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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.3 TÉCNICAS DE INTERPRETAÇÃO

3.3.2 Técnicas de entrevistas e análise de documentos

A entrevista é uma técnica bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (SELLTIZ et al., 1967, apud GIL, 2007, 117).

Muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência na investigação social. Por sua flexibilidade é adotada como técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos e pode-se afirmar que parte importante do desenvolvimento das ciências sociais nas últimas décadas foi obtida graças à sua aplicação. Suas principais vantagens: possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social; muito eficiente para a obtenção de dados em profundidade; e os dados obtidos são suscetíveis de classificação e quantificação (GIL, 2007, p. 117-118).

Nesta pesquisa utilizou-se a entrevista por pauta que apresenta certo grau de estruturação já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso. As pautas são ordenadas e guardam certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente e intervém (sutilmente) sempre que o entrevistado se afasta do foco.

Quadro 4 - Pautas das entrevistas realizadas com atores do arranjo institucional da bacia Piranhas-Açu

 Avaliação dos comitês de bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte de modo geral e do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Piranhas-Açu, em particular;

 Avaliação dos avanços e limitações do Comitê Piancó-Prianhas-Açu relacionados aos aspectos participação e qualificação dos membros, planejamento, execução e avaliação das ações, mobilização e comunicação social, e financiamento;

Avaliação da participação dos stakeholders na gestão dos recursos hídricos da bacia Piranhas-Açu, com foco na democratização da participação;

 Análise dos conflitos relacionados ao uso dos recursos hídricos na bacia hidrográfica Piranhas-Açu;

 Análise da implantação e funcionamento das redes de monitoramento de quantidade e qualidade das águas da bacia Piranhas-Açu;

 Avaliação da gestão dos recursos hídricos na bacia Piranhas-Açu na perspectiva de integração da política hídrica com as políticas municipais de uso e ocupação dos solos;

 Análise da implementação da política hídrica no Rio Grande do Norte na perspectiva dos arranjos institucionais, destacando suas possibilidades e limitações;

 Interpretação jurídico-normativa das legislações federal e estadual aplicáveis à gestão hídrica no Rio Grande do Norte, com ênfase na implementação dos instrumentos da política hídrica.

Fonte: Própria (2013)

As pautas apresentadas no quadro 4 foram elaboradas com base nos objetivos geral e específicos propostos para a investigação e contemplam as seguintes dimensões: (i) interpretação jurídica das normas aplicáveis à gestão hídrica no Rio Grande do Norte; (ii) investigação sobre a dinâmica do arranjo institucional dos recursos hídricos no território

potiguar; (iii) avaliação da atuação dos stakeholders na bacia do rio Piranhas-Açu; e (iv) análise das relações entre gestão e conservação dos recursos hídricos na bacia Piranhas-Açu.

Richardson (2011) denominou a entrevista por pauta como entrevista não diretiva e enunciou seus quatro princípios: (i) não dirigir o entrevistado, apenas guiá-lo e manter-se interessado no que ele fala; (ii) levar o entrevistado a precisar, desenvolver e aprofundar os pontos que coloca espontaneamente; (iii) facilitar o processo de entrevista; e (iv) esclarecer a importância do problema para o entrevistador. O quadro 5 mostra a aplicação desses princípios na elaboração de um dos roteiros de entrevista bem como na aplicação desse instrumento metodológico.

A questão 1 do roteiro de entrevista mostra a preocupação do entrevistador em guiar o(a) entrevistado(a), sem diriji-lo(a).Na questão 2,o entrevistador pergunta inicialmente “quais os principais desafios para a gestão do Comitê da Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas- Açu”. Em sua resposta o(a) entrevistado(a) menciona algo relacionado à qualificação dos membros do Comitê o que suscita a necessidade de o entrevistador complementar sua pergunta inicial: “os membros desse Comitê estão qualificados para exercerem suas atribuições?”. Em resposta à segunda parte do questionamento o(a) entrevistado(a) faz referência aos saberes tradicionais dos membros o que instiga o entrevistador a realizar mais duas perguntas sobre a mesma temática:“o Comitê se apropria de saberes locais (empíricos, tradicionais) da população? Os membros trazem esse tipo de conhecimento para o Comitê?”

A ampliação da questão 2 se fez necessária para levar o(a) entrevistado(a) a precisar, desenvolver e aprofundar os pontos que mencionara espontaneamente. A sequência de perguntas nessa mesma temática contribuiu para esclarecer ao(à) entrevistado(a) a importância do problema para o pesquisador e facilitou a realização da entrevista, tudo em conformidade com os princípios enunciados por Richardson (2011).

Quadro 5 - Recorte de um roteiro de entrevista realizada com um ator do arranjo institucional da bacia Piranhas-Açu

1. Como o(a) senhor(a) avalia o papel dos Comitês de Bacias Hidrográficas na gestão dos recursos hídricos no Rio Grande do Norte?

2. Quais os principais desafios para a gestão do Comitê da Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas- Açu? Os membros desse Comitê estão qualificados para exercerem suas atribuições? O comitê se apropria de saberes locais (empíricos, tradicionais) da população da bacia? Os membros trazem esse tipo de conhecimento para o Comitê?

A (re)elaboração dos roteiros e a condução das entrevistas também se fundamenta nos ensinamentos de Minayo (2010) para quem o roteiro de entrevista deve seguir três orientações básicas: (i) cada questão que se levanta, faça parte do delineamento do objeto e que todas se encaminhem para lhe dar forma e conteúdo; (ii) permita ampliar e aprofundar a comunicação e não cerceá-la; e (iii) contribua para emergir a visão, os juízos e as relevâncias a respeito dos fatos e das relações que compõem o objeto, do ponto de vista dos interlocutores.

As onze entrevistas realizadas, conforme mostram os apêndices, seguiram essa mesma sistemática. Por essa razão os roteiros de entrevista apresentam um grupo de questões que são comuns entre si e um grupo de questões diversificadas. A diversificação ocorre por duas razões: a primeira refere-se à dinâmica que se estabelece com cada entrevistado(a), com as vicissitudes que lhes são próprias devido à formação, conhecimentos, experiências e crenças; e à segunda relaciona-se à natureza ao segmento que representa cada ator entrevistado, isto é, governo (federal, estadual), sociedade civil e usuários, conforme mostra o quadro 6.

Quadro 6 - Segmentos e órgãos do arranjo institucional da bacia Piranhas-Açu de vinculação dos atores entrevistados

Nº do Roteiro Segmento Órgão

01 Poder Público Estadual Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte – SEMARH

02 Poder Público Estadual Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte – IGARN

03 Sociedade Civil Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES

04 Poder Público Federal Agência Nacional de Águas

05 Poder Público Municipal Prefeitura Municipal de Ipanguaçu – RN 06 Sociedade Civil Pólo Sindical do Seridó

07 Usuários – Irrigação Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –DIBA 08 Usuários – Pesca Colônia de Pescadores do Assu

09 Usuários – Água Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte – CAERN 10 Usuários – Indústria Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS

11 Poder Público Federal Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS Fonte: Própria (2013)

A análise e interpretação documental (Planos de Recursos Hídricos, leis, decretos, resoluções, convênios, contratos de gestão, atas, mapas, termos de ajustamento de conduta, regulamentos, termos de referência, dentre outros) são realizados mediante a utilização das técnicas interpretativas já mencionadas no item 3.3.1.