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II. O PARLAMENTO NO DIREITO COMPARADO

1. O Parlamento

1.3. Aspectos estruturais do Parlamento

As características estruturais do Parlamento são relevantes, uma vez que delas depende, em grande parte, a funcionalidade do Parlamento e a possibilidade dele ter uma

89 BASTOS, Celso Ribeiro; Martins, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. v.4. t.1. 3.ed. São

Paulo: Saraiva, 2002, p. 14-15.

90 BOBBIO, MATTEUCCI e PACCINO. Dicionário de política. Tradução Carmen C. Varrialle, Caetano Lo

Monaco, J. Ferreira, Luiz G. Pinto Caçais e Renzo Dini. 2.ed. Brasília: UNB, 1986. p. 879.

participação significativa no processo político. Em linhas gerais, os Parlamentos caracterizados por escassa diversificação política e baixo grau de articulação operativa interna não podem aspirar a um papel político de grande peso, quando não ficam reduzidos, sem mais, a uma função puramente aclamatória.92

Em relação à estrutura dos Parlamentos, podemos destacar: a) sua forma de eleição93, b) seus elementos configuradores, c) sua duração, d) o número de assembléias, e e) sua organização interna.

À idéia de Parlamento, sinaliza Monica Caggiano94, vêm se alinhando três diferentes elementos configuradores: 1) A questão representativa, revelando o Parlamento como um lócus próprio a albergar os representantes da comunidade social, um espaço preordenado à participação política. 2) O processo deliberativo referente aos amplos debates e discussões antes de qualquer decisão. 3) O instituto da responsabilidade política, que introduz um especial vínculo de dependência entre o governo e o Parlamento, porquanto tem por mecânica operativa a possibilidade de destituição do chefe de governo pela maioria parlamentar. A introdução da responsabilidade política acabou por coroar a estrutura do sistema parlamentar de governo.

A duração temporária do mandato é uma das características fundamentais dos Parlamentos contemporâneos:

A duração média das assembléias parlamentares gira em torno de 4, 5 anos. A Câmara dos Representantes americana, com um mandato de apenas dois anos, é uma exceção. A duração é um fator que influi particularmente na capacidade de atividade política das assembléias; de fato, parlamentares continuamente sujeitos à obsessão da reeleição têm dificuldades em esboçar um trabalho de longo prazo, que pode trazer consigo também uma impopularidade momentânea. Ela influi igualmente nas reações do Parlamento aos estímulos políticos externos e, em último termo, na sua independência política. Mas a duração de uma assembléia não depende, substancialmente, apenas da extensão do intervalo entre duas eleições sucessivas, mas quiçá mais ainda da presença de um núcleo mais ou menos grande de parlamentares que não mudam de uma eleição para outra. Este núcleo, quando dotado de uma certa consistência, constitui fator significativo de continuidade, já

92 BOBBIO, MATTEUCCI e PACCINO. Dicionário de política. Tradução Carmen C. Varrialle, Caetano Lo

Monaco, J. Ferreira, Luiz G. Pinto Caçais e Renzo Dini. 2.ed. Brasília: UNB, 1986.

93 O nível competitivo do processo eleitoral pode muito bem ser definido como elemento discriminante entre

duas categorias de Parlamentos: Parlamentos que assumem um papel fundamental na vida política e Parlamentos reduzidos a um papel de adorno ou de fachada. O Parlamento reproduz, com efeito, se bem que com certa distorção, prolongando-a pelo período da sua duração, a dialética das forças políticas que o momento eleitoral pôs em relevo; é a forma dessa dialética e sua vivacidade que caracterizam a ação política do Parlamento. A diferença, por exemplo, entre oposição responsável e oposição irresponsável está ligada não só a fatores de tradição histórica, como também ao espaço e às possibilidades de afirmação que o momento eleitoral atribui às várias forças políticas (Ibid., p. 880-883).

94 CAGGIANO, Monica Herman Salem. Direito parlamentar e direito eleitoral. Barueri: Manole, 2004. p. 10-

que assegura a transmissão de toda aquela bagagem de costumes, convenções e regras não escritas que tanta importância têm na caracterização de um Parlamento.95 Outra característica significativa está no número das assembléias. Os Parlamentos contemporâneos são geralmente monocamerais ou bicamerais, isto é, são compostos de uma ou duas câmaras.96

Os Parlamentos possuem elementos organizativos internos, que são responsáveis por permitir e facilitar o desenvolvimento das atividades parlamentares, como por exemplo, a

presidência, principal órgão de arbitragem e regulamentação dos trabalhos parlamentares (o

speaker britânico).

Como quase sempre é elevado o número dos seus componentes, devido às exigências da representatividade e o volume crescente do trabalho, as assembléias parlamentares tendem a articular-se em comissões97, isto é, em organismos mais restritos e, por isso, mais eficazes no plano operativo. Também compõem a organização interna do Parlamento os grupos políticos. São elementos importantes o número dos partidos98, as

95 BOBBIO, MATTEUCCI e PACCINO. Dicionário de política. Tradução Carmen C. Varrialle, Caetano Lo

Monaco, J. Ferreira, Luiz G. Pinto Caçais e Renzo Dini. 2.ed. Brasília: UNB, 1986, p. 880-883.

96 A coexistência de duas câmaras não está isenta de problemas: a presença da segunda câmara adquire uma

conotação negativa, se provocar uma injustificada lentidão nos trabalhos parlamentares e der lugar a uma situação de xeque, devido ao fato de se afirmarem nas duas câmaras maiorias politicamente inconciliáveis. Por isso, para uma avaliação da forma bicameral, são particularmente importantes as relações que existem entre ambas as câmaras no desenrolar das várias funções parlamentares. Tais relações podem apresentar aspecto de divisão do trabalho, de cooperação e de oposição moderada ou intransigente. Estas relações dependem tanto de fatores institucionais constantes (como a atribuição a cada uma das câmaras de competências específicas), quanto da mutável situação política - relações de força política, consistência das maiorias, clima dialético maioria-oposição (Ibid., p. 880-883).

97 Os critérios segundo os quais é organizado o sistema das comissões, variam de um Parlamento para outro.

Relativamente ao critério de distribuição do trabalho, há comissões especializadas e comissões não especializadas; quanto à duração, há comissões permanentes e comissões ad hoc, criadas unicamente para o desempenho de uma determinada tarefa (BOBBIO, MATTEUCCI e PACCINO. Dicionário de política. Tradução Carmen C. Varrialle, Caetano Lo Monaco, J. Ferreira, Luiz G. Pinto Caçais e Renzo Dini. 2.ed. Brasília: UNB, 1986, (Ibid., p. 880-883).

98 O pluripartidarismo oferece uma complexa amálgama de formas de conflito e acordo entre as variadas forças

políticas. Assim, a par dos Parlamentos onde a relação maioria-minoria é equilibrada, há também aqueles onde ela pende a favor da maioria que goza de uma superioridade esmagadora, ou então de uma minoria que está em condições de reduzir a maioria à impotência. São todos estes elementos da morfologia parlamentar que concorrem para a formação do complexo sistema de oportunidades e limitações, de recompensas e punições, de motivações e desestímulos, dentro do qual se define a ação do ator parlamentar individual. A ação parlamentar, entretanto, é resultado não só destes elementos ambientais, como também das características pessoais dos que compõem as assembléias. A classe de onde provém, a qualificação profissional, a carreira política já vivida e, finalmente, no plano psicológico, o tipo de percepção do próprio papel são as características que podem ter um significado político. Fenômenos como a ampliação do sufrágio, o alargamento da base política, a expansão da intervenção estatal na vida social e o advento dos partidos organizados de massa, tiveram todos clara repercussão em tais características (Ibid., p. 880-883).

possibilidades de alianças e coalizões interpartidárias, o grau de coesão interna, ou seja, aqueles fatores que são a base da dinâmica interpartidária.

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