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O papel da UNESCO: a aposta nos REA como um paradigma

2. Enquadramento Teórico

2.7. O papel da UNESCO: a aposta nos REA como um paradigma

Como podemos constatar, a Internet e a Web oferecem hoje oportunidades de interacção inimagináveis há alguns anos, revelando um enorme potencial e um mar de oportunidades. Torna-se então urgente “um tomar de rédeas”, um agarrar esta oportunidade, talvez única na história humana, de contribuir de uma forma concertada, para uma aposta em termos globais, numa educação livre, facilmente acessível e disponível a qualquer pessoa. Assim, para uma organização como a UNESCO - que possui pelas suas inerências, um mandato para aconselhamento e acção em todo o mundo nos aspectos relativos à Educação - seria improvável não aproveitar este desafio e realizar uma aposta nos Recursos Educativos Abertos, no sentido de uma “globalização do conhecimento”. Encontros internacionais, workshops e consultorias têm sido os meios utilizados por esta organização para realizar o seu trabalho, em colaboração com os diferentes estados-membros e fundações de renome e com investimentos sérios e trabalho efectivo nesta área, como por exemplo, a “William and Flora Hewlett Foundation”49.

No entanto, existem limitações na sua capacidade de incluir todos aqueles - países, instituições, indivíduos - que se interessam pelo tema dos REA. A Internet oferece, por isso, a oportunidade de chegar mais longe e mais rápido do que nunca. Apesar da tecnologia da Web ainda não estar perfeita face ao objectivo - pois há muitos que ainda não se podem ligar - bem como os custos associados no acesso à tecnologia e à conectividade, é, mesmo assim, o mais poderoso instrumento disponível para a disseminação do saber e, neste contexto, dos Recursos Educativos Abertos.

Mais ainda, as condições sob as quais os REA são desenvolvidos e as metodologias de ensino utilizadas resultam, muitas vezes, em produtos que estão adaptados e enraizados em culturas específicas e em normas educacionais próprias de um determinado sistema educacional ou país, maioritariamente ocidentais. Assim, existe uma preocupação real em evitar que as instituições académicas dos países em desenvolvimento se tornem “dependentes” de conteúdos “importados” de outros, em vez de, esses mesmos conteúdos servirem de catalisador para uma “produção local” de novos REA. Uma das hipóteses em consideração pelas organizações envolvidas nestas questões, seria a

Integração de Recursos Educativos Abertos num Modelo Pedagógico de Ensino-Aprendizagem

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aposta na criação de modelos de desenvolvimento colaborativo entre países diferentes, permitindo, desta forma, atenuar essas diferenças, bem como um empenho concertado dos governos em apetrechar as instituições de ensino com meios tecnológicos e infra- estruturas necessárias ao seu desenvolvimento efectivo.

No curto período de existência de uma Comunidade REA, pela utilização da Internet como plataforma privilegiada e pela aposta nos conteúdos digitais, a mesma tem sido capaz de interligar muito mais pessoas e instituições, do que teria sido possível através de outros meios, o que seria impensável conseguir em termos de dimensão, até há bem pouco tempo. Peritos e neófitos com interesses similares juntam-se para aprender uns com os outros, partilharem informação, e deliberarem sobre questões relacionadas com os REA, construindo comunidades de interesse, de partilha, de troca e de construção partilhada.

Os REA têm vindo a assumir-se no âmbito da UNESCO como um dos paradigmas de excelência de futuro, um caminho a seguir e uma aposta numa forma de educar, que não poderá retornar aos modelos já gastos e mais que testados do princípio do século e que ainda utilizamos no nosso sistema de ensino. Através da coalescência da tecnologia, do capital organizacional, da boa vontade e da partilha individual, o crescente movimento de conteúdos educacionais abertos e mais especificamente dos REA, possui em si o potencial para provocar uma mudança do paradigma educacional, através do alargamento do acesso e da participação activa de todos no desenvolvimento de recursos educacionais para professores, estudantes, e para a auto-aprendizagem. No entanto, reflectir sobre essa mudança requer uma compreensão de como se poderão superar as dificuldades existentes. À medida que a tecnologia evolui e mais e novos modelos de REA surgirem, mais pesquisa e discussão deverá ser promulgada, de forma a promover a sua utilização, reutilização e, mais que tudo, sustentabilidade. Assim, o papel da UNESCO torna-se essencial e necessário, de forma a apoiar a visão da educação equitativa, e mais importante ainda, para inspirar uma cultura de criação e de melhoria contínua dos REA, garantindo e desenvolvendo o seu potencial em atenuar diferenças demográficas, económicas, sociais, geográficas e de sistemas de educação, em suma, pela sua capacidade de servir como uma alternativa justa, acessível, gratuita e de qualidade educacional relevante; no fundo, em “abrir” a educação e o saber a todos que deles necessitem. No entanto, não podemos esquecer que esta é também uma responsabilidade nossa enquanto professores e educadores, relembrando que, na base da pirâmide educacional, estão os nossos alunos e que será pela aposta neles que a

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cúspide da mesma pirâmide será mais alta e perfeita. Daí também a nossa aposta na construção deste projecto de investigação, onde, desde cedo, as crianças não só adquirem o conceito recurso educativo mas, e acima de tudo, da importância em ele ser aberto, reutilizável e passível de ser construído de forma colaborativa e partilhada. Lançamos as sementes, para que o conceito de “openness” e “open education” faça parte da cultura destes que hoje são os nossos alunos, mas amanhã, esperamos, levarão consigo “o embrião” para desenvolver uma sociedade, onde o conhecimento seja livre, aberto, partilhado e acessível a todos.

2.8. O Construtivismo e o construtivismo-social: a teoria do conhecimento