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Aspectos facilitadores, obstáculos e motivações à produção de REA

2. Enquadramento Teórico

2.3. Aspectos facilitadores, obstáculos e motivações à produção de REA

Uma das primeiras e mais básicas questões que se coloca na discussão acerca da criação, partilha e abertura de conteúdos ou recursos educativos é a pergunta: porquê? Que razões levam indivíduos ou instituições a oferecer algo sem benefícios monetários?

Antes, e acima de tudo, parece estar uma vontade em partilhar, em construir recursos que possam ser utilizados, melhorados, e novamente reutilizados, com a contribuição de muitos e em colaboração (OECD, 2007). Existe algo de agradável em ver um esforço reconhecido e a servir de base para que outros possam aprender. Este acto de aprender, esta satisfação pessoal tão intrinsecamente ligada à profissão de professor, parece estar na génese daquilo que se considera ser um Recurso Educativo Aberto.

No entanto, antes de olharmos para as motivações da participação e envolvimento no movimento dos Recursos Educativos Abertos, analisaremos de forma resumida alguns aspectos facilitadores e algumas barreiras à produção de REA, com base nos estudos e trabalhos realizados/compilados pela OCDE (2007). Podemos subdividi-los como sendo: de carácter técnico, económico, social e de legalização (em termos de licenciamento).

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Quadro 3 - Aspectos facilitadores para um incremento na produção de REA

De carácter técnico De carácter económico De carácter legal e social

(licenciamento)

Aumento significativo da largura de banda no acesso à Internet; Aumento da capacidade de

armazenamento de discos duros e aumento da capacidade dos processadores, combinado com menores custos;

Aparecimento constante de novas tecnologias para criar, distribuir e partilhar conteúdo; Simplificação de interfaces de

ferramentas de software para criar, editar e reeditar;

Diminuição dos custos e correspondente aumento da qualidade dos instrumentos de recolha audiovisual.

Diminuição dos preços no acesso à internet, com um equivalente aumento da largura de banda;

Alguns incentivos monetários para a produção de versões simples de aplicações com potencialidades de evoluir para aplicações comerciais;

Para as instituições, a possibilidade de reduzir custos pela cooperação e partilha; Menores custos e maior

disponibilidade de ferramentas para criar, editar e alojar (online) conteúdos, associados a um decréscimo do preço desses serviços.

Motivos de carácter altruísta; Ganhos não monetários pelo

reconhecimento profissional de trabalho realizado e oportunida- des diferentes;

O desejo de interactividade e os hábitos de redes sociais e cooperação;

Uma vontade emergente para partilhar, contribuir para e/ou criar comunidades virtuais de utilizadores com interesses próximos;

Simplificação e diversificação das formas de licenciamento que garantam explicitamente os direitos de quem cria conteúdos.

Quadro 4 - Barreiras/obstáculos à produção de REA

De carácter individual De carácter institucional

Ausência de tempo específico;

Poucos ou ausência de conhecimentos técnicos que permitam uma rentabilização não apenas do tempo, como das tecnologias de produção de REA;

Ausência de um sistema que recompense a produção de REA;

Culturas pedagógicas rígidas com poucas inovações tecnológicas;

Ausência de um sistema de reconhecimento de mérito na produção de REA;

Receios num aproveitamento de terceiros do trabalho realizado;

Ausência de uma cultura individual ou comunitária de partilha.

Ausência de uma política/estratégia concertada e efectiva dentro da organização;

Ausência de um investimento em formação técnica;

Ausência de recursos financeiros e de recursos humanos dedicados;

Desconhecimento por parte das direcções das implicações relacionadas com o “copyright” e algum receio na abordagem legal a esses assuntos;

Uma cultura institucional em termos pedagógicos muito rígida e pouco orientada para a inovação tecnológica e a partilha de conhecimentos e recursos;

Ausência de uma tradição académica na partilha de recursos de forma livre para fora das fronteiras da instituição.

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As barreiras para a produção de REA também podem ser caracterizadas como técnicas, económicas, sociais e de aspecto legal. Por exemplo, como barreiras técnicas, a pouca largura de banda no acesso à internet e a falta de recursos para investir no hardware. Como barreiras económicas: o software necessário (nesta situação podendo ser colmatado por programas OSS/FLOSS), a dificuldade em suprir os custos do desenvolvimento de recursos abertos e de os manter operacionais dentro de uma instituição e, finalmente, a viabilidade económica de um projecto REA a longo prazo, com alguma implicação de recursos e despesas que lhe são inerentes. As barreiras sociais incluem, por exemplo, a relutância de professores/educadores e mesmo tempo das instituições, em utilizar recursos produzidos por outros nas suas aulas e em divulgar os por eles próprios produzidas - como o demonstram alguns estudos da OCDE (2007) - bem como a ausência de um sistema que recompense o esforço e o trabalho desenvolvido, em detrimento de outros trabalhos e funções académicas que, tradicionalmente, aumentam o mérito e o reconhecimento dos docentes. Como podemos verificar, as barreiras surgem pela lógica inversa, a da inexistência de algumas das condições supracitadas no quadro anterior (quadro 3), nomeadamente em países mais pobres ou com infra-estruturas mais fracas, que transformam, de facto, todos estes aspectos, em barreiras inibidoras do desenvolvimento, implementação e divulgação dos REA. Há, por isso, ainda um longo caminho a seguir. Concentremo-nos por isso nas motivações.

