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Aspectos epidemiológicos da SIDA a nível mundial

Capítulo 1: A infecção VIH/sida e os comportamentos

1. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – SIDA

1.2. Aspectos epidemiológicos da SIDA a nível mundial

Desde que se detectaram os primeiros casos de SIDA, em 1981, nos EUA, as características e padrões desta epidemia no mundo foram sofrendo mudanças importantes.

As sucessivas revisões do número de pessoas infectadas, publicadas pela Organização Mundial de Saúde [OMS], reflectem a rápida progressão da epidemia do VIH no mundo (Castilla & Belza, 1999).

A tendência que se observa é o predomínio da infecção nos países em vias de desenvolvimento e nos grupos mais desfavorecidos dos países desenvolvidos. Ainda segundo os autores atrás citados, apesar da transmissão sanguínea do VIH ter sido a mais marcada em alguns locais, à escala mundial predomina o comportamento sexual, identificando-se a SIDA como doença de transmissão sexual.

Para além da África sub-Sahariana, continuam a crescer epidemias mais recentes na China, Indonésia, Papua Nova Guiné, Vietname, em várias repúblicas da Ásia Central, Estados Bálticos e no Norte de África. O Vietname, por exemplo, evidencia como a epidemia do VIH/sida pode irromper rapidamente, onde existam níveis significantes do uso de drogas injectáveis. O Vietname juntou-se à lista crescente de países asiáticos, da Europa de Leste, da América Central e Latina, onde as drogas injectáveis enfatizaram a epidemia do VIH/sida. Neste cenário, à semelhança das epidemias em geral, o estigma e a descriminação são grandes obstáculos ao esforço para dar outro rumo à SIDA.

As formas de transmissão do VIH são as mesmas em todo mundo, apesar de que as características sociais, culturais e económicas, em cada lugar, desempenham um papel importante no desenvolvimento da epidemia. A introdução do VIH, em cada região, terá sido em tempos diferentes e por distintos mecanismos de transmissão (Castilla & Belza, 1999). Com base neste princípio, os autores acima citados referem que a OMS agrupou estas situações em três tipos:

1º - Epidemias emergentes, quando a prevalência é menor que 5%, em todas as sub- populações com práticas de alto risco;

2º - Epidemias consolidadas, quando a prevalência supera os 5% com comportamentos de alto risco, mas que, porém, é inferior a 5% nas grávidas;

3º - Epidemias generalizadas, quando a prevalência do VIH em populações de alto risco é muito elevada, e nas mulheres é superior a 5%.

Paixão (1996), acrescenta o facto de os padrões epidemiológicos clássicos, observados no início da pandemia, terem de ser actualmente substituídos por outros sub-padrões:

O padrão I, inicialmente observado nos países industrializados (EUA, Europa Ocidental e Austrália) que englobava predominantemente a transmissão sexual (indivíduos homossexuais e bissexuais masculinos) e a transmissão por utilização de drogas por via endovenosa, tem registado uma alteração profunda. A transmissão heterossexual tem progressivamente adquirido maior importância, embora o rácio entre os sexos, revela ainda um predomino do sexo masculino, efeito da incidência acumulada (desde o inicio da epidemia) e verificada nestes países.

O padrão II afecta principalmente áreas da África Sub-Sahariana, em que o tipo de vírus prevalente é o VIH1 transmitido por via sexual (heterossexual). No entanto, na zona Ocidental coexistem os dois tipos de vírus, sendo que, em certos países, verifica-se uma maior prevalência da infecção pelo VIH2 em relação ao VIH1. As grandes convulsões sociais registadas em alguns países da África Central (Somália e Ruanda) com grandes migrações humanas, são muito responsáveis pelo elevado número de casos registados nestes países e países limítrofes, com o consequente aumento proporcional em relação à situação mundial. Em termos genéricos, a transmissão sexual é responsável pelo padrão observado na América Latina e no continente Asiático. Existem porém grandes diferenças nos países e zonas em que o uso de drogas injectáveis é endémico.

A combinação dos padrões I e II, corresponde a alguns países da América Latina e a África do Sul em que até meados da década de 80, existia uma distribuição do tipo I, mas que

recentemente se observa uma evolução para o tipo II, caracterizada pelo rácio entre os sexos ser aproximadamente 1:1, sobretudo entre as populações não caucasianas.

Inicialmente, o padrão III, abrangia o norte de África, o Mediterrâneo Oriental e a maior parte da região do Pacífico, com excepção da Austrália e da Nova Zelândia. Nesta região (Ásia e Ilhas do Oceano Pacífico) a infecção terá sido introduzida mais tarde e a maior parte dos casos corresponde a indivíduos que viajaram para outros países ou partilharam agulhas com pessoas provenientes dessas zonas já bastante afectadas. Desde os anos 90, que a Tailândia, Índia e Japão têm um elevado número de indivíduos infectados, com crescimento epidémico do tipo exponencial.

O mesmo autor acrescenta que as diferenças nos aspectos epidemiológicos da infecção pelo VIH continuarão a sofrer modificações resultantes da maior ou menor capacidade de intervenção local de forma a alterar o curso natural da epidemia.

Nesse aspecto, estamos de acordo com Ventura (2000), quando refere que a luta contra a infecção pelo VIH/sida deve efectuar-se tendo por base uma educação e informação de forma estruturada e sustentada, mas também realçando e aprendendo que a discriminação e a desigualdade são comportamentos que contribuem para a expansão da mesma.

Mundialmente, cada dia morrem cerca de 5700 pessoas infectadas por VIH e 6800 contraem o vírus. Na maioria dos casos devido à falta de meios que impede o acesso aos serviços de prevenção e tratamento do VIH/sida. A infecção pelo VIH/sida constitui um dos desafios mais importantes da saúde pública do novo milénio.

O número de pessoas que vivem hoje em dia com VIH/sida, está a aumentar, devido ao crescimento de novas infecções que, por sua vez, têm períodos mais prolongados de sobrevivência. A África Sub-sahariana continua a ser a zona mundialmente mais afectada pelo vírus VIH.

É necessário investir na prevenção e na educação das populações para diminuir o número mundialmente preocupante. O VIH/sida pode afectar qualquer um, em qualquer lugar, não escolhe sexo, orientação sexual nem crenças. Seguidamente apresentamos os dados estatísticos mais recentes.

A SIDA no Mundo

Numa perspectiva evolutiva de 2004 a 2007, segundo relatório da UNAIDS (2007) relativamente à SIDA, estimava-se que 40 milhões de pessoas viveriam com SIDA até ao final de 2005. Mais de 10 milhões dos casos seriam relativos a indivíduos situados entre os 15 e 24 anos de

idade, correspondendo um número de 5 000 a 6 000 casos de novas infecções, por dia, neste grupo etário.

De acordo com os dados das populações mais afectadas, em 2004, no Sub-Saharan

Africa, foram registados 6.2 milhões de casos, verificando-se uma maior incidência em mulheres,

correspondendo a 76% dos casos. Ao passo que, no Este da Europa e Ásia Central, 600 000/1.3 milhões de casos foram registados, havendo uma maior prevalência nos homens. Em terceiro lugar a população mais afectada foi a Ásia aparecendo com 2.2 milhões de casos.

Figura 2 – Prevalência do VIH nos jovens entre os 15 a 24 anos, no Mundo.

Fonte: UNAIDS, UNICEF (2004)

Em 2006, a UNAIDS estimava que no final de 2005 cerca de 40.3 milhões de pessoas seriam VIH positivo. Correspondendo 17.5 milhões ao sexo feminino e 2.3 milhões a crianças com idade inferior a 15 anos. Destas 4.9 milhões de pessoas adquiriram a infecção durante o ano de 2005, e cerca de 14 000 novos casos aconteceriam por dia. 3.1 milhões de pessoas morreram infectadas. Mais de 95% dos casos teriam ocorrido em países em desenvolvimento. Rondando os 2000 casos em crianças com menos de 15 anos e cerca de 12 000 ocorreriam em pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos, das quais cerca de 50% entre os 15 e os 24 anos e quase 50% em mulheres.

De acordo com os estudos, nos anos de 2003 e 2004, ter-se-ia verificado maior incidência da infecção na Ásia Oriental (aumento de cerca de 50%, atribuído largamente ao crescimento da epidemia na China) e na Europa de Leste e Ásia Central (aumento de 40%, para o qual contribuíram maioritariamente o número de casos na Ucrânia e na Federação Russa), tendo sido atribuindo às Caraíbas o estatuto de única região do Mundo onde não se verificou aumento da infecção em 2005. A África sub-Sahariana permanecia a região do Mundo mais atingida com 25.8 milhões de pessoas infectadas no final de 2005, mais cerca de um milhão, comparativamente ao ano de 2003. Apontava-se a esta região uma percentagem de 77% das mulheres infectadas de todo o Mundo.

