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3. A Investigação-acção

3.2. Descrição, fundamentos e processo

Após uma cuidada análise bibliográfica, um conceito preciso e único de investigação- acção escapa-nos entre os dedos. Por se tratar de uma metodologia tão cara a diferentes autores, aplicada em contextos tão diversificados, onde cada um lhe acrescenta algo de si próprio, na medida em que com ela interage, torna-se muito difícil uma definição única, pelo que a abordagem é vasta e com a contribuição de autores diversos. No entanto, necessitamos para este estudo, ter em linha de conta estas diferentes contribuições, de forma que o nosso projecto de investigação-acção vá, de uma forma segura, suportada metodologicamente e abrangente, ao encontro dos nossos objectivos enquanto investigadores. Como afirmava Coutinho (2005): “trata-se de uma expressão ambígua, que surge na literatura aplicada em contextos tão diversificados que se torna quase impossível, na opinião de McTaggart (1997) … chegar a uma conceptualização inequívoca.”

Ainda assim e porque se torna para nós necessário o estabelecimento de uma definição, pegaremos para já nos estudos de Latorre (2007), no sentido de estabelecermos algumas das definições mais importantes. Torna-se importante esta tarefa, uma vez que, será por ela e por toda a metodologia nela implícita que iremos desenvolver o nosso estudo.

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Para Bartolomé (1986) a investigação-acção “é um processo reflexivo que vincula de uma forma dinâmica a investigação, a acção e a formação, realizada por profissionais das ciências sociais acerca da prática. Realiza-se em equipa, com ou sem a ajuda de um

facilitador, um investigador externo ao grupo.

Kemmis e Mctaggart (1988) caracterizam-na como um processo participativo, colaborativo, realizado muitas vezes em comunidades autocríticas de pessoas, onde todos os envolvidos trabalham no sentido de melhorar as suas próprias práticas. Para eles, a investigação deverá seguir uma espiral introspectiva, de ciclos de planificação, acção, observação e reflexão: “ …inicia-se com pequenos ciclos de planificação, acção, observação e reflexão… inicia-se com um pequeno grupo de pessoas e gradualmente vai envolvendo um maior número.” Deverá ser participativa, onde os intervenientes trabalhem com o objectivo e intenção de melhorar as suas próprias práticas, seguindo uma espiral introspectiva - uma espiral de ciclos de planificação, acção, observação e reflexão; ser colaborativa, realizada em conjunto pelas pessoas nela implicadas e criando comunidades autocríticas de pessoas que participam e colaboram em todas as fases do processo de investigação; realizar-se em processo sistemático de aprendizagem, orientado para a prática educativa, a praxis; deverá ser um processo social, porque implica mudanças que afectam pessoas, devendo iniciar-se com pequenos ciclos de planificação, acção, observação e reflexão, avançando depois para a resolução de problemas mais complexos; deve iniciar-se com um pequeno grupo de colaboradores e, gradualmente, ir-se expandindo a um maior número de pessoas.

Elliott (1993) definiu a investigação-acção como “o estudo de uma situação social, com o objectivo de melhorar a qualidade da acção dentro da mesma”. Para este autor, ela é entendida como uma reflexão sobre as acções humanas, tendo como objectivo aumentar a compreensão de problemas práticos. Afirma ainda, que a investigação-acção educativa deve centrar-se na identificação e na resolução dos problemas que os professores enfrentam, de forma a levar à pratica os seus valores educativos e onde as actividades de ensino aprendizagem constituem interpretações práticas dos valores. Deve tratar-se de uma prática reflexiva, em forma de autoavaliação, para que o professor avalie as suas próprias qualidades, tal como a forma como elas se manifestam nas suas acções e práticas, o que pressupõe, obviamente, um determinado grau de auto-reflexão: a reflexividade. Para ele, a investigação-acção tem de integrar a teoria na prática, onde as teorias educativas acontecem e se reflectem através de um processo reflexivo na própria “praxis”. Deve pressupor sempre um diálogo constante entre os participantes, atribuindo-

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se os resultados da investigação a um grupo de sujeitos/professores, de maneira a que a mudança aconteça, de facto, de forma reflexiva e efectiva.

Para Kemmis (1999), a investigação-acção não apenas se constitui como uma ciência prática e moral, mas também como uma ciência crítica, sendo “uma forma de indagação

auto-reflexiva por aqueles que participam nas situações sociais”, no sentido de melhorar

práticas, aumentar a sua compreensão das mesmas e influenciar positivamente as instituições onde elas se realizam.

Com Dick (1999), a investigação-acção é descrita como pertencente uma família de metodologias de investigação que utilizam de forma sistemática e ao mesmo tempo a acção/mudança e a investigação/compreensão, recorrendo a um processo cíclico ou em espiral, que vai alternando entre a acção e a reflexão crítica. Acrescenta ainda que, nos ciclos que se seguem, os métodos são aperfeiçoados de modo contínuo e a interpretação dos dados é realizada à luz da experiência e do conhecimento obtidos no ciclo imediatamente anterior. Citando o semiólogo Hayakawa, afirma ainda Dick (2000) que, na investigação-acção, dever-se-á ser crítico da acção em si própria, crítico em relação a todas as questões do projecto de investigação, assumindo a consciência de que o pensamento crítico opera com teorias. Citando ainda Korzybski, afirma que a investigação-acção segue uma lógica de inferência, construindo operações que visam produzir teoricamente sentido.

Para Mcniff e Whitehead, (2006), uma investigação-acção deve ser um processo de investigação cíclica e recessiva, onde um conjunto de estratégias e passos semelhantes tendem a repetir-se numa sequência similar. Deverá ser participativa, onde tanto os investigadores como os “investigados” se implicam como “sócios”, como participantes activos nesse processo de investigação. Deverá ser qualitativa, afastando-se das dinâmicas positivistas e da simples análise dos números, inferindo do contexto, da observação e dinâmicas observadas pelo investigador, no sentido da construção do conhecimento. E, finalmente, deverá ser reflexiva, sendo imperiosa em cada ciclo investigativo, uma reflexão crítica sobre os processos e os resultados.

Sem dúvida e como se pode observar pela multiplicidade de conceitos e estruturações conceptuais e práticas elaboradas em torno desta metodologia, a noção de investigação- acção é mutável ao longo dos tempos e quase sempre dependente dos contextos sociais onde se estabelece. No entanto e embora “bebendo” de todas as noções apresentadas, uma vez que elas formam um todo indissociável daquilo que para nós deverá ser uma

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investigação-acção, torna-se necessário para esta investigação em específico, definirmos qual a noção que mais se adequa a uma aplicação dentro do nosso contexto social/escolar, sendo esse o terreno em que se irá desenvolver esta investigação. Após cuidada análise e reflexão, parece-nos que a que mais se aproxima da forma e dos objectivos desta investigação, é a apresentada por Ortrun Zuber-Skerritt (1992) apoiada nos pressupostos teóricos de John Elliot.

Este autor demarca a investigação-acção, como uma alternativa à investigação social tradicional e que se caracteriza por ser prática, conduzindo a melhorias efectivas durante e depois do processo de investigação, sendo participativa e colaborativa, onde o investigador não se considera um especialista, mas sim um sujeito mais que realiza uma investigação com, e para as pessoas efectivamente interessadas na resolução de um problema e melhoria de uma determinada realidade. Considera-a emancipatória, por não haver uma hierarquização da investigação mas, pelo contrário, existindo uma simetria social entre os participantes, que estabelecem entre eles uma relação de igualdade na abordagem à investigação, numa partilha acordada de responsabilidades educativas e sociais; é também interpretativa, validando os dados de investigação através de estratégias qualitativas e assumindo os resultados da interpretação dos envolvidos na investigação; e, finalmente, é crítica, onde os participantes na investigação, não apenas procuram melhorias práticas dentro das limitações sociopolíticas, mas também e, essencialmente, actuam como agentes de mudança críticos e autocríticos. No final, mudam o seu ambiente e são eles próprios (os participantes) mudados no processo.

Na sua opinião, são necessários os seguintes pressupostos para que possa existir uma investigação-acção:

Que o participante na investigação reflicta e melhore a sua prática, aumentando o seu conhecimento;

Se efectue com rigor a reflexão e a acção;

Se faça pública a experiência, não apenas junto dos envolvidos directamente na investigação, mas também junto de outros interessados no trabalho realizado;

Que exista uma partilha de responsabilidades entre o investigador e quem executa no terreno a investigação;

Que a recolha dos dados seja realizada pelos próprios participantes; Que também eles participem na tomada de decisões;

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Que haja colaboração entre todos os elementos envolvidos na investigação, e se emancipem como uma comunidade activa e crítica;

Que haja auto-reflexão, autoavaliação e autogestão no grupo de pessoas envolvidas; Que tenha lugar uma aprendizagem progressiva e pública, através de uma espiral

autocrítica e auto-reflexiva;

Que se dê origem à produção de novos conhecimentos, numa dinâmica onde, a auto-aprendizagem e a aprendizagem partilhada, sejam uma constante.

Parece-nos pois que, pelas suas características, pela abrangência e por ser aquela que mais se adequa a uma implementação num agrupamento de escolas, esta será das concepções apresentadas a que, de uma forma mais alicerçada, teremos presente no desenvolvimento deste nosso Projecto de Investigação-acção. Não descuraremos e teremos também presente, os pressupostos estabelecidos por Elliot, bem como a concepção apresentada por Kemmis e Mctaggart (1988), pois estabelecem noções de uma aplicação mais prática, que necessitamos para o seu desenvolvimento no terreno.