjunto de regras de conduta e de controle da atividade econômica pública e privada e das atividades sociais não exclusivas do Estado, com a finalidade de proteger o interesse público. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Função social da propriedade pública. In Luiz Guilherme da Costa Wagner Júnior. (Org.). Estudos em homenagem ao professor Adilson Abreu Dallari. 1 ed. Belo Horizonte/MG: Del Rey, 2003, v. 1, p. 385/408. p. 209.

De acordo com o Ministério do Turismo, entre outras obrigações as empresas devem realizar o cadastramento no Ministério do Turismo, que se encontra disponível no endereço eletrônico do MTur: www.cadastur.turismo.gov.br.300

O CADASTUR é o Sistema de Cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor do turismo, que é executado pelo Ministério do Turismo, em parceria com os órgãos oficiais de turismo nos 26 (vinte e seis) Estados do Brasil e no distrito federal, e permite o acesso a diferentes dados sobre os prestadores de serviços turísticos cadastrados. 301

Ainda, as relações de consumo na área de turismo são protegidas pela Constituição Brasileira e regidas pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990), que estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social.302

Há a atuação direta da Autoridade Marítima, a Diretoria dos Portos e Costas, através das Normas da Autoridade Marítima (NORMAM), de acordo com a Lei n.º 9.537/97. A mencionada Lei dispõe que são atribuições da autoridade marítima elaborar normas para o tráfego e permanência das embarcações em águas nacionais, bem como sua entrada e saída de portos, atracadouros, fundeadouros e marinas (art. 4º).

Assim, destaca-se a NORMAM n.º 03, de 26 de maio de 2003, que trata, das dos amadores, embarcações de esporte e/ou recreio e para cadastramento e funcionamento das marinas, clubes e entidades desportivas náuticas.

De acordo com o NORMAM retro, compete à Diretoria de Portos e Costas (DPC) estabelecer as normas de tráfego e permanência nas águas nacionais para as embarcações de esporte e/ou recreio, sendo atribuição das Capitanias dos Portos a fiscalização do tráfego aquaviário, nos aspectos relativos à segurança da navegação, à salvaguarda da vida humana e à prevenção da poluição ambiental.303

Essa mesma norma jurídica classifica a embarcação de acordo com suas características e emprego previsto, da seguinte maneira: para navegação interior, isto é, aquela realizada em águas consideradas abrigadas, dentro dos limites estabelecidos pela capitania local para esse tipo de navegação; e para navegação de mar aberto, a que é realizada em águas marítimas consideradas desabrigadas.

300 BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo náutico: orientações básicas. Op. Cit. p. 20.

301 BRASIL. CADASTUR. Disponível em:< http://cadastur.turismo.gov.br/cadastur/index.action>.

Acesso em 16 out. 2011.

302 BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo náutico: orientações básicas. Op. Cit. p. 25.

303 BRASIL. NORMAM-03. Disponível em: <https://www.dpc.mar.mil.br/normam/N_03/N_03.htm>.

De acordo com o tipo de embarcação, a NORMAM n.º 03/2003, divide em: balsa, barcaça, bote, chato, escuna, flutuante, hovercraft, jangada, lancha, saveiro, traineira, veleiro, iate, moto aquática e similares e demais embarcações.

É exatamente essa NORMAM que determina os procedimentos que devem ser seguidos pelas embarcações de turismo náutico. Portanto, essas devem observar os seguintes procedimentos:

1. Inscrição na Capitania dos Portos, suas agências ou delegacias, entretanto as embarcações miúdas sem propulsão e os dispositivos flutuantes destinados a serem rebocados, com até dez metros de comprimento, estão dispensados da inscrição.

2. Registro no Tribunal Marítimo sempre a arqueação bruta da embarcação exceder a 100 (cem) toneladas, dispensadas aquelas de médio porte estão de registro no Tribunal Marítimo.

3. Contratação pelo armador ou proprietário de seguro obrigatório de danos pessoais causados por embarcações ou por suas cargas (DPEM).

Por sua vez, a NORMAM n.º 04, de 30 de abril de 2003, estabelece as regras da Autoridade Marítima para operação de embarcações estrangeiras em águas jurisdicionais brasileiras e dos procedimentos para elas obterem o direito de prestação de serviços de turismo náutico, com exceção daquelas empregadas em esporte e/ou recreio.

