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4 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANHAS-AÇU

4.3 RECURSOS HÍDRICOS

4.3.2 Recursos hídricos subterrâneos

4.3.2.1 Aspectos geológicos da bacia

Em geral, a bacia caracteriza-se pela presença de rochas com baixa capacidade de armazenamento de água, sendo esta, frequentemente de baixa qualidade. As formações sedimentares, com maior porosidade e, portanto, maior capacidade de armazenamento de água e transmissão de água estão presentes na sub-bacia do rio do Peixe, próximo a Souza-PB e na região do Baixo-Açu, compreendendo essencialmente as formações Jandaíra, Açu e Barreiras. Outra fonte importante de água subterrânea são os aquíferos aluviais, que na maioria dos casos, fornecem água de boa qualidade para abastecimento humano, animal e irrigação.

A geologia da bacia Piranhas-Açu é constituída por várias formações dentre elas o embasamento cristalino, que ocupa a maior parte da bacia, as formações Açu, Jandaíra, Barreiras e Serra dos Martins, a bacia do rio do Peixe, e coberturas e aluviões, conforme mostra a figura 25.

O embasamento cristalino constitui o substrato rochoso de todo o pacote sedimentar. Compreende a faixa do Seridó, limita-se ao norte com a Bacia Sedimentar Potiguar, ao leste com a Bacia Pernambuco-Paraíba, ao sul com a Zona de Cisalhamento de Patos, e a oeste com a Zona de Cisalhamento de Portalegre.

É composto por rochas ígneas e metamórficas de diferentes graus de metamorfismo – granitos, gnaisses, xistos e migmatitos, dentre outras – com diferentes níveis de competência tectônica o que implica em variados graus de fraturamento causados pela tectônica rúptil e dúctil e, consequentemente, diferentes comportamentos hidrogeológicos em termos de armazenamento de água subterrânea.

A Formação Açu está inserida na Bacia Sedimentar Potiguar99, sendo formada por espessas camadas de sedimentos clásticos com até 1.000m, representados predominantemente por arenitos médios a grosseiros, esbranquiçados, intercalados com folhelhos e argilitos verde-claro e siltitos castanho-avermelhados. Apresenta contato inferior discordante e erosivo com a Formação Alagamar e com o embasamento cristalino, e em sua porção superior é concordante com a Formação Jandaíra, lateralmente, em direção ao mar, interdigitando-se com as formações Ponta do Mel e Queimadas (VASCONCELLOS; LIMA NETO; ROOS, 1990).

Figura 25 - Principais sistemas aquíferos da bacia Piranhas-Açu

Fonte: ANA (2006), apud CBH-PPA (2011)

99 A bacia Potiguar está localizada na extremidade nordeste do Brasil, mais precisamente na margem costeira norte do estado do Rio Grande do Norte e nordeste do Ceará. Apresenta área total de 60.000km2, sendo 40% localizada na parte emersa (ARARIPE e FEIJÓ, 1994). Limita-se a oeste com o Alto de Fortaleza, a sudoeste e ao sul com o embasamento cristalino da Faixa Seridó e ao norte e a nordeste pela cota batimétrica de 200m.

As figuras 26, 27 e 28 mostram que as espessuras da Formação Açu aumentam de sul para norte, isto é, a partir do cristalino até os limites com o calcário da Formação Jandaíra. A superfície do embasamento apresenta relevo plano e ligeiramente inclinado sem ocorrência de ondulações topográficas ou falhas estruturais.

Figura 26 - Perfil de resistividade AB e uma possível seção geológica esquemática

Fonte: UFC, [2005?]

A descontinuidade elétrica observada na estação de leitura 17 (figuras 26 e 27) não foi interpretada como uma falha geológica pois não foram identificados lineamentos estruturais correlatos nas imagens orbitais analisadas (Landsat ETM7 e SRTM). A possibilidade não está totalmente descartada e merece registro. Da estação de leitura 47 (figuras 26 e 27) até o seu final não existem descontinuidades elétricas que possam ser interpretadas como falhas que delimitam os blocos estruturais referidos sendo este um local que merece investigações geofísicas mais detalhadas (UFC, [2005?]).

Figura 27 - Perfil de resistividade CD e uma possível seção geológica esquemática

Fonte: UFC, [2005?]

No perfil EF (figura 28) fica individualizado em sua porção sul e após a estação de medida 25, uma mudança para um patamar de resistividades mais elevado sugerindo um embasamento cristalino mais raso (UFC, [2005?]).

Figura 28 - Perfil de resistividade EF e uma possível seção geológica esquemática

A Formação Jandaíra está inserida na Bacia Sedimentar Potiguar e compreende calcários que estão sobrepostos aos arenitos da Formação Açu e, regionalmente, apresentam- se como calcarenitos e calcilutitos bioclásticos de granulometria média a grosseira e bastante compactados.

O ambiente deposicional é uma planície de maré, laguna rasa, plataforma rasa e mar aberto. O contato inferior é concordante com a Formação Açu e a porção superior é discordante em relação ao Grupo Agulha100. Ocorre uma interdigitação lateral com a parte superior da Formação Ubarana.

As espessuras das Formações Jandaíra e Açu são variáveis na Bacia Sedimentar Potiguar, sendo de aproximadamente 500m nas proximidades de Macau-RN, diminuindo para sudoeste, onde atinge espessuras inferiores a 100m nas proximidades de Apodi-RN. A figura 29 mostra a disposição do calcário Jandaíra recobrindo os arenitos da Formação Açu com diferentes espessuras e aumentando à medida que grada para o centro da bacia Piranhas-Açu.

Figura 29 - Perfil de resistividade GH e uma possível seção geológica esquemática

Fonte: UFC, [2005?]

A Bacia Sedimentar do rio do Peixe é preenchida por sedimentos de origem aluvial, fluvial e flúvio-lacustre e nela ocorrem extensos depósitos aluvionares quaternários. É composta pela formações cretáceas Antenor Navarro, Sousa e rio Piranhas.

100 Abrange as Formações Ubarana, Guamaré e Tibau e compreende rochas clásticas e carbonáticas de alta e baixa energias.

De acordo com Costa (1964) apud ANA (2012a), Antenor Navarro é composta de arenitos médios a grosseiros, de posição estratigráfica basal que repousa sobre o embasamento cristalino, com quase 100m de espessura. Sousa é constituída de argilitos, folhelhos e siltitos, com intercalações de arenitos finos a médio, cuja espessura se aproxima a 800m. A Formação rio Piranhas, segundo Albuquerque (1986) apud ANA (2012a), é composta de arenitos médios e finos, com aproximadamente 200m de espessura e restrita à região ao sudeste de Sousa.

Figura 30 - Perfil topográfico e geológico da Bacia Sedimentar rio do Peixe

Fonte: CPRM, [2006]

A figura 30 mostra os principais aspectos estruturais tectônicos da Bacia Sedimentar do rio do Peixe. O substrato cristalino da bacia sobe gradativamente de Aparecida, no limite leste da sub-bacia Sousa até o município de Triunfo, ao norte. O alçamento do embasamento não se dá de modo uniforme mas em sucessivos degraus ascendentes.

As Coberturas Clásticas (paleocascalheiras)presentes na Bacia Sedimentar Potiguar ocorrem em áreas extensas próximas à aluvião do rio Piranhas-Açu, correspondem a depósitos de seixos de quartzo subarredondados de tamanhos variados e sempre em contato com o embasamento cristalino.

Os Depósitos Aluvionares (Aluviões) que ocorrem na Bacia Sedimentar Potiguar correspondem a sedimentos finos a grosseiros de coloração esbranquiçada a amarronzada, ou acinzentada, e formam extensas áreas de planícies aluviais, em relevo plano, onde se destaca as aluviões do rio Açu. Segundo Gauw (2004) apud ANA (2012a), a planície de inundação do rio Açu é composta predominantemente de sedimentos siltico-argilosos de coloração morrom- avermelhada. No canal fluvial encontram-se sedimentos areno-cascalhosos.

Na bacia do rio do Peixe, os depósitos aluvionares que se distribuem ao longo dos rios Piranhas e Peixe e seus afluentes são constituídos por sedimentos arenosos, conglomeráticos e em determinados locais encontram-se porções argilosas.

Sob o ponto de vista topográfico, carateriza-se por topos aplainados, vertentes alongadas e vales fluviais de baixa profundidade, que proporcionam estágios diferentes de escoamento. Nos topos aplainados predomina a percolação que resulta em solos mais lixiviados, bem drenados e profundos (latossolos). Nas vertentes o escoamento superficial intensifica-se durante a estação chuvosa, carreando areias e sedimentos finos que se depositam nos vales. A presença de formações porosas e permeáveis e a baixa declividade das vertentes são fatores atenuantes do escoamento superficial.

Os sedimentos do Barreiras estão distribuídos ao longo da faixa costeirasobre o calcário da Formação Jandaíra e formam um pacote sedimentar essencialmente clástico argilo-silto-arenoso. Suas águas subterrâneas estão armazenadas nos níveis arenosos e silto- arenosos que se comportam como aquífero livre. Nos níveis argilosos, encontram-se aquíferos confinados e semiconfinados. As espessuras médias variam entre 10 e 40m mas, em determinados locais podem atingir 100m. A profundidade dos níveis estáticos varia entre 8 e 15m nos poços manuais (que só captam o aquífero freático) e diminuem para a faixa de 1 a 4m nos vales e lagoas.O aquífero Barreiras, localizado na sequência superior da Bacia Sedimentar Potiguar, forma com esta um sistema aquífero único devido à franca comunicação hidráulica existente entre eles (LIMA et al, 2006 apud ANA, 2012a).

A Formação Serra dos Martins constitui sequência inferior da Bacia Sedimentar Potiguar. São arenitos médios a conglomeráticos, assentados discordantemente sobre o embasamento cristalino. Apresenta calcários esbranquiçados, homogêneos e com intercalações de níveis argilosos e sílticos. As águas subterrâneas estão armazenadas à profundidade média de 110m.

Os Depósitos Litorâneos são areias de granulação fina a média, siltosas, quartzosas ou quartzofeldspáticas, com bom arredondamento e esfericidade, de tonalidade cinza-clara e alaranjadas no topo e avermelhadas na base.

As Coberturas Detrítico-Lateríticas são compostas predominantemente por sedimentos argilo-arenosos e areno-argilosos, de tons alaranjado, avermelhado e amarelado.