Dos 25.8 milhões de pessoas infectadas correspondentes, estima-se que tenham morrido 2.4 milhões de pessoas com infecção pelo VIH nesta região, e cerca e 3.2 milhões teriam contraído a infecção durante o mesmo ano.

De acordo com a UNAIDS, na Europa Ocidental e Central e na América do Norte a principal causa de infecção por VIH seria a homossexualidade ou o uso de drogas injectáveis. No entanto, teriam vindo a ser desenvolvidos novos estudos que apontavam para um aumento significativo de infecções adquiridas através de contacto heterossexual sem utilização de preservativo. Dados apontam que, entre 1997 e 2002, nos 12 países da Europa Ocidental com dados sobre infecções VIH diagnosticadas de novo, o diagnóstico de infecções adquiridas por via heterossexual aumentou em 122%. E, entre 2001 e 2002, o diagnóstico de novas infecções em homossexuais do sexo masculino aumentou em 22%. Desde 2002, o número global anual de novas infecções em homossexuais do sexo masculino na Europa Ocidental viria a diminuir ligeiramente (de 5453 em 2002 para 5075 em 2004). No entanto, na Bélgica, Dinamarca, Portugal e Suíça houve um ligeiro, aumento, enquanto na Alemanha houve um aumento significativo.

De acordo com as novas actualizações da UNAIS e OMS em Dezembro de 2007, 33.2 milhões (30.6 – 36.1 milhões) seria o número correspondente a pessoas portadoras de VIH/sida. 30.8 milhões (28.2 – 33.6 milhões) seriam adultos e 2.5 milhões (2.2 – 2.6 milhões) de indivíduos com menos de 15 anos de idade. 15.4 milhões (13.9 – 16.6 milhões) corresponderia ao total de mulheres infectadas. Só no ano de 2007, aproximadamente 2.5 milhões (1.8 – 4.1 milhões) de pessoas foram infectadas com o vírus do VIH. 2.1 milhões (1.4 – 3.6 milhões) seriam adultos e 420 000 (350 000–540 000) eram menores de 15 anos de idade. Por dia, 6 800 pessoas contrairiam VIH, 283 pessoas por hora, em média.

Em 2007, 2.1 milhões (1.9 – 2.4 milhões) de pessoas morreram de SIDA, das quais 1.7 milhões (1.6 – 2.1 milhões) adultos e 290 000 – 330 000 (290 000 – 380 000) eram menores de 15 anos.

Segundo os relatórios apresentados, na África, 68 % das pessoas que vivem com VIH, 22.5 milhões vivem na África Subsariana, na qual residem 90 % das crianças infectadas com VIH de todo o mundo. Em 2007, viriam a ser infectadas aproximadamente 1.7 milhões de pessoas na região e, aproximadamente 1.6 milhões de adultos e crianças acabariam por morrer.

Na Ásia, 432 000 pessoas ficaram infectadas com o VIH em 2007, fazendo com que o número total de pessoas que vivia com o VIH/sida passasse para 4.8 milhões. 302 000 foi o balanço de mortos em 2007.

Aproximadamente 17 000 pessoas nas Caraíbas ficaram infectadas com o VIH em 2007, fazendo aumentar para 230 000 o número total de pessoas portadoras de VIH/sida. O número de mortos correspondente a 11 000 pessoas.

Na América latina 1.6 milhões de pessoas são portadoras de VIH/sida e em 2007 aproximadamente 100 000 pessoas viriam a contrair a doença. Registar-se-iam 58 000 mortes causadas pela SIDA.

Em 2007 na África Oriental e do Norte registaram-se aproximadamente 380 000 casos de pessoas portadoras de VIH. 35 000 novas infecções foram diagnosticadas. Contabilizaram-se 25 000 mortes devido à SIDA.

Cerca de 55 000 pessoas, dos 1.6 milhões portadores de VIH da Europa Oriental e Ásia

Central, perderam a vida em 2007. O número total de novos casos registados nesta região foi de

150 000 pessoas aproximadamente infectadas com o VIH.

Na Europa ocidental e Central, o número total de pessoas a viver com VIH rondava os 760 000, dos quais 31 000 foram diagnosticados em 2007 e cerca de 12 000 viriam a morrer no mesmo ano.