De acordo com a mencionada Norma da Autoridade Marítima os requisitos gerais para operação de transporte de passageiros na navegação em mar aberto, são: a) parecer favorável do órgão federal responsável pela atividade de turismo; b) emissões do Atestado de Inscrição Temporária (AIT), do Cartão de Tripulação de Segurança (CTS), e da Declaração de Conformidade para Operar em águas brasileiras; e c) comprovação da aquisição do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por suas Cargas (DPEM).

Por sua vez, a documentação necessária para operação de transporte de passageiros na navegação interior, são: a) Certificado de Autorização de Afretamento (CAA); b) Atestado de Inscrição Temporária – AIT; c) Cartão de Tripulação de Segurança – CTS; e d) Declaração de Conformidade para Operar em águas brasileiras.

Compete ao órgão federal responsável pelo controle das atividades de transporte marítimo interior, a Antaq, mediante a emissão do CAA, autorizar o

afretamento da embarcação estrangeira para efetuar o transporte de passageiros na navegação interior.

A NORMAM n.º 04/2003 também estabelece que para embarcações com arqueação bruta (AB) inferior a 500, a solicitação de Inscrição Temporária deverá ser requerida por empresa de navegação do ramo do turismo náutico, devidamente cadastrada no órgão federal responsável pela atividade de turismo. Já as embarcações com AB superior a 500 serão consideradas como sendo empregadas no transporte de passageiros.

A aludida NORMAM, seguindo o critério supra, prescreve as exigências indispensáveis para o turismo náutico, que são: a) parecer favorável do órgão federal responsável pela atividade de turismo; b) Atestado de Inscrição Temporária – (AIT); c) Cartão de Tripulação de Segurança (CTS); e d) Declaração de Conformidade para Operar em águas brasileiras. E ressalta que compete a Diretoria dos Porros e Costas (DPC) autorizar a Inscrição Temporária da embarcação, mediante apresentação de parecer do órgão federal competente.

Compete à Diretoria dos Porros e Costas (DPC) autorizar a Inscrição Temporária da embarcação, após a realização de perícia e a emissão da Declaração de Conformidade.

Salienta-se que, de acordo com a mesma NORMAM, os navios de passageiros em cruzeiros marítimos de cabotagem (domésticos), e as embarcações estrangeiras empregadas na navegação de longo curso (internacionais), são isentos da citada Inscrição Temporária, desde que não estejam fretadas por empresas brasileiras de navegação.

No que tange à relação de trabalho, destaca-se a Resolução Normativa do Ministério do Trabalho n.º 71, de 05 de setembro de 2006, que disciplina a concessão de visto a marítimo estrangeiro empregado a bordo de embarcação de turismo estrangeira que opere em águas jurisdicionais brasileiras.

De acordo com a aludida Resolução o marítimo que trabalhar a bordo de embarcação de turismo estrangeira em operação em águas jurisdicionais brasileiras, sem vínculo empregatício no Brasil, estará sujeito às normas especificadas na Resolução n.º 71/2006. Além disso, só é exigido visto de entrada no país ao marítimo estrangeiro que não seja portador da Carteira de Identidade Internacional de Marítimo ou documento equivalente. E se equipara ao marítimo qualquer pessoa portadora da Carteira de

Identidade Internacional de Marítimo que exerça atividade profissional a bordo de embarcação de turismo estrangeira.

A Resolução n.º 71/2006 determina, da mesma forma, que aquele que não for portador da Carteira de Identidade Internacional de Marítimo válida ou documento equivalente deverá obter o visto de trabalho previsto no art. 13, inciso V, da Lei n.º 6.815, de 19 de agosto de 1980, a partir de autorização do Ministério do Trabalho e Emprego.

A referida Resolução esclarecer que depois de março de 2007, a embarcação de turismo estrangeira deverá contar com um mínimo de 25% (vinte e cinco por cento) de brasileiros em funções técnicas e em atividades a serem definidas pelo armador ou pela empresa representante do mesmo, a partir do 31º (trigésimo primeiro) dia de operação em águas jurisdicionais brasileiras.

E com o intuito de sanar questões relacionadas à legislação trabalhista aplicável, a Resolução em comento determina que aqueles brasileiros recrutados apenas para trabalhar durante a temporada de cruzeiros no Brasil deverão ser contratados de acordo com a legislação trabalhista brasileira aplicável à espécie.

Outro ponto relevante a ser considerado é a questão da atracação304 e do fundeio305 de embarcações de turismo, que, igualmente, seguem as determinações da

Autoridade Marítima, a Diretoria dos Portos e Costas.

É a Diretoria dos Portos e Costas, órgão da Marinha do Brasil, que determina e autoriza a localidade de fundeio do navio de turismo, em conformidade com a legislação marítima vigente.

A definição do local de fundeio é estabelecida em Carta Náutica. No Brasil todas as cartas são produzidas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) do Ministério da Marinha. Essas cartas, quando atualizadas, ficam disponíveis digitalmente no Centro de Hidrografia da Marinha.306

304 Atracação - ato ou efeito de um navio atracar num porto ou terminal privativo, a fim de realizar a

operação de carregamento e descarregamento de mercadoria. BRASIL. Governo Federal. Glossário

Portuário. Disponível em: <http://www.portosempapel.gov.br/sep/glossario-portuario>. Acesso em 05

dez. 2012.

305 Área de fundeio - Local onde a embarcação lança âncora. Também chamado fundeadouro. BRASIL.

Governo Federal. Glossário Portuário. Op. Cit.

306 BRASIL. Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN). Disponível em:

<https://www.mar.mil.br/dhn/chm/cartas/download/cartasbsb/cartas_eletronicas_Internet.htm>. Acesso em 08 abr. 2012.

Essas cartas são os documentos cartográficos que resultam de levantamentos de áreas oceânicas, mares, baías, rios, canais, lagos, lagoas, ou qualquer outra massa d’água navegável e que se destinam a servir de base à navegação. 307

A NORMAM n.º 08, de 16 de dezembro de 2003308, leva em consideração

para fins de definição do local de fundeio da embarcação, os interesses da segurança da navegação, da salvaguarda da vida humana no mar e a prevenção da poluição ambiental. Portanto, o navio apenas poderá fundear em local definido em Carta Náutica da região, com vistas à proteção do meio ambiente e a promoção da segurança no trafego aquaviário.

Apenas a Autoridade Marítima possui competência para elaborar as Cartas Náuticas e definir os pontos de fundeio. Tal afirmativa é importante na medida em que os navios de cruzeiro marítimo com destino ao arquipélago de Fernando de Noronha não atracam no Porto de Santo Antônio, mas fundeiam nas proximidades do arquipélago, em local previamente definido pela Marinha, como restará analisado mais adiante neste trabalho.

A Diretoria dos Portos e Costas supervisiona o tráfego de embarcações, através do Sistema de Informações Sobre o Tráfego Marítimo – SISTRAM, que tem como objetivos a salvaguarda da vida humana no mar, o cumprimento da legislação nas águas jurisdicionais brasileiras e o Controle Naval do Tráfego Marítimo (CNTM), em emergências e em situações de conflito, como estabelece a citada NORMAM n.º 08/2003. 309

Ainda, de acordo com a NORMAM n.º 08/2003, as embarcações mercantes (sejam de carga ou de passageiros), ao entrarem e ao saírem de qualquer porto brasileiro, deverão comunicar sua chegada e a sua saída à Capitania dos Portos, por meio de documentação específica (Parte de Entrada e de Saída).

A comunicação de saída e de entrada de embarcação requer o protocolo na Capitania dos Portos de autuação local dos seguintes documentos: Lista de Pessoal Embarcado, Lista de Passageiros, Declaração de Carga, Rol de equipagem, Declaração de Bens da Tripulação e Declaração Marítima de Saúde. E mencionada comunicação

307 BARROS, G.L.M. Navegar é fácil. Petrópolis – RJ: Catedral das Letras, 2006, p. 294.

308 BRASIL. Normas da Autoridade Marítima para Tráfego e Permanência de Embarcações em

Águas Jurisdicionais Brasileiras. Disponível em

<https://www.dpc.mar.mil.br/normam/N_08/N_08.htm>. Acesso em 08 abr. 2012.

309 BRASIL. Normas da Autoridade Marítima para Tráfego e Permanência de Embarcações em Águas Jurisdicionais Brasileiras. Op. Cit.

deve ser efetuada sempre antes da saída da embarcação do porto ou até seis horas antes do atracamento, caso haja algum impedimento.

Por fim, ressalta-se que a ausência de cumprimento da comunicação em anotação é considerada como infração administrativa, de acordo com o art. 23, VI, do Decreto n.º 2596, de 18 de maio de 1998, que regulamenta a Lei n.º 9.537/97, que dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional.

Portanto, o turismo náutico deve repeitar todos os aspectos legais aqui mencionados, estando sujeito à fiscalização da Autoridade Marítima, dentre outros órgãos que, no decorrer deste trabalho serão elencados.