Motivações enquanto indivíduos

As motivações para o envolvimento na produção de REA e para a partilha de recursos de aprendizagem enquanto investigadores ou professores são ainda pouco conhecidas e estudadas, mas pressupõe-se alguma complexidade inerente ao facto. De acordo com alguma análise de literatura - Fitzgerald (2007) - e alguns casos de estudo elaborados pela OCDE, quatro grupos de razões de motivação parecem sobressair:

- Razões altruístas ou de apoio a uma comunidade específica: o acto de partilhar é agradável para quem o realiza e estimula a inovação. Mais ainda, permite uma satisfação pessoal saber que esses materiais são utilizados por outros, um pouco por todo o mundo (OCDE, 2007; Downes, 2006)

- Ganhos pessoais não monetários: a reputação, “o mérito” e o reconhecimento de um trabalho bem feito, por exemplo, dentro de uma comunidade. Esse reconhecimento e

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valoração pessoais aumentarão a possibilidade de ver o trabalho/material publicado e reconhecido academicamente, (OCDE, 2007);

- Enquanto se produzem REA, ter acesso a materiais educativos de boa qualidade, flexíveis e que permitam a troca/partilha com colegas, mantendo-se deste modo os próprios professores e os seus alunos o mais actualizados possível (Joyce, 2006);

- Maior e mais fácil disseminação/partilha de conteúdos de qualidade (Joyce, 2006);

- Alcançar uma maior audiência, um maior número de interessados, pelas oportunidades em colaborar e melhorar o conteúdo (Joyce, Parker, 2007);

- Maior visibilidade, promoção e reconhecimento do trabalho individual (Downes, 2006)

Motivações enquanto instituição

Do ponto de vista das instituições, parecem existir seis argumentos de peso que suportam a sua sustentação:

- O argumento altruísta: onde a partilha do conhecimento é algo que se deve realizar e faz parte da tradição, dos princípios académicos e do movimento de “Open Access”. O movimento “openness” e a partilha na instituição são o suporte de base da mesma. Os recursos criados por investigadores e educadores deverão ser abertos e acessíveis a todos, para usar e reutilizar, de forma a garantir o sucesso, o espírito de equipa e a cooperação de uma instituição (Joyce, 2006; Hylén, 2006);

- Um segundo argumento também vai de ao encontro dos níveis de “abertura – openness” dos recursos educativos. As instituições de ensino devem aproveitar e rentabilizar os fundos dos contribuintes, permitindo livre acesso, partilha e reutilização de recursos desenvolvidos pelo financiamento público das instituições. Bloquear recursos de aprendizagem por trás senhas ou acessos controlados, significa que as pessoas, em outras instituições de financiamento público, vão duplicar o trabalho e reinventar as coisas já realizadas em outras instituições similares. No fundo, um argumento de rentabilização de recursos em função de um aproveitamento efectivo e eficaz dos fundos (ODCE, 2007; Joyce, 2006);

- Um terceiro argumento é baseado no movimento de “Open Source Software”: "o que se dá recebe-se de volta melhorado". Pela partilha e reutilização, os custos de desenvolvimento de um recurso ou conteúdo podem ser reduzidos e, assim, utilizar e reutilizar melhor os disponíveis. A qualidade pode também melhorar significativamente,

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numa situação onde todos os utilizadores contribuam e retirem benefícios da sua utilização e consequente melhoria (ODCE, 2007; Joyce, 2006);

- Um quarto argumento é que se torna uma mais-valia para relações públicas, podendo funcionar até como uma motivação, um “chamariz” para atrair novos alunos a essas instituições. Instituições como o MIT recebem um grande número de resultados positivos, apoios monetários e também de alunos, pela sua decisão em disponibilizarem de forma gratuita os seus recursos. Outras instituições poderiam e deveriam, por isso fazer o mesmo (ODCE, 2007; Joyce, 2006);

- Um quinto argumento é que muitas instituições sentem uma crescente concorrência em consequência do aumento da globalização do ensino superior e uma oferta crescente de outros recursos educativos na Internet. Nesta situação, há a necessidade de procurar novos modelos de negócio, novas maneiras de fazer receitas, como uma oferta de conteúdo distribuído gratuitamente, como forma a cativar novos alunos para a instituição (ODCE, 2007; Joyce, 2006);

- Um sexto argumento, que embora pareça simples, é provavelmente um dos fortes impulsionadores do movimento REA dentro das instituições: o encorajamento, o reconhecimento e a necessidade de inovar (ODCE, 2007; Joyce, 2006; Hylén 